Amor que Alcança o Outro
Frustração Faz Crescer
A Humildade é o Esteio da Evolução Espiritual
O Amor que Alcança o Outro
QUESTÕES de Ariana Pereira, repórter do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, para a revista Bem-Estar e RESPOSTAS de Sérgio Biagi Gregório
Por que
Jesus, um grande mestre espiritual, insistia tanto na questão do amor ao
próximo?
Para entendermos a posição de Jesus, quanto ao amor ao próximo, temos de nos reportar à Lei de Deus, ou seja, aos Dez Mandamentos, recebidos mediunicamente por Moisés. De acordo com Allan Kardec, "esta lei é de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino". Jesus não veio destruir esta lei, mas dar-lhe cumprimento, desenvolvê-la segundo o grau de adiantamento da humanidade. Em realidade, Jesus resumiu o Decálogo num único mandamento, que costumamos chamar de o 11.º Mandamento: "Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo". Jesus também acrescenta: "Está aí toda a lei e os profetas". Para Jesus, o próximo é o canal que nos leva a Deus. Sem o próximo, todo o nosso esforço é em vão, porque acabamos chafurdando no egoísmo, o principal cancro da humanidade.
Ele
também insistia na questão de amarmos aqueles que consideramos inimigos. Qual a
importância disso?
Os
inimigos são os nossos verdadeiros mestres. Eles não têm pena de nós e apontam
as nossas falhas com bastante frieza, coisa que os nossos amigos não têm
coragem de fazê-lo. Amar o inimigo consiste em perdoar-lhe o mal que porventura
esteja nos fazendo. O perdão ao inimigo, contudo, tem caráter científico.
Observe que acima de nós há uma lei, a Lei Natural, lei esta que orienta todas
as nossas ações, pois está escrita em nossa consciência. Quando o nosso inimigo
nos faz um mal, ele não nos feriu, mas feriu-se a si mesmo em relação à Lei. Cabe
à Lei puni-lo ou não. Quanto a nós, uma vez perdoado o seu ato, ficamos livres
e desembaraçados de todas as implicações mentais menos felizes a respeito deste
suposto inimigo.
É
possível amar o outro sem amar-se?
A
tradução correta da frase de Jesus não é bem esta: "Amar ao próximo como a
si mesmo", mas sim, "Primeiro ame a si mesmo, para depois amar ao
próximo". Há aqui uma grande diferença, pois não fazemos as coisas de modo
mecânico, em obediência à pregação evangélica, mas de forma consciente, no sentido
de sabermos o que estamos fazendo e o porquê de estarmos agindo desta e não de
outra maneira.
Qual o
papel do autoconhecimento para que haja amor próprio?
Segundo
Sócrates, filósofo da antiguidade clássica grega, o autoconhecimento é a chave
libertadora do ser humano. O "Conhece-te a ti mesmo" é um apelo para
que o ser humano possa fazer uma volta sobre si mesmo, no sentido de tomar
consciência de sua ignorância. É a partir dessa autoconsciência que
o ser humano deveria se postar no mundo, pois saberia o que poderia fazer e
dispensaria aquilo que não servisse para o seu projeto de vida.
Como
amar-se sem perder-se no individualismo?
O
primeiro passo é tomarmos consciência de que o mundo em que vivemos é
individualista e consumista. Caso contrário, qualquer elaboração do amar-se
perde o seu sentido. Observe que a moral primitiva implicava a regulamentação
do comportamento de cada um de acordo com os interesses da coletividade. O
indivíduo era mero suporte, auxiliar na concretização dos objetivos do grupo. Presentemente,
o culto à individualização fê-lo mais materialista e egoísta, pois busca a sua
autonomia, a sua independência, nem que para isso passe por cima dos outros. É
nesse ponto que a mensagem do amor ao próximo, proferida por Jesus, auxilia-nos
a mudar o nosso comportamento, para não nos perdermos no individualismo.
Santa
Terezinha dizia que uma alma repleta de amor não pode ficar inativa. O amor
impulsiona para o bem-estar do outro?
