17 julho 2025

As Três Peneiras

Conta-se que certa vez um amigo procurou Sócrates, o célebre filósofo grego, desejando contar-lhe algo sobre a vida de outro amigo comum.

— Quero contar-te algo sobre o nosso amigo Andréas que vai deixar-te boquiaberto.

— Espera — interrompeu o filósofo — passaste o que vais dizer pelas três peneiras.

— Três peneiras? Espantou-se o interlocutor.

— Primeira peneira: a coisa que me contarás é verdade?

— Eu assim creio, pois me foi contada por alguém de confiança — diz o amigo...

— Bem! Alguém te disse... Vejamos a segunda peneira: a coisa que pretendes me contar é boa?

O outro hesitou, resfolegou e respondeu:

— Não exatamente...

Sócrates continuou sua inquirição:

— Isso começa a me esclarecer. Verifiquemos a terceira peneira, que é a prova final: o que tinhas a intenção de me contar é de utilidade tanto para mim como para o nosso amigo Andréas e para ti mesmo?

— Não, não e não.

— Então, caro amigo, disse Sócrates, a coisa que pretendias me contar não é certamente verdadeira, nem boa, nem útil; assim sendo, não tenho a intenção de conhecê-la e aconselho-te a não mais procurar veiculá-la.

A cada dia somos alvo de pessoas com grande desejo de nos contar coisas a respeito dos outros.

Devemos procurar fazer o teste das três peneiras gregas:

— É verdade? É bom? É útil?

Caso negativo, devemos simplesmente evitar que sejamos parte integrante nas bisbilhotices e nos mexericos de pessoas ávidas de “novidades” sobre a vida alheia.

 

12 julho 2025

Constantino e o Cristianismo

Em outubro de 312 d.C., o imperador Constantino I estava acampado na ponte Mílvia perto de Roma, esperando o confronto com Magêncio, seu rival, pelo controle do Império Romano do Ocidente (em 285, o império foi dividido em dois, o do Ocidente e o do Oriente, cada um deles governado por um imperador e um substituto).

A tradição evoca a ideia de que nos dias que antecederam o encontro, Constantino teve a visão da inscrição in hoc signo vinces (“com este sinal vencerás). Este fato convenceu-o de que tinha o apoio do deus cristão, e essa crença foi mantida quando seu exército se pôs em marcha para derrotar os homens de Magêncio.

A conversão de Constantino, porém, se deu lentamente; ele só foi batizado em seu leito de morte. Contudo, logo após sua vitória na Ponte Milvia, começou o processo de reabilitação e, em seguida, de exaltação do cristianismo. Em 331 d.C., ele publicou o Édito de Milão, uma proclamação que estabelecia tolerância religiosa para o cristianismo dentro do império.

Em 324, depois de se livrar do imperador do Oriente, Constantino se tornou o único governante do Império Romano e buscou usar o cristianismo como a força unificadora de seu domínio tão diverso e fracionado. 

O cristianismo, no entanto, não era uma religião única e uniforme naquela época, havendo divisões, ou cismas. Em 325, Constantino convocou o Concilio de Niceia — o primeiro concílio universal da Igreja cristã — sobretudo para resolver o cisma ariano, uma disputa teológica sobre se Jesus era da mesma substância de Deus.

Sob o imperador Teodósio I (que reinou entre 379-395), os templos e cultos pagãos foram suprimidos, a heresia virou crime e o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano.

Fonte de Consulta

O Livro da História. Tradução de Rafael Longo. São Paulo: GloboLivros, 2017.

Evangelho e Pregação

Evangelho vem do grego euangelion (eu, bom, angelion, mensagem). Toma a forma latina "evangelho" e significa, na sua origem, "boa notícia". Entende-se, também, como a Doutrina de Cristo ou cada um dos quatro livros principais do Novo Testamento.

