28 novembro 2019

Divindade de Jesus Cristo

O que é divindade? Como entender a divindade de Cristo? Divindade. Designa tudo o que é sobrenatural ou superior ao homem, podendo ser pessoal ou impessoal. É uma noção mais que a de Deus. A sua universalidade se manifesta na oposição entre o sagrado e o profano. Em se tratando de Jesus Cristo, temos de separar o Cristo histórico do Cristo religioso ou dogmático.

Para entendermos a divindade de Cristo, temos que nos reportar à história e recuarmos até Ário (256?-336 d.C.), um sacerdote de Alexandria, no Egito que, por volta de 318 d.C., contesta a doutrina segundo a qual as três Pessoas da Santíssima Trindade Cristã — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — são iguais. Para Ário, Deus, o Pai, estava acima do Filho, Jesus Cristo, e ambos estavam acima do Espírito Santo.

De Ário, advém arianismo. O arianismo é a antiga doutrina teológica cristã, ensinada por Ário aos seus seguidores, e que refuta a divindade de Cristo. Dizia que Cristo é Filho de Deus, portanto, colocado numa hierarquia inferior, embora pudéssemos vê-lo como o mais perfeito dos seres humanos. Em 325, sob a gestão do imperador romano Constantino, o Concílio de Niceia condenou como hereges os ensinamentos de Ário, afirmando que Jesus era completamente divino. Em 381, o Concílio de Constantinopla considerou o arianismo uma heresia, e essa doutrina desapareceu rapidamente no Império Romano.

Allan Kardec, em Obras Póstumas, no item "Estudo da Natureza de Cristo", faz vários questionamentos sobre a divindade de Cristo: ela é provada pelos milagres? Ela é provada por suas palavras? Para mais detalhes, convém consultar o referido capítulo.

Gostaria de destacar dois parágrafos, extraídos da página 131, que sintetizam o entendimento da divindade de Cristo.

"Se o concílio de Niceia, que se constitui em fundamento da fé católica, fosse conforme ao espírito de Cristo, para que o anátema final? Não é isto a prova de que ele é a obra das paixões dos homens? A que foi devida a sua adoção? À pressão do imperador Constantino, que fez dele uma questão mais política que religiosa. Sem ordem sua não se teria realizado o concílio de Niceia e sem a sua intimidação seria mais que provável o triunfo do arianismo".

"Dependeu pois da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja, que reconheceu mais tarde a falsa política seguida, e que em vão procurou emendá-la, conciliando os partidos, não sermos hoje arianos, em lugar de católicos, e não ser hoje o arianismo a ortodoxia e o catolicismo a heresia".

Fonte de Consulta

Enciclopédia Delta Universal

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução de João Teixeira de Paula. Revisão, Introdução e notas de José Herculano Pires. 14.ed., São Paulo: Lake, 2007.



19 novembro 2019

Ficção Científica

Ficção. Do latim ficti, significa modelar, representar, preparar, imaginar, disfarçar, supor. Exemplo: ficti dei (falsos deuses). Em seu sentido filosófico, é uma construção elaborada pela imaginação em que uma pessoa acredita poder resolver um problema real (metafísico, lógico, moral ou psicológico). Ficção científica. Normalmente abreviado como SF, FC, sci-fi ou scifi, é um gênero, literário ou cinematográfico, que antecipa o futuro por meio da representação fictícia do universo.

Os assuntos preferidos pela ficção científica são: viagem espacial, viagem no tempo, viagem mais rápida que a luz, universos paralelos, mudanças climáticas, totalitarismo, vida extraterrestre etc. Entre os autores mais famosos de ficção científica, temos: Isaac Asimov (1920-1992) [ “Nós robôs”], Ray Bradbury (1920-) [“Crônicas Marcianas”, “Fahrenheit 451”], Arthur C. Clarke (1917-2008) [“Odisseia no Espaço”], Aldous Huxley (1894-1963) [“Admirável Mundo Novo”], Ursula K. Le Guin (1929-) [“The Dispossessed”] e Júlio Verne (1828-1905) [“Viagem ao centro da Terra”, “Vinte Mil Léguas Submarinas”]. (https://conceito.de/ficcao-cientifica)

