Autor: F. C. Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Copyright: 1939
Carta ao Leitor
Meu amigo, Deus te conceda paz.
Se leste as páginas
singelas do "Há Dois Mil Anos...", é possível que procures aqui, a
continuação das lutas intensas, vividas pelas suas personagens reais, na arena
de lutas redentoras da Terra. É por esse motivo que me sinto obrigado a explicar-te
alguma coisa, com respeito ao desdobramento desta nova história.
Cinquenta anos depois das ruínas fumegantes de Pompeia, nas quais o Impiedoso senador Públio Lentulus se desprendia novamente do mundo, para aferir o valor de suas dolorosas experiências terrestres, vamos encontrá-lo, nestas páginas, sob a veste humilde dos escravos, que o seu orgulhoso coração havia espezinhado outrora. A misericórdia do Senhor permitia-lhe reparar, na personalidade de Nestório, os desmandos e arbitrariedades cometidos no pretérito, quando, como homem público, supunha guardar nas mãos vaidosas, por injustificável direito divino, todos os poderes. Observando um homem cativo, reconhecerás, em cada traço de seus sofrimentos, o venturoso resgate de um passado de faltas clamorosas.
Todavia, sinto-me no
dever de esclarecer-te a curiosidade, com referência aos seus companheiros mais
diretos, na nova romagem terrena, de que este livro é um testemunho real.
Não obstante estarem
na Terra, pela mesma época, os membros da família Severus, Flávia e Marcus
Lentulus, Saul e André de Gioras, Aurélia, Suplicio, Fúlvia e demais comparsas
do mesmo drama, devo esclarecer-te que todos esses companheiros de luta
mourejavam, na ocasião, em outros setores de sofrimentos abençoados, não
comparecendo aqui, onde o senador Públio Lentulus aparece, aos teus olhos, na
indumenta de escravo, já na idade madura, como elemento integrante de um quadro
novo.
De todas as
personagens do "Há Dois Mil Anos. . . ", um contudo aqui se encontra,
junto de outras figuras do mesmo tempo, como Policarpo, embora não relacionado
nominalmente no livro anterior, companheiro esse que, pelos laços afetivos, se
lhe tornara um irmão devotado e carinhoso, pelas mesmas lutas Políticas e
sociais. A Roma de Nero e de Vespasiano. Quero referir-me a Pompilio Crasso,
aquele mesmo irmão de destino na destruição de Jerusalém, cujo coração
palpitante lhe fora retirado do peito por Nicandro, às ordens severas de um
chefe cruel e vingativo.
Pompilio Crasso é o
mesmo Helvídio Lucius destas páginas, ressurgindo no mundo para o trabalho
renovador e, aludindo a um amigo dedicado e generoso, quero dizer-te que este
livro não foi escrito de nós e por nós, no pressuposto de descrever as nossas
lutas transitórias no mundo terrestre. Este livro é o repositório da verdade
sobre um coração sublime de mulher, transformada em santa, cujo heroísmo divino
foi uma luz acesa na estrada de numerosos Espíritos amargurados e sofredores.
No "Há Dois Mil
Anos. . ." buscávamos encarecer uma época de luzes e sombras, onde a materialidade
romana e o Cristianismo disputavam a posse das almas, num cenário de misérias e
esplendores, entre as extremas exaltações de César e as maravilhosas
edificações em Jesus-Cristo. Ali, Públio Lentulus se movimenta num acervo de
farraparias morais e deslumbramentos transitórios; aqui, entretanto, como o
escravo Nestório, observa ele uma alma. Refiro-me a Célia, figura central das
páginas desta história, cujo coração, amoroso e sábio, entendeu e aplicou todas
as lições do Divino Mestre, no transcurso doloroso de sua vida. Na sequência
dos fatos, dentro da narrativa, seguirás os seus passos de menina e de moça,
como se observasses um anjo pairando acima de todas as contingências da Terra.
Santa pelas virtudes e pelos atos de sua existência edificante, seu Espírito
era bem o lírio nascido do lodo das paixões do mundo, para perfumar a noite da
vida terrestre, com os olores suaves das mais divinas esperanças do Céu.
Podemos afirmar,
portanto, leitor amigo, que este volume não relaciona, de modo integral, a continuação
das experiências purificadoras do antigo senador Lentulus, nos círculos de
resgate dos trabalhos terrestres. É a história de um sublime coração feminino
que se divinizou no sacrifício e na abnegação, confiando em Jesus, nas lágrimas
da sua noite de dor e de trabalho, de reparação e de esperança. A Igreja Romana
lhe guarda, até hoje, as generosas tradições, nos seus arquivos envelhecidos,
se bem que as datas e as denominações, as descrições e apontamentos se
encontrem confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos.
Mas, meu irmão e meu
amigo, abre estas páginas refletindo no turbilhão de lágrimas que se represa no
coração humano e pensa no quinhão de experiências amargas que os dias
transitórios da vida te trouxerem. É possível que também tenhas amado e sofrido
muito. Algumas vezes experimentaste o sopro frio da adversidade enregelando o
teu coração. De outras, feriram-te a alma bem intencionada e sensível a calúnia
ou o desengano. Em certas circunstâncias, olhaste também o céu e perguntaste,
em silêncio, onde se encontrariam a Verdade e a Justiça, invocando a
misericórdia de Deus, em preces dolorosas. Conhecendo, porém, que todas as
dores têm uma finalidade gloriosa na redenção do teu Espírito, lê esta história
real e medita. Os exemplos de uma alma santificada no sofrimento e na
humildade, ensinar-te-ão a amar o trabalho e as penas de cada dia; observando-lhe
os martírios morais e sentindo, de perto, a sua profunda fé, experimentarás um
consolo brando, renovando as tuas esperanças em Jesus-Cristo.
Busca entender a
essência deste repositório de verdades confortadoras e, do plano espiritual, o
Espírito purificado de nossa heroína derramará em teu coração o bálsamo
consolador das esperanças sublimes.
Que aproveites do
exemplo, como nós outros, nos tempos recuados das lutas e das experiências que
passaram, é o que te deseja um irmão e servo humilde.
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 19 de
dezembro de 1939.
Célia — Personagem Principal
Conforme nos informa o Espírito Emmanuel, Cinquenta anos
depois, trata da continuação do romance Há 2000 anos. Nele, há a presença de
Nestório (reencarnação de Públius Lentulus) com seu filho Ciro — na família de
Célia. Ressaltemos não o aspecto histórico, mas a trajetória de Célia, que
soube sofrer com dignidade na defesa do cristianismo.
Primeiramente, tomou como seu filho, uma criança que fora colocada na cama de sua mãe, para que esta sofresse as represálias do marido. Por isso, foi expulsa de casa pelo seu pai. A partir daí, começa a sua peregrinação. Sozinha, sai ao mundo com esta criança. Nessa caminhada, é persuadida a trocar de indumentária, ou seja, vestir-se como se fosse homem, transformando-se no irmão Marinho.
No final, seu pai procura a ajuda do irmão Marinho — sua própria filha —, e que é conduzido ao Cristianismo, crença perseguida por ele durante muito tempo.

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