A iluminação súbita de uma alma traz como consequência o desejo de convencer os outros a pensar de forma semelhante. Paulo de Tarso é um exemplo clássico. Certa feita, o perseguidor dos cristãos, estando a caminho de Damasco, vislumbra a presença de Jesus e fica cego. Dias depois, recupera a sua visão, entra em contato com os textos evangélicos e quer transmitir a "boa nova" aos demais. Teve uma grande decepção

A pregação evangélica exige esforços de compreensão do "eu espiritual". Os homens de vida pura e reta estão sempre prontos a plantar o bem e a justiça, enquanto os culpados têm que testemunhar no sofrimento próprio para ensinar com êxito. Além disso, tudo o que é de Deus reclama paz e reflexão profunda. Jesus ficara 30 anos na escuridão, para conviver apenas três anos conosco; João Batista meditou longo tempo no deserto, para desbravar as estradas do Salvador.

A precipitação é o grande entrave no processo de pregação dos ensinos de Cristo. A divulgação dos preceitos evangélicos assemelha-se aos mesmos cuidados que devemos ter para com uma planta pequenina. Se lhe dermos água em demasia, morre; se, insuficiente, também. Faltando-nos a preparação adequada, poderemos estar criando, na mente daqueles que nos ouvem, uma imagem deturpada das verdades cristãs. Cedo ou tarde teremos que responder por isso.

A perseverança, a paciência e a calma são as virtudes que devemos exercitar, caso não tenhamos ainda a oportunidade de difundir as verdades espirituais. É possível que não estejamos "aptos" para a missão apostólica a nós reservada. Lembremo-nos de que na casa do Pai há muitas moradas e que quando o servidor estiver pronto o trabalho aparecerá.

Esperemos, confiantemente, as determinações do Alto a nosso respeito, mantendo-nos em estudo, a fim de adquirirmos as condições necessárias para o cumprimento de nossos deveres junto à sociedade em que vivemos.

31 maio 2025

Sobre o Pão

O pão é um dos alimentos mais simples, embora possa variar nos ingredientes que o compõem e nos métodos de confecção. Contudo, há que se ressaltar os aspectos que são peculiares à sua produção, ou seja, ele é constituído de farinha amassada, fermentada, e depois levada ao forno. Aí está registrada a sua simplicidade, desde tempos remotos.

Em se tratando da religião e mesmo do Espiritismo, há que se levar em conta o pão material e o pão espiritual, o que nos leva a refletir sobre a citação evangélica: “Moisés não vos deus o pão do Céu; mas meu Pai vos dará o verdadeiro pão do Céu.” — Jesus. (João 6,32). O pão que Moisés dispensou aos hebreus, sustentava o corpo apenas por um dia, e cuja finalidade primordial é a de manter a sublime oportunidade da alma em busca do verdadeiro pão do Céu.

A respeito do pão material, urge reconhecer que quando o temos à nossa mesa não vislumbramos, de imediato, os reiterados esforços de outros irmãos nossos que propiciaram a sua fabricação, tais como aquele que arroteou a terra, o que semeou o trigo, o que manufaturou e o que transportou, além do padeiro, que o confeccionou.

Quanto ao pão divino, os Espíritos de luz nos esclarecem que devemos fazer esforços para obtê-lo. Eles não nos pedem que sejamos famosos, letrados, ou qualquer outra coisa, mas que atendamos ao chamado divino como quando Jesus, na terceira vez, disse a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas.” (João, 21,17) Ou seja, pede ao apóstolo para administrar o alimento, no sentido de atender ao bem geral, sem fugir ao trabalho de evolução.

Para ajudar a nossa compreensão, reflitamos sobre o trecho Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta, ao receber a ordem de comando, espalham-se sobre toda a face da Terra. Semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”, inscrito no prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

21 abril 2025

Em Homenagem a Tiradentes

Mensagem: por trás do ícone Tiradentes, há uma mensagem — libertária — que invoca a secessão, a guerra contra os impostos, e a luta contra um governo centralizador.

Crime: defender a independência da colônia de Minas Gerais em relação à Coroa Portuguesa, movimento esse inspirado pela recente independência das colônias americanas. A motivação desta "revolta" é a decretação da derrama pelo governo local, uma medida que permitia a cobrança forçada de impostos atrasados, autorizando o confisco de todo o dinheiro e bens do devedor. 

