28 dezembro 2009

Parábola do Joio e do Trigo

Problema: deve-se arrancar o joio ou deixá-lo crescer junto ao trigo?

As parábolas nada mais são do que ensinamentos paralelos a uma lição principal. É a apresentação de uma realidade concreta que evoca, por comparação, uma realidade superior, notadamente moral e espiritual. O joio – do grego zizanion (cizânia) significava uma gramínea anual que parecia muito com trigo até que amadurecesse.

O texto bíblico. "Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas trigo, recolhei-o no meu celeiro." (Evangelho segundo São Mateus 13:24-30)

A parábola do joio e do trigo é uma continuação da “parábola do semeador”. Na parábola do semeador, há uma situação hipotética, em que a semente cai em terrenos de qualidades distintas. Aqui, há um tipo específico de semente, a do trigo. Com o trigo podemos fazer farinha, e com a farinha, o pão, o macarrão etc. É um produto necessário à manutenção da vida humana. Devemos associá-lo ao conceito de bem.

Os trabalhadores do campo adubaram a terra, cavaram os buracos, jogaram as sementes de trigo e cuidaram de regar as plantinhas tenras. Depois desse esforço, foram dormir, descansar pelo dia trabalhado. Os inimigos, porém, esperaram a noite vir, trabalharam no escuro e jogaram a erva daninha. É um chamamento à vigilância. “É pelo descuido do lavrador que a colheita se perde, é pelo descuido do professor que o aluno se torna ocioso, é pelo descuido da educação que os delinquentes juvenis surgem. Assim, para que o bem se conserve e se dilate haverá necessidade de esforço constante”.

Nesta parábola, o joio deve crescer junto com o trigo. Por quê? Porque estas ervas são parecidas. Caso tencionássemos tirar o joio, poderíamos, por engano, arrancar também o trigo. Neste caso, Jesus está nos dizendo que o mal deve conviver com o bem, sem, contudo, que o bem seja conivente com o mal. O mal deve ser sempre combatido. Há, porém, a necessidade de esperar o momento certo, pois qualquer coisa que é feita fora de hora pode não produzir seus frutos desejados.

Esta parábola remete-nos à lei de causa e efeito. Todos somos livres para semear; a colheita, porém, será obrigatória. Podemos semear tanto o trigo quanto o joio. É como a opção entre o bem e o mal. Se optarmos pela prática do bem, a recompensa futura será mais liberdade; caso optemos pelo mal, estaremos prisioneiro do mesmo.

O mal é inerente à imperfeição humana. Na Terra, somos todos mais ou menos imperfeitos; por isso, a compaixão que cada um de nós deve nutrir para com o seu próximo. A convivência com o mal é a resignação da alma ante uma situação irremediável. O homem de bem deve combater o mal, mas sempre pelo lado da mansuetude e não pelo da guerra, da violência.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/par%C3%A1bola-do-joio-e-do-trigo



16 dezembro 2009

Evolução e Espiritismo

Evolução significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo. É o desenvolvimento, pela atualização das possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. A teoria da evolução pode ser vista sob o ponto de vista da Biologia e da Metafísica. Segundo a Biologia, é a transformação das espécies vivas umas nas outras. Em termos da Metafísica, é o progresso do Universo, hipótese de muitas filosofias e doutrinas religiosas.

A evolução biológica engloba o fixismo e o transformismo. O fixismo admite que as espécies não sofrem mudanças. Surgiram sobre a Terra, cada qual já adaptada ao ambiente onde foi criada. Não havendo necessidade de mudanças, as espécies permaneciam imutáveis desde o momento em que surgiram. O transformismo pressupõe que as espécies não permaneciam imutáveis, mas sofriam modificações. O transformismo só pode ser aceito depois da vinda da Nova Ciência e da descoberta do método teórico-experimental.

Charles Darwin (1809-1882), a bordo do Beagle, registrou inúmeras observações em Sobre a Origem das Espécies (1859). Chegou à conclusão que as espécies se transformavam através da seleção natural. Nesse caso, os indivíduos sofrem modificações espontâneas, mas sobrevivem apenas os mais aptos. Além disso, são esses indivíduos que podem se reproduzir e transmitir esses caracteres a seus descendentes.

Na Metafísica, o evolucionismo, mesmo se servindo dos resultados da teoria biológica, vai muito além. O evolucionismo foi assumido como esquema fundamental de muitas metafísicas, tanto materialistas quanto espiritualistas. A característica fundamental que essas metafísicas distinguem na evolução é o progresso. Para elas, evolução significa essencialmente progresso, e sempre otimista, ao contrário da evolução biológica, que não necessariamente é otimista. Spencer, com o seu homogêneo indiferenciado, e Bérgson, com o seu elã vital, deram valiosas contribuições à divulgação do evolucionismo metafísico.

No Espiritismo, o ponto alto da evolução do Espírito é o aparecimento do senso moral. Enquanto o princípio inteligente estagia no reino animal, o senso moral é quase nulo. Somente quando adquire a razão, o pensamento contínuo e o livre-arbítrio, na fase humana, é que começa a responder pelos seus atos. Daí, a responsabilidade de cada um pelo seu próprio progresso.

O Espiritismo mostra-nos que, no inicio da sua caminhada evolutiva, o Espírito não possui o livre-arbítrio, cuja escolha é deixada a cargo dos mensageiros do espaço. Somente quando desenvolveu o senso moral, foi capaz de responder pelos seus próprios atos. Allan Kardec diz-nos que o ser humano não é fatalmente conduzido ao mal. “Ele pode, como prova ou expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos”. (1)

Allan kardec, em O Livro dos Espíritos, mostra-nos que o progresso intelectual nem sempre anda junto com o progresso moral. No longo prazo, porém, deverão equilibrar-se para que haja maior coerência das ações praticadas pelo ser humano. Nesse sentido, o Espírito Emmanuel adverte-nos que a sabedoria e amor são as duas asas que nos conduzirão ao progresso. Paralelamente, o Espírito André Luiz diz-nos que o ciclo de reencarnações somente terminará quando tivermos sedimentado as nossas ações nas máximas do Evangelho de Jesus.