Alguns livros (filmes)

  • 1984. Há um Estado totalitário que zela por todos. Cada indivíduo, nascido de proveta, têm comportamento pré-condicionado e ocupa lugar pré-determinado. Cada usuário é abastecido com a droga "soma".  
  • Admirável Mundo Novo. Será admirável o mundo novo? A quem interessa essa sociedade que enaltece a máquina e reprime o espírito? Qual o lugar do ser humano numa sociedade dominada pelo Estado, pela máquina? O que pode acontecer ao indivíduo que quer caminhar com os próprios pés?
  • Fahrenheit 451. Depois de queimados todos os livros físicos, queimariam também as pessoas que os tivessem alojados em suas memórias?
  • Lucy. Trata da capacidade do cérebro. A droga, derramada em seu estômago, dá-lhe poderes sobre-humanos, telecinesia, ausência de dor e a possibilidade de adquirir conhecimento instantaneamente.

Comentário sob a ótica espírita.

  • Sobre o totalitarismo. De acordo com a Doutrina Espírita, fomos criados simples e ignorantes com a incumbência de conquistar a perfeição. Perfeição significa pensar com mais liberdade, agir com mais liberdade. Nesse caso, o totalitarismo não faz sentido. 
  • Sobre a sociedade sem livros. Dado o avanço da informática, é difícil imaginar uma sociedade sem livros: talvez não precisamos tanto do papel, mas o livro estará no computador, na forma digital. 
  • Sobre o desenvolvimento do cérebro e a mediunidade. Os Espíritos, ao usarem o cérebro do médium, não tiram as ideias dos médiuns, mas o material que podem formalizar as ideias a serem transmitidas.   

Allan Kardec, no capítulo XVI ("Teoria da Presciência") de A Gênese, trata do problema do conhecimento do futuro. Primeiramente, vale-se de uma comparação: suponha um homem no pé da montanha e outro no topo. O do topo vê todo o caminho futuro, enquanto o debaixo não. Depois, ensina-nos que a capacidade de conhecer o futuro depende do grau de evolução do ser encarnado. Ainda: o futuro pode ser conhecido, mas deve ser revelado? Os Espíritos advertem-nos que o futuro não deveria ser revelado para atender à vã curiosidade, mas para atender a um fim útil e sério.




Física Quântica

"Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo-lhes enxergar a luz, e sim porque... uma nova geração cresce familiarizada com ela." (Max Planck)

Energia. Para os gregos, energia significa atividade. Pode mudar de forma, mas nunca é criada nem destruída. Ela é conservada: o total de energia no Universo continua sempre o mesmo. Física. Do grego "physis", natureza. É a ciência que estuda os fenômenos naturais suscetíveis de observação e experimentação. Liga todas as outras ciências. Seu objetivo é explicar a natureza do Universo (do subatômico às galáxias). Quanta. No início do século XX, quando os físicos estavam começando a dissecar o átomo e a entender a natureza da luz, Max Planck cunhou o termo "quanta" para documentar que a energia flui em pequenos pacotes e não como um contínuo. Física quântica. É um ramo de conhecimento que tem por objeto o estudo dos fenômenos que acontecem com as partículas atômicas e subatômicas.

Para entendermos este assunto, devemos nos reportar, primeiramente, à mecânica clássica de Newton. Newton estava preocupado com as forças da gravidade, os movimentos orbitais dos planetas ao redor do Sol, o funcionamento da galáxia etc. Sua escala de observação era macroscópica. Outros cientistas, porém, queriam penetrar no íntimo da matéria, no átomo, no microscópio, no mundo dos pequenos, e a física deste estudo denominou-se física quântica.

A principal dificuldade no estudo dos fenômenos subatômicos é que eles não possuem a regularidade de um relógio. A luz, por exemplo, comporta-se ora como onda ora como uma rajada de balas. Nesse caso, a física quântica é considerada uma "falsa teoria". Razão: a física quântica, ao contrário da clássica, é classificada como "não intuitiva", ou seja, determinadas coisas podem ser verdadeiras mesmo quando não aparentam ser.