O outro é
a pessoa mais importante. Mesmo quando estamos preparando uma peça oratória,
para nós mesmos, estamos pensando em expressá-la ao outro, ao público. Nesse
sentido, cada pessoa tem a responsabilidade de ser caminho para os outros. É,
portanto, injusto excluir os outros do caminho. Lembremo-nos de que esta responsabilidade
não diz respeito somente ao ser humano, mas também em relação ao meio ambiente.
Hoje, são muitas as empresas que se preocupam com o que produzem, com o tipo de
lixo que estão descartando, com as condições de trabalho de seus funcionários
etc.
Como o
amor ao outro beneficia a quem se doa dessa forma?
Em
primeiro lugar, não deveríamos fazer o bem ao próximo para recebermos uma
recompensa, pois estaríamos sendo mercenários, do tipo é dando que se recebe. O
benefício, se assim quisermos chamar, é a felicidade de ver a Doutrina do
Cristo sendo divulgada e ampliada para atingir todos os seres humanos do
planeta.
Ariana
Pereira
Diário da
Região
Tel: (17)
2139-2079
Cel: (17)
8145-8418
e-mail: ariana.pereira@diarioweb.com.br
www.diarioweb.com.br
Publicado
em 31/05/2009 No www.diarioweb.com.br
Teresa de
Lisieux, mais conhecida como Santa Terezinha ou Santa das Rosas, costumava
dizer que uma alma repleta de amor é incapaz de ficar inativa. Ao passo que o
ser humano se conhece e, se conhecendo, passa a se amar verdadeiramente, o
movimento em direção ao outro é inevitável. É esse mover-se inevitavelmente ao
bem-estar de outros que suscitou líderes como Mahatma Gandhi e Martin Luther
King. Amor ao próximo não é uma lição nova. Mas nunca falou-se tanto nisso como
hoje. Individualismo e consumismo nos quais está inserida a sociedade atual
desencadeiam, cada vez mais, pessoas e iniciativas que desejam romper com essa
realidade e inaugurar um novo tempo de compreensão e pacífica convivência entre
os indivíduos e os povos. De acordo com o espiritualista Sérgio Biagi Gregório,
para que as pessoas entendam a questão do amor ao próximo é necessário fazer
referência às leis de Deus. “De acordo com Allan Kardec, ‘essa lei é de todos
os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino’.
Jesus resumiu o Decálogo num único mandamento, que costumamos chamar de o 11º
Mandamento: ‘Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si
mesmo’. Ele também acrescenta: ‘Está aí toda a lei e os profetas’. O próximo é
o canal que nos leva a Deus. Sem o próximo, todo o nosso esforço é em vão,
porque acabamos chafurdando no egoísmo, o principal cancro da humanidade.”
Quando as
pessoas agem como amigas verdadeiras de outros, desenvolvem uma série de
virtudes e conhecimentos que a vida de isolamento jamais permitiria, segundo a
facilitadora do Centro de Estudos Budistas Bodisatva em Rio Preto, Maria
Eugênia Bouguson. Para exemplificar a afirmação, ela usa a parábola do Bom
Samaritano: “após contar a parábola, Jesus pergunta ao fariseu quem foi o
próximo do homem que havia caído nas mãos de ladrões. A resposta foi aquele que
agiu com misericórdia para com o homem. Aproveitando a ideia e o tema, podemos
perguntar: quem amou aquele que caiu nas mãos dos ladrões?”
Livres
Decidir-se
por amar o outro liberta o ser humano da solidão gerada pelo egoísmo e orgulho,
sentimentos que levam ao sofrimento. Portanto, aprender a se amar e,
consequentemente, amar os outros, é garantia de felicidade. Quando uma pessoa
não tem capacidade de superar o conceito materialista, refletindo sobre si e
concluindo que o ser humano está acima dos bens materiais que possui, pode cair
em depressão, se isolar e em alguns casos extremos, desejar o fim de sua vida.
A solução definitiva desse problema surgirá quando eleger como valores o
respeito, a amizade e o amor. Mas enquanto a maioria das pessoas continuar
permitindo que o egoísmo e o orgulho embotem seu raciocínio e sua visão de
mundo, aquele que porventura esteja sofrendo, de solidão ou qualquer outro
problema, precisa procurar os que já pensam diferente e que compreendem os
valores principais da vida”, aconselha o doutor em Física e membro do Grupo de Estudos
Avançados Espíritas, Alexandre Fontes da Fonseca.
