Mensagem: por trás do ícone Tiradentes, há uma mensagem —
libertária — que invoca a secessão, a guerra contra os impostos, e a luta
contra um governo centralizador.
Crime: defender a independência da colônia de Minas Gerais em relação à Coroa Portuguesa, movimento esse inspirado pela recente independência das colônias americanas. A motivação desta "revolta" é a decretação da derrama pelo governo local, uma medida que permitia a cobrança forçada de impostos atrasados, autorizando o confisco de todo o dinheiro e bens do devedor.
Rebelião: depois da traição, os delatores, a cuja frente se
encontrava a personalidade de Silvério dos Reis, português de Leiria, levaram
todo o plano ao Visconde de Barbacena, então Governador de Minas Gerais. O
governador age com prudência, a fim de sufocar a rebelião nas suas origens, e,
expedindo informes para que o Vice-Rei Luís de Vasconcelos efetuasse a prisão
do Tiradentes no Rio de Janeiro, prende todos os elementos da conspiração em
Vila Rica, depois de avisar secretamente aos seus amigos do peito,
simpatizantes da conjuração, quanto à adoção de tais providências, para que não
fossem igualmente implicados.
Sentença: 11 homens presos.
Sentença final: D. Maria I havia comutado anteriormente as
penas de morte em perpétuo degredo nas desoladas regiões africanas, com exceção
do Tiradentes, que teria de morrer na forca, conservando-se o cadáver insepulto
e esquartejado, para escarmento de quantos urdissem novas
traições à coroa portuguesa.
Eis as explicações do Espírito Irmão X:
O mártir da inconfidência, depois de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e forte, inundando-a de santas consolações.
Tiradentes entrega o espírito a Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva ansiedade percorre a multidão, no instante em que o seu corpo balança, pendente das traves do cadafalso, no Campo da Lampadosa.
Mas, nesse momento, Ismael recebia em seus braços carinhosos e fraternais a alma edificada do mártir.
— Irmão querido — exclama ele —, resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...
Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento.
Daí a alguns dias, a piedosa rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos pungentes que a dilaceravam e, consoante as profecias de Ismael, daí a alguns anos era o próprio Portugal que vinha trazer, com D. João VI, a independência do Brasil, sem o êxito incerto das revoluções fratricidas, cujos resultados invariáveis são sempre a multiplicação dos sofrimentos das criaturas, dilaceradas pelas provações e pelas dores, entre as pesadas sombras da vida terrestre.
XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos. Rio de Janeiro: FEB, Copyright 1938.