Dor. É a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão,
ferimento ou funcionamento anômalo de um órgão. Sofrimento.
Sentimento de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que pode repercutir de maneira
mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.
Na antiguidade, os papiros do
Egito e os documentos da Pérsia descreviam a ocorrência da dor e o
desenvolvimento de medidas para o seu controle. Como naquela época a dor era
atribuída aos maus espíritos, a Medicina era exercida pelos
sacerdotes, que empregavam remédios naturais, sacrifício e prece para
aliviar a dor. Os primeiros instrumentos analgésicos vieram da observação dos
animais, que se banhavam em barro para proteger-se das picadas dos insetos e
comiam plantas para se purgar.
De acordo com a Medicina, a dor
tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado
está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a
ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica
(persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames,
remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas.
A “dor é uma benção que Deus
envia aos seus eleitos”. É aguilhão, forja, fornalha, lapidaria, crisol e
rútila. É agente de progresso, moeda luminosa, “lixívia que saneia e
embranquece a alma enodoada pelos mais hediondos crimes”. É “agente de fixação,
expondo-nos a verdadeira fisionomia moral”. É “valioso curso de aprimoramento
para todos os aprendizes da escola humana”. É “o instrumento invisível que Deus
utiliza para converter-nos, a pouco e pouco, em falenas de luz”. É “nossa
companheira – lanterna acesa em escura noite – guiando-nos, de retorno, à Casa
do Pai Celestial”. (1)
A dor é fisiológica; o
sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo
do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia,
vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir
dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é
existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e
espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na
dor
A simples reflexão sobre a
dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito
profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal
que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor
sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento,
mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência,
também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida
mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta
apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou
seja, da religião. (2)
Algumas frases sobre o
sofrimento. “O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se
com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento
é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade,
que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”. “O sofrimento é o misterioso
operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa
elevação”. “Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e
purificador”. “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura
despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil
acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o
sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a
prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao
êxito do plano redentor”. (1)
O sofrimento não é castigo de
Deus. A noção de castigo está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do
grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e,
com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário,
ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e
reação. Allan Kardec, no cap. V de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua
justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do
bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc.
Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprendendo que Deus,
inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma
porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida.
É da Lei Divina que o ser
humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A
lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em
outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um
estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas
falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que
vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de
remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso,
arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um
determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de
um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica
determinação na mudança de atitude e comportamento.
O Espiritismo é o consolador
prometido por Jesus. Meditando sobre os seus princípios vamos construindo um
edifício em bases sólidas, ou seja, na fé raciocinada, na fé sob o jugo da
razão e da lógica.
(1) EQUIPE DA FEB. O
Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995
(2) IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/dor-e-sofrimento
Os atos de sacrifício desenvolvem as
radiações psíquicas. Há uma espécie de rastro luminoso deixado, no Espaço,
pelos espíritos dos heróis e dos mártires.
São necessários os infortúnios, as
angústias, para dar à alma sua suavidade, sua beleza moral, para despertar seus
sentidos adormecidos.
Michelangelo havia adotado, como regra
de conduta, os preceitos seguintes: “Entra em ti mesmo e faze o que faz o
escultor com a obra que quer tornar bela; suprime tudo o que é supérfluo, torna
nítido o que é obscuro, leva a luz a toda parte e não para de burilar tua
própria estátua”.
O gênio não é somente o resultado de
trabalhos seculares; é, também, a apoteose, a coroação do sofrimento. De Homero
a Dante, a Camões, a Tasso, a Milton, e, além deles, todos os grandes homens
têm sofrido. A dor fez com que suas almas vibrassem; inspirou-lhes a nobreza de
sentimento, a intensidade de emoção, que eles souberam traduzir com os acentos
geniais e que os imortalizaram
Suprimi a dor e suprimireis, com o
mesmo gesto, o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de
suportá-la.
No fundo, a dor é apenas uma lei de
equilíbrio e educação.
A dor e o prazer são duas formas de
sensação.
A dor física produz sensações; o sofrimento
moral, sentimentos
Epiteto dizia: “As coisas são apenas o
que imaginamos que elas sejam”. Assim, pela vontade, podemos domar, vencer a
dor, ou, pelo menos, utilizá-la em nosso proveito, fazer dela um instrumento de
elevação.
É bastante difícil fazer com que os homens entendam que o sofrimento é bom. Cada qual gostaria de refazer e embelezar a vida do jeito que quisesse, enfeitá-la com todos os atrativos, sem pensar que não há bem sem-dor nem ascensão sem-esforços. (Notas extraídas do capitulo 26 — "A Dor", do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Léon Denis.
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