28 dezembro 2009

Parábola do Joio e do Trigo

Problema: deve-se arrancar o joio ou deixá-lo crescer junto ao trigo?

As parábolas nada mais são do que ensinamentos paralelos a uma lição principal. É a apresentação de uma realidade concreta que evoca, por comparação, uma realidade superior, notadamente moral e espiritual. O joio – do grego zizanion (cizânia) significava uma gramínea anual que parecia muito com trigo até que amadurecesse.

O texto bíblico. "Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas trigo, recolhei-o no meu celeiro." (Evangelho segundo São Mateus 13:24-30)

A parábola do joio e do trigo é uma continuação da “parábola do semeador”. Na parábola do semeador, há uma situação hipotética, em que a semente cai em terrenos de qualidades distintas. Aqui, há um tipo específico de semente, a do trigo. Com o trigo podemos fazer farinha, e com a farinha, o pão, o macarrão etc. É um produto necessário à manutenção da vida humana. Devemos associá-lo ao conceito de bem.

Os trabalhadores do campo adubaram a terra, cavaram os buracos, jogaram as sementes de trigo e cuidaram de regar as plantinhas tenras. Depois desse esforço, foram dormir, descansar pelo dia trabalhado. Os inimigos, porém, esperaram a noite vir, trabalharam no escuro e jogaram a erva daninha. É um chamamento à vigilância. “É pelo descuido do lavrador que a colheita se perde, é pelo descuido do professor que o aluno se torna ocioso, é pelo descuido da educação que os delinquentes juvenis surgem. Assim, para que o bem se conserve e se dilate haverá necessidade de esforço constante”.

Nesta parábola, o joio deve crescer junto com o trigo. Por quê? Porque estas ervas são parecidas. Caso tencionássemos tirar o joio, poderíamos, por engano, arrancar também o trigo. Neste caso, Jesus está nos dizendo que o mal deve conviver com o bem, sem, contudo, que o bem seja conivente com o mal. O mal deve ser sempre combatido. Há, porém, a necessidade de esperar o momento certo, pois qualquer coisa que é feita fora de hora pode não produzir seus frutos desejados.

Esta parábola remete-nos à lei de causa e efeito. Todos somos livres para semear; a colheita, porém, será obrigatória. Podemos semear tanto o trigo quanto o joio. É como a opção entre o bem e o mal. Se optarmos pela prática do bem, a recompensa futura será mais liberdade; caso optemos pelo mal, estaremos prisioneiro do mesmo.

O mal é inerente à imperfeição humana. Na Terra, somos todos mais ou menos imperfeitos; por isso, a compaixão que cada um de nós deve nutrir para com o seu próximo. A convivência com o mal é a resignação da alma ante uma situação irremediável. O homem de bem deve combater o mal, mas sempre pelo lado da mansuetude e não pelo da guerra, da violência.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/par%C3%A1bola-do-joio-e-do-trigo



16 dezembro 2009

Evolução e Espiritismo

Evolução significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo. É o desenvolvimento, pela atualização das possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. A teoria da evolução pode ser vista sob o ponto de vista da Biologia e da Metafísica. Segundo a Biologia, é a transformação das espécies vivas umas nas outras. Em termos da Metafísica, é o progresso do Universo, hipótese de muitas filosofias e doutrinas religiosas.

A evolução biológica engloba o fixismo e o transformismo. O fixismo admite que as espécies não sofrem mudanças. Surgiram sobre a Terra, cada qual já adaptada ao ambiente onde foi criada. Não havendo necessidade de mudanças, as espécies permaneciam imutáveis desde o momento em que surgiram. O transformismo pressupõe que as espécies não permaneciam imutáveis, mas sofriam modificações. O transformismo só pode ser aceito depois da vinda da Nova Ciência e da descoberta do método teórico-experimental.

Charles Darwin (1809-1882), a bordo do Beagle, registrou inúmeras observações em Sobre a Origem das Espécies (1859). Chegou à conclusão que as espécies se transformavam através da seleção natural. Nesse caso, os indivíduos sofrem modificações espontâneas, mas sobrevivem apenas os mais aptos. Além disso, são esses indivíduos que podem se reproduzir e transmitir esses caracteres a seus descendentes.

Na Metafísica, o evolucionismo, mesmo se servindo dos resultados da teoria biológica, vai muito além. O evolucionismo foi assumido como esquema fundamental de muitas metafísicas, tanto materialistas quanto espiritualistas. A característica fundamental que essas metafísicas distinguem na evolução é o progresso. Para elas, evolução significa essencialmente progresso, e sempre otimista, ao contrário da evolução biológica, que não necessariamente é otimista. Spencer, com o seu homogêneo indiferenciado, e Bérgson, com o seu elã vital, deram valiosas contribuições à divulgação do evolucionismo metafísico.

No Espiritismo, o ponto alto da evolução do Espírito é o aparecimento do senso moral. Enquanto o princípio inteligente estagia no reino animal, o senso moral é quase nulo. Somente quando adquire a razão, o pensamento contínuo e o livre-arbítrio, na fase humana, é que começa a responder pelos seus atos. Daí, a responsabilidade de cada um pelo seu próprio progresso.

