16 novembro 2025

Júlio de Abreu Filho (1893-1972)

Júlio de Abreu Filho (1893-1972). Cearense, nascido em Quixadá em 10 de dezembro de 1893, Júlio Abreu Filho concluiu o ensino fundamental no Colégio São José, na Serra do Estevão. Em Salvador, Bahia, estudou na Escola Politécnica, mas não terminou o curso. Em Ilhéus, trabalhou na Delegacia de Terras, órgão vinculado à Secretaria da Agricultura. Foi funcionário daquela prefeitura e da Estrada de Ferro Inglesa, onde teve importante participação na construção do trecho ferroviário entre Ilhéus e Vitória da Conquista. 

Em 1921, no Rio de Janeiro, foi empregado da empresa de energia Light. Nesta mesma empresa, em 1929, transferiu-se para São Paulo, onde trabalhou na construção da usina hidrelétrica do parque industrial de Cubatão. 

Entre os anos de 1934 e 1935 foi professor do magistério secundário em vários colégios de São Paulo, capital. Em 1936, tornou-se funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, no departamento de engenharia rural, organismo responsável por diversos e importantes projetos no interior do Estado. 

Júlio Abreu notabilizou-se no movimento espírita brasileiro pela tradução pioneira da Revista Espírita, de Allan Kardec, em um trabalho monumental, iniciado em 1949, fruto de seu idealismo e do profundo amor pelo espiritismo. Fundou a editora Édipo com o intuito de publicar a revista em fascículos, mais tarde lançada em seus doze volumes completos pela Editora Cultural Espírita (Edicel). 

Ele foi um dos maiores eruditos que o espiritismo brasileiro já conheceu. É dele a visão da revista kardequiana como um laboratório de ideias, um espaço de experimentação doutrinária, conceitual, ferramenta indispensável de Kardec: “foi o seu mais importante instrumento de pesquisa, verdadeira sonda para a captação das reações do público, ao mesmo tempo, instrumento de divulgação e defesa da Doutrina. Mais do que isso, porém, constitui-se numa espécie de laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas por todo o mundo, eram examinadas à luz dos princípios de O Livro dos Espíritos e controladas pelas experiências da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e pelas novas manifestações espirituais recebidas.” (Revista Espírita (1858) — Apresentação — Edicel. Grifo nosso). 

Ao lado do filósofo espírita Herculano Pires, defendeu ardorosamente a filosofia espírita e marcou posição contra os desvios doutrinários perpetrados pela Federação Espírita Brasileira (FEB). O Verbo e a Carne, obra lançada em parceria com Herculano, é um autêntico libelo contra o roustainguismo, corrente religiosa apócrifa adotada pela chamada “Casa Máter do Espiritismo”, à revelia dos espíritas brasileiros. Junto com Pedro Granja e Jorge Rizzini, também participou ativamente do Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo, fundado por Herculano Pires em 1948.

Além da Revista Espírita, traduziu diversas obras espíritas, das quais se destaca História do Espiritismo (The History of Spiritualism) do célebre autor de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle. Uma das mais fiéis traduções de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o Espiritismo foram feitas por ele, lançadas pela editora Pensamento. Também traduziu As Profecias de Daniel e o Apocalipse de João (Obervations Upont the Prophectes of Daniel and the Apocalipse of St. John - 1733), de Isaac Newton. 

Escreveu Erros Doutrinários — O Sentido do Roustainguismo (1950), compilação de artigos publicados no periódico carioca Aurora, uma refutação do livro Elos Doutrinários, do roustainguista Ismael Gomes Braga, editado pela FEB. Esse livro está inserido em O Verbo e a Carne (1973), lançado pela Edições Cairbar. Publicou ainda as obras Poeira da Estrada, lançada pela editora Édipo e Duas Teses, contendo O Livro Espírita no Brasil e Sincretismo Religioso, temas apresentados no I Congresso de Unificação do Espiritismo no Brasil. Também pela Édipo, publicou a partir de fevereiro de 1950 um periódico homônimo, doutrinário e noticioso, cujo lema era: “Sempre a verdade, carinho e amor para com todos”. Teve curta duração, com apenas 18 edições. 