Chegar,
no entanto, à capacidade de amar o outro, seja ele amigo ou inimigo, passa pelo
processo interior. É preciso olhar primeiro para si, só assim a pessoa será
capaz de sair em busca do outro. Gregório explica que, de acordo com Sócrates
(filósofo da antiguidade clássica grega), o autoconhecimento é a chave
libertadora do ser humano. O “conhece-te a ti mesmo”, continua o
espiritualista, é um apelo para que se possa fazer uma volta sobre si mesmo, no
sentido de tomar consciência de sua ignorância. “É a partir dessa
autoconsciência que o ser humano deveria se postar no mundo, pois saberia o que
poderia fazer e dispensaria aquilo que não servisse para o seu projeto de
vida.” E, para que o amar-se não se transforme em apenas mais uma face do
individualismo, segundo Gregório, é preciso que a pessoa tenha consciência da
sociedade em que vive: individualista e consumista. Caso contrário, para o
espiritualista, qualquer elaboração do amar-se perde o sentido. O culto à
individualização fez o ser humano mais materialista e egoísta, pois busca a sua
autonomia, a sua independência, nem que para isso passe por cima dos outros. “É
nesse ponto que a mensagem do amor ao próximo, proferida por Jesus, auxilia-nos
a mudar o nosso comportamento, para não nos perdermos no individualismo.”
A partir
desse primeiro momento de autoconhecimento e aprendizagem de amar-se com
qualidades e defeitos próprios é possível amar não apenas aqueles com quem
simpatizamos ou fazem parte de um círculo de amigos. Quem realmente aprende a
amar, pode transcender e chegar a amar, inclusive, aqueles que podem ser
considerados inimigos. “Os inimigos são os nossos verdadeiros mestres. Eles não
têm pena de nós e apontam as nossas falhas com bastante frieza, coisa que os
nossos amigos não têm coragem de fazer. Amar o inimigo consiste em perdoar-lhe
o mal que porventura esteja nos fazendo. O perdão ao inimigo, contudo, tem
caráter científico. Observe que acima de nós há uma lei, a Lei Natural, lei essa
que orienta todas as nossas ações, pois está escrita em nossa consciência.
Quando o nosso inimigo nos faz um mal, ele não nos feriu, mas feriu-se a si
mesmo em relação à Lei. Cabe à Lei puni-lo ou não. Quanto a nós, uma vez
perdoado o seu ato, ficamos livres e desembaraçados de todas as implicações
mentais menos felizes a respeito deste suposto inimigo, afirma o espiritualista
Sérgio Biagi Gregório.
Colheita
A máxima
“colher o que se planta” se encaixa perfeitamente à vida de quem se decide por
amar o outro, independente das situações em que se encontra. Maria Eugênia
acredita que são incontáveis os benefícios àqueles que se disponibilizam a amar
a si e ao próximo, principalmente, nos casos em que esse amor se concretiza por
meio de gestos como ajudas materiais ou espirituais. “É sempre muito fácil nos
colocarmos na posição de receber ajuda. Realmente, em muitas ocasiões, estamos
carentes disso. Mas quando nos colocamos na posição de oferecer ajuda estamos
colocando à disposição de outrem as nossas capacidades. E o sublime desse ato
de amor ocorre quando buscamos nos aprimorar, naquilo que for necessário, para
que nossa ajuda se torne mais eficiente.”
Apesar
disso, fazer o bem ao próximo não teria de ser um dever e, sim, algo natural e
espontâneo sem a expectativa de retorno em qualquer que seja o âmbito. “Não
deveríamos fazer o bem ao próximo para receber uma recompensa, pois estaríamos
sendo mercenários, do tipo é dando que se recebe. O benefício, se assim
quisermos chamar, é a felicidade de ver a Doutrina do Cristo sendo divulgada e
ampliada para atingir todos os seres humanos do planeta. O outro é a pessoa
mais importante. Mesmo quando estamos preparando uma peça oratória, para nós
mesmos, estamos pensando em expressá-la ao outro, ao público. Nesse sentido,
cada pessoa tem a responsabilidade de ser caminho para os outros. É, portanto,
injusto excluir os outros do caminho”, diz Gregório.
