25 fevereiro 2009

Perispírito

Perispírito é o invólucro semi-material do Espírito. É o elo de ligação entre o Espírito e o corpo físico. Diz-se que é uma substância vaporosa para os encarnados, mas bastante grosseira para os desencarnados. Tal como a semente de um fruto possui o perisperma, o Espírito, por comparação, possui o Perispírito. A finalidade do perispírito é tríplice: manter indestrutível e intacta a individualidade; servir de substrato ao corpo físico, durante encarnação; constituir o laço de união entre o Espírito e o corpo físico, para a transmissão recíproca das sensações de um e das ordens do outro. Para o Espírito Emmanuel, o Perispírito é um "campo eletromagnético, em circuito fechado, composto de gases rarefeitos" (gases que se desfazem ou diminuem de intensidade).

Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec afirma que "O conhecimento do perispírito é a chave de uma porção de problemas até agora inexplicáveis". Quais são esses problemas? A mediunidade, as doenças, as materializações etc. Suponha que tenhamos, na presente encarnação, um câncer no estômago. Como surgiu? Hipótese: numa encarnação passada, exageramos na alimentação e criamos problemas para o funcionamento do estômago. Isso ficou gravado no Espirito e, por consequência, no seu campo mental. Para eliminá-lo, temos de purgá-lo. Daí o sofrimento, a doença.

O Espírito, ao reencarnar, forma o seu perispírito do fluido cósmico universal do planeta ao qual se destina. Conforme for o seu teor evolutivo, pode pegar as partes mais nobres ou mais rústicas do fluido universal do referido orbe. Os Espíritos mais evoluídos tomarão as partes mais rarefeitas; os menos evoluídos, as partes mais condensadas. Assim sendo, embora o corpo físico possa ser igual para todos os viventes, o mesmo não podemos dizer do perispírito, que varia para cada um de nós, conforme o grau de evolução moral conquistado.

O perispírito, por ser flexível, pode tomar diversas formas, de acordo com o arbítrio do Espírito. Os Espíritos nos informam que a forma básica do perispírito é a forma humana, inclusive em outros planetas. Isso, contudo, não impede de o Espírito tomar outras formas, como a forma animal. Ao vermos a materialização de um animal, pensamos que o animal se materializou, mas não foi isso o que aconteceu, e, sim, que o Espírito humano tomou a forma de um animal.

Tenhamos em mente a diminuição do peso específico de nosso perispírito. Atingindo esta meta, poderemos nos deslocar com mais facilidade no mundo espiritual.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/per%C3%ADspirito

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O Perispírito não está enjaulado no corpo físico, sem poder desprender-se. Em "Obras Póstumas", no capítulo sobre manifestações dos Espíritos, 1 §, parte, item 11, 2ª Edição, lemos: "O Perispírito não está encerrado nos limites do corpo como numa caixa. É expansível por sua natureza fluídica; irradia-se e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem ampliar mais ou menos."  

Note-se bem que Kardec fala em atmosfera fluídica, noção simples e cristalina. Não há necessidade de os Espíritas usarem a palavra "aura" para exprimi-la. "Aura" diz muito com a terminologia católica e lembra um aspecto de santidade, com aqueles círculos coloridos, envolvendo a cabeça dos santos. Recomendaríamos que os Espíritas preferissem a designação atmosfera fluídica e não "aura”.  (Capítulo III — "Perispírito", do livro Do Sistema Nervoso à Mediunidade, do Dr. Ary Lex)

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Sobre o Perispírito

Ditado espontâneo a propósito de uma discussão que acabava de ocorrer na Sociedade quanto à natureza do Espírito e do perispírito.