Graças ao seu abnegado trabalho de tradução da Revista Espírita, o Clube dos Jornalistas Espíritas lançou o livro Espiritismo, sua Antiguidade, Evolução e Propagação, contendo textos selecionados e extraídos da Revista, uma grande novidade no movimento espírita da época. O livro saiu em 1951 pela Édipo, mas foi organizado e comercializado pelo Clube dos Jornalistas Espíritas, por ocasião do 94º aniversário do espiritismo, com prefácio de Herculano.

Júlio Abreu Filho exerceu inúmeras atividades no movimento espírita paulista. Foi diretor da União Federativa Espírita Paulista, uma das quatro entidades federativas que deram origem à União Social Espírita, em 1947.[1] A partir de 1952 passou a ser denominada de União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), da qual foi membro do conselho deliberativo estadual (CDE), ao lado de Herculano Pires e Pedro de Camargo (Vinícius).  

Foi representante no Brasil de vários órgãos internacionais do espiritismo. Era também um orador muito requisitado. Ministrou vários cursos no movimento espírita: na União da Mocidade Espírita de São Paulo e na Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde coordenou o curso de Cosmogonia, na recém-criada Escola de Aprendizes do Evangelho, concebida em 1951 por Edgard Armond, o grande articulador da fundação da USE. Este curso fez parte do 2º Grau da Escola, mais voltado para o estudo filosófico. 

Júlio Abreu Filho foi um lídimo representante de uma geração de espíritas extremamente cultos, profundos conhecedores do espiritismo, da obra de Allan Kardec e com uma cultura enciclopédica somente comparável a de Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e Canuto Abreu. Nos últimos anos de sua existência viveu paralítico, passou por muitos dissabores, vindo a desencarnar em uma clínica onde estava internado, em São Paulo, capital, no dia 28 de setembro de 1972.[2]

Fontes de Consulta: 

ABREU FILHO, Júlio — Erros Doutrinários — O Sentido do Roustainguismo, 1ª ed. Édipo – São Paulo-SP [1950].

Anais do 1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo — Edição da União Social Espírita, São Paulo-SP [1947].

GODOY, Paulo Alves — Grandes Vultos do Espiritismo, 2ª ed. Edições FEESP, São Paulo-SP [1990].

KARDEC, Allan — Revista Espírita (1858), trad. Júlio Abreu Filho, Edicel — São Paulo-SP, s/d.

LEX, Ary — 60 Anos de Espiritismo no Estado de São Paulo (Nossa Vivência), 1ª ed. Edições FEESP, São Paulo-SP [1996].

MONTEIRO, Eduardo Carvalho e D’OLIVO, Natalino — U.S.E. 50 Anos de Unificação, 1ª ed. Edições USE – São Paulo-SP [1997].

RAMOS, Clóvis — A Imprensa Espírita no Brasil — 18691978, 1ª ed. — Instituto Maria, Departamento Editorial, Juiz de Fora-MG [1979].

RIZZINI, Jorge — J. Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec — O Homem, a Vida, a Obra, 1ª ed. Paidéia — São PauloSP [2001].

Cópia extraída do livro digital Biografia de Allan Kardec, por Júlio de Abreu Filho, editado pelo Pense — Pensamento Social Espírita.


[1] As outras federativas são: Liga Espírita do Estado de São Paulo, Federação Espírita do Estado de São Paulo e Sinagoga Espírita Nova Jerusalém. (Nota do Pense).