Rebelião: depois da traição, os delatores, a cuja frente se encontrava a personalidade de Silvério dos Reis, português de Leiria, levaram todo o plano ao Visconde de Barbacena, então Governador de Minas Gerais. O governador age com prudência, a fim de sufocar a rebelião nas suas origens, e, expedindo informes para que o Vice-Rei Luís de Vasconcelos efetuasse a prisão do Tiradentes no Rio de Janeiro, prende todos os elementos da conspiração em Vila Rica, depois de avisar secretamente aos seus amigos do peito, simpatizantes da conjuração, quanto à adoção de tais providências, para que não fossem igualmente implicados.

Sentença: 11 homens presos.

Sentença final: D. Maria I havia comutado anteriormente as penas de morte em perpétuo degredo nas desoladas regiões africanas, com exceção do Tiradentes, que teria de morrer na forca, conservando-se o cadáver insepulto e esquartejado, para escarmento de quantos urdissem novas traições à coroa portuguesa.

Eis as explicações do Espírito Irmão X:

O mártir da inconfidência, depois de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e forte, inundando-a de santas consolações.

Tiradentes entrega o espírito a Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva ansiedade percorre a multidão, no instante em que o seu corpo balança, pendente das traves do cadafalso, no Campo da Lampadosa.

Mas, nesse momento, Ismael recebia em seus braços carinhosos e fraternais a alma edificada do mártir.

— Irmão querido — exclama ele —, resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...

Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento.

Daí a alguns dias, a piedosa rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos pungentes que a dilaceravam e, consoante as profecias de Ismael, daí a alguns anos era o próprio Portugal que vinha trazer, com D. João VI, a independência do Brasil, sem o êxito incerto das revoluções fratricidas, cujos resultados invariáveis são sempre a multiplicação dos sofrimentos das criaturas, dilaceradas pelas provações e pelas dores, entre as pesadas sombras da vida terrestre.

 Fonte de Consulta

XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho,  pelo Espírito Humberto de Campos. Rio de Janeiro: FEB, Copyright 1938.

Sócrates e o Irmão X

O Espírito Humberto de Campos, mais conhecido como Irmão X, disse ter encontrado Sócrates no Instituto Celeste de Pitágoras — nome convencional para figurar os centros de grandes reuniões espirituais no plano Invisível. Nesse dia, a reunião era dedicada a todos os estudiosos vindos da Terra longínqua. Depois de ouvir os sábios ensinamentos do Mestre, atreveu-se a abordá-lo.

"— Mestre — disse eu —, venho recentemente da Terra distante, para onde encontro possibilidade de mandar o vosso pensamento. Desejaríeis enviar para o mundo as vossas mensagens benevolentes e sábias?

— Seria inútil — respondeu-me bondosamente —, os homens da Terra ainda não se reconheceram a si mesmos. Ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si. Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a proteção de estandartes que os desunem, aniquilando-lhes os mais nobres sentimentos de humanidade.

— Mas... — retorqui — lá no mundo há uma elite de filósofos que se sentiriam orgulhosos de vos ouvir! ...

— Mesmo entre eles as nossas verdades não seriam reconhecidas. Quase todos estão com o pensamento cristalizado no ataúde das escolas. Para todos os espíritos, o progresso reside na experiência. A História não vos fala do suicídio orgulhoso de Empédocles de Agrigento, nas lavas do Etna, para proporcionar aos seus contemporâneos a falsa impressão de sua ascensão para os céus? Quase todos os estudiosos da Terra são assim; o mal de todos é o enfatuado convencimento de sabedoria. Nossas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes momentos da experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa.

Não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria vida para que conhecessem e praticassem a Verdade? O pórtico da pitonisa de Delfos está cheio de atualidade para o mundo. Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos aí encarnados deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos. Os Estados e as Leis são invenções puramente humanas, justificáveis, em virtude da heterogeneidade com respeito à posição evolutiva das criaturas; mas, enquanto existirem, sobrará a certeza de que o homem não se descobriu a si mesmo, para viver a existência espontânea e feliz, em comunhão com as disposições divinas da natureza espiritual. A Humanidade está muito longe de compreender essa fraternidade no campo sociológico.

Impressionado com essas respostas, continuei a interrogá-lo:

— Apesar dos milênios decorridos, tendes a exprimir alguma reflexão aos homens, quanto à reparação do erro que cometeram, condenando-vos à morte?

