Os pensadores
da humanidade desenvolveram, ao longo do tempo, três concepções de mundo: Materialista, Idealista e Religiosa.
De acordo com essas concepções, construíram as diversas doutrinas. As mais
importantes para o propósito de nossos estudos dizem respeito ao Niilismo,
ao Panteísmo, ao Dogmatismo Religioso e ao Espiritismo.
O Niilismo —
do lat. nihil, nada, fruto da doutrina materialista — significa
ausência de toda a crença. Como a matéria é a única fonte do ser, a morte é
considerada o fim de tudo. Os adeptos do materialismo incentivam o gozo dos
bens materiais, dizendo que quanto mais usufruirmos deles, mais felizes seremos.
Como se vê, a consequência do niilismo é a corrida em busca do dinheiro, da
projeção social e do bem-estar material.
O Panteísmo —
do grego pan, o todo, e Theos, Deus — significa absorção
no todo. De acordo com essa doutrina, o Espírito, ao encarnar, é extraído do
todo universal; individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito
da morte, à massa comum. As consequências morais dessa doutrina são semelhantes
às do materialismo, pois ir para o todo, sem individualidade e sem consciência de
si, é como não existir.
O Dogmatismo
Religioso afirma que a alma, independente da matéria, é criada por
ocasião do nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a
morte. A sua sorte já está determinada: os que morreram em "pecado"
irão para o fogo eterno; os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso.
Essa visão deixa sem respostas uma série de anomalias que acompanham a
humanidade, como, por exemplo, os aleijões e a idiotia.
O Espiritismo mostra-nos
que o Espírito, independente da matéria, foi criado simples e ignorante. Todos
partiram do mesmo ponto, sujeitos à lei do progresso. Aqueles que praticam o
bem, evoluem mais rapidamente e fazem parte da legião dos "anjos",
dos "arcanjos" e dos "querubins". Os que praticam o mal,
recebem novas oportunidades de melhoria, através das inúmeras encarnações.
O progresso é
indefinido. Tenhamos em mente que todo o dia é dia de renovar o destino.
Aproveitemos, assim, todas as oportunidades que Deus nos concede.
Fonte
de Consulta
KARDEC,
A. Obras Póstumas. 15. ed. (popular), Rio de Janeiro, FEB, 1975
São Paulo,
19/11/1998
Apresentação em
PowerPoint
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Complemento:
Este tema, que se
encontra em Obras Póstumas, tem como título "As Cinco Alternativas da
Humanidade". Nesse caso, faltou relatar a Doutrina Deísta, que ora transcrevemos da referida obra.
"O deísmo
compreende duas ordens bem distintas de crentes: os deístas independentes e os providenciais. Os primeiros creem em Deus e admitem todos os
seus atributos como criador.
Deus, dizem, estabeleceu as leis gerais, que regem o
universo; mas essas leis, uma vez estabelecidas, funcionam por si sós, sem que
o seu autor cuide delas. As criaturas fazem o que querem ou o que podem, sem
que Ele com isso se importe.
Não há providência, e desde que Deus não se ocupa conosco,
nada temos que lhe pedir e menos que lhe agradecer. Quem nega a intervenção da
providência na vida do homem, faz como a criança, que se julga com bastante
capacidade para dispensar a tutela, os conselhos e a proteção dos pais; ou
pensa que estes não se devem mais ocupar com ela, desde que lhe deram o ser.
Sob pretexto de glorificar o Senhor, muito grande, dizem, para se abaixar até
às criaturas, fazem dele um grande egoísta, rebaixando-o ao nível dos animais,
que abandonam os filhos aos azares da vida.
Esta crença é filha do orgulho e encerra o pensamento de
libertar-se de um poder superior, que fere o amor próprio de cada um. Ao passo
que uns recusam reconhecer aquele poder, outros aceitam a sua existência,
condenando-o porém à nulidade.
Há uma diferença essencial entre o deísta independente, de
que nos temos ocupado, e o deísta providencial; este crê não somente na
existência e no poder criador de Deus, como também em sua intervenção
incessante na criação; não admite, porém, o culto externo, nem o dogmatismo
atual".