http://www.diarioweb.com.br/noticias/corpo_noticia.asp?IdCategoria=195&IdNoticia=122053
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Frustração faz Crescer
Sérgio Biagi Gregório
São José do Rio Preto, 26 de outubro de 2008
Renata Fernandes
A privação ou ausência de algum desejo ou necessidade gera frustração. É fato. O modo como se lida com essa realidade é que faz a diferença entre quem sofre ou evolui emocionalmente. A reação positiva ou negativa de cada indivíduo aos ‘nãos’ da vida, em geral, é determinada na infância. Condição, entretanto, que não impede a mudança de comportamento na fase adulta. Na opinião de Sérgio Biagi Gregório, presidente do Centro Espírita Ismael, a falta de uma educação filosófica e religiosa mais realista faz com que muitas pessoas tenham alto índice à baixa frustração. Ele diz que na antiga Grécia, por exemplo, as crianças eram educadas para enfrentar o desconforto, inclusive tinham de dormir em camas duras. Gregório também cita que na doutrina espírita se aprende que o acaso não existe. “Se pudéssemos perceber, ainda que de relance, que cada um está colocado no devido lugar e, que no momento não há outro melhor, com certeza administraríamos melhor a frustração”, afirma.
Aliás, independentemente da religião ou filosofia de vida, pessoas que possuem fé em algo superior tendem a sofrer menos com as frustrações, de acordo com especialistas em comportamento. O filósofo francês Henri Bergson dizia que ao colocar uma pessoa no meio de uma floresta sozinha, sem ninguém para guiá-la, obviamente essa pessoa tem de tomar uma decisão. Com essa analogia, Gregório afirma que as pessoas deveriam fazer o mesmo diante das frustrações: enfrentá-las. Inclusive, vale lembrar que todos são responsáveis pelas escolhas feitas na vida, no entanto, poucos - ao se frustrar - lembram que a maioria das frustrações ocorre em decorrência de escolhas feitas anteriormente. Gregório ressalta que a frustração é o choque entre o desejo e a realidade imutável. Por isso, ao limitar os próprios desejos as escolhas decorrentes deles evitarão transtornos da negação daquilo que foi desejado.
“Há um ditado que diz: ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’. Desse modo, se nossos olhos não captarem certas imagens estaremos livres das emoções que delas surgem”, comenta. Deixar de vivenciar certas situações ou sentimentos por medo da frustração futura, no entanto, também pode ser frustrante, segundo a psicóloga Luciane Kozicz Reis Araújo, da Universidade de Brasília (UnB). Ela afirma que isso torna os seres humanos ‘meio robotizados’. “Viver sem criar expectativas com receio das frustrações nos torna peças de uma engrenagem desprovida de alma.” Para exemplificar essa condição Luciana cita o livro de 1817 escrito por Mary Shelley: “Frankenstein”, em que a autora conta a história do jovem cientista Victor Frankenstein, que resolve fabricar um ser humano sem alma, ao montar pedaços de cadáveres apanhados em cemitérios ou câmaras mortuárias.
Uma vez criado, entretanto, o monstro se humaniza e pede ao seu criador uma mulher à sua imagem. O relato do médico que criou o Frankenstein após o resultado da sua experiência foi: “o que foi que eu fiz? A criatura tem múltiplos defeitos de nascença, força física muito acentuada, é deficiente, um ser patético. É preciso que morra. As experiências estão encerradas.” Assim, Luciana informa que deixar de experienciar situações ou sentimentos pelo medo de se frustrar pode dar às pessoas a falsa ilusão de que tudo pode ser perfeito. “Como Frankenstein, qualquer aberração pode ser excluída, tendo de se esconder nas sombras, sem ter a possibilidade de ter amigos, pais e família.” Gregório enfatiza que a melhor maneira de administrar a frustração é aplicar o que Sócrates já dizia: “conhece-te a ti mesmo”. Além disso, ele recomenda higiene mental, passeio ao ar livre e frequentar reuniões religiosas, entre outros.