O progresso é inexorável e a lei de causa e efeito é providencial. Assim, tenhamos consciência dos nossos atos diários. Adiando para amanhã a prática do bem, podemos retardar a nossa evolução material e espiritual.

(1) KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995, questão 872. 





08 dezembro 2009

Iluminismo e Espiritismo

Iluminismo, ou filosofia das luzes, é o movimento filosófico do século XIX, que se caracteriza pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. O Espiritismo, considerado um libertador de consciências, utilizou muito esses avanços do pensamento.

O iluminismo não é uma ideia nova. Os compromissos por ele adotados já faziam parte da filosofia antiga, que se esmerava em criticar todo o tipo de crença e de conhecimento. Além disso, procurava usar os novos conhecimentos para os fins práticos da vida. O iluminismo moderno nada mais é do que a aplicação desses compromissos ao período que vai da Revolução inglesa de 1688 até à Revolução Francesa de 1789.

O iluminismo visa à emancipação do ser humano e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A chamada idade da razão tem por objetivo a sua própria autonomia, no sentido de vencer as trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo e da intolerância tanto moral quanto religiosa. Nas mãos do iluminismo, a razão se torna uma nova divindade.

O iluminismo assume os pressupostos hedonistas e utilitaristas, em que a felicidade já não é mais utópica, mas encontra-se atrelada ao progresso material e moral da humanidade. Consequentemente, o seu carro chefe é a revolução industrial e o descobrimento de novas técnicas para transformar os bens naturais em bens úteis.

França e Alemanha foram os países que mais propagaram o iluminismo. O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau que, apesar das diferenças de abordagem, têm dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. O iluminismo alemão tem como lema o sapere aude kantiano, que é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro.

Qual o papel das ciências na propagação do iluminismo? A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo método teórico-experimental, em todos os campos do saber, preparava a revolução industrial, a revolução da energia.

O Espiritismo surgiu na época certa, quando as ciências já estavam desenvolvidas e o método teórico-experimental era aplicado em tudo o que se pensava saber. Se tivesse sido cogitado antes, poderia não vingar. Havia necessidade de aliar a razão à fé, ou seja, tornar a fé raciocinada.

Allan Kardec era um cientista e, como tal, tinha muito apreço pela relação causa-efeito. Não resta dúvida que recebera influência do iluminismo, pois não vivia à margem do acontecia na França. Observe a sua posição com relação aos fenômenos das mesas girantes. Enquanto o seu amigo falava que as mesas se moviam, ele aceitava tranquilamente. Foi só relatar que, além de se mover, as mesas também falavam, ele colocou em dúvida tal afirmação e foi procurar a causa, ou seja, de onde vinha aquela voz, já que uma mesa não tem cérebro para pensar.

O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral. É a síntese de todo o processo de conhecimento, desde a filosofia de Sócrates e Platão, considerados os seus precursores. É a mais completa Doutrina de consolo até hoje aparecida na face da terra. Em seu conteúdo doutrinal, toca em todos os pontos centrais de qualquer filosofia ou religião, como é o caso de Deus, do Espírito, da matéria, da sobrevivência da alma após a morte e da comunicação com os Espíritos.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/iluminismo



06 dezembro 2009

Metafísica e Espiritismo

Metafísica é a doutrina da essência das coisas, o conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. É a busca da essência de Deus, do Espírito e da matéria. Como analisar este tema sob a ótica espírita?

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso se deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

A Metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma. Como analisar esta divisão sob a ótica do Espiritismo?

Teoria do conhecimento. Para Platão, que pressupunha a reminiscência das idéias, conhecemos pelo Espírito; para os sofistas e empíricos, conhecemos pelos sentidos. Para o Espiritismo, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser. Em realidade, o Espiritismo sintetiza as duas formas de conhecer.

Teoria do ser. A ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

Deus. No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

Consultemos as obras básicas da Codificação, principalmente O Livro dos Espíritos e A Gênese, para obtermos os subsídios necessários à compreensão deste tema.



25 novembro 2009

A Deus Tudo é Possível

“A Deus tudo é possível”. O que se depreende desta frase? Que o ser humano não está suficientemente apto para perceber integralmente os desígnios do Criador. Há muitas coisas que ainda nos escapam do conhecimento. A distância entre a sabedoria humana e a divina é incomensurável. Teçamos alguns comentários acerca deste assunto.

Queremos que os nossos desejos sejam prontamente atendidos, principalmente aqueles relacionados ao dinheiro e ao poder, na suposição de que nos darão segurança e conforto. Tendo em vista a gama de possibilidades de nossa evolução espiritual, será que o dinheiro e o poder estão nos desígnios de Deus para com nossa pessoa? Desejamos algo, mas Deus que vê melhor do que nós e sabe o que é bom para nosso progresso espiritual, pode negar a concretização de tal pedido.

Como, porém, sabermos quais são os desígnios de Deus a nosso respeito? Inquirindo a nossa própria consciência. Nesse mister, não adianta muito nos compararmos aos outros. Embora o ser humano esteja comprometido com o progresso, cada um de nós é único, tendo, com isso, necessidades diferentes. A Bíblia ensina-nos que "a uns foi dado o dom da profecia, a outros o dom de cura e a outros o dom de falar línguas estrangeiras". Quanto a nós, tenhamos presente os deveres que a nossa consciência nos impõe.

“A Deus tudo é possível” tem íntima relação com a fé e a esperança. É necessário, nos momentos críticos de nossa existência terrena, reportamo-nos à fé e à esperança, pois sem elas poderíamos soçobrar. Suponha uma situação de inteira decepção frente às ocorrências menos felizes de nossa existência. Como sair dessa situação se não tivermos fé no Criador, em Jesus e nos bons Espíritos que nos acompanham?

Lembremo-nos da "Parábola dos Trabalhadores da Última Hora". Uma pessoa estava ansiosa por um trabalho. Ficou à espera: passou uma hora, depois outra, até que na 11ª hora foi chamado. Quando foi aceito na última hora, recebeu o mesmo salário dos que tinham trabalhado as 12 horas. Isso mostra que Deus leva mais em conta, não o trabalho em si, mas a propensão ao trabalho.

