O termo teoria – do grego theoria –
é usado em várias acepções. Na Origem, designava o ato de ver e de ser visto em
locais abertos a todos, tais como o templo, o circo, a ágora e em espetáculos e
cerimônias públicas. Pode ser também a ação de contemplar, ter uma visão do
espírito. Os gregos, de maneira nenhuma opunham, como hoje, teoria e prática. O
conhecimento teórico, em toda a antiguidade clássica grega, era entendido como
a contemplação da verdade (aletheia) em si mesma. A supremacia do
conhecimento teórico sobre o prático ou técnico provém do fato de ele ser útil
em si mesmo, independentemente de sua aplicação exterior.
Hoje, o vocábulo teoria é usado,
as mais das vezes, como oposição a prática, a ponto de muitas pessoas dizerem
que "a teoria na prática é outra". Com isso, não são poucos os
pensadores que acabam dando mais importância à prática do que à teoria. Os
homens práticos, ou seja, aqueles que estão à frente de atividades empresariais
e governamentais ganham cada vez mais notoriedade, principalmente pelas suas
aparições nos veículos de comunicação de massa.
Reflitamos um pouco sobre a relação teoria-prática
num Centro Espírita. Anotemos, primeiramente, algumas frases: "você fez
todos os cursos que o Centro oferece e nunca trabalhou?"; "você
terminou o curso de Educação Mediúnica e ainda não trabalha?"; "você
precisa trabalhar, senão será presa fácil de Espíritos menos felizes";
"você precisa aplicar passes senão as suas energias ficam
paralisadas"; "as suas dores nas costas são devido à energia acumulada.
Aplique passes e os seus problemas serão resolvidos".
Ser expositor dos cursos é prático ou teórico? A
pessoa que só dá aulas pode ser considerada um trabalhador espírita, ou somente
o que trabalha no setor de passes? O instrutor não necessariamente precisa
participar do trabalho de passes. Ao estudar e transmitir a Doutrina Espírita
já estará prestando um grande serviço à causa espírita. Pode, nas suas
instruções, disseminar ideias, propor mudanças comportamentais para aquele que
vai somente aplicar passes.
A teoria deve sempre vir antes, porque é dela que
as idéias emergem e se estabelecem os princípios de uma doutrina, de uma
ciência ou de um sistema filosófico. José Herculano Pires adverte-nos que todos
aqueles que se dizem espíritas deveriam, em primeiro lugar, debruçar sobre as
obras básicas, que são os fundamentos teóricos para as nossas ações práticas.
Sem elas, o edifício espírita pode ruir.
O espírita sincero não deveria praticar o
Espiritismo somente nos Centros Espíritas. Ele deve ser espírita em qualquer
lugar do mundo. Alguém chega até nós e nos pede uma informação. Nesse exato
momento, podemos passar o conteúdo doutrinal do Espiritismo, sem que precisemos
colocar o rótulo: "Sou Espírita". O verdadeiro espírita e o
verdadeiro cristão serão reconhecidos por sua transformação moral à luz dos
ensinamentos de Cristo. Não é somente dando passes, mas transformando-se para a
prática do bem.
Em filosofia, aprendemos que vivemos em função dos
outros, quer atendendo às suas necessidades quer eles suprindo as nossas. E não
são poucas as coisas que dependemos dos outros. O pão que nos mitiga a fome,
por exemplo, passou por diversas mãos. A prática deve ter como base a teoria.
Como o Espiritismo tem conexão estreita com a filosofia, não resta dúvida que o
nosso principal empenho é a correção do intelecto. Nesse sentido,
temos que dar ênfase aos acertos e buscar as razões do fracasso.
Tenhamos em mente a prática espirita. Não nos esqueçamos, porém, dos princípios teóricos que lhe dão guarida.
"O homem, que apenas dispõe do pensamento para
investigar o que escapa aos sentidos, o que não se vê com os olhos do corpo nem
se ouve com os ouvidos desse mesmo corpo, é o investigador de um saber que
ultrapassa a mera experiência sensível. Esse homem ávido de conhecer, que
ordena o caótico dos acontecimentos díspares, que os classifica em ordens
diversas, que busca o que os conexiona, que os teoriza, é, em suma, o filósofo.
Essa palavra teoria, que vem do grego theoria,
significa em sua forma etimológica visão. Mas também os gregos
chamavam theoria as longas filas dos fiéis que vinham de todos
os quadrantes da Grécia ao Templo de Delfos para prestar homenagens aos deuses.
E como traziam festões de flores, que os ligavam entre si, aproveitaram-se
desse termo os sábios para com ele indicar tudo quanto conexiona, uma série de
fatos. Ora, o saber filosófico não é o saber comum, o saber empírico, mas um
saber teórico. Desse modo, a Filosofia é um saber teórico, que conexiona, que
busca relações, que unem as coisas e as razões, primeiras e últimas, que as
explicam e que as justificam". (SANTOS, M. F. dos. Convite à
Filosofia e à História da Filosofia. 6. ed., São Paulo: Logos, s.d.p., pág.
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