— De modo algum. Méletos e outros acusadores estavam no papel que lhes competia, e a ação que provocaram contra mim nos tribunais atenienses só podia valorizar os princípios da filosofia do bem e da liberdade que as vozes do Alto me inspiravam, para que eu fosse um dos colaboradores na obra de quantos precederam, no Planeta, o pensamento e o exemplo vivo de Jesus-Cristo. Se me condenaram à morte, os meus juízes estavam igualmente condenados pela Natureza; e, até hoje, enquanto a criatura humana não se descobrir a si mesma, os seus destinos e obras serão patrimônios da dor e da morte.

— Poderíeis dizer algo sobre a obra dos vossos discípulos?

— Perfeitamente — respondeu-me o sábio ilustre —, é de lamentar as observações mal-avisadas de Xenofonte, lamentando eu, igualmente, que Platão, não obstante a sua coragem e o seu heroísmo, não haja representado fielmente a minha palavra junto dos nossos contemporâneos e dos nossos pósteros. A História admirou na sua Apologia os discursos sábios e bem feitos, mas a minha palavra não entoaria ladainhas laudatórias aos políticos da época e nem se desviaria- para as afirmações dogmáticas no terreno metafísico. Vivi com a minha verdade para morrer com ela. Louvo, todavia, a Antístenes, que falou com mais imparcialidade a meu respeito, de minha personalidade que sempre se reconheceu insuficiente. Julgáveis então que me abalançasse, nos últimos instantes da vida, a recomendações no sentido de que se pagasse um galo a Esculápio? Semelhante expressão, a mim atribuída, constitui a mais incompreensível das ironias.

— Mestre, e o mundo? — indaguei.

— O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do futuro. Não tenhais pressa. Mergulhando-me no labirinto da História, parece-me que as lutas de Atenas e Esparta, as glórias do Pártenon, os esplendores do século de Péricles, são acontecimentos de há poucos dias; entretanto, soldados espartanos e atenienses, censores, juízes, tribunais, monumentos políticos da cidade que foi minha pátria, estão hoje reduzidos a um punhado de cinzas!... A nossa única realidade é a vida do Espírito.

— Não vos tentaria alguma missão de amor na face do orbe terrestre, dentro dos grandes objetivos da regeneração humana?

— Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com respeito à verdade, deve ser toda indireta. O homem terá de realizar-se interiormente pelo trabalho perseverante, sem o que todo o esforço dos mestres não passará do terreno do puro verbalismo.

E, como se estivesse concentrado em si mesmo, o grande filósofo sentenciou:

— As criaturas humanas ainda não estão preparadas para o amor e para a liberdade... Durante muitos anos, ainda, todos os discípulos da Verdade terão de morrer muitas vezes!...

E enquanto o ilustre sábio ateniense se retirava do recinto, junto de Anaxágoras, dei por terminada a preciosa e rara entrevista".

Fonte de Consulta

XAVIER, F. C. Crônicas de Além-Túmulo, pelo Espírito Humberto de Campos. Rio de Janeiro: FEB, 1937. (Capítulo 25 — “Sócrates”)

 

22 março 2025

Se Alguém te Ferir na Face Direita

O texto evangélico: Vós tendes ouvido o que se disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos que não resistais ao mal; mas se alguém te ferir tua face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quer demandar-te em juízo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a ir carregado mil passos, vai com ele ainda mais outros dois mil. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. (Mateus, V: 38-42). (1)

Moisés, por volta de 1600 a.C., revelou aos homens a existência de um Deus único. Recebeu o Decálogo, ou dez mandamentos. Paralelamente, como disciplinador, coloca em prática a lei do olho por olho e dente por dente, de sua própria autoria. Dá a entender que o seu Deus é um Deus de temor, que cobra e castiga sem piedade.

A expressão "olho por olho, dente por dente" vem do Código de Hamurabi, uma das primeiras leis escritas da humanidade, e representa o princípio da retaliação proporcional ou Lei de Talião. A ideia é que a punição deve ser equivalente ao dano causado, evitando excessos e garantindo justiça.

Moisés trouxe a primeira revelação; Jesus, a segunda. A primeira revelação dá relevância ao olho por olho e dente por dente; a segunda fala do amor incondicional, estendendo-o até ao amor ao inimigo. E aqui, como comparação, podemos acrescentar que quando baterem em uma face, devemos mostrar a outra.