No relacionamento com o Criador, podemos nos rebelar contra a Sua Vontade, mas nada nos acontecerá sem a Sua Benevolência. Por isso, é bom desconfiarmos daqueles que se intitulam deuses. “Não é por crescer em poder que o falso se torna verdadeiro”. Somos uma alma no meio de bilhões de almas. A nossa parcela de influência é de pouca monta, pois há muitos outros seres humanos fazendo o bem melhor do que nós mesmos.

Façamos a nossa parte. Deixemos tudo o mais por conta de Deus. Ele sabe o que é melhor para todos nós.

 

13 novembro 2009

Percepção Mediúnica

Na Parapsicologia, Rhine criou o termo Percepção Extra-Sensorial (P.E.S.) para designar a percepção de um objeto independentemente dos órgãos do sentido (tato, olfato, paladar, visão e audição). A sua teoria é baseada na função Psi: psigama refere-se aos fenômenos de efeitos inteligentes; psikapa, aos fenômenos de efeitos físicos. Para comprová-los, usa o método estatístico combinado com o cálculo de probabilidade.

percepção mediúnica difere da Percepção Extra-Sensorial, pois é a visão, audição e comunicação com um mundo que não é percebido pelas vias sensoriais do encarnado. Em se tratando da função psigama, da P.E.S., há a comprovação da telepatiaclarividênciapós e retro-cognição, todos fenômenos anímicos. A percepção mediúnica, por seu turno, refere-se à comunicação com Espíritos desencarnados. Nesse caso, convém nos lembramos da definição de mediunidade: faculdade humana, natural na qual se estabelecem as relações entre os Espíritos desencarnados e os homens, em que os últimos são denominados médiuns, intermediários da mensagem.

Para melhor compreendermos a ideia de percepção mediúnica, recordemo-nos de que o espectro eletromagnético, em comprimentos de ondas em metros, varia de 10-14 a 108, sendo que os nossos olhos captam apenas 1/70 desse universo. Os nossos ouvidos, por outro lado, captam o som entre 20 e 20.000 vibrações por segundo. Estes simples dados mostram que há som, luz, energia, vibrações e radiações além de nossa capacidade de percepção. O mesmo se dá no campo mediúnico.

A percepção mediúnica é a captação de conhecimentos que estão além dos nossos sentidos físicos. Por isso, cegos e surdos do mundo físico são capazes de ver e ouvir muito além, porque veem com os olhos do Espírito. A limitação mediúnica, se assim quisermos colocar, depende de nossos próprios recursos, quais sejam intelectuais e morais. É por isso que os Espíritos, tais como Emmanuel, André Luiz, Bezerra de Menezes e outros, estão sempre nos incentivando ao estudo e à mudança comportamental.

As mensagens espíritas, principalmente aquelas encontradas nos livros Fonte VivaVinha de LuzCaminho, Verdade e VidaPão Nosso, de autoria do Espírito Emmanuel, pela pena do médium Francisco Cândido Xavier, são um alimento valioso para esse progresso moral. O Espírito Emmanuel retrata o cristianismo para os dias atuais. Certa feita teceu comentários sobre a solidão. Ele diz: “À medida que te elevas, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentas a solidão dos cimos e incomensurável tristeza te constringe a alma sensível... Em torno de ti, a claridade, mas também o silêncio... Dentro de ti, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não seres compreendido...”

Há, porém, percepção e percepções. Podemos nos sintonizar com os Espíritos de luz ou os Espíritos das trevas. Há ainda os falsos profetas, ou seja, aqueles Espíritos que se apresentam como se fossem de luz, mas estão inseridos numa grande treva. A mensagem de Jesus só não faz sentido para aqueles que não lhe captam o sentido. É como dois estrangeiros tentando se comunicar. A comunicação passa despercebida ou é mal interpretada.

Tenhamos em mente a perfeita conexão com os Espíritos de luz e as trevas não nos visitarão, porque estaremos sob o amparo beneplácito das correntes amorosas do bem.

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Mencionamos apenas estes fatos, entre milhares deles, registrados nos anais das pesquisas psíquicas, para oferecer alguns elementos significativos de comprovação da clarividência através de casos espontâneos, que confirmam as conclusões de laboratório da equipe de Rhine. Tanto a mulher do caso do Prof. Lawrence Jones, quanto a mãe aflita do relato de Flamarion, ou o pintor holandês do caso de Puharich, como a menina Kate Fox só podiam ter visto o que relataram pela visão sem olhos. A telepatia é incapaz de explicar esses casos. Não obstante, como já advertimos, em muitos casos as duas funções, a telepática e a clarividente, agem em conjugação. Para esses casos de percepção global existe a classificação técnica de Fenômenos GESP, ou seja, fenômenos de General Extra Sensory Perception, que em português teria a sigla de PESG, Percepção Extra-Sensória Geral. Rhine criou essa designação em virtude das dificuldades de separar um fenômeno do outro e da conveniência de realizar experimentos de conjugação, que se mostraram mais produtivos. (III  "CV  a visão sem olhos", do livro Parapsicologia Hoje a Amanhã, do Prof. J. Herculano Pires)

 





01 novembro 2009

Quem me Segue não Anda nas Trevas

“Falou-lhes, pois Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (João, 8,12

O capítulo 8, de o Evangelho segundo João, trata da mulher adúltera e da missão de Jesus. Os versículos de 1 a 11 destacam a absolvição de Jesus a respeito da mulher pega em flagrante adulterando, e que a lei do Velho Testamento mandava apedrejar. Depois que os escribas e fariseus se retiraram, um a um, começando pelos mais velhos, Jesus, a sós com a adúltera, diz: "Vá e não peques mais". A seguir, profere a frase acima: “... Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”

Há muitos textos nos Evangelhos que versam sobre a luz do mundo. Em João, 1, 4-9: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam”. Em João, 3,19: “A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más”. Em João, 9,5: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”

Façamos uma análise do par de termos trevas-luz

Quando Deus criou as trevas, elas não representavam um poder antidivino: simplesmente louvavam o Criador como a própria luz. No decorrer do tempo, passou a significar a pessoa que não está ligada a Deus. Este pensamento já é encontrado no Velho Testamento. No Novo Testamento, a fé cristã é uma passagem das trevas para a luz; imitar Jesus Cristo é andar na luz e não nas trevas.