John Polkinghorne, em seu livro Teoria Quântica, esclarece-nos que a teoria quântica não é um "vale tudo". Compará-la com as coisas do espírito (como exemplo, a telepatia) não é recomendável. "A dualidade onda-partícula é um fenômeno bastante surpreendente e instrutivo, cujo caráter aparentemente paradoxal foi solucionado para nós por meio das observações da teoria quântica de campos. Porém, ela não nos concede uma licença para ceder ao desejo de adotar qualquer par de noções de aparência contraditória que nos vier à imaginação. Como uma droga potente, a teoria quântica é maravilhosa quando aplicada de modo correto, mas desastrosa quando abusada e mal-aplicada" (página 109).

Ao explicar a relação entre física quântica e Espiritismo, Alexandre Fontes da Fonseca, professor de física no Departamento de Física da Faculdade de Ciências da UNESP, em Bauru, diz que são teorias distintas: a física quântica é uma teoria da matéria; o espiritismo é a ciência do espírito. Acrescenta que, pelo fato de a física quântica estudar os fenômenos que estão fora do senso-comum isso não nos dá credencial para aplicá-la aos fenômenos espíritas (considerados fora do senso-comum).




18 novembro 2019

Agêneres

Allan Kardec trata dos "agêneres" na Revista Espírita de 1859 (fevereiro). O ponto de partida é o aparecimento de mãos tangíveis. O problema levantado: duração da aparência corporal, que pode persistir por pouco ou muito tempo. Necessitando de um nome para caracterizar o fenômeno, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas cunhou o termo "agêneres", para indicar que sua origem não é o resultado de uma geração.

O que é, então, o agênere? É uma variedade de aparição tangível. É o estado de certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, ao ponto de causar completa ilusão. Daí, a afirmação de que há agêneres e agêneres. Quer dizer, os agêneres são criaturas fisiologicamente não geradas como o normal dos encarnados. Essas podem se mostrar materializadas por longo período de tempo.

Convém sempre nos atermos ao princípio essencial da ciência espírita. Ao tratar do tema no artigo dessa revista, Allan Kardec diz:  "O agente dos fenômenos vulgares é uma força física, material, que pode ser submetida às leis do cálculo, ao passo que nos fenômenos espíritas esse agente é constantemente uma inteligência que tem vontade própria e que não se submete aos nossos caprichos".

Os agêneres têm relação com o docetismo. O docetismo é uma doutrina herética dos séculos II e III, que negava a existência do corpo de Jesus Cristo, admitindo apenas a existência do espírito. Poderíamos perguntar: Cristo foi um agênere? Para os docetas, sim. Contudo, há as pesquisas históricas que se fundamentam no Cristo humano, de carne e osso, como todos os Espíritos encarnados neste Planeta.

O docetismo, contudo, reapareceu na França. Pelas comunicações atribuídas a Moisés, João Batista, os Apóstolos e os Evangelistas, Jean Baptiste Roustaing, publica uma obra mistificadora, Os Quatro Evangelhos, condenada por Allan Kardec, mais ainda reverberada por alguns espíritas.



17 novembro 2019

Parábola das Dez Virgens

"A virgindade é bela não por caracterizar um jejum, mas por caracterizar uma prudência, uma vez que evita as artimanhas da natureza.” (Arthur Schopenhauer)

Parábola. História que se conta tendo como pano de fundo um ensinamento moral. Virgem. Mulher que se conserva em continência, que não teve cópula carnal; donzela. Pessoas isentas de corrupção no mundo.

Resumo da "Parábola das Virgens Prudentes e das Néscias". É a história de cinco virgens prudentes e cinco virgens néscias, todas à procura de um noivo. Caso este demorasse, haveria necessidade de azeite extra para a candeia. As prudentes levaram-no em suas bolsas; as néscias, não. (Mateus, 25, 1 a 13) Há muitas interpretações desta parábola, mas a maioria dos teólogos afirma que o Noivo é Cristo.

