01 fevereiro 2025

Sobre a Eternidade

Eternidade. Ausência de início e fim. Em filosofia e religião, o que dura para sempre e que não tem começo nem fim. Define-se naturalmente a eternidade como a duração indefinida, um tempo linear e às vezes cíclico (Eterno Retorno) sem começo nem fim.

As locuções escolásticas — a parte ante, a parte post — não podem ser compreendidas uma sem a outra. Aplicam-se à eternidade que o homem não pode conceber senão "dividindo-a" em duas partes. Uma, sem limites no passado: é a eternidade a parte ante; outra, sem limites no futuro: é a eternidade a parte post.  Diziam os escolásticos que Deus era uma eternidade a parte ante e a parte post, enquanto a alma humana é uma eternidade a parte post. Esse conceito de eternidade é apenas analógico. (1)

Os gregos, filósofos ou não, frequentemente entenderam “eternidade” como tempo infinito, ou duração infinita. Esse sentido encontra-se especialmente vivo nas doutrinas dos filósofos pré-socráticos quando falam que a realidade primordial é eterna (isto é, sempiterna), ou quando mantém a teoria do eterno retorno. Encontramos esse sentido em algumas passagens do próprio Platão, como no Fédon (103 E), onde ele se refere à duração eterna ou por todo o tempo, que pertence às formas (outra passagem de tipo análogo em Rep. X, 608 D). Em Aristóteles, se encontra o sentido de “eternidade” como duração infinita em suas afirmações acerca da eternidade do movimento circular (Phys, VIII 8, 263 a 3) (2)

Segundo Santo Agostinho, a eternidade não pode ser medida pelo tempo, mas também não é simplesmente o intemporal: "A eternidade não tem em si nada que passa; nela tudo está presente, o que não ocorre com o tempo, que jamais pode estar verdadeiramente presente". Por isso a eternidade pertence a Deus.

Na perspectiva cristã, o tempo deixa de ser a roda que sempre reconduz ao mesmo lugar, para tornar-se a propedêutica da eternidade. O homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, foi precipitado no tempo e na morte em consequência do pecado, que é, uma ruptura com Deus. Pelo Cristo porém, que é o mediador, pode restabelecer a ligação com Deus, e fazer de sua vida no tempo uma preparação para a vida eterna. O tempo é apenas um caminho que deve conduzir o homem fora e além do tempo. (3)

Que relação há entre tempo e eternidade? O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente. Se séculos de séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana? (4)

"PARA DEUS O PASSADO E O FUTURO SÃO PRESENTE", ou seja, dentro da eternidade tudo é presente. Mesmo que seja possível uma viagem no tempo, para o viajante aquilo não será compreendido como passado, e sim como presente. Não é possível a divisibilidade do espírito. No que tange à ubiquidade, podemos considerar como irradiação do pensamento e não uma divisibilidade do ser. Seria como o Sol, que estando localizado em determinado espaço é visto em diversos pontos.

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(3) CORBISIER, R. Enciclopédia Filosófica. 2. ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987. 

(4) KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.

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