As trevas têm relação com os pensamentos sombrios. Muitos deles causam o monoideísmo – ideia fixa –, que facilmente pode levar o ser humano à obsessão, à fascinação e à possessão. Nesse caso, os Espíritos inferiores se aproveitam de nossa fraqueza mental e passam a nos influenciar negativamente. Os trabalhos de desobsessão, em Centros Espíritas, retratam esta situação. Há pessoas que ficam completamente desfiguradas pela influência desses Espíritos.

Jesus Cristo, quando esteve encarnado entre nós, procurou disseminar a luz da Boa Nova. A humanidade, porém, preferiu as trevas: em 64, houve a perseguição do Imperador Nero aos cristãos; em 313, Constantino proclamou a liberdade do cristianismo e o fez religião oficial do Império Romano, desfigurando os ensinamentos de Cristo; no século XII foi criada a Inquisição, tribunal eclesiástico da Idade Média, com fogueiras, forcas e pelotões de fuzilamento.

Falar das trevas é fácil; da luz, um pouco mais difícil. É que a nossa visão de mundo ainda está chafurdada na superficialidade da vida. Para que possamos penetrar em outras esferas do pensamento, precisamos, muitas vezes, do beneplácito dos Espíritos de luz, que nos inspiram ideias renovadoras. Se hoje estamos nas trevas, nem sempre será assim. A vida nos oferece oportunidades mil para sairmos do nosso status quo e adquirirmos outros de maior valor moral e intelectual. Acontece que isso não é feito de maneira suave, sem solavancos. Há, muitas vezes, a necessidade da dor, da doença e do sofrimento.

Certa feita, disse o divino Mestre: “Quem me segue, siga-me”; em outra circunstância, afirmou: “Quem me segue não anda em trevas”. São estas as palavras de Cristo pelas quais somos advertidos que meditemos sobre sua vida e seus costumes se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda a cegueira de coração. Reconheçamos que não basta admirar o Cristo e divulgar-lhe os preceitos. É imprescindível acompanhá-lo para que estejamos na bênção da luz.

O Espírito Emmanuel, comentando esta passagem, fala-nos que quando Cristo designou os seus discípulos como sendo a luz do mundo, assinalou-lhes tremenda responsabilidade na Terra. É que a chama da candeia gasta o óleo do pavio. Nesse sentido, o Cristão sem espírito de sacrifício é lâmpada morta no santuário do Evangelho. Recomenda-nos, assim, não nos determos em conflitos ou perquirições sem proveito, visto que a luz não argumenta, mas sim esclarece e socorre, ajuda e ilumina.

Verifiquemos se nossa pretensa luz não seja senão trevas. Muitas vezes imaginamo-nos mais iluminados do que os outros e não passamos de simples velas diante da luz elétrica. Se estivermos constantemente pensando no mal, nas injustiças que foram cometidas contra nós, ficaremos presos às trevas. A prática do perdão, que é lançar luz sobre os acontecimentos, contudo, pode libertar o nosso pensamento para áreas mais úteis ao nosso desenvolvimento moral e espiritual.

 

 


14 outubro 2009

Sofrimento

A teologia dá grande apreço ao sofrimento, sugerindo que deveríamos imitar o mestre Jesus na cruz, que morreu nessa circunstância para nos salvar. Será necessário que o símbolo da cruz ocupe a posição central da religião cristã? Não teria sido a sua supervalorização a causa da pobreza em que vivem muitos religiosos cristãos? Como distinguir o bom do mau sofrimento?

A palavra apatia significa tanto a ausência de doença, de lesão orgânica, de sofrimento, como a ausência de paixão, de emoções. Apatia provém do grego clássico apatheiaPáthos, em grego, significa "tudo aquilo que afeta o corpo ou a alma" e tanto quer dizer dor, sofrimento, doença, como o estado da alma diante de circunstâncias exteriores capazes de produzir emoções agradáveis ou desagradáveis, paixões.

Há um masoquismo do passado fundamentado no Getsêmani, esse jardim que se tornou um símbolo para as dores humanas. Getsêmani é um jardim situado no sopé do Monte das Oliveiras, em Jerusalém (atual Israel), onde se acredita que Jesus e seus discípulos tenham orado na noite anterior à crucifixão de Jesus. De acordo com o Evangelho segundo Lucas, a angústia de Jesus no Getsêmani foi tão profunda que "seu suor transformou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão”.

Tal como acontecera a Sócrates, que foi obrigado a beber cicuta, Jesus não podia ter se eximido do martírio na cruz? O problema que se coloca: devemos escolher a apatia (desvio do sofrimento) ou aceitá-lo com resignação? Nos dois casos, tanto Sócrates quanto Jesus preferiram enfrentá-lo com determinação, no sentido de mostrar à humanidade que existem valores que estão acima da própria vida. Resultado: passados mais de dois mil anos e ainda estamos nos lembrando de seus exemplos.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, os Espíritos instruem-nos que há o bem e o mal sofrer. Eles nos dizem: “... Ficai satisfeitos quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o fogo da batalha, mas as amarguras da vida, onde é preciso, algumas vezes, mais coragem do que num combate sangrento, porque aquele que ficaria firme diante do inimigo, se dobrará sob o constrangimento de uma pena moral. O homem não é recompensado por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva os louros e um lugar glorioso”.

Quando, pois, nos atingir um motivo de inquietação ou de contrariedade, esforcemo-nos por superá-lo. Sejamos sempre mais fortes que os inimigos do pensamento e teremos a recompensa do equilíbrio físico e espiritual.