O Espiritismo mostra-nos que, no inicio da sua caminhada evolutiva, o Espírito não possui o livre-arbítrio, cuja escolha é deixada a cargo dos mensageiros do espaço. Somente quando desenvolveu o senso moral, foi capaz de responder pelos seus próprios atos. Allan Kardec diz-nos que o ser humano não é fatalmente conduzido ao mal. “Ele pode, como prova ou expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos”. (1)

Allan kardec, em O Livro dos Espíritos, mostra-nos que o progresso intelectual nem sempre anda junto com o progresso moral. No longo prazo, porém, deverão equilibrar-se para que haja maior coerência das ações praticadas pelo ser humano. Nesse sentido, o Espírito Emmanuel adverte-nos que a sabedoria e amor são as duas asas que nos conduzirão ao progresso. Paralelamente, o Espírito André Luiz diz-nos que o ciclo de reencarnações somente terminará quando tivermos sedimentado as nossas ações nas máximas do Evangelho de Jesus.

O progresso é inexorável e a lei de causa e efeito é providencial. Assim, tenhamos consciência dos nossos atos diários. Adiando para amanhã a prática do bem, podemos retardar a nossa evolução material e espiritual.

(1) KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995, questão 872. 





08 dezembro 2009

Iluminismo e Espiritismo

Iluminismo, ou filosofia das luzes, é o movimento filosófico do século XIX, que se caracteriza pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. O Espiritismo, considerado um libertador de consciências, utilizou muito esses avanços do pensamento.

O iluminismo não é uma ideia nova. Os compromissos por ele adotados já faziam parte da filosofia antiga, que se esmerava em criticar todo o tipo de crença e de conhecimento. Além disso, procurava usar os novos conhecimentos para os fins práticos da vida. O iluminismo moderno nada mais é do que a aplicação desses compromissos ao período que vai da Revolução inglesa de 1688 até à Revolução Francesa de 1789.

O iluminismo visa à emancipação do ser humano e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A chamada idade da razão tem por objetivo a sua própria autonomia, no sentido de vencer as trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo e da intolerância tanto moral quanto religiosa. Nas mãos do iluminismo, a razão se torna uma nova divindade.

O iluminismo assume os pressupostos hedonistas e utilitaristas, em que a felicidade já não é mais utópica, mas encontra-se atrelada ao progresso material e moral da humanidade. Consequentemente, o seu carro chefe é a revolução industrial e o descobrimento de novas técnicas para transformar os bens naturais em bens úteis.

França e Alemanha foram os países que mais propagaram o iluminismo. O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau que, apesar das diferenças de abordagem, têm dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. O iluminismo alemão tem como lema o sapere aude kantiano, que é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro.

Qual o papel das ciências na propagação do iluminismo? A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo método teórico-experimental, em todos os campos do saber, preparava a revolução industrial, a revolução da energia.

O Espiritismo surgiu na época certa, quando as ciências já estavam desenvolvidas e o método teórico-experimental era aplicado em tudo o que se pensava saber. Se tivesse sido cogitado antes, poderia não vingar. Havia necessidade de aliar a razão à fé, ou seja, tornar a fé raciocinada.

Allan Kardec era um cientista e, como tal, tinha muito apreço pela relação causa-efeito. Não resta dúvida que recebera influência do iluminismo, pois não vivia à margem do acontecia na França. Observe a sua posição com relação aos fenômenos das mesas girantes. Enquanto o seu amigo falava que as mesas se moviam, ele aceitava tranquilamente. Foi só relatar que, além de se mover, as mesas também falavam, ele colocou em dúvida tal afirmação e foi procurar a causa, ou seja, de onde vinha aquela voz, já que uma mesa não tem cérebro para pensar.

O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral. É a síntese de todo o processo de conhecimento, desde a filosofia de Sócrates e Platão, considerados os seus precursores. É a mais completa Doutrina de consolo até hoje aparecida na face da terra. Em seu conteúdo doutrinal, toca em todos os pontos centrais de qualquer filosofia ou religião, como é o caso de Deus, do Espírito, da matéria, da sobrevivência da alma após a morte e da comunicação com os Espíritos.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/iluminismo



06 dezembro 2009

Metafísica e Espiritismo

Metafísica é a doutrina da essência das coisas, o conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. É a busca da essência de Deus, do Espírito e da matéria. Como analisar este tema sob a ótica espírita?

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso se deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

A Metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma. Como analisar esta divisão sob a ótica do Espiritismo?

Teoria do conhecimento. Para Platão, que pressupunha a reminiscência das idéias, conhecemos pelo Espírito; para os sofistas e empíricos, conhecemos pelos sentidos. Para o Espiritismo, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser. Em realidade, o Espiritismo sintetiza as duas formas de conhecer.

Teoria do ser. A ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

Deus. No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

Consultemos as obras básicas da Codificação, principalmente O Livro dos Espíritos e A Gênese, para obtermos os subsídios necessários à compreensão deste tema.