Médium: Sr. A. Didier

Segui com interesse a discussão que se estabeleceu agora mesmo e que vos pôs em tão grande embaraço. Sim; faltam às palavras cor e forma para expressarem o perispírito e sua verdadeira natureza. Mas há uma coisa certa: o que uns chamam perispírito não é senão o que outros chamam envoltório fluídico, material. Quando se discute semelhantes questões, não são as frases que devemos buscar, mas as palavras. Para me fazer compreender de maneira mais lógica, direi que esse fluido é a perfectibilidade dos sentidos e a extensão da visão e das ideias; refiro-me aqui aos Espíritos elevados. Quanto aos Espíritos inferiores, os fluidos terrestres são ainda completamente inerentes a eles; assim, como vedes, são matéria; daí os sofrimentos da fome, do frio, etc., sofrimentos que não podem alcançar os Espíritos superiores, considerando-se que os fluidos terrestres são depurados em torno do pensamento, isto é, da alma. Para seu progresso, a alma sempre tem necessidade de um agente; sem agente a alma nada é para vós ou, melhor dizendo, não pode ser concebida por vós. Para nós outros, Espíritos errantes, o perispírito é o agente pelo qual nos comunicamos convosco, seja indiretamente, por vosso corpo ou vosso perispírito, seja diretamente por vossa alma. Daí as infinitas gradações de médiuns e de comunicações. Agora resta o ponto de vista científico, isto é, a essência mesma do perispírito. Isto é uma outra questão. Primeiro compreendei moralmente; não resta mais que uma discussão sobre a natureza dos fluidos, o que é inexplicável no momento. A Ciência não conhece bastante, mas lá chegaremos se ela quiser marchar com o Espiritismo.

Lamennais

(Revista Espírita, junho de 1861)





11 fevereiro 2009

Teoria e Prática no Espiritismo

O termo teoria – do grego theoria – é usado em várias acepções. Na Origem, designava o ato de ver e de ser visto em locais abertos a todos, tais como o templo, o circo, a ágora e em espetáculos e cerimônias públicas. Pode ser também a ação de contemplar, ter uma visão do espírito. Os gregos, de maneira nenhuma opunham, como hoje, teoria e prática. O conhecimento teórico, em toda a antiguidade clássica grega, era entendido como a contemplação da verdade (aletheia) em si mesma. A supremacia do conhecimento teórico sobre o prático ou técnico provém do fato de ele ser útil em si mesmo, independentemente de sua aplicação exterior.

Hoje, o vocábulo teoria é usado, as mais das vezes, como oposição a prática, a ponto de muitas pessoas dizerem que "a teoria na prática é outra". Com isso, não são poucos os pensadores que acabam dando mais importância à prática do que à teoria. Os homens práticos, ou seja, aqueles que estão à frente de atividades empresariais e governamentais ganham cada vez mais notoriedade, principalmente pelas suas aparições nos veículos de comunicação de massa.

Reflitamos um pouco sobre a relação teoria-prática num Centro Espírita. Anotemos, primeiramente, algumas frases: "você fez todos os cursos que o Centro oferece e nunca trabalhou?"; "você terminou o curso de Educação Mediúnica e ainda não trabalha?"; "você precisa trabalhar, senão será presa fácil de Espíritos menos felizes"; "você precisa aplicar passes senão as suas energias ficam paralisadas"; "as suas dores nas costas são devido à energia acumulada. Aplique passes e os seus problemas serão resolvidos".

Ser expositor dos cursos é prático ou teórico? A pessoa que só dá aulas pode ser considerada um trabalhador espírita, ou somente o que trabalha no setor de passes? O instrutor não necessariamente precisa participar do trabalho de passes. Ao estudar e transmitir a Doutrina Espírita já estará prestando um grande serviço à causa espírita. Pode, nas suas instruções, disseminar ideias, propor mudanças comportamentais para aquele que vai somente aplicar passes.

A teoria deve sempre vir antes, porque é dela que as idéias emergem e se estabelecem os princípios de uma doutrina, de uma ciência ou de um sistema filosófico. José Herculano Pires adverte-nos que todos aqueles que se dizem espíritas deveriam, em primeiro lugar, debruçar sobre as obras básicas, que são os fundamentos teóricos para as nossas ações práticas. Sem elas, o edifício espírita pode ruir.

O espírita sincero não deveria praticar o Espiritismo somente nos Centros Espíritas. Ele deve ser espírita em qualquer lugar do mundo. Alguém chega até nós e nos pede uma informação. Nesse exato momento, podemos passar o conteúdo doutrinal do Espiritismo, sem que precisemos colocar o rótulo: "Sou Espírita". O verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão serão reconhecidos por sua transformação moral à luz dos ensinamentos de Cristo. Não é somente dando passes, mas transformando-se para a prática do bem.