30 setembro 2009

Formas de Caridade

Caridade é o amor a Deus e ao próximo. É uma virtude cristã ao lado da fé e da esperança. Tem relação com a justiça, porque implica exercer deveres e obrigações na sociedade. Nesse caso, regula o procedimento moral do homem para com os outros seres e, especialmente, para com os outros homens. É uma palavra muito ventilada no meio religioso. Convém não deixá-la cair no lugar comum como sói acontecer com o termo Evangelho que, de tanto ser usado, perdeu o sentido de boa nova trazida por Jesus Cristo.

De acordo com o cristianismo, Deus é o pai, o Criador do universo. Em seguida, vem Jesus; posteriormente, toda a humanidade. Como cada um de nós faz parte desta família universal, amar a Deus não pode ser feito sem que amemos o nosso próximo. Observe que a definição de caridade diz exatamente isso, ou seja, “amar a Deus e ao próximo”. Por essa razão, percebemos que somente fazendo bem ao próximo é que podemos dizer que amamos a Deus. Não bastam apenas pensamentos e palavras, temos que expressá-los em atos.

Podemos dizer que a origem da caridade está na vida e nos exemplos de Jesus Cristo. Antes de Jesus, os pais vendiam os seus filhos, as mulheres eram tratadas como alimárias, os velhos eram abandonados. Com a sua presença, um novo clarão apareceu, pois os seus exemplos de obediência ao Pai mudaram a mentalidade da humanidade. O Espirito Emmanuel, no capítulo 16, de Roteiro, psicografado por Francisco Candido Xavier, diz: “O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio da multidão e materializa-o com o próprio esforço. Cura os doentes na via pública, sem cerimônia, e ajuda a milhares de ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de natureza moral, sem valer-se das etiquetas de culto externo”.

A caridade pode ser vista de diversas formas: material (doação de alimentos, dinheiro, roupas, remédios); espiritual (esquecimento da ofensa, audição de uma reprimenda, silêncio ante o interlocutor perturbado). Todas elas, porém, devem convergir para o aspecto moral, que é o esforço de suplantar uma limitação, uma falha de conduta. Não devemos analisar a caridade somente pela lado material, pois podemos incorrer em erros, visto que a caridade, como já vimos, tem íntima relação com a justiça, no sentido de regular o procedimento moral do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes.

A esmola, uma das formas de caridade, faz parte da tradição cristã. Vendo uma pessoa estendendo a sua mão, tiramos uma moeda do bolso e lhe damos. Este dinheiro é útil porque pode aliviar a sua fome. A doação de roupas, alimentos e remédios é também meritória, porque pode satisfazer uma necessidade do próximo. Devemos, contudo, tomar cuidado para que essas ações não aumentem o nosso amor-próprio, dificultando a nossa caminhada espiritual.

Suprir alguém com dinheiro, roupas e alimentos não é tarefa complicada; basta que tenhamos de sobra. Doar tempo em benefício do próximo, com o esquecimento do “eu” já exige abnegação. Quantas não são as vezes que nos requisitam para uma atividade caritativa e alegamos que temos outra coisa para fazer? A verdadeira caridade implica o sacrifício total da liberdade humana. Tal qual Jesus se sacrificou na cruz, o mesmo deveríamos fazer em nossos dias. Há um grande mérito em saber calar para deixar falar um mais tolo; saber ser surdo quando uma palavra de zombaria escapa da boca escarnecedora.

O Espírito Néio Lúcio, no capitulo 20, de Jesus no Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier, relata a história de um indivíduo, pai de família, que tencionava praticar caridade, mas não tinha dinheiro. Contudo, em sua jornada terrestre auxiliava prazerosamente a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade. Procurava sempre extinguir os pensamentos inferiores. Recolhia até detritos da rua para não prejudicar os transeuntes. Desencarnou. Estava com medo dos juízes, mas foi aureolado com um brilhante diadema.

Recordando os avisos espirituais, podemos dizer que a caridade se faz de diversas maneiras, ou seja, por pensamentos, palavras e atos. Saibamos, assim, pensar bem para que as nossas palavras sejam sãs, a fim de possam ser transformadas em atos puros de bondade na sociedade.






18 setembro 2009

Sacrifício e Espiritismo

Sacrifício – Do latim sacrificium significa o que está relacionado ao ato de fazer com que alguma coisa se torne sagrada. Sacrificar é converter em sagrado o objeto que será dado em oferta. É o ato principal de todo culto religioso; é a oferta feita à divindade em certas cerimônias solenes. Sacrificar-se é crescer; quem cede para os outros adquire para si mesmo.

Na Antiguidade, os sacrifícios de animais, crianças, virgens e prisioneiros de guerra eram corriqueiros. No Antigo Testamento, os sacrifícios eram considerados dons sagrados. Abraão, por exemplo, por ordem de Deus, quis imolar o seu filho Isaac em holocausto e que depois foi substituído por um carneiro. No Novo Testamento, a instituição antiga dos sacrifícios cede lugar ao sacrifício pela Cruz do Cristo. Numa acepção mais contemporânea, há o holocausto alemão praticado ao povo judeu.

A morte de Jesus na Cruz representa o móvel da redenção da Humanidade. O símbolo da cruz, em que juntam o céu e a terra, foi enriquecido prodigiosamente pela tradição cristã, condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica com sua história humana, com a sua pessoa. Enquanto no passado havia o “olho por olho e dente por dente”, Jesus ensinou-nos a oferecer a outra face, quando numa delas alguém nos batesse. Enquanto no passado ofereciam-se animais, crianças, alimentos, Jesus oferece-nos um único mandamento: cada qual deve carregar a sua cruz.

