Teoria das Manifestações Físicas
Haveria, assim, em nós, duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e segue a alma que acha, desse modo, ter sempre um envoltório; é o que chamamos perispírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se veem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar, flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponível; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.
A observação prova – e insistimos nessa palavra observação, porque toda a nossa teoria é a consequência de fatos estudados –, que a matéria sutil, que constitui o segundo envoltório do Espírito, não se liberta senão pouco a pouco, e não instantaneamente, do corpo. Assim, os laços que unem a alma e o corpo não são subitamente rompidos pela morte; ora, o estado de perturbação que observamos, subsiste durante todo o tempo em que se opera o desligamento; o Espírito não recobra a inteira liberdade de suas faculdades e a consciência clara de si mesmo, senão quando seu desligamento se completa.
A experiência prova, ainda, que a duração desse desligamento varia segundo os indivíduos. Em alguns se opera em três ou quatro dias, ao passo que, em outros, não está inteiramente realizada ao cabo de vários meses. Assim, a destruição do corpo, a decomposição pútrida, não bastam para operar a separação; por isso, certos Espíritos dizem: Sinto que os vermes me roem.
Em algumas pessoas, a separação começa antes da morte; são as que, em vida, se elevaram, pelo pensamento e a pureza de seus sentimentos, acima das coisas materiais; a morte não acha mais do que fracos laços entre a alma e o corpo, e esses laços se rompem quase instantaneamente. Quanto mais o homem viveu materialmente, quanto mais absorveu seus pensamentos nos gozos e nas preocupações da personalidade, tanto mais esses laços são tenazes; parece que a matéria sutil esteja identificada com a matéria compacta, e que haja entre elas coesão molecular; eis por que elas não se separam senão lenta e dificilmente.
Nos primeiros instantes que se seguem à morte, quando ainda há união entre o corpo e o perispírito, este conserva bem melhor a impressão da forma material, da qual reflete, por assim dizer, todas as nuanças, e mesmo todos os acidentes. Eis por que um supliciado nos disse poucos dias depois de sua execução: Se pudésseis me ver, ver-me-íeis com a cabeça separada do tronco. Um homem que morrera assassinado nos disse: Vede a chaga que se me fez no coração. Acreditava que poderíamos vê-lo. (p. 128 - R.E. 1858)
Aparições
Mas, direis, não será esse perispírito uma criação fantástica da imaginação? Não seria mais uma dessas suposições feitas pela ciência para explicar certos efeitos? Não; não é obra da imaginação, porque foram os próprios Espíritos que o revelaram; não se trata de ideia fantástica, desde que pode ser constatado pelos sentidos, ser visto e tocado. A coisa existe, apenas o termo é nosso. Para as coisas novas necessitamos de vocábulos termos novos. E os próprios Espíritos adotam nas comunicações que estabelecem conosco.
Por sua natureza e em estado normal, o perispírito é para nós invisível, mas pode sofrer modificações que o tornem perceptível, ou por uma espécie de condensação, ou por uma mudança na disposição molecular... Estes diferentes estados do perispírito são o produto da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior.
Uma outra propriedade da substância do perispírito é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo: ele as atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.
O Espírito pode dar-lhe as mais variadas aparências, inclusive de animal ou chamas, Mas se desejam tornar-se conhecidos, tomam exatamente todos os traços sob os quais foram conhecidos e, até, quando necessário, a aparência da vestimenta. (p. 335 R.E. 1858)
Sensações dos Espíritos
No corpo estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe servem de canal. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais. Eis por que o Espírito não diz que sofre da cabeça em vez dos pés. Além disso, é necessário não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. A dor que sentem não é, pois, uma dor física, mas um vago sentimento íntimo, que nem se dá perfeita conta.