Em filosofia, aprendemos que vivemos em função dos outros, quer atendendo às suas necessidades quer eles suprindo as nossas. E não são poucas as coisas que dependemos dos outros. O pão que nos mitiga a fome, por exemplo, passou por diversas mãos. A prática deve ter como base a teoria. Como o Espiritismo tem conexão estreita com a filosofia, não resta dúvida que o nosso principal empenho é a correção do intelecto. Nesse sentido, temos que dar ênfase aos acertos e buscar as razões do fracasso.

Tenhamos em mente a prática espirita. Não nos esqueçamos, porém, dos princípios teóricos que lhe dão guarida.

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"O homem, que apenas dispõe do pensamento para investigar o que escapa aos sentidos, o que não se vê com os olhos do corpo nem se ouve com os ouvidos desse mesmo corpo, é o investigador de um saber que ultrapassa a mera experiência sensível. Esse homem ávido de conhecer, que ordena o caótico dos acontecimentos díspares, que os classifica em ordens diversas, que busca o que os conexiona, que os teoriza, é, em suma, o filósofo. Essa palavra teoria, que vem do grego theoria, significa em sua forma etimológica visão. Mas também os gregos chamavam theoria as longas filas dos fiéis que vinham de todos os quadrantes da Grécia ao Templo de Delfos para prestar homenagens aos deuses. E como traziam festões de flores, que os ligavam entre si, aproveitaram-se desse termo os sábios para com ele indicar tudo quanto conexiona, uma série de fatos. Ora, o saber filosófico não é o saber comum, o saber empírico, mas um saber teórico. Desse modo, a Filosofia é um saber teórico, que conexiona, que busca relações, que unem as coisas e as razões, primeiras e últimas, que as explicam e que as justificam". (SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. ed., São Paulo: Logos, s.d.p., pág. 16)

03 fevereiro 2009

O Senso de Justiça

Segundo Aristóteles, o Estado é "uma comunidade perfeita [...] que alcançou o objetivo final da total autossuficiência (autarkeia); ele surge, se é que podemos falar assim, a favor da vida, mas ele é a favor do bem-viver" (Política I 2, 1252b28-30). O Estado é a favor da justa cooperação. A cooperação humana completa só é possível pela virtude. O Estado é justo quando os seus cidadãos são justos, e isso quer dizer quando cada um faz sua parte.

A lei de cooperação deve se basear na justiça. Ser justo é atender as necessidades alheias, pois a virtude não existe por si, é apenas um processo, um meio de auxiliar o próximo. Quem vive com justiça faz aquilo que beneficia outros. O Estado existe "porque nenhum de nós basta a si mesmo, cada um tem necessidade de muitos outros" (República II, 369b6s.). O justo é fazer a própria parte e não tudo o que é possível.

Na antiguidade, falava-se das virtudes cardeais, ou seja, das virtudes básicas da vida. Eram quatro, a saber: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança. A Justiça era a principal, porque ela era considerada o eixo em que giravam as demais. O justo faz algo não para si, mas para beneficiar o próximo.

A justiça não é monopólio dos letrados. Muitos deles frequentaram as universidades e nem por isso são mais justos do que as pessoas iletradas. Quantas não são as vezes que observamos no homem comum um senso de justiça mais aguçado. Por quê? A lei da reencarnação pode nos esclarecer. Há Espíritos que, em outras vidas, já adquiram este senso. Eles não precisam da inteligência aguçada. Basta a herança e o automatismo de encarnações passadas.

O Espiritismo, não o Espiritismo de fachada, mas aquele que é vivenciado plenamente, oferece-nos esclarecimentos para qualquer assunto. Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec diz-nos que "O sentimento de justiça é tão natural que nos revoltamos ante uma injustiça. 0 progresso moral desenvolve a justiça, mas não a cria. Por isso, muitas vezes, entre os homens simples e primitivos encontramos noções mais exatas de justiça do que entre os de muito saber".

"O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo". (Perguntas 873 a 876 de O Livro dos Espíritos)

Estejamos atentos à nossa conduta para com terceiros. Será que estamos sendo justos para com todos? Em outras palavras, estamos renunciando algo de nós em benefício deles?