11 setembro 2010

Empirismo e Espiritismo

O empirismo refere-se às doutrinas filosóficas que admitem que o conhecimento humano deduz tanto seus princípios quanto seus objetos ou conteúdos, da experiência. Racionalismo, intelectualismo e intuicionismo são os termos opostos ao empirismo, pois admitem o conhecimento que não venha apenas pela experiência, ou somente pelas vias sensoriais.

Quando John Locke dá início ao empirismo inglês, a filosofia predominante é a cartesiana, cujo problema metafísico é resolvido pela teoria substancialista (três substâncias) de Descartes: res cogitans – a substância pensante – (alma), res extensa – a substância extensa – (o corpo) e Deus, a substância infinita criadora.

Descartes falava de três tipos de ideias: adventíciasfictícias e inatas. As ideias adventistas são as que sobrevêm em nós postas pela presença da realidade externa; as ideias fictícias são aquelas que por nós mesmos formamos em nossa alma; as ideias inatas são as que constituem o acervo próprio do espírito, da mente e da alma. Locke nega a existência de ideias inatas. Para explicar como as ideias se formam na mente, supôs que a alma fosse um papel em branco (tabula rasa) onde tudo o mais deveria ser escrito pelas sensações da experiência.

Berkeley e Hume dão prosseguimento às ideias sobre o empirismo. Berkeley elimina a substância material (res extensa) ficando apenas com a de pura vivência ou pura percepção. Hume faz desaparecer também as substâncias: res cogitans e Deus. Dizia que toda ideia que não tiver um correlacionado na existência real é falsa.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, aplicava o método teórico-experimental em suas pesquisas. Dizia: “Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege: depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis”. O Espiritismo não teve uma teoria preconcebida sobre a existência e comunicação dos espíritos. Foi pela observação, análise e estudo rigoroso dos fatos que se construiu o edifício espírita. (Kardec, 1975, cap. I, item 14)

A lei da reencarnação mostra-nos que o Espírito, eventualmente num corpo carnal, já teve outras experiências, outras vivências. Daí ser possível fazer ilações, que vão além daquelas feitas pelo empirismo, que só aceita o aqui e o agora da experiência. Com a reencarnação penetramos em outras memórias, as memórias espirituais, o que nos dá ensejo de enfatizar a existência de ideias inatas, negadas pelo empirismo.

O perispírito ou corpo espiritual é o elo de ligação entre o corpo físico e o Espírito propriamente dito. O problema da obtenção do conhecimento — pelos sentidos ou pelo espírito — tem aqui o seu esclarecimento: o Espírito é um todo, pois engloba o espírito propriamente dito, o perispírito e o corpo físico.

A certeza de que há vida além da vida faz-nos ampliar o conceito de um determinado fato (ele é presente, mas tem conexões com as vidas passadas e as futuras). Presentemente, estamos passando por uma experiência. Ela não está isolada, porque é reflexo de uma ação passada, englobando as existências passadas. Pode ser também um projétil para o futuro, e influenciando nossas futuras encarnações.

O Espiritismo, sendo a síntese do processo do conhecimento filosófico, não só elucida o problema da origem das ideias, como também nos fornece subsídios para entendermos a mecanismo das ideias inatas, negado pelo empirismo.




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