Um suicida dizia: "... entretanto sinto que os vermes me roem". Ora, seguramente os vermes não roem o perispírito e, ainda menos o Espírito; apenas roem o corpo. Mas como a separação entre corpo e perispírito não era completa, o resultado era uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que se passava no corpo. Repercussão não, era antes a visão daquilo que se passava em seu corpo, ao qual estava ligado o seu perispírito, que lhe produzia uma ilusão, que tomava como realidade. (p. 348 - R.E. 1858)
Causas da Obsessão e Meios de Combate
Sabemos que os Espíritos estão revestidos de um envoltório vaporoso, formando neles um
verdadeiro corpo fluídico, ao qual damos o nome de perispírito, cujos elementos são
hauridos no fluido universal ou cósmico, princípio de todas as coisas. Quando o Espírito se
une ao corpo, nele existe com seu perispírito, que serve de laço entre o Espírito
propriamente dito e a matéria corpórea; é o intermediário das sensações percebidas pelo
Espírito. Mas esse perispírito não está confinado no corpo como dentro de uma caixa; pela
sua natureza fluídica, irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma espécie de
atmosfera, como o vapor que dele se libera. Mas o vapor que se libera de um corpo malsão
é igualmente malsão, acre e nauseabundo, o que infecta o ar dos lugares onde se reúnem
muitas pessoas malsãs. Do mesmo modo que esse vapor está impregnado das qualidades
do corpo, o perispírito está impregnado das qualidades, quer dizer, do pensamento do
Espírito, e faz irradiar essas qualidades em torno do corpo.
Aqui um outro parêntese para responder imediatamente a uma objeção que alguns opõem
à teoria que o Espiritismo dá do estado da alma; acusam-no de materializar a alma, ao
passo que, segundo a religião, a alma é puramente imaterial. Esta objeção, como a maioria
daquelas que são feitas, provém de um estudo incompleto e superficial. O Espiritismo
jamais definiu a natureza da alma, que escapa às nossas investigações; nunca disse que o
perispírito constitui a alma: a palavra perispírito diz positivamente o contrário, uma vez que
especifica um envoltório ao redor do Espírito. Que diz O Livro dos Espíritos a esse respeito?
"Há no homem três coisas: a alma, ou Espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório
material; o perispírito, envoltório fluídico semi-material, servindo de laço entre o Espírito e
o corpo. "De que na morte do corpo a alma conserva o envoltório fluídico, não quer dizer
que esse envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, não mais que o corpo não faça
senão um com a roupa, não mais que a alma não faça senão um com o corpo. A Doutrina
Espírita não tira nada à imaterialidade da alma, só lhe dá dois envoltórios em lugar de um
durante a vida corpórea, e um depois da morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas
um resultado da observação, e com a ajuda desse envoltório ela faz conceber melhor a
individualidade e explicar melhor a sua ação sobre a matéria. (p. 357 - R.E. 1862)
Causas da Obsessão e Meios de Combate
Em nosso artigo precedente expomos a maneira pela
qual se exerce a ação dos Espíritos sobre o homem, ação, por assim
dizer, material. Sua causa está inteiramente no perispírito, princípio
não só de todos os fenômenos espíritas propriamente ditos, mas de
uma imensidade de efeitos morais, fisiológicos e patológicos,
incompreendidos antes do conhecimento desse agente, cuja
descoberta, se assim nos podemos exprimir, abrirá horizontes
novos à Ciência, quando esta se dispuser a reconhecer a existência
do mundo invisível.