De acordo com Allan Kardec, em (1): "são os preconceitos do mundo que levam à suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e do exagerado personalismo muito semelhante ao olho por olho da época de Moisés. Mas veio o Cristo e disse: "Não resistais ao que vos fizer mal; mas se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra"".

A explicação evangélica de oferecer a outra face resume-se: “que o homem deve aceitar com humildade tudo o que tende a reduzir-lhe o orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir; suportar pacientemente uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros”. (1)

O Espírito Emmanuel, no capítulo 63 — “Atritos Físicos” de Vinha de Luz, comenta o assunto, mostrando-nos que oferecer a outra face é uma peça de bom senso e lógica rigorosa, pois quando alguém dá um murro, ele está mostrando que há ausência de razão. Em síntese: é um apelo à superioridade que pessoas vulgares desconhecem. (2)

Em todas as circunstâncias adversas, procuremos manter a calma, pois um deslize grave pode trazer consequências desastrosas, consoante a frase: “infelizmente o que está feito, feito está, o que há de vir virá forçosamente".

Fonte de Consulta 

(1) KARDEC, Allan. Capítulo 12 de O Evangelho Segundo o Espiritismo .

(2) XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 

 

17 março 2025

O Evangelho Q

José Lázaro Boberg, em O Evangelho Q, ou o cristianismo já estava escrito antes... No Egito, busca as origens cristãs, fazendo uma comparação entre as sentenças pronunciadas e as narrativas dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, pois de acordo com os pesquisadores do Seminário de Jesus, 82% das palavras e 84% das ações atribuídas a jesus, não são verdades históricas, mas crenças cristãs.

Este livro está dividido em quatro partes: na primeira parte, trata da descoberta do evangelho perdido; na segunda parte, discorre sobre o texto evangelho perdido; na terceira parte, expõe os comentários ao Evangelho Q; na quarta parte, cuida das reflexões finais.

No tópico inicial — “O que eles disseram” — há a seguinte frase: “Importaria, primeiro, saber se ele (Jesus) a pronunciou", ou, "se colocaram em sua boca". (acrescentamos). KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 3.

A fonte de inspiração para estes escritos está no livro do pesquisador Burton L. Mack, Professor de Novo Testamento da Faculdade de Teologia de Claremont, nos Estados Unidos, denominado O livro de Q, onde se relatam os ingentes esforços dispendidos por vários acadêmicos de nacionalidades diversas, durante muitos anos, na busca histórica de mais esse evangelho perdido.

Para enriquecer o conteúdo do livro, o autor serviu-se das pesquisas de vários acadêmicos de ponta, tais como, o pesquisador Burton L. Mack, citado anteriormente, o ex-pastor Anglicano, Tom Harpur, do Canadá, Rudolf Bultmann, teólogo protestante, da Alemanha, John Dominic Crossan, ex-sacerdote católico, entre outros.

Os diversos pesquisadores, na tentativa de verificar qual foi o primeiro evangelho escrito — de Mateus ou de Marcos — descobrem documento anterior, e denominam este hipotético documento de Q — abreviatura de Quelle, que quer dizer "fonte", em alemão — que seria assim, a outra Fonte de onde os escritores de Mateus e Lucas buscaram 'subsídios' para escrever seus evangelhos.

 

07 março 2025

D. Pedro II

"D. Pedro II" é o título do capítulo 20, do livro "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", pelo Espírito Irmão X e psicografia de Francisco Cândido Xavier. 

... Recebendo as confidências de Ismael, que apelava para a sua misericórdia infinita, considerou o Senhor a necessidade de polarizar as atividades do Brasil num centro de exemplos e de virtudes, para modelo geral de todos. Chamando Longinus à sua presença, falou com bondade:

— Longinus, entre as nações do orbe terrestre, organizei o Brasil como o coração do mundo. Minha assistência misericordiosa tem velado constantemente pelos seus destinos e, inspirando a Ismael e seus companheiros do Infinito, consegui evitar que a pilhagem das nações ricas e poderosas fragmentasse o seu vasto território, cuja configuração geográfica representa o órgão do sentimento no planeta, como um coração que deverá pulsar pela paz indestrutível e pela solidariedade coletiva e cuja evolução terá de dispensar, logicamente, a presença contínua dos meus emissários para a solução dos seus problemas de ordem geral. Bem sabes que os povos têm a sua maioridade, como os indivíduos, e se bem não os percam de vista os gênios tutelares do mundo espiritual, faz-se mister se lhes outorgue toda a liberdade de ação, a fim de aferirmos o aproveitamento das lições que lhes foram prodigalizadas.