Esta parábola está inserida na última parte do capítulo 24, em que Jesus alerta sobre a separação entre os bons e os maus. No capítulo 25, esta separação é detalhada na Parábola das Dez Virgens (Mt. 25, 1-13), Parábola dos Talentos (Mt. 25, 14-30 e a Parábola da Separação das Ovelhas e dos Bodes (Mt. 25, 31-46)

Em sua prédicas, Jesus chamava a atenção para o Reino de Deus, reino este que não é deste mundo. Nesta parábola, o azeite pode ser comparado à provisão de conhecimento. Por que a porta se fecha aos néscios? A porta se fecha porque a fé dessas pessoas não tem conhecimento, não tem luz para ir além. Retrata as pessoas que se dizem retas, honestas, espiritualizadas, mas no fundo são contrárias daquilo que pregam. Podemos compará-las aos falsos Cristos e aos falsos profetas.

Observações sobre as virgens prudentes e as néscias: 1) as ordenações da prudência são:  precaução, estudo, pesquisa, reflexão, aprendizado da verdade; 2) quanto à virgindade: virgindade se refere à religiosidade. Há diferença entre ter religião e ser religioso. Ter religião não salva ninguém. Há necessidade de obras para entrar no Reino de Deus; 3) algumas virgens foram barradas à porta do Reino: a virgindade é uma condição necessária, mas não suficiente para entrar no Reino dos Céus. A virgindade deve estar ligada ao conhecimento que nos foi dado por Jesus Cristo.

Relacionemos esta parábola à vigilância. Devemos estar sempre atentos na busca da verdade, pois não sabemos o momento de nossa partida ao mundo dos Espíritos. É importante que, quando formos chamados, tenhamos cumprido os nossos deveres, não tenhamos perdido tempo em coisas supérfluas e que tenhamos principalmente a consciência tranquila.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/par%C3%A1bola-das-dez-virgens



13 novembro 2019

Clichês Mentais

"A mente permanece na base de todos os fenômenos mediúnicos." (Instrutor Albério)

Clichê. Chapa metálica que traz gravada em relevo uma imagem destinada a ser reproduzida para impressão de imagens e textos por meio de prensa tipográfica. Em sentido figurado, clichê é um chavão, repetido exaustivamente. Clichê mental. São ideias fixas sobre determinado ponto de vista. Elas ficam congeladas, cristalizadas em nossa mente.

Quando ingerimos alguns tipos de alimentos e bebidas alcoólicas, há uma mudança em nosso hálito, que as pessoas mais próximas de nós poderão detectar imediatamente. O mesmo ocorre com os "hálitos mentais", que serão determinados pelo teor de nossos pensamentos. Nesse sentido, nossas ideias são criações incessantes que se projetam no espaço e no tempo. As pessoas que se chafurdam no mal projetam de si pensamentos malsãos, os quais entram em sintonia com todos aqueles pensamentos dos indivíduos que se encontram na mesma faixa vibratória.

Para uma melhor compreensão do tema, vejamos as instruções do Espírito Emmanuel, expostas no capítulo 12 ("Família"), do livro Pensamento e Vida. Ele diz que tanto o homem primitivo quanto o homem civilizado permanecem longo tempo em suas relações familiares, até que a soma de suas aquisições o recomende a diferentes realizações. "A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglutinação dos Espíritos que se afinam nas mesmas atividades e inclinações".

Todos somos reféns dos nossos clichês mentais. Por que é tão difícil nos libertamos dos clichês negativos? Por ignorância e, também, pelo comodismo, por não querermos enfrentar o novo, o desconhecido. Contudo, um dia veremos tudo com um grau de consciência maior, porque a Lei do Progresso é compulsória. Quer queiramos ou não, teremos de evoluir, buscar a perfeição. Dica dos filósofos antigos: pense pela sua cabeça e não pela cabeça dos outros.

O Espírito André Luiz, em Ação e Reação (cap. 4, pp. 53 e 54), cita o caso de uma pessoa dominada pelo Satã. O instrutor disse: "É um clichê mental, criado e nutrido por ela mesma. As ideias macabras da magia aviltante, quais sejam as da bruxaria e do demonismo que as igrejas denominadas cristãs propagam, a pretexto de combatê-los, mantendo crendices e superstições, ao preço de conjurações e exorcismos, geram imagens como esta, a se difundirem nos cérebros fracos e desprevenidos, estabelecendo epidemias de pavor alucinatório".