Filosoficamente, a coragem para o sacrifício fundamenta-se no deixar o conhecido, o lugar conquistado, a comodidade do pensamento vulgar para se aventurar na busca de novos ensinamentos, novas experiências e novos rumos na vida. “A coragem para o sacrifício está em acreditar poder de novo outra vez. Poder sempre inaugurar um novo sentido, ou mesmo repetir o feito e de novo realizar. É dispor-se à vida que se vive e se realiza vivendo, e compreender que nesse jogo de viver e realizar jogar o incerto e o inesperado, e que assim devem ser acolhidos”. (Pizzolante, 2008, p. 188)

Cumpre observar que o sacrifício não é auto-imposição, mas uma disposição para a abnegação, que é o afastar-se da arrogância do ficar no já conquistado. O sacrifício assemelha-se à dor do parto, pois a mãe sofre, mas em seguida vê o rebento vir à luz, que lhe dá grande alegria. Em nosso caso, o parto refere-se à ideia nova, tal qual Sócrates fazia na Antiguidade, quando ensinava na praça pública. Sadi, por outro lado, dizia-nos: “A paciência é uma planta de raízes assaz amargas, mas de frutos dulcíssimos”.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan kardec ensina-nos que o sacrifício mais agradável a Deus é o do Ressentimento. Ele expressa o pensamento da seguinte forma: “Antes de se apresentar a ele para ser perdoado, é preciso ter perdoado, e que, se cometeu injustiça contra um dos seus irmãos, é preciso tê-la reparado; só então a oferenda será agradável, porque virá de um coração puro de todo o mau pensamento” (1984, cap. X, p.134.) Em outras palavras, antes de entrarmos no templo do Senhor devemos purificar o nosso coração, porque assim teremos mais condições de entrar em perfeita conexão com os Espíritos superiores e deles receber inspirações para as nossas boas ações.

O trabalhador da seara mediúnica não raro registrará as seguintes questões: por que o meu caminho é de sofrimento? Por que a minha vida está repleta de dor? Onde estão os benfeitores espirituais? Por que eles não vêm aliviar as minhas amarguras? Lembremo-nos de que Jesus ensinou que a cruz é o símbolo da redenção do cristão. Os mensageiros de luz vêm apenas estimular as nossas ações dizendo que deveríamos pegar a nossa cruz e caminhar com ela, tanto quanto forem os passos que a divindade nos impuser. E por maior sejam os sacrifícios que teremos de suportar, não cortemos uma pedaço dela, porque poderá fazer falta quando tivermos que usá-la como ponte para atravessar o rio.

O sacrifício mais agradável a Deus é aquele em que o individuo se coloca abertamente para aceitar, sem desânimo e sem reclamações, a determinação dos Espíritos de luz acerca de sua missão na terra.

Fonte de Consulta

EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

PIZZOLANTE, Romulo. A Filosofia e a Coragem para o Sacrifício. In: MEES, L. e

PIZZOLANTE, R. (org.). O Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/sacrif%C3%ADcio-e-espiritismo



07 agosto 2009

Lei de Liberdade

Liberdade. Em sentido geral, estado do ser que não sofre constrangimento, que age conforme a sua vontade, a sua natureza. Em sentido político, é a faculdade de fazer o que se queira dentro dos limites do direito (lei). Em sentido psicológico e moral, aquele que fazendo o bem ou o mal age conforme a razão, que aprova.

A palavra liberdade presta-se a  muitos significados. Falamos de liberdade  política, de liberdade econômica e de liberdade de consciência. A liberdade em Cuba é diferente da liberdade nos Estados Unidos. O termo comporta, também, limitações psicológicas, legais e  econômicas. Suponhamos a seguinte situação: ir aos Estados Unidos. Sentido psicológico: estou disposto a me deslocar para aquele país?; sentido legal: o governo  americano  permite a minha estada?;  sentido  econômico: conseguido  o visto de entrada, tenho recursos  financeiros  para tal empreendimento?

"A liberdade de uma pessoa não termina quando começa a liberdade da outra". Esta é a frase com que Eduardo Prado de Mendonça  começa o capítulo II do seu livro A Construção da Liberdade. Afirma o autor que não existe uma geometria da liberdade nem uma liberdade no espaço. Acha ele que quando dizemos que "a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro", estamos assumindo um preconceito, do qual não temos consciência. Que significa dizer que a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro?

De acordo com Allan Kardec, na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos, a fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova física; ao escolhê-la, ele traça para si uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. No tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Observe que a palavra fatalidade aqui usada tem mais o sentido de determinismo do que de fatalidade propriamente dita. 

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, pergunta: Há homens naturalmente destinados a serem propriedade de outros homens? Resposta: a lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a Natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente. Devem-se levar em conta os costumes e a desigualdade natural de aptidões.

Escolhendo o vício haverá um tolhimento da  vontade, pois esta  estará submetida à necessidade de supri-lo, impedindo a continuidade  de outros atos livres. Sendo assim, concentremo-nos na prática das virtudes, pois somente elas têm a capacidade de ampliar a nossa liberdade de ação.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/lei-de-liberdade


Lei de Justiça, Amor e Caridade

Justiça – do lat. justitia – significa, de modo restrito, a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade. Amor– do lat. amore –, sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Caridade – do lat. caritate –, no vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus.

Kant, na Doutrina do Direito, define a ação justa como qualquer ação que permite a livre vontade de cada um coexistir com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei universal. Santo Agostinho, por seu lado, diz que a justiça é a virtude que dá a cada um aquilo que lhe é devido. Em realidade, a justiça visa estabelecer certa igualdade entre o forte e o fraco, o que tem poder e o que está despossuído dele.

A justiça pertence às virtudes cardeais e a caridade às virtudes teologais. As virtudes cardeais, princípio de todas as virtudes, dizem respeito à temperança, àfortaleza, à prudência e à própria justiça. Entre essas, a justiça ocupa lugar de destaque, pois dá equilíbrio às demais. As virtudes teologais, consideradas como dons infusos por Deus, dizem respeito à fé, à esperança e à própria caridade. Dentre elas, a caridade é a mais perfeita. Se à justiça e à caridade acrescentarmos o amor, teremos os fundamentos básicos da conduta humana em sociedade.