[2] Herculano Pires e Jorge Rizzini foram visitar Julio Abreu Filho na clínica onde estava internado, em 1972. Estava presente também sua filha, Ceres Nogueira Abreu Sacchetta, esposa do jornalista Hermínio Sacchetta, colega de profissão de Herculano, que se comprometeu a reeditar e prefaciar seu livro Erros Doutrinários, lançado há mais de 20 anos. Júlio Abreu se entusiasmou com o projeto da reedição e autorizou o parceiro a providenciar o que fosse necessário para o relançamento de sua obra. A fim de atualizar a edição, Herculano prefaciou e acrescentou uma segunda parte, dando origem a um dos clássicos da literatura espírita anti-roustainguista, O Verbo e a Carne, obra que Júlio Abreu não pôde ver publicada, pois desencarnaria algumas semanas depois. (Nota do Pense).

15 novembro 2025

Proclamação da República e Espiritismo

Em 15 de novembro de 1889, o Brasil deixou de ser monarquia — governado por um imperador, D. Pedro II — e passou a ser uma república, um sistema de governo em que o chefe de Estado é escolhido pelos cidadãos (direta ou indiretamente). Fato: Marechal Deodoro da Fonseca, apoiado por setores do exército, políticos e parte da elite, liderou um movimento militar que decretou o fim da monarquia, expulsou a família real imperial do Brasil e instalou um governo provisório republicano.

O capítulo 27 — “A República” do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos, mostra-nos o aspecto espiritual desse acontecimento, enfatizando que esta mudança política fazia parte de um processo necessário ao crescimento moral do povo brasileiro. A obra não é historiografia acadêmica — é uma narrativa espiritualista, que busca mostrar o papel espiritual do Brasil no mundo e a atuação de Espíritos na condução dos acontecimentos.

De acordo com Humberto de Campos, a proclamação da República Brasileira representa mais um passo para a consolidação da maioridade coletiva da nação do Evangelho. Isso quer dizer que doravante, o Brasil político será entregue à sua responsabilidade própria. Os amigos do espaço estarão inspirando toda a nação para que essa mudança se faça sem derramamento de sangue.

A Proclamação deve ser vista como “depuração” das estruturas imperiais. De acordo com o livro, o Império possuía méritos, mas também limites: 1) o governo monárquico não conseguia mais atender às exigências do progresso; 2) era necessário criar bases mais flexíveis para uma sociedade em expansão; 3) a República viabilizaria novas ideias, maior participação e transformações sociais

Para Humberto de Campos, os acontecimentos políticos têm finalidade espiritual. A República abre portas para: 1) liberdades civis maiores; 2) pluralidade religiosa e de pensamento; 3) redefinição da educação e do trabalho; 4) crescimento moral do povo. Mesmo com suas falhas históricas, o novo regime possibilitou transformações que conduzem, segundo o livro, ao papel futuro do Brasil como difusor do Evangelho redivivo.

 

 

14 novembro 2025

Roustainguismo e Espiritismo

Jean-Baptiste Roustaing (1805–1879) foi contemporâneo de Kardec. Apresentou-se como um intérprete dos evangelhos — Mateus Marcos, Lucas e João — sob a inspiração espiritual. Na sua obra Os Quatro Evangelhos: Revelação da Revelação defende o corpo fluídico de jesus, ou seja, um corpo aparente, ideia esta criada pelo docetismo (do grego dokein, “parecer”)

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, tem como base o pentateuco espírita — O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritíssimo, A Gênese e o Céu e o Inferno —, além das diversas obras complementares, em especial a Revista Espírita. Seus princípios fundamentais podem ser resumidos: existência e imortalidade da alma; comunicabilidade dos espíritos; lei de causa e efeito, reencarnação, evolução moral e intelectual.

Allan Kardec não aprovava a ideia de Roustaing sobre o corpo fluídico de Jesus. Defendia que Jesus tinha um corpo de carne como qualquer outro ser humano. Enquanto Roustaing dizia que Jesus não sofreu na cruz, Kardec afirmava o contrário. A única ressalva em relação a Jesus é que ele foi o ser humano mais perfeito que reencarnou na Terra. Dada a sua condição de espírito perfeito, o seu perispírito seria formado dos elementos mais sutis do globo. Nesse caso, a dor poderia ser amenizada, mas não suprimida de todo.  