Urge, assim, tomarmos consciência dos nossos clichês mentais, pois será mais fácil vencermos as criações mentais menos felizes.



Escrita

"Por teres escutado a voz de tua mulher e comido da árvore da qual eu te havia prescrito não comer, o solo será maldito por sua causa. É com fadiga que te alimentarás dele todos os dias de tua vida. E com fadiga escreverás teus ensaios todas as noites de tua vida". (Gênesis, 3, 17)

Anotemos, inicialmente, os seguintes pontos:

  • Escrita. Ação ou efeito de escrever, de representar algo por sinais gráficos.
  • Origem da escrita. Há 4.000 a.C., na antiga Mesopotâmia, os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, letras cunhadas em placas de barro.
  • Importância da escrita. Nas sociedades antigas, antes da invenção da escrita, as informações estavam de posse dos mais velhos. Uma peste poderia dizimar todas as pessoas e a história daquele povo.
  • Primeiros livros. Para guardar as informações, inventaram tabuinhas de barro cozido, onde deixavam impressos os seus textos. Estes foram os primeiros "livros", depois progressivamente modificados até chegarem a ser feitos em grande tiragem.

Na história da escrita e sua documentação, a invenção da imprensa, por Gutenberg, em 1450, deu outro rumo à disseminação do conhecimento. Muitos copistas demoravam meses para produzir apenas um volume. Entre 1450 e 1500, cerca de dez milhões de livros foram publicados. Por essa razão, deveríamos sempre preferir o escrito ao oral. Imagine se Cristo tivesse registrado os seus ensinamentos; não haveria tanta polêmica como sempre tivermos. Além do mais, escrever é um exercício, uma disciplina do pensamento.

No campo religioso, temos a Escritura, que é um laço que liga sempre o passado, o presente e o futuro, quanto ao ensino progressivo e gradual da verdade. No campo mediúnico, temos a escrita automática, quando o médium apoia um lápis sobre o papel e sente sua mão escrever sem que ele exerça qualquer ação muscular, e a escrita direta, ou pneumatografia, escrita que não é produzida por nenhuma das pessoas presentes.

Em se tratando da escrita e da disseminação do conhecimento, convém refletir sobre o princípio de nossas ações. Uma palavra, escrita ou falada, pode salvar uma alma ou induzi-la à morte. Nesse caso, quanto mais conhecimento adquirido, maior será nossa responsabilidade perante os outros. Por isso, devemos sempre pedir aos bons Espíritos para nos afastar das más influências e dos Espíritos maléficos que querem a perdição da humanidade.




Número e Espiritismo

Todos sabemos o que é o número. Sua conceituação, porém, cria muitos embaraços, pois ele não é uma entidade física, mas abstrata. Neste sentido, Frege define o número como a classe de todas as classes que estão em correspondência com uma dada classe (portanto também entre si). Em se tratando da sua origem, ela pode ser encontrada nos entalhes na fíbula (osso da panturrilha) de um babuíno, cerca de 35 mil anos atrás. Para Georges Ifran, em sua História Universal dos Algarismos, os primeiros algarismos foram inventados para substituir as pedras por objetos.

Há algumas explicações fantasiosas sobre a origem dos números. Eis algumas delas: 1) os formatos dos algarismos representam tantos ângulos quanto o numeral deve indicar; 2) os formatos dos algarismos apresentam tantos segmentos quanto o numeral deve indicar; 3) os numerais eram representados por pontos que posteriormente teriam sido ligados dando origem aos nove sinais conhecidos.

Depois de inventadas as letras, houve o desejo de relacioná-las aos números, ou seja, poder-se-ia escrever números por meio delas. O domínio mágico, porém, preocupou-se mais com a soma dos valores das letras do que as letras em si. Exemplo: o número 26 tornou-se um número divino para os judeus. YAHWEH (Y + H + W + H = 10 + 5 + 6 + 5 = 26).

O número 666 refere-se à besta do Apocalipse. O Espírito Emmanuel, em A Caminho da Luz (capítulo 14, página 128), dá-nos a seguinte explicação: o número 666 pode ser encontrado em: “VICARIVS GENERALIS DEL IN TERRIS”, “VICARIVS FILII DEI” e "DVX CLERI" que significam "Vigário-Geral de Deus na Terra", "Vigário do Filho de Deus" e “Príncipe do Clero". Somando os algarismos romanos encontrados em cada título papal, obterá 666 em cada um deles.

