24 julho 2009

Aristocracias

Etimologicamente, a aristocracia é o “governo dos melhores” (do grego aristos, melhor e kratos, poder). Segundo Platão, os filósofos eram os mais sábios e os mais capacitados para dirigir uma nação. Isto não implicava a ideia de transmissão hereditária de privilégios sociais que prevaleceu em seguida.

As formas de governo podem ser resumidas em três (de um só, de poucos e de todos). Aristóteles (384-322) nomeia-as: a monarquia, em que o poder se concentra em uma pessoa; a aristocracia, em que o poder se concentra num grupo de pessoas; a democracia, em que o povo exerce o poder através de representantes eleitos. Cada uma dessas formas pode se degenerar: a monarquia, em tirania, a aristocracia, em timocracia e a democracia, em demagogia. Por esta razão, Montesquieu (1689-1755) elaborou a Teoria da Separação dos Poderes, em O Espírito das Leis.

Poder – Do latim potere é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força. A sociologia define poder, geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem de alguma maneira. Para Hobbes, o poder é algo que “se baseia nos meios para obter uma vantagem”; para Russel, “o conjunto de meios que permitem obter efeitos desejados”.

Historicamente, a autoridade pode ser assim resumida. Na antiguidade, era exercida pelos chefes de família, ou seja, pelos patriarcas. Com o aumento populacional e a complexidade das sociedades, foi preciso substituir os chefes de família pelos homens fortes, o exército. O poder militar juntou-se ao poder eclesial, criando, na Idade Média, a autoridade de Nascença. Depois foi-lhe acrescentada a influência do dinheiro e da inteligência, que ainda perduram na época atual.

Allan Kardec retoma esse tema em Obras Póstumas. Ele quer nos mostrar que a inteligência é neutra e nem sempre conduz os homens aos melhores resultados. Acha que a inteligência deve ter uma direção, direção esta dada pela moral. Por isso, o termo aristocracia intelecto-moral. Entendamos a sua dinâmica. É ela que conduzirá o homem ao reino do bem na Terra, pois fará com que os detentores do poder baseiem as suas decisões apenas no bem comum e não nos seus interesses pessoais, como sói ainda acontecer presentemente. Allan Kardec diz-nos que todas as aristocracias tiveram a sua razão de ser e atenderam a uma necessidade peremptória da população. Porém, nenhuma delas teve por base o princípio moral; “só este princípio pode constituir uma supremacia durável, porque terá de animá-lo sentimentos de justiça e caridade”.

As falcatruas políticas que sempre houve, e ainda há, não impedirão a implantação desta aristocracia intelecto-moral? Não. De acordo com Allan Kardec, o bem deverá suplantar o mal. Acrescenta que os homens de bem não fazem alarde de suas obras; os maus, sim. Dia virá em que, por força da inexorabilidade do progresso, os homens que ocuparão os postos de comando serão os mais inteligentes e os mais moralizados.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, no lugar da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz: “Não há fé inabalável, senão a que possa encarar, face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não basta ver, é, sobretudo, preciso compreender”. Nesse caso, podemos apontar o Espiritismo como um dos principais precursores da aristocracia do futuro, a aristocracia intelecto-moral.

Fonte de Consulta

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, capítulo sobre Aristocracias, p. 239 a 245.




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