Os gregos usavam diferentes vocábulos para designar o amor. Philia referia-se à amizade, ao amor ternura; eros, ao amor carnal, sexual; agapé, ao amor divino, sem contrapartida, incondicional. Aristóteles, em Ética a Nicômaco, comparando o amor amizade à justiça, não hesita em afirmar que a amizade é mais necessária e importante, pois os inimigos podem ser justos entre si, mas a concórdia e a comunhão só podem coexistir com a amizade e o amor. Dizia que ser justo é bom, mas amar é ainda melhor. "Se somos amigos, não precisamos de justiça; justos, precisamos ainda da amizade".

A justiça, sendo fria e calculista, necessita do amor e da caridade que lhe complementam, porque amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos nos fosse feito. A caridade é, primariamente, o amor a Deus e, sem mudar a direção, secundariamente, é o amor ao próximo e a si mesmo. Ela não se restringe à filantropia, mas abrange todas as nossas relações com os nossos semelhantes, quer sejam inferiores, iguais ou superiores.

Allan Kardec, na pergunta 648 de O Livro dos Espíritos, esclarece-nos que a divisão da lei de Deus em dez partes é a mesma da de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida. Dentre tais leis, a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras.

O justo dá a cada coisa o lugar que lhe compete. Ordena na medida certa. Situando-se além das oposições e dos contrários, realiza em si a unidade, que éuna e total. O verdadeiro justo simboliza o homem perfeito, que põe ordem, primeiro em si, depois em torno de si. Seu papel é o de uma verdadeira potência cósmica.

A justiça dá base ao amor, para que este se transforme na caridade, que é o amor em ação.




06 agosto 2009

Lei de Conservação

Conservação. Conjunto de medidas permanentes para impedir que se deteriorem com o tempo objetos de valor, como monumentos, livros, obras de arte. Em se tratando do ser humano, a manutenção da espécie. 

Em todos os seres vivos, o instinto de conservação é o mais importante. A finalidade primordial do animal é comer e esforçar-se para não ser comido pelos outros. Essa é a razão pela qual os órgãos sensoriais, que investigam se existe alimento em volta ou que, ao pressentir perigo, ordena ao corpo que se proteja ou fuja, encontram-se perto do orifício de introdução dos alimentos.

Depois do instinto de conservação, o mais importante é o instinto de reprodução, ou tendência procriadora, que faz o macho procurar a fêmea para fecundá-la. Ambos os instintos requerem a contribuição coordenadora de diversos sistemas de órgãos. Na fuga, o coração bate mais depressa e os músculos ficam tensos.

O instinto de conservação é uma lei natural, porque a vida num corpo físico é necessária ao aperfeiçoamento dos seres, e sua destruição antecipada entrava o desenvolvimento do princípio inteligente.

O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não querem que o homem civilizado viva com selvagem.

No que tange às privações, lembremo-nos somente das que são meritórias: sacrificarmo-nos em favor do próximo, renunciarmos às festas para atender alguém que esteja doente, retirarmos do necessário para auxiliar alguém em dificuldade etc. 

Escutemos a nossa voz interior, pois ela possui poderes ilimitados para nortear nossa vida. Tendo-a por escudo, usaremos de tudo e não abusarmos de nada. Ouvindo-a constantemente desenvolveremos o nosso senso moral e o sentimento de caridade que nos eleva acima de todos os sofrimentos presentes.

 




Lei de Igualdade

Igualdade. Em sentido geral, é a qualidade do que é igual, do que não tem diferença. Na matemática, a igualdade é simbolizada pelo sinal =, daí a=b. Na ética e na Política, o princípio segundo o qual as prescrições, proibições e penas legais são as mesmas para todos os cidadãos, sem acepção de nascimento, situação ou riqueza.

A ideia de igualdade fundamental de todos os homens, penosamente adquirida ao longo da história, repousa sobre a igualdade metafísica ou identidade essencial. A declaração dos Direitos Humanos, advindos da Revolução Francesa, foi um marco sem precedentes na busca pela igualdade entre os seres humanos. 

Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um viveu mais ou menos tempo e por conseguinte realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio: daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhe dá aptidões diversas. Como os mundos são solidários, a mistura de aptidões é necessária para a evolução da Humanidade: o que um não faz, o outro faz, e é assim que cada um tem a sua função útil.

A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. O princípio da reencarnação, adotado pelo Espiritismo, é a base para entendermos as questões das desigualdades de riqueza e sociais. A reencarnação mostra a justiça divina. No que tange à riqueza, todos passaremos por ela, quer seja nesta vida ou em outras. 

Uma visão ampla do amor induzirá o homem a repartir do seu excesso com aquele que tem menos; da abundância de um país, para os que tiverem dificuldade de produzir. Ao Espiritismo cabe uma grande responsabilidade, ou seja, a de auxiliar o pensamento do homem a fim de que se liberte das paixões materiais e o conduza à conquista dos bens espirituais, os únicos que poderá levar ao partir para a vida dos Espíritos.





Lei do Progresso

Progresso é o movimento ou marcha para frente. Para J. B. Bury, "A ideia de progresso é a síntese do passado e a profecia do futuro".

As etapas do progresso técnico podem ser resumidas da seguinte forma: Até 1700, o sistema produtivo, na Europa, era baseado no artesanato; entre 1700 e 1910, com a Revolução Industrial, na Inglaterra, passa a ser mecanizado; entre 1910 e 1973, com o sistema Ford, nos Estados Unidos, prevaleceu a produção em série; depois de 1973, surgiu o sistema Toyota, no Japão, caracterizando os inventários minimizados e o sistema de produção baseado no just in time.

O progresso é uma lei natural. Ele faz parte de uma das dez leis naturais, dispostas em O Livro dos Espíritos. Parte-se de um estado natural, que é a infância da Humanidade, para se chegar a um aprimoramento moral e intelectual. Enfatiza-se que o progresso moral e o progresso intelectual não caminham juntos. Na realidade, o progresso moral é a consequência do progresso intelectual, visto o progresso intelectual fornecer meios para o desenvolvimento do livre-arbítrio, o que aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.

O ser humano não pode impedir a marcha do progresso. Os que tentam impedir o progresso agem como a pedra sob uma roda; retardam o seu andamento, mas acabam esmagados por ela. Quando, entretanto, um povo não caminha com a pressa desejável na evolução natural, Deus, através de suas leis, lhe suscita o progresso com um grande abalo físico ou moral.