Vença o medo da frustração para ser melhor e mais feliz
Vencer a imobilidade, a procrastinação e o medo de se frustrar dá trabalho, mas vale a pena. Tanto que o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti pregava a importância de as pessoas em vez de querer expulsar o medo violentamente tomarem consciência dele, inclusive o de se frustrar. Para entender melhor como funciona o mecanismo da frustração, confira a entrevista a seguir com a psicóloga Luciane Kozicz Reis Araujo, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho (Gepsat), membro do Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB) e consultora no Ministério da Saúde, entre outras atividades.
Diário - Quais os tipos de frustração? Na sua opinião, qual delas é a pior? Por quê?
Luciane Kozicz Reis Araujo - A frustração refere-se ao estado de um indivíduo que se encontra na incapacidade de obter o objeto da satisfação que almeja. Não sei se podemos definir um tipo pior, pois ela está presente no cotidiano e dependerá de como cada pessoa transita diante das próprias perdas. Os tipos são os mais variados e surgem desde as situações da infância, como o colega se apossar de um brinquedo desejado, até de estados patológicos, como depressão e/ou anorexia instaurados no organismo devido não saber lidar com o desemprego ou a perda de um ente querido e até por não ter o corpo dos sonhos, entre outros.
Diário - O que faz com que algumas pessoas tenham baixa tolerância à frustração?
Luciana - Do ponto de vista psicanalítico, o que constitui o nosso eu é a falta. O psicanalista Sigmund Freud dizia, num de seus clássicos, “O mal-estar da Civilização”, que as três feridas narcísicas da humanidade são: o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade. Desse modo, quem aceita os próprios limites e reconhece a impotência diante da vida que se apresenta é que lida melhor com a frustração. Ao contrário, pessoas que só acreditam na felicidade, ao buscar a completude o tempo inteiro, seja por meio de um corpo perfeito ou relações amorosas cinematográficas, assim como a excelência profissional, lidam pior quando algo não funciona. Afinal, é impossível tudo funcionar 100% bem ou da forma ‘correta’ o tempo inteiro. Por isso, nessa sociedade contemporânea há a tendência dessas pessoas se tornarem adictas das mais variadas drogas para suportar seu limite.
Diário - O que devem fazer para lidar melhor com isso?
Luciana - É necessário se saber humano. Se entregar para tudo o que o viver proporciona. Saber chorar e comunicar a dor também é uma grande vitória.
Diário - Qual o lado positivo de se frustrar? Por quê?
Luciana - É o que nos propicia movimento e nos torna desejantes. Se não tivéssemos passado pela frustração desde o nascimento não estaríamos na condição de seres falantes. Nascemos e recebemos o peito, privados do peito, o choro, e assim por diante. Ou seja, é desse momento de ausência que estabelecemos o contato com o mundo e nos desenvolvemos. Pessoas que negam a frustração têm dificuldade em se tornar hábeis e criativas para lidar com as diferenças. A tendência é se tornarem “máquinas” talentosas, pois não lidam com situações reais e, sim, à utopia.
Diário - É possível evitar as frustrações ao fazer as escolhas?
Luciana - As frustrações fazem parte do dia-a-dia. O que pode nos tornar pessoas mais felizes é ir em busca do nosso desejo e reconhecer nossa singularidade diante de um mundo que prega a uniformidade.
Diário - Por que vencer a imobilidade, a frustração e o medo de se frustrar dá trabalho?
Luciana - Porque é preciso vivenciar esse turbilhão de sentimentos que tomam conta de nós quando algo sai fora do idealizado, quando o objeto que preencheria nosso vazio escapa. Vencer a imobilidade e o medo de se frustrar obriga o indivíduo a sair da acomodação conveniente. A dor costuma ser motivo de muitas interrogações por todos aqueles preocupados com o sofrimento humano porque está exposta. É a dor, tanto em sua expressão física como psíquica (sofrimento), que pode levar uma pessoa a procurar ajuda. Assim, quando o corpo manifesta existe um alerta sobre a ameaça que a perda da capacidade de sentir e representar traz para a integridade psíquica e biológica ao impossibilitar o indivíduo de refletir e agir frente à ameaça de desequilíbrio.
Diário - Qual a melhor maneira de administrar as frustrações?
