29 janeiro 2018

Espírito e o Tempo, O (Livro)

José Herculano Pires, nos anos 60, para ministrar um Curso de Introdução Antropológica ao Espiritismo, pesquisa a fase pré-histórica e histórica da criação e aborda o tríplice aspecto da Doutrina Espírita e a prática mediúnica. Foi eleito o 7.º melhor livro espírita do Século XX. Contém material útil ao aprofundamento da filosofia espírita. 

Dedica boa parte do livro ao estudo dos horizontes que a mente humana pode abarcar. Horizontes são as diversas visões de mundo num determinado período da história da civilização. Esses horizontes nos dão a dimensão da evolução do indivíduo quanto à sua relação com a filosofia e ao sagrado. O material colhido autoriza-o a afirmar que todas as filosofias, na sua origem, sempre foram espiritualistas. 

O ponto central de sua obra é a comparação com os pressupostos espíritas, alicerçando-se, para tal, nas obras básicas e complementares do Espiritismo, em que O Livro dos Espíritos tem um destaque especial. Faz referência às leis naturais, ora citando a "Lei de Adoração", ora a "Lei de Igualdade", entre outras. Quer com isso enaltecer a moral do Cristo como ponto fundamental do relacionamento humano em sociedade.

Elogia Kardec por sua síntese de toda a história da civilização. Chama-nos a atenção a respeito de o Espiritismo ser um detalhe no qual a generalidade é o espiritualismo, e isso está expresso na introdução de O Livro dos Espíritos, denominando o Espiritismo de Filosofia Espiritualista. Acrescenta o tríplice aspecto da Doutrina Espírita — ciência, filosofia e religião —, que muitos têm grande dificuldade em compreendê-la.

O Espiritismo é um detalhe dentro da generalidade do espiritualismo. Vemos isso nos prolegômenos de O Livro dos Espíritos. Kardec diz que o Espiritismo é uma filosofia espiritualista, ou seja, o Espiritismo faz parte de todas as filosofias que aceitam o espírito como fundamento básico da criação. Isso é o geral. No particular, cria o termo Espiritismo com sua linguagem própria.

Na trajetória do livro, começa com o mediunismo primitivo. Depois, vai lentamente passando para as outras fases, que são o animismo, o culto dos ancestrais, o mediunismo oracular e o mediunismo bíblico para, em seguida, realçar o papel da mediunidade positiva, que só foi possível com a codificação do Espiritismo por Allan Kardec.

Para que o Espiritismo, no seu tríplice aspecto, pudesse ter bom êxito, houve a necessidade do desenvolvimento das ciências naturais, com o seu caráter experimental. Sem a fundamentação da ciência, o Espiritismo poderia abortar. Por quê? Porque a fé já não podia ser mais dogmática; ela teria de ser raciocinada. Ninguém crê por crer, mas crê porque sabe.

Estas poucas palavras sobre o livro soam mais como um convite ao seu estudo do que a uma análise profunda de seu conteúdo. 



11 janeiro 2018

Judas Iscariotes

Judas é o nome de dois apóstolos: Judas Tadeu e Judas Iscariotes, o que traiu Jesus. Figuradamente, o mesmo que traidor, por alusão ao apóstolo que traiu Jesus. Boneco de estafermo que, em algumas localidades, se queime no sábado de Aleluia.

Judas Iscariotes. O último lugar na lista dos apóstolos com a nota de que "foi traidor". Tornou-se tesoureiro, ou seja, a pessoa encarregada de cuidar dos recursos financeiros do grupo. Acompanhou Jesus durante a sua vida pública. Judas entregou Jesus a seus inimigos por 30 moedas de prata. Acompanhou os soldados que prenderam Jesus no Horto e identificou-o com um beijo.

Até a psicografia de Chico Xavier, o mundo conhecia Judas como um traidor e, por isso, merecia ser malhado a cada ano durante a Paixão de Cristo. O Espírito Humberto de Campos dá-nos outra visão, especificamente nos livros "Crônicas de Além-Túmulo" e "Boa Nova", alertando-nos para a ilusão do discípulo que não conseguia compreender bem a missão do seu Mestre.  

No capítulo 5 "Judas Iscariotes", de Crônicas de Além-Túmulo,  Judas diz: "o Sinedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas ideias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria".

No capítulo 24 "A Ilusão de Discípulo", de Boa Nova, há um diálogo entre Judas e Tiago. Judas critica a demasiada simplicidade do Jesus, dizendo que as reivindicações do nosso povo exigem um condutor enérgico e altivo... Tiago, por sua vez, contrapõe tal argumento: "Israel sempre teve orientadores revolucionários; o Messias, porém, vem efetuar a verdadeira revolução, edificando o seu reino sobre os corações e nas almas!"... 

A vida de Judas, desde a sua aceitação por Jesus até o seu suicídio, deve ser motivo de reflexão para nós: a sua ilusão pode ser a nossa, só que em outros tempos e circunstâncias.