O Espírito Emmanuel, na pergunta 142 de O Consolador, deixa claro que números, à semelhança do sábado para Cristo, foram feitos para os homens, porém, os homens não foram criados para os números. Diz, também, que a astrologia e cartomancia têm sua importância relativa, contudo o Evangelho solicita o nosso esforço pessoal para a resolução dos problemas atinentes à nossa evolução espiritual, e caso tenhamos nascido num dia aziago, isso deve ser motivo para nos aplicarmos ainda mais, com mais determinação.




10 novembro 2019

Revisão do Cristianismo (Livro)

Revisão do Cristianismo, de José Herculano Pires, foi publicado em 1980, pela Paideia, e trata dos seguintes assuntos: "A Descoberta do Cristo", "A Mitologia Cristã", "A Herança Mágica", "A Revelação", "O Culto Cristão", "O Olimpo Cristão", "Cristo e o Mundo", "A Desfiguração do Cristo", "Os Mandatários de Jesus", "A Existência de Jesus", "A Razão do Mito", "O Mito da Razão" e "Matéria, Mito e Antimatéria".

Tônica do livro: distinguir o mito da realidade.

Por que fazer uma revisão do Cristianismo? Para aclarar o maior número de mentes acerca dos erros e das superstições mitológicas ocorridos ao longo do tempo. Jesus combateu a magia e os mitos, mas o Cristianismo se organizou na sistemática mitológica e acabou transformando o próprio Mestre em mito. Há necessidade de um ato de coragem para revisar o cristianismo à luz da lógica e crítica histórica. Os efeitos, contudo, seriam admiráveis.

Renan, através das pesquisas históricas, e Kardec, através das comunicações mediúnicas, chegaram às conclusões de que os ensinos morais do mestre são os de real valor. A revelação, por exemplo, tem no Espiritismo um caráter humano e divino.

Herculano Pires enfatiza, neste compêndio, a influência grega na edificação do Cristianismo: 1) Jesus recebera um nome grego que ele jamais tivera, e que passaria a designar o futuro de sua doutrina; 2) a assimilação das doutrinas de Platão, por Santo Agostinho, e de Aristóteles, por São Tomás de Aquino, completariam o quadro dessa influência.

Como todo o livro está centrado na questão do mito, explica-nos que a inclusão de Cristo como a segundo pessoa de Deus na Mitologia Cristã, advém de outros mitos, principalmente do mito da trindade egípcia, formada por Osíris, Ísis e Hórus.

No capítulo II, "A Mitologia Cristã", tece comentários sobre o Espírito da Verdade (João 16, 12 e 13), cujo texto trata da promessa de Cristo sobre a vinda de um Espírito que nos guiará por toda a verdade. Herculano diz: "O Espírito da Verdade não é uma entidade definida, uma criatura humana ou espiritual, mas simplesmente a essência do ensino de Jesus, que se restabeleceria através dos homens que mais rapidamente se aproximassem da sua verdadeira compreensão".

Detalhemos um pouco mais a questão do mito e da razão:

A adoração do religioso funda-se em algum tipo de racionalidade; a adoração mágica altera os textos sagrados para atender às conveniências sectaristas. Exemplo: cobrança de indulgências. 
 

O Olimpo Cristão é uma cópia do Olimpo Grego, em que aqueles deuses são substituídos pelos deuses de batina, onde se encontram diversos absurdos: criação da Santíssima Trindade, infalibilidade papal, arrogância clerical em relação à ciência.

A imaginação humana, aliada às paixões, criaram, talvez pela influência de Espíritos inferiores (falta de vigilância), teorias e práticas ridicularizantes para desfigurarem a imagem real do Cristo e imposição da mitologia.

Renan, corajoso em suas pesquisas, reconhece a existência histórica de Jesus, mas não aceita a divindade dada pelos teólogos. Kardec, por outro lado, contesta o nascimento virginal de Jesus, afirmando que Jesus era um homem como outro qualquer, com a missão de regenerar a população.