Luciana - Falar sobre elas, reconhecê-las.
Diário - Existe relação entre frustração e espiritualidade? Qual? Por quê?
Luciana - A vida em alguns momentos é árdua demais e proporciona muito sofrimento, decepções e tarefas impossíveis. Assim, muitas pessoas procuram satisfações substitutivas, tais como a arte e a religiosidade, entre outras. A religiosidade (vou chamar assim a espiritualidade) está relacionada com a frustração pela realização de uma promessa. Para se livrar do vazio existencial o ser humano sentiu a necessidade de colocar a responsabilidade deste mal-estar em um ser superior, onipotente e que não fracassa. Desse modo, não é preciso entrar em contato com a impotência. É possível fechar os olhos perante si mesmo, já que afinal tudo está nas mãos de um “todo-poderoso”. Nesta perspectiva, o homem de fé é necessariamente um homem dependente de uma promessa, alguém que não consegue determinar sua vontade. Ele não se pertence, tem necessidade de que alguém o consuma. Necessita de um conjunto de regras que o regule. As religiões ocupam o lugar deste vazio, pois o homem que não está decidido a escutar a si mesmo, a não conviver consigo, necessita enclausurar-se atrás de uma muralha. Enfim, garantir-se pelo desespero do seu pecado contra qualquer surpresa ou perseguição por parte do bem. O inapreensível é capturado num signo que o paralisa, recorta e aprisiona: doravante, alguém de fora dará as garantias. Com a promessa instaurada, a linguagem, isto é, o tornar comum, reduz aquilo que consigo partilhar com o outro: o igualitário e uniformizante. Há uma impossibilidade de descarga de energias e afetos em direção ao exterior, pois não consegue se desembaraçar de impressões vividas, em especial as de desprazer e dor. Deste modo, o “crente” se volta para uma causa externa “culpada” pelo sofrimento, a descarga de um afeto tônico, para apagar da consciência a marca da dor vivenciada, fazendo-a se esquecer do infortúnio e liberando para novas impressões.
Diário - Por que dependendo do grau da frustração ela diminui a imunidade do organismo e até causa desânimo e depressão?
Luciana - Indivíduos mais propícios à tristeza excessiva e à dificuldade em sair do imobilismo são os que negam constantemente suas perdas e fantasiam em excesso a própria realidade. Lutam o tempo inteiro com o mundo externo até chegar ao limite do corpo. O índice de adoecimento pode estar relacionado a essas lutas excessivas sem retorno. Percebe-se um embrutecimento do desejo, em que a criatividade ficou paralisada, impedida de se manifestar. É como se em um certo lugar do indivíduo existisse um único caminho, que é o corpo para manifestar.
Diário - Pode dar algumas dicas sobre como evitar a frustração (se é que é possível) e/ou sobre qual o melhor meio de enfrentar o medo de se frustrar?
Luciana - A frustração é fundamental para o nosso crescimento. Evitá-la seria postergar o contato com essa falta que constitui o ser humano. A habilidade está em transitar pelas vitórias e derrotas e saber que nossa potência não está presente o tempo inteiro em todas as situações.
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Humildade é o Esteio da Evolução
Sérgio Biagi Gregório
Entrevista
Humildade é o esteio da evolução espiritual
São José do Rio Preto, 8 de março de 2009
Rita Fernandes
A verdadeira humildade é aquela que faz as pessoas enxergarem as próprias potencialidades e limitações, dando a medida exata de ambos. De acordo com o presidente da Casa Espírita Ismael, de São Paulo, e coordenador dos cursos de Expositor e Aprofundamento Doutrinário, Sérgio Biagi Gregório, a verdadeira humildade auxilia as pessoas a tomarem consciência das suas limitações, alertando-as a tomar sempre o caminho do meio, da ponderação e do justo procedimento. Embora muitas pessoas confundam humildade com poucos recursos financeiros, Biagi explica que humildade significa simplicidade espiritual e, portanto, independe de classe social ou grau de inteligência. “O humilde não se deixa lisonjear pelos elogios ou pela situação de destaque em que se encontre. Todo sábio é humilde, porque sabe que sabe pouco do muito que deveria saber”, diz. Leia abaixo a entrevista de Biagi à Revista Bem-Estar.