Allan Kardec, no capítulo XV — "Os Milagres do Evangelho", do livro A Gênese, afirma que o corpo de Jesus era, pois, um corpo semelhante ao nosso. Negar a materialidade seria negar a encarnação, o que contradiz o princípio universal da reencarnação. 

No item 67 deste capítulo, diz: "Esta concepção sobre a natureza do corpo de Jesus não é nova. No quarto século, Apolinário de Laodiceia, chefe da seita dos Apolinaristas, pretendia que Jesus não tivesse possuído um corpo como o nosso, mas um corpo ‘impassível’, que descera do céu no seio da Santa Virgem, e não nascera dela; que, por essa forma Jesus não havia nascido nem sofrido, e que só morrera em aparência. Os Apolinaristas foram anatematizados no Concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381”.


 

12 novembro 2025

O Sentido Oculto do Roustainguismo

"O Sentido Oculto do Roustainguismo" é o título do capítulo VII da Segunda Parte do livro O Verbo e a Carne: Duas Análises do Roustainguismo, de autoria de José Herculano Pires e Júlio Abreu Filho, cuja publicação original é de 1972, pela editora Paideia.   

É o fechamento da série de artigos de análise do livro do Sr. Ismael Gomes Braga, feito por Júlio de Abreu Filho. 

Eis a transcrição deste capítulo: 

Nesta análise por vezes fomos ásperos, dessa aspereza chocante mas necessária nos ambientes espíritas. Mercê de Deus, entretanto, jamais nos afastamos daquela recomendação de Kardec: discutir sem disputar. Nunca deixamos de citar fielmente as fontes; nunca faltamos com o respeito à lógica, aos fatos, à verdade. Se, de passagem, fizemos referências a pessoas, vivas ou desencarnadas, jamais ferimos condições personalíssimas. É que essas criaturas estavam ligadas à projeção social de acontecimentos que interessam à gente espírita de modo muito particular.

Tomaram os espíritas como slogan número um o título de uma obra ditada pelo Espírito de Humberto de Campos: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Meditem os leitores sobre o conceito aí contido. É possível que o Espírito tenha lá as suas razões. Mas como? Quando?

05 novembro 2025

Facilidades e Dificuldades na Visão Espírita (Notas de Livro)

Título: Facilidades e Dificuldades na Visão Espírita

Autor: Luiz Guilherme Marques (médium)

P. Janet (Espírito)

Introdução  

Este livro pretende ser uma reflexão sobre a importância das facilidades e dificuldades na vida de cada encarnado, sendo que o próprio desenho nele inserido retrata todas as possibilidades que podem ocorrer, bem como as diferentes atitudes de cada um frente às facilidades e às dificuldades.

Verifiquemos, primeiramente, que o desenho apresenta três níveis diferentes: 

1) na parte superior encontra-se a Presença Divina, representada por um Olho, que tudo vê e sustenta energeticamente, independente do grau evolutivo de cada um, ou seja, em outras palavras, independente da sua forma de pensar, sentir e agir, ou, ainda, sua opção pelo Bem ou pelo Mal, pois o Mal é apenas resultado da ignorância, que, quando iluminada pela Verdade, faz com que o Espírito se encaminhe para o Bem. Por isso Jesus disse: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.” Entendamos o significado deste tópico, pensemos sobre ele.

Janela para a Vida (Notas de Livro)

Título: Janela para a Vida

Autor: Francisco Cândido Xavier e Fernando Worm

Espíritos Diversos 

1.ª Edição: 1979

Onde Cristo Está   

“É mais fácil encontrar o Cristo no coração de uma criatura animada pela fé do que no silencioso e subterrâneo tumulto de Jerusalém”.

 “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração.” (S. Lucas — 6/45.) Preciosos ensinamentos hauridos ao correr de um caminho e de um tempo longo e frutífero, que não devo esquecer:  

UM SÁBIO ME FALOU ISTO:

— “O CRISTO EM JERUSALÉM?

NÃO VIVE LÁ, JESUS CRISTO

ESTÁ ONDE ESTEJA O BEM”.