O aborto — eliminação
de um ser humano no período de vida compreendido entre a fecundação e o
nascimento —, é um tema controverso. Ele está relacionado com diversos
problemas, desde o direito de a mulher em dispor de seu corpo como bem entender
até os imperativos da lei de Deus, que prescreve punições sobre o direito à
vida de um ser sem defesa.
A problemática
filosófica do aborto fundamenta-se no estatuto antropológico do embrião. A
dúvida: quando é que o feto se torna pessoa e não simplesmente “pessoa futura”
ou “pessoa potencial”? Em séculos passados, admitia-se a tese da “animação
mediata”, segundo a qual o embrião era gradativamente informado pela alma
vegetal, animal e, finalmente, racional. Foi abandonada no século passado pela
tese da “animação imediata”, ou seja, pela simultaneidade entre a fecundação e
a pessoa humana.
O estatuto
antropológico do embrião levanta, também, um problema moral, ou seja, desde o
momento em que o concebido é pessoa, qualquer aborto tem responsabilidade
moral, pois há um homicídio dificultado pela impossibilidade de defesa e pela
inocência do agredido. Sendo uma pessoa, desde o instante da fecundação, não é
lícito pôr termo à vida do embrião. O correto seria tratá-lo como se já fosse
uma pessoa.
Há vários tipos de
aborto. Ele pode ser natural ou artificial, espontâneo
e involuntário (pode, mesmo assim,
haver culpa) ou provocado voluntariamente. Há o aborto ilegal, que é considerado crime e, como tal, penalizado pela lei
civil. Podemos falar, também, do aborto clandestino.
As causas do aborto
são muitas e variadas, sendo difícil avaliar a importância de cada uma delas.
Além daquelas referentes à própria mulher (medo à gravidez e ao parto e os
poucos recursos financeiros para sustentar o novo rebento), há as de origem
familiar (pressão dos familiares, principalmente do marido) e as
de ordem social (campanhas contra a fecundidade e famílias
numerosas).
A condenação do
aborto fundamenta-se numa apreciação moral, principalmente aquela trazida pela
religião em que se acredita num Deus criador. Depreende-se que há um direito
inalienável à vida. Nesse sentido, só Deus é senhor da vida. Assim, o ser
humano não tem o direito de tirar a vida do seu próximo.
Pergunta: o aborto
provocado é um crime? A Igreja, por exemplo, aceita a pena de morte e a guerra
justa e condena o aborto. Quais são as suas razões? É que na guerra ou na pena
de morte há um agressor; no caso do aborto, o novo ser não é um agressor e
muito menos agressor injusto. Em realidade, é vítima inocente quando eliminado
antes do tempo.
Na pergunta 358
de O Livro dos Espíritos, os Espíritos
respondem: “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem
quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do
seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que
serviria de instrumento o corpo que se estava formando.”
O aborto refere-se
à paralisação da vida. No aborto, o feto não tem escolha: a vida lhe é tirada.
Há uma infração à lei de Deus. Fala-se em crime. As consequências
podem vir em futuras encarnações: quantos casais querem ter filhos e a mulher
não consegue engravidar? Fala-se, também, em graves desajustes perispirituais,
a refletirem-se no corpo físico, na existência atual e na futura, na forma de
câncer, esterilidade e infecções renitentes.
O nosso corpo é um
empréstimo concedido por Deus. Além de cuidarmos de sua higiene, física e
espiritual, respeitemos, também, a vida que está dentro dele.
Fonte de Consulta
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8.
ed. São Paulo: FEESP, 1995.
LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA.
Rio de Janeiro: Verbo, 1990.
POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/aborto?authuser=0
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Aborto provocado — Consequência para o Abortado —
Dr. Ricardo di Bernardi
A especificidade de cada caso
determina situações absolutamente individuais no que se refere a repercussões
sofridas pelo espírito eliminado de seu corpo em vias de estruturação.
Se existe na ciência do espírito
uma regra fundamental que rege a lei de causa e efeito, poderíamos enunciá-la
assim: a reação da natureza sempre se fará proporcional à intencionalidade da
ação. Isto é, jamais poderemos afirmar que um determinado ato levará
inexoravelmente a uma exata consequência.
Quando a responsabilidade maior da
decisão couber aos encarnados, pai e ou mãe, eximindo o espírito de
participação voluntária no aborto, teremos um tipo de situação a ser analisada.
O espírito, quando de nível
evolutivo mais expressivo, tem reações mais moderadas e tolerantes. Muitas
vezes seria ele alguém destinado a aproximar o casal, restabelecer a união ou
mesmo, no futuro, servir de amparo social ou afetivo aos membros da família.