Bem-Estar - Por que a humildade é o fundamento de todas as virtudes?
Sérgio Biagi Gregório - Virtude é uma disposição adquirida voluntária, que consiste na conduta racional de um ser humano ponderado. De acordo com Aristóteles, a virtude é a média entre duas extremidades, uma por excesso, a outra por falta. Ela se situa no ponto mais elevado no que se refere ao bem e à perfeição. É o justo meio. A humildade auxilia-nos a encontrar esse ponto médio, esse justo meio.
Bem-Estar - O que é a verdadeira humildade?
Biagi - A verdadeira humildade é aquela que nos faz ver as nossas potencialidades e as nossas limitações, dando-nos a medida exata de ambos. Ela nos auxilia a tomar consciência de nossas limitações, alertando-nos a tomar sempre o caminho do meio, da ponderação, do justo procedimento. Os nossos desejos são infinitos; atendendo-os, podemos nos tornar prepotentes. A humildade ensina-nos a administrá-los de acordo com os nossos recursos pessoais, para não darmos o passo maior do que a perna.
Bem-Estar - Como podemos nos tornar verdadeiramente humildes?
Biagi - Jesus Cristo nos deixou a boa-nova, os ensinamentos evangélicos, as bem-aventuranças. Se seguirmos os seus exemplos, as suas diretrizes, com certeza nos tornaremos verdadeiros humildes. A sua vida, desde o nascimento numa estrebaria até a morte na cruz, foi uma vida dedicada a atender a vontade do Pai e não a sua. Observe que toda a moral do Cristo se resumiu na caridade e na humildade, mostrando-nos que essas virtudes são os verdadeiros caminhos para a felicidade eterna.
Bem-Estar - Por que o verdadeiro humilde geralmente não sabe que o é?
Biagi - A humildade faz parte do indivíduo, sem que ele a perceba. É uma espécie de reflexo congênito. O verdadeiro humilde pratica o bem sem outro móvel que o próprio bem. Não está preocupado sobre o que os outros pensam dele. Em contrapartida, tão logo nos dizemos humildes, já não o somos mais, porque este pensamento fez-nos despertar o seu oposto, que é o orgulho, o orgulho de ser humilde.
Bem-Estar - A humildade é fundamental para a nossa evolução?
Biagi - Evolução é a atualização das virtualidades inscritas em nossa consciência. Se não formos humildes, como vamos detectar com clareza essas virtualidades? Observe o orgulhoso: ele geralmente se acha mais merecedor de elogios, de cuidados, do que os outros. Com isso, dificulta o verdadeiro conhecimento de si mesmo. Falta-lhe a autenticidade, ou seja, ver as coisas como realmente elas são.
Bem-Estar - A humildade faz com que reconheçamos os nossos próprios erros? Por quê?
Biagi - Sim, porque a pessoa humilde aceita pacientemente as críticas e as observações que lhe são dirigidas. Ela não tem receio de uma reprimenda, de um vexame público, pois sabe tirar proveito das coisas contrárias. Tem plena consciência de que aprendizado vem pelo erro e aplica a frase latina errando “corrigitur error” (errando, corrige-se o erro), com maestria.
Bem-Estar - É verdade que nosso objetivo de vida na Terra só será atingido com humildade? Por quê?
Biagi - A humildade é um dos esteios de nossa evolução espiritual. Há, porém, outros fatores a serem considerados, como, por exemplo, a caridade. Tanto é verdade que os Espíritos de Luz costumam dizer que a caridade e a humildade são as virtudes por excelência, por serem os opostos do egoísmo e do orgulho.
Bem-Estar - A vida nos dá oportunidades para alcançarmos a humildade? Como podemos reconhecê-las?
Biagi - Toda situação contrária aos nossos desejos é uma ótima oportunidade para exercitarmos a humildade. Quantas vezes não somos incompreendidos? Por um mal-entendido, recebemos repreensão deste, admoestação do outro. Qual a nossa reação? Nos rebelarmos ou assumirmos uma atitude de humildade? Se optarmos pela humildade, poderemos nos silenciar, fazer uma prece pelo ocorrido e esperar pela atuação dos bons Espíritos de Luz.