Como vimos, o perispírito representa importante papel
em todos os fenômenos da vida; é a fonte de uma porção de
afecções, cuja causa é em vão buscada pelo escalpelo na alteração
dos órgãos, e contra as quais é impotente a terapêutica. Por sua
expansão explicam-se, ainda, as reações de indivíduo a indivíduo, as
atrações e as repulsões instintivas, a ação magnética, etc. No Espírito livre, isto é, desencarnado, substitui o corpo material; é o
agente sensitivo, o órgão por meio do qual ele age. Pela natureza
fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito alcança o indivíduo
sobre o qual quer atuar, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o
magnetiza. Vivendo em meio ao mundo invisível, o homem está
incessantemente submetido a essas influências, assim como às da
atmosfera que respira, traduzindo-se aquelas por efeitos morais e
fisiológicos dos quais não se dá conta e que, muitas vezes, atribui a
causas inteiramente contrárias. Essa influência difere, naturalmente,
segundo as qualidades, boas ou más, do Espírito, como já
explicamos no artigo anterior. Se ele for bom e benevolente a
influência, ou, se quisermos, a impressão, é agradável e salutar; é
como as carícias de uma terna mãe, que abraça o filho. Se for mau
e perverso, será dura, penosa, aflitiva e por vezes perniciosa; não
abraça: constrange. Vivemos num oceano fluídico, expostos
incessantemente a correntes contrárias, que atraímos ou repelimos,
e às quais nos abandonamos, conforme nossas qualidades pessoais,
mas em cujo meio o homem sempre conserva o seu livre-arbítrio,
atributo essencial de sua natureza, em virtude do qual pode sempre
escolher o caminho. (p. 1 - R.E. 1863)
Introdução ao Estudo dos Fluidos Espirituais
Algumas pessoas contestaram a utilidade do envoltório
perispiritual da alma e, em consequência, a sua existência. A alma,
dizem, não precisa de intermediário para agir sobre o corpo; e, uma
vez separada do corpo, é um acessório supérfluo.
A isto respondemos, primeiro, que o perispírito não é
uma criação imaginária, uma hipótese inventada para chegar a uma
solução; sua existência é um fato constatado pela observação.
Quanto à sua utilidade, quer durante a vida, quer depois da morte,
é preciso admitir que, desde que existe, é que serve para alguma
coisa. Os que lhe contestam a utilidade são como um indivíduo
que, não compreendendo as funções de certas engrenagens num
mecanismo, concluíssem que só servem para complicar
desnecessariamente a máquina. Não vê que se a menor peça fosse
suprimida, tudo seria desorganizado. Quantas coisas, no grande
mecanismo da Natureza, parecem inúteis aos olhos do ignorante e,
mesmo, de certos cientistas, que de boa-fé acreditam que se
tivessem sido encarregados da construção do Universo, o teriam
feito melhor!
O perispírito é uma das engrenagens mais importantes
da economia. A Ciência o observou em alguns de seus efeitos e,
sucessivamente, tem sido designado sob o nome de fluido vital,
fluido ou influxo nervoso, fluido magnético, eletricidade animal,
etc., sem se dar conta precisa de sua natureza, de suas
propriedades e, ainda menos, de sua origem. Como envoltório do
Espírito após a morte, foi suspeitado desde a mais alta antiguidade.
Todas as teogonias atribuem aos seres do mundo invisível um
corpo fluídico. São Paulo diz em termos precisos que renascemos
com um corpo espiritual (1.ª epístola aos Coríntios, 15:35 a 44 e 50).
Dá-se o mesmo com todas as grandes verdades
baseadas nas leis da Natureza, e das quais, em todas as épocas, os homens de gênio tiveram a intuição. É assim que, desde antes de
nossa era, hábeis filósofos tinham suspeitado a redondeza da Terra
e seu movimento de rotação, o que nada tira ao mérito de
Copérnico e de Galileu, sendo mesmo de presumir-se que estes
últimos hajam aproveitado as ideias de seus predecessores. Graças
a seus trabalhos, o que não passava de uma teoria individual, de
uma teoria incompleta e sem provas, desconhecida das massas,
tornou-se uma verdade científica, prática e popular.
A doutrina do perispírito está no mesmo caso; o
Espiritismo não foi o primeiro a descobri-lo. Mas, assim como
Copérnico para o movimento da Terra, ele o estudou, demonstrou,
analisou, definiu e dele tirou fecundos resultados. Sem os estudos
modernos mais completos, esta grande verdade, como muitas
outras, ainda estaria no estado de letra morta. (p. 73 - R.E. 1866)
Caráter da Revelação Espírita
39. – O Espiritismo experimental estudou as
propriedades dos fluidos espirituais e a ação deles sobre a matéria.