"Sente-se o teu coração com a necessária fortaleza para cumprir uma grande missão na Pátria do Evangelho?"

— Senhor — respondeu Longinus, num misto de expectativa angustiosa e de refletida esperança —, bem conheceis o meu elevado propósito de aprender as vossas lições divinas e de servir à causa das vossas verdades sublimes, na face triste da Terra. Muitas existências de dor tenho voluntariamente experimentado, para gravar no íntimo do meu espírito a compreensão do vosso amor infinito, que não pude entender ao pé da cruz dos vossos martírios no Calvário, em razão dos espinhos da vaidade e da impenitência, que sufocavam, naquele tempo, a minha alma. Assim, é com indizível alegria, Senhor, que receberei vossa incumbência para trabalhar na terra generosa, onde se encontra a árvore magnânima da vossa inesgotável misericórdia. Seja qual for o gênero de serviços que me forem confiados, acolherei as vossas determinações como um sagrado ministério.

— Pois bem — redarguiu Jesus com grande piedade —, essa missão, se for bem cumprida por ti, constituirá a tua última romagem pelo planeta escuro da dor e do esquecimento. A tua tarefa será daquelas que requerem o máximo de renúncias e devotamentos. Serás imperador do Brasil, até que ele atinja a sua perfeita maioridade, como nação. Concentrarás o poder e a autoridade para beneficiar a todos os seus filhos. Não é preciso encarecer aos teus olhos a delicadeza e sublimidade desse mandato, porque os reis terrestres, quando bem compenetrados das suas elevadas obrigações diante das leis divinas, sentem nas suas coroas efêmeras um peso maior que o das algemas dos forçados. A autoridade, como a riqueza, é um patrimônio terrível para os espíritos inconscientes dos seus grandes deveres. Dos teus esforços se exigirá mais de meio século de lutas e dedicações permanentes. Inspirarei as tuas atividades; mas, considera sempre a responsabilidade que permanecerá nas tuas mãos. Ampara os fracos e os desvalidos, corrige as leis despóticas e inaugura um novo período de progresso moral para o povo das terras do Cruzeiro. Institui, por toda parte, o regime do respeito e da paz, no continente, e lembra-te da prudência e da fraternidade que deverá manter o país nas suas relações com as nacionalidades vizinhas. Nas lutas internacionais, guarda a tua espada na bainha e espera o pronunciamento da minha justiça, que surgirá sempre, no momento oportuno. Fisicamente consideradas, todas as nações constituem o patrimônio comum da humanidade e, se algum dia for o Brasil menosprezado, saberei providenciar para que sejam devidamente restabelecidos os princípios da justiça e da fraternidade universal. Procura aliviar os padecimentos daqueles que sofrem nos martírios do cativeiro, cuja abolição se verificará nos últimos tempos do teu reinado. Tuas lides terminarão ao fim deste século, e não deves esperar a gratidão dos teus contemporâneos; ao fim delas, serás alijado da tua posição por aqueles mesmos a quem proporcionares os elementos de cultura e liberdade. As mãos aduladoras, que buscarem a proteção das tuas, voltarão aos teus palácios transitórios, para assinar o decreto da tua expulsão do solo abençoado, onde semearás o respeito e a honra, o amor e o dever, com as lágrimas redentoras dos teus sacrifícios. Contudo, amparar-te-ei o coração nos angustiosos transes do teu último resgate, no planeta das sombras. Nos dias da amargura final, minha luz descerá sobre os teus cabelos brancos, santificando a tua morte. Conserva as tuas esperanças na minha misericórdia, porque, se observares as minhas recomendações, não cairá uma gota de sangue no instante amargo em que experimentares o teu coração igualmente trespassado pelo gládio da ingratidão. A posteridade, porém, saberá descobrir as marcas dos teus passos na Terra, para se firmar no roteiro da paz e da missão evangélica do Brasil.

Longinus recebeu com humildade a designação de Jesus, implorando o socorro de suas inspirações divinas para a grande tarefa do trono.