A destruição do materialismo é a maior contribuição que Espiritismo pode oferecer ao progresso, pois esta é a chaga número um da sociedade.

Fonte de Consulta

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. São Paulo: FEESP, 1999 (perguntas 776 a 800).

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/lei-do-progresso

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Progresso Contínuo (c. 700 a.C.) [Grécia Antiga]

Crença de que a humanidade está em contínuo aperfeiçoamento  

A noção de que a sociedade humana deve estar sempre em evolução é tão antiga quanto a própria Antiguidade. Todas as civilizações, desde o início, mantiveram com firmeza a ideia de que melhorias morais, religiosas e materiais contínuas são uma consequência inevitável de nossa natureza inquisitiva e aspiradora. O classicista grego Hesíodo (morto em 700 a.C.) falou do progresso humano na obra Os tratados e os dias. Na peça do século V a.C. de Ésquilo Prometeu acorrentado, Prometeu é ordenado por Zeus à punição eterna por ter dado aos humanos a dádiva do fogo numa tentativa heroica de liberá-los da ignorância e permitir-lhe a busca das esferas mais elevadas da arte, da cultura e da aprendizagem.

Bernard le Bovier de Fontenelle (1657-1757) defendia, junto com outros pensadores, que a mente humana no século XVII era tão rica e criativa quanto na época de Aristóteles e Homero. O progresso econômico e material da humanidade continuou como premissa em A riqueza das nações (1776), de Adam Smith, assim como na Filosofia da história (1831), de G. W. F. Hegel, obra em que ele fala do nosso “impulso de perfectibilidade”.

ARP, Robert (Editor). 1001 Ideias que Mudaram a Nossa Forma de Pensar. Tradução Andre Fiker, Ivo Korytowski, Bruno Alexander, Paulo Polzonoff Jr e Pedro Jorgensen. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.





Lei de Reprodução

Reprodução — dá-se este nome à série de processos pelos quais os seres vivos transmitem a vida a novos indivíduos e asseguram a continuação das espécies. A reprodução dos seres vivos se faz através de outro preexistente. Pode ser assexuada ou agâmica e sexuada ou singâmica. 

Conta-nos o Espírito André Luiz que a vida no Planeta Terra começou a partir da geleia cósmica, de onde verteu o princípio inteligente, em suas primeiras manifestações. Depois, este princípio foi trabalhado pelos operários espirituais que lhe magnetizam os valores, permutando-os entre si, sob a ação do calor interno e do frio exterior.

De acordo com os postulados espíritas, Deus criou os Espíritos simples e ignorantes; logo, há necessidade da reprodução de formas físicas, a fim de atingirem a perfeição. Como é impossível atualizar todas as virtudes em uma única encarnação, os Espíritos voltam ao plano da matéria quantas vezes forem necessárias.

É no lar que, salvo raras exceções, as formas físicas são procriadas. A importância da família prende-se ao fato que é ali, no cadinho das quatro paredes, que o novo ser receberá apoio para a sua jornada terrena. Não basta apenas procriar; é preciso que a forma física, animada por um Espírito, receba a influência educativa dos seus progenitores, no sentido de avivar a fraternidade e a solidariedade. 

A separação dos cônjuges não deve ser facilitada, pois o regime monogâmico é o que melhor se presta para a evolução do ser encarnado. No casamento, o que é de Natureza Divina é a união dos sexos e a Lei do Amor para operar a renovação dos seres que morrem; mas as condições que regulam essa união são de ordem humana, sujeita aos costumes de cada povo.

Vimos que a produção de novas formas físicas é de fundamental importância para a renovação da espécie humana. É preciso, pois, que essa reprodução seja responsável e não comprometa o processo evolutivo do nosso Planeta. 

 



Lei de Sociedade

Sociedade. Em sentido amplo, conjunto de indivíduos entre os quais há relações organizadas de serviços recíprocos. Diz-se, também, que é o estado dos homens ou dos animais que vivem sob a ação de leis comuns: as abelhas vivem em sociedade; cada família forma uma sociedade natural. Para Gabriel Tarde, o grupo social é um conjunto de indivíduos que se imitam entre si.

Cada período da História da Sociedade, desde os tempos mais primitivos até a moderna sociedade industrializada, revela os seus característicos especiais: a época das caças, o período da agricultura primitiva, o período feudal. Para K. E. Boulding, o século XX marca o período médio de uma grande transição no estado da raça humana. Pode-se designá-la com propriedade como a segunda grande transição na história da humanidade. 

O instinto de sociabilidade, inato no ser humano, leva-o a participar da sociedade. Aristóteles no século IV a.C. dizia que “o homem é naturalmente um animal político”. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino o mais expressivo seguidor de Aristóteles, afirma que “o homem é por natureza, animal social e político, vivendo em multidão”. A necessidade da vida social prende-se ao fato de que nenhum homem dispõe de todas as faculdades humanas.

A família ocupa lugar de destaque na sociedade. Observe que Herbert Spencer considerou a família entre as instituições que dão forma à vida social; Marx e Engels, como o primeiro grupo histórico, a primeira forma de interação humana; Augusto Comte, como célula básica da sociedade, o embrião e o modelo desta, de maneira que a sociedade perfeita é a que funciona como a família. 

As duas grandes sociedades da terra são a família, como semente formadora da sociedade, e o estado, como instituição política organizadora da sociedade. De logo se verifica, que, por um processo natural, o próprio homem sente ser imprescindível manter e conservar a sociedade para, dentro dela, progredir, individual e coletivamente. Para o espiritismo, a sociedade existe para a elevação moral do homem, para o seu crescimento interior, para que aprenda a ser fraterno e indulgente, em seu benefício e no do todo.

Tenhamos plena consciência de nossos deveres e direitos junto à nossa família e ao estado em que estivermos inseridos. Somente responsabilizando-nos pela coisa pública poderemos formar uma sociedade mais justa e mais fraterna.