Demonstrou a existência do perispírito, suspeitado desde a
antiguidade e designado por São Paulo sob o nome de corpo
espiritual, isto é, corpo fluídico da alma, depois da destruição do
corpo tangível. Sabe-se hoje que esse invólucro é inseparável da
alma, forma um dos elementos constitutivos do ser humano, é o
veículo da transmissão do pensamento e, durante a vida do corpo,
serve de laço entre o Espírito e a matéria. O perispírito representa
importantíssimo papel no organismo e numa multidão de afecções,
que se ligam à fisiologia, assim como à psicologia.
40. – O estudo das propriedades do perispírito, dos
fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma abre novos
horizontes à Ciência e dá a chave de uma multidão de fenômenos
incompreendidos até então, por falta de conhecimento da lei que os
rege – fenômenos negados pelo materialismo, por se prenderem à
espiritualidade, e qualificados como milagres ou sortilégios por
outras crenças. Tais são, entre muitos, os fenômenos da dupla vista,
da visão a distância, do sonambulismo natural e artificial, dos
efeitos psíquicos da catalepsia e da letargia, da presciência, dos
pressentimentos, das aparições, das transfigurações, da transmissão
do pensamento, da fascinação, das curas instantâneas, das
obsessões e possessões, etc. Demonstrando que esses fenômenos
repousam em leis naturais, como os fenômenos elétricos, e em que
condições se podem reproduzir, o Espiritismo derroca o império
do maravilhoso e do sobrenatural e, conseguintemente, a fonte da
maior parte das superstições. Se faz que se creia na possibilidade de
certas coisas consideradas por alguns como quiméricas, também
impede se creia em muitas outras, das quais ele demonstra a
impossibilidade e a irracionalidade. (p. 276 - R.E. 1867)
Fotografia do Pensamento
Criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no
envoltório perispirítico, como num espelho, ou ainda como essas
imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar;
toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. Tenha um homem,
por exemplo, a ideia de matar a outro: embora o corpo material se
lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em ação pelo
pensamento e reproduz todos os matizes deste último; executa
fluidicamente o gesto, o ato que intentou praticar. O pensamento
cria a imagem da vítima e a cena inteira é pintada, como num
quadro, tal qual se lhe desenrola no espírito.
Desse modo é que os mais secretos movimentos da
alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler
noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos
olhos do corpo. Os olhos do corpo vêem as impressões interiores
que se refletem nos traços do rosto: a cólera, a alegria, a
tristeza; mas a alma vê nos traços da alma os pensamentos que não
se traduzem no exterior. (p. 168 - R.E. 1868)
Conferências
Numa série de conferências feitas em abril último, pelo
Sr. Chavée, no Instituto Livre do boulevard des Capucines, no 39, o
orador fez, com tanto talento quanto verdadeira ciência, um estudo
analítico e filosófico dos Vedas indianos e das leis de Manu,
comparadas com o livro de Jó e os Salmos. O tema conduziu a
considerações de elevado alcance, que tocam diretamente os
princípios fundamentais do Espiritismo. Eis algumas notas
colhidas por um ouvinte dessas conferências; não são senão
pensamentos apanhados a esmo, que perdem necessariamente
ao serem destacados do conjunto e privados de seus
desenvolvimentos, mas que bastam para mostrar a ordem das idéias
seguidas pelo autor:
“De que serve lançar um véu sobre o que é? De que
serve não dizer bem alto o que se pensa baixinho? É preciso ter a
coragem de dizer. Quanto a mim, terei esta coragem.”
“Nos Vedas indianos está dito: ‘Têm-se os seus pares no
alto.’ E eu sou desta opinião.”
“Com os olhos da carne não se pode ver tudo.”
“O homem tem uma existência indefinida e o
progresso da alma é indefinido. Seja qual for a soma de suas luzes,
ela tem sempre a aprender, porque tem o infinito à sua frente e,
embora não o possa atingir, seu objetivo será sempre dele se
aproximar cada vez mais.”
(p. 255 - R.E. 1868)
05 outubro 2017
Perispírito: Notas Extraídas da Revista Espírita
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