Ele nasceria no ramo enfermo da família dos Braganças; mas, todas as enfermidades têm na alma as suas raízes profundas. Se muitas vezes parece permanecer a herança psicológica, é que o sagrado instituto da família, dentro da lei das afinidades, frequentemente se perpetua no infinito do tempo. Os antepassados e seus descendentes, espiritualmente considerados, são, às vezes, as mesmas figuras sob nomes vários, na árvore genealógica, obedecendo aos sábios dispositivos da lei de reencarnação. Foi assim que Longinus preparou a sua volta à Terra, depois de outras existências tecidas de abnegações edificantes em favor da humanidade, e, no dia 2 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro, nascia de D. Leopoldina, a virtuosa esposa de D. Pedro, aquele que seria no Brasil o grande imperador e que, na expressão dos seus próprios adversários, seria o maior de todos os republicanos de sua pátria.


Curiosidades sobre D. Pedro II

No centenário da independência dos Estados Unidos, D. Pedro II esteve lá representando o Brasil. Foi recebido pelo presidente dos Estados Unidos, sendo aclamado como um intelectual, um cientista que falava fluentemente vários idiomas, inclusive o tupi-guarani. .

Foi considerado o maior estadista que o Brasil já teve. Ainda hoje o seu nome é lembrado pelos norte-americanos. No Brasil, contudo, há escola de samba denegrindo o seu nome. 

No centenário da Independência americana estavam comemorando o afastamento do sistema monárquico europeu e propugnando a nova politica internacional — a República. 

O contraste: o centenário de uma República e um monarca. D. Pedro II foi o primeiro monarca a pisar no solo americano, e recebido como muito satisfação e alegria. Diziam que ele era um cidadão imperial, pois conversava com as pessoas naturalmente, sem a pompa imperial. Participou de diversos debates, e percorreu os Estados Unidos da Costa Oeste à Costa Leste, viajando de trem.

O navio que ele chegou aos Estados Unidos se chamava "Rússia". Foi como um passageiro normal. Quando a imprensa o descobre, responde: "eu vim aqui para participar do maior encontro da ciência e tecnologia do mundo".  

Era considerado uma das maiores personalidades do mundo.

Entrevista com Gérson Gomes. Link: Rádio Auri Verde Brasil 



01 março 2025

Espiritismo Básico, de Pedro Franco Barbosa

Pedro Franco Barbosa, nas palavras de Deolindo Amorim — apresentador do livro — é titular de alto cargo jurídico na administração federal, muito respeitado entre seus pares. Contudo, ele não é somente um pesquisador do Direito, mas principalmente um estudioso do Espiritismo. Eis os tópicos elencados junto ao título: — As Origens, a Natureza, as Características. — Os Princípios Básicos. — A Codificação: a Filosofia, a Ciência, a Religião. — O Homem: Constituição e Destino. — A Literatura Espírita: Mediúnica e Não Mediúnica.

Neste livro, entraremos em contato com os fatos históricos do espiritualismo e o aparecimento do termo “Espiritismo”, cunhado por Allan Kardec. Temos, assim, informações sobre “O Episódio de Hydesville”, “As Mesas Girantes"... Além disso, sintetiza a histórica do espiritismo no Brasil, realçando as notícias das mesas girantes, a obra pioneira de Luiz Olímpio Teles de Menezes e os fatos espíritas notáveis.

Parte de uma necessidade dos frequentadores de Centros Espíritas de entrarem em contato com a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec. Ele nos diz: “observamos que, em sua maioria, tem dificuldade de conhecê-la, seja por falta de um livro que resuma os ensinamentos básicos do espiritismo, seja pela impossibilidade de aquisição das numerosas obras que tratam, de per si, dos assuntos mais importantes da terceira revelação". Procurou, assim, reunir o máximo de material, dispondo-o numa linguagem clara e acessível.

Apoiando-se em Deolindo Amorim, José Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Hernani Guimarães Andrade, Zeus Wantuil, Francisco Thiesen, Léon Denis e Camille Flammarion, mostra-nos o cuidado em expor as pesquisas e experiências desses baluartes do espiritismo, no sentido de  enriquecer a própria Doutrina Espírita. Ao enfatizar o caráter da revelação espírita, procura diferenciá-la da umbanda, do espiritualismo e de outras correntes filosóficas, pois os conceitos aí defendidos podem confundir o entendimento correto da pureza doutrinária.

