O empirismo refere-se
às doutrinas filosóficas que admitem que o conhecimento humano deduz tanto seus
princípios quanto seus objetos ou conteúdos, da experiência. Racionalismo,
intelectualismo e intuicionismo são os termos opostos ao empirismo, pois admitem
o conhecimento que não venha apenas pela experiência, ou somente pelas vias
sensoriais.
Quando John Locke dá início ao
empirismo inglês, a filosofia predominante é a cartesiana, cujo problema
metafísico é resolvido pela teoria substancialista (três substâncias) de
Descartes: res cogitans –
a substância pensante – (alma), res
extensa – a substância extensa –
(o corpo) e Deus, a substância infinita criadora.
Descartes falava de três tipos de
ideias: adventícias, fictícias e inatas.
As ideias adventistas são
as que sobrevêm em nós postas pela presença da realidade externa; as ideias fictícias são
aquelas que por nós mesmos formamos em nossa alma; as ideias inatas são
as que constituem o acervo próprio do espírito, da mente e da alma. Locke nega a
existência de ideias inatas. Para explicar como as ideias se formam na mente,
supôs que a alma fosse um papel em branco (tabula rasa) onde tudo o mais
deveria ser escrito pelas sensações da experiência.
Berkeley e Hume dão
prosseguimento às ideias sobre o empirismo. Berkeley elimina a substância
material (res extensa) ficando apenas com a de pura vivência ou pura
percepção. Hume faz desaparecer também as substâncias: res
cogitans e Deus. Dizia que toda
ideia que não tiver um correlacionado na existência real é falsa.
Allan Kardec, o codificador do
Espiritismo, aplicava o método teórico-experimental em suas pesquisas. Dizia:
“Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas;
ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à
lei que os rege: depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações
úteis”. O Espiritismo não teve uma teoria preconcebida sobre a existência e
comunicação dos espíritos. Foi pela observação, análise e estudo rigoroso dos
fatos que se construiu o edifício espírita. (Kardec, 1975, cap. I, item 14)
A lei da reencarnação mostra-nos
que o Espírito, eventualmente num corpo carnal, já teve outras experiências,
outras vivências. Daí ser possível fazer ilações, que vão além daquelas feitas
pelo empirismo, que só aceita o aqui e o agora da experiência. Com a
reencarnação penetramos em outras memórias, as memórias espirituais, o que nos
dá ensejo de enfatizar a existência de ideias inatas, negadas pelo empirismo.
O perispírito ou corpo espiritual
é o elo de ligação entre o corpo físico e o Espírito propriamente dito. O
problema da obtenção do conhecimento — pelos sentidos ou pelo espírito — tem
aqui o seu esclarecimento: o Espírito é um todo, pois engloba o espírito
propriamente dito, o perispírito e o corpo físico.
A certeza de que há vida além da
vida faz-nos ampliar o conceito de um determinado fato (ele é presente, mas tem
conexões com as vidas passadas e as futuras). Presentemente, estamos passando
por uma experiência. Ela não está isolada, porque é reflexo de uma ação passada,
englobando as existências passadas. Pode ser também um projétil para o futuro, e
influenciando nossas futuras encarnações.
O Espiritismo, sendo a síntese do
processo do conhecimento filosófico, não só elucida o problema da origem das
ideias, como também nos fornece subsídios para entendermos a mecanismo das
ideias inatas, negado pelo empirismo.
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