Lamentará a perda de oportunidade
de auxílio para aqueles que ama. Não se deixará envolver pelo ódio ou
ressentimento, mesmo que o ato do aborto o tenha feito sofrer física e
psiquicamente. Em muitos casos manterá, mesmo desencarnado, tanto quanto
possível, o seu trabalho de indução mental positiva sobre a mãe ou os cônjuges.
Nas situações em que o espírito se
encontrava, em degraus mais baixos da escada evolutiva, as reações se farão de
forma mais descontrolada e sobretudo mais agressiva. Espíritos destinados ao
reencontro com aqueles a quem no passado foram ligados por liames desarmônicos,
ao se sentirem rejeitados devolvem na idêntica moeda o amargo fel do
ressentimento.
Ao invés de se sentirem recebidos
com amor, sofrem o choque emocional da indiferença ou a dor da repulsa. Ainda infantis
na cronologia do desenvolvimento espiritual, passam a revidar com a perseguição
aos cônjuges ou a outros envolvidos na consecução do ato abortivo.
Em determinadas circunstâncias,
permanecem ligados ao chakra genésico materno, induzindo consciente ou
inconscientemente a profundos distúrbios ginecológicos naquela que fora
destinada a ser sua mãe.
Outros, pela vampirização
energética, tornam-se verdadeiros endoparasitas do organismo perispirutal,
aderindo ao chakra esplênico, sugando o fluido vital materno.
As emanações maternas e paternas
de remorso, de culpa, ou outras que determinam o estado psicológico depressivo,
abrem caminho em nível do chacra coronário dos pais para a imantação magnética
da obsessão de natureza intelectual.
A terapêutica espiritual,
além da médica, reconduzirá todos os envolvidos ao equilíbrio, embora
frequentemente venha a ser longa e trabalhosa.
Há também espíritos que, pela
recusa sistematicamente determinada em reencarnar para fugir de determinadas
situações, romperam os liames que os unia ao embrião. Esses terão seus débitos
cármicos agravados e muitas vezes encontrarão posteriores dificuldades de
reencarnar, sendo atraídos a gestações inviáveis e a pais necessitados de
vivenciar a valorização da vida.
No entanto, o grande remédio do
tempo sempre proporcionará o amadurecimento e a revisão de posturas que serão,
gradativamente, mais harmoniosas e sobretudo mais construtivas.
Todos terão oportunidade de amar.
Dr. Ricardo Di Bernardi é médico pediatra - homeopata, palestrante espírita internacional e autor de vários livros. É presidente do ICEF - Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis.
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Aborto:
Menina de Nove Anos
Fato: o arcebispo
de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, excomungou os médicos que
praticaram o aborto de gêmeos na menina de 9 anos. A mídia explorou bastante o
caso, tendo, inclusive, repercussões internacionais.
D. José Cardoso Sobrinho concedeu uma entrevista à Revista
Veja, de 18/03/2009. Os seus argumentos basearam-se no Cânone 1398, do
código do Direito Canônico. Por essa lei, qualquer pessoa que comete aborto
está excomungada, por uma penalidade chamada latae sententiae ("sentença
oculta"), ou seja, uma pena eclesiástica em que um sujeito incorre sem
necessidade de que se dite expressamente sentença, pelo fato mesmo de cometer o
delito.
D. José Cardoso Sobrinho fez referência à lei humana e à
lei Divina. Para ele, importa mais obedecer à lei de Deus e não à lei dos
homens. Por isso, mostrou-se bastante tranquilo no ato da excomunhão, apesar de
toda a celeuma criada em torno da religião e da ciência.
Que subsídios a Doutrina Espírita oferece-nos para o
entendimento desta questão? Primeiramente, o Espiritismo não tem dogmas, mas
princípios. Ou seja, qualquer assunto pode ser discutido à luz da lógica e da
razão. Segundo, os Espíritos superiores nos informam que praticar o aborto é
crime.
Vejamos algumas questões, extraídas de O Livro dos
Espíritos.
Pergunta 357 – Quais são, para o Espírito, as consequências
do aborto?
─ Uma existência nula a recomeçar.
Pergunta 358 - O aborto provocado é um crime, qualquer que
seja a época da concepção?
─ Há sempre crime quando se transgride a lei de Deus. A
mãe, ou qualquer pessoa, cometerá sempre crime ao tirar a vida à criança antes
do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o
corpo devia ser o instrumento.
Pergunta 359 - No caso em que a vida da mãe estivesse em
perigo pelo nascimento da criança, haveria crime em sacrificar a criança para
salvar a mãe?
─ É preferível sacrificar o ser que não existe a
sacrificar o que existe.
Esta resposta atende perfeitamente ao ocorrido. Os médicos
acharam que a mãe poderia correr risco de vida e preferiram sacrificar os
gêmeos que ainda não tinham vindo à luz.
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