Lendo este livro podemos nos inteirar não só do conhecimento doutrinário, mas também de algumas curiosidades. Eis uma delas:

A tragédia do circo de Niterói, por exemplo, reuniu comparsas do crime na velha Lião, nas Gálias (v. “Reformador" de março de 1962 "Tragédia no Circo", do Irmão X). No terrível incêndio do Edifício Joelma, de São Paulo, ocorrido em 1º de fevereiro de 1974, a Justiça Divina reuniu, para o resgate de crimes comuns, antigos combatentes cristãos das Cruzadas, que queimavam vivos os inimigos (v. "Diálogo dos Vivos", psicografado por Chico Xavier e comentado por Herculano Pires, item 26). 





05 fevereiro 2025

Entre Duas Vidas (Notas de Livro)

Registre-se, entretanto, apenas esses passos: a) "vou percebendo que entregar nosso entendimento em forma de auxílio aos outros é fazer seguro de Vida Espiritual"; b) "aqui, a esposa é acima de tudo, também mãe"; c) "não existem males, no sentido de delinquência. Há ilusões e nessas ilusões nós outros todos andamos". (Cap. 2 — “Festa de Luz”)

Que todos os pais e mães da Terra meditem sobre este trecho antológico da mensagem endereçada ao genitor: "Eu estaria muito triste se houvesse cometido um crime em desacordo com os ensinamentos e exemplos que recebi de sua vida, constantemente, mas, graças a Deus, voltei para cá de consciência tranquila." (Cap. 4 — “De Consciência Tranquila”)

Com lágrimas nos olhos, servindo-se de sua linguagem característica, D. Adelaide não se cansava de repetir: "Que Deus abençoe a mediunidade de Chico Xavier! Que Deus abençoe Allan Kardec e Chico Xavier!" (Cap. 8 — “Letras Formadas com Lágrimas”)

"Choremos porque as lágrimas são orações sem palavras tão-somente aquelas que não guardam a labareda da revolta". (Cap. 9 — “Filho Regressa do Além”)

"Quanto puderem, estudem os assuntos da alma", acrescentando: "São eles os ingredientes capazes de nos trazerem a consolação e a energia pelas quais todos estamos agora profundamente necessitados". (Cap. 13 — “Ante o Mundo Novo”)

Compreendendo, assim, a Verdade, entesourando-lhe as bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz inextinguível da gloriosa imortalidade (Cap. 18 — “Dramática Prova de Autenticidade”)

"Sua mensagem, através do lápis de Chico Xavier, não é senão um manancial de socorro urgente aos queridos pais angustiosamente atingidos no âmago de sua alma.

Ali está o jovem professor em toda a sua firmeza de autonarrador, detalhando trechos de estranha cana, vazada em carinho e profundo sentimento filial, destinado aos queridos pais. E que o exemplo de Agnelinho se torne consolação e certeza de que a morte seja compreendida como recurso de evolução divina, e não como um mal irremediável, separação eterna daqueles que se amaram na romaria terrena, sem uma única possibilidade de se reencontrarem.

A lição da outra vida que nos está sendo oferecida pelo moço idealista, são páginas de um livro aberto onde todos poderão conhecer o significado da morte". (Cap. 28 — “A Reencarnação é uma Lei de Justiça”) 

Confortadora, sem dúvida, a primeira mensagem de Rosângela. Que cada um de nós se prepare, condignamente, para quando tiver que se ver em duplicata, frente a frente consigo mesmo, no Mundo Maior. (Capítulo 30 — “Lágrimas de Esperança e Coragem”)

Com notável propriedade, assevera Augusto Cézar: "O maior fenômeno é este profundo amor que nos reúne uns aos outros", acrescentando: "Mesmo assim, envio lembranças às meninas e a todos — todos os nossos, desejando que a paz e a bênção de Deus estejam conosco em todos os passos". (Cap. 32 — “Disciplinas Necessárias”)

XAVIER, Francisco Cândido e BARBOSA, Elias. Entre Duas Vidas, pelos Espíritos Diversos.