Bem-Estar - Como o senhor define um falso humilde?
Biagi - O falso humilde é aquele que não conhece a si mesmo. Ele está sempre pronto a mudar de ideia frente a uma observação contrária. Se alguém faz um elogio ao seu trabalho, ele diz que foi o outro que fez aquele trabalho; se alguém elogia a sua roupa, a sua pessoa, acha sempre uma desculpa para não assumir aquilo que é. Nós não precisamos cultuar o egocentrismo, mas quando a observação mostra aquilo que realmente somos, devemos aceitá-la naturalmente, sem subterfúgios.
Bem-Estar - Ser humilde não significa ser pobre?
Biagi - É um dos principais equívocos acerca da humildade. Confundimos simplicidade, humildade com pobreza, com parcos recursos materiais. Ouvimos dizer: “Ela é um pessoa simples, ela é uma pessoa humilde”, referindo-se ao ser humano de poucos recursos materiais. A humildade, porém, é algo inerente ao Espírito encarnado, independe de ser pobre ou rico, inteligente ou não.
Bem-Estar - É somente o orgulho que nos impede de sermos humildes?
Biagi - O orgulho, que é o seu oposto, é um dos principais empecilhos. Contudo, podemos acrescentar também o egoísmo que, segundo Allan Kardec, é o maior cancro da sociedade. Se cada um de nós aplicasse a “lei áurea” (fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem), com certeza teríamos uma sociedade mais justa e mais igualitária.
Bem-Estar - Qual é a relação entre humildade e fé?
Biagi - A fé é um sentimento inato do ser humano. Este sentimento pode ter um desfecho dogmático ou racional. Segundo Allan Kardec, deveríamos praticar a fé raciocinada. Para que possamos raciocinar a fé, há necessidade da humildade, porque a humildade estimula a pureza de nossa alma, desviando-nos de tudo aquilo que pudesse atrapalhar a busca do sumo bem.
Bem-Estar - Qual é a relação entre humildade e amor?
Biagi - O amor pode ser analisado na mesma linha da fé. O amor é uma palavra que basta a si mesma. Ela não precisa dos complementos que normalmente usamos, ou seja, “amor é renúncia”, “amor é perdão.” A pessoa que realmente ama não precisa perdoar, não precisa renunciar. A sua vida é uma vida de doação. Nesse sentido, quanto mais humilde alguém for, mais condição terá de alcançar esse amor maior, que é o amor incondicional, ensinado pelo mestre Jesus.
Bem-Estar - Qual é a grande lição que os Espíritos Benfeitores nos trazem
Biagi - O capítulo VII – “Bem-Aventurados os Pobres pelo Espírito”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, traz-nos diversas lições para a compreensão pormenorizada deste tema. De início, esclarece-nos que os pobres pelo Espírito não são as pessoas pobres, mas as pessoas humildes, que também podem ser os pobres. A grande lição é o combate ao orgulho, alertando-nos para os diversos tentáculos desse sentimento, que corrói todo o nosso ser, dificultando-nos a prática da humildade.
Bem-Estar - O “Reino dos Céus” é um estado de espírito? Podemos alcançá-lo nesta existência? Como
Biagi - O Reino dos Céus não é um lugar circunscrito, nem governo ou Estado; é o governo de cada um pela obediência às leis naturais, inscritas por Deus em nossa consciência. Todas as vezes que obedecemos à Lei Natural estamos construindo esse reino de Deus. É uma construção ininterrupta, tal qual o conhecimento, cujo horizonte nos foge sempre, a ponto de Sócrates dizer que ele foi considerado o mais sábio, porque ele era o único que sabia que não sabia nada.
Bem-Estar - Outras informações que considerar importante.
Biagi - O termo humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer terra fértil, rica em nutrientes e preparada para receber a semente. Nesse sentido, uma pessoa humilde está sempre disposta a aprender e a deixar brotar em sua alma, a boa semente. Na Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, é a virtude que conduz o indivíduo à consciência das suas limitações. O humilde não se deixa lisonjear pelos elogios ou pela situação de destaque em que se encontre. Todo sábio é humilde, porque sabe que só sabe pouco do muito que deveria saber.
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