Notas do Rev. José Herculano Pires
[61] Apesar de todas as inovações culturais
e avanços científicos verificados depois de Kardec até os nossos dias, a tese
das cinco alternativas não foi alterada. Mudaram-se alguns rótulos, mas as
posições continuam as mesmas: materialismo, panteísmo, deísmo, dogmatismo ou
espiritismo. Nesta última incluem-se as grandes doutrinas reencarnacionistas já
existentes no tempo de Kardec e escolas que surgiram posteriormente, inspiradas
nos princípios espíritas, como os vários ramos teosóficos. (N. do Rev.)
[62] Hoje a expressão de Kardec: pequena
minoria parece inadequada. O materialismo expandiu-se como ideologia política e
domina mais de metade do globo. Por outro lado, a generalização de Kardec sobre
a irresponsabilidade e o comodismo dos materialistas não se justifica, diante
das lutas e dos sacrifícios destes para a implantação de uma nova ordem social
no mundo. Há mesmo, como assinala Annie Besant em suas memórias, inegável
abnegação de parte daqueles que estoicamente se sacrificam, sem nada esperar
após a morte, pela construção de um mundo melhor para as gerações futuras. Mas,
apesar disso, a ambição e o imediatismo solapam os movimentos ideológicos do
materialismo e ameaçam destruir as suas conquistas logo após as primeiras
vitórias. Kardec, embora não tivesse podido examinar a fundo o problema,
percebeu a fragilidade dessa posição, motivada por um desvio de visão da
natureza espiritual do homem. Por outro lado, a maioria numérica não
corresponde à realidade ideológica. Mesmo nos países dominados pelo materialismo
a grande maioria continua espiritualista. (N. do Rev.)
[63] O extremismo é um fenômeno psicológico
determinado pelo imediatismo, pelo desejo de solução imediata dos problemas. É
comum no homem a passagem de um extremo ao outro. Karl Marx, opondo-se ao extremismo
religioso, passou para o outro extremo, o do materialismo. Augusto Comte cai no
positivismo materialista para fugir às abstrações da metafísica. Sigmund Freud,
para combater os exageros do psiquismo afunda-se no pansexualismo. Kardec teve
o mérito de não cair em nenhum extremismo, dando ao Espiritismo o equilíbrio
que o conserva como doutrina coerente, baseada na tolerância, na fraternidade e
na compreensão profunda da natureza evolutiva do homem. (N. do Rev.)
[64] Essa teoria da conservação da individualidade
nos estágios inferiores da evolução aparece na Teosofia com a doutrina da alma
grupo dos animais. Cada espécie animal constituiria uma alma grupo, para a qual
voltaria a alma individual do animal após a morte, enriquecendo com suas
experiências o psiquismo da espécie. O Espiritismo considera a individualização
como objetivo da evolução do princípio inteligente (essência da alma) para o
desenvolvimento da consciência em direção a Deus, que é a consciência suprema,
mas não para fundir-se nesta e sim para conviver com ela. Essa teoria panteísta
confunde a individualidade com o egoísmo. Este, que é uma deformação do
indivíduo, é que desaparece com a evolução. (N. do Rev.)
[65] A revolução teológica da atualidade
procura eliminar, tanto no Catolicismo como no Protestantismo, estes pontos
negativos da Teologia clássica. Veja-se o esforço gigantesco de Teilhard de
Chardin para dar uma orientação evolucionista ao Catolicismo. No Protestantismo
a revolução teológica chegou ao extremo do Cristianismo Ateu. Todas as soluções
apresentadas até agora são insuficientes e padecem às vezes de gritante
incoerência. Enquanto as religiões dogmáticas não substituírem os seus dogmas
de fé (que sustentam a fé cega) pelo dogma racional da reencarnação (fundamento
bíblico e evangélico do Cristianismo) não escaparão do absurdo, do ilogismo em
que se afundaram. (N. do Rev.)
[66] As experiências parapsicológicas atuais
comprovaram cientificamente esta verdade espírita, demonstrando que os
retardados e deficientes mentais, no plano extra-sensorial (libertos da rede
dos sentidos orgânicos) equiparam-se às criaturas normais e não raro as
superam. Débeis mentais exercem funções psi competindo com indivíduos normais.
Kardec, em suas experiências na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (Ver
Revista Espírita) já havia comprovado que os espíritos de idiotas
manifestavam-se com plena lucidez e podiam comentar as suas dificuldades do
estado de vigília, quando sofriam o constrangimento das imperfeições orgânicas.
(N. do Rev.)