1.
INTRODUÇÃO
A faculdade mediúnica, tanto natural como de
prova, acompanha a vida humana, pois desde que o homem existe, os Espíritos
estão prontos a se comunicar com ele. Um estudo da mediunidade através dos
tempos exige uma ampla pesquisa no sentido de RESGATAR as contribuições dadas
pelo homem da caverna, pelas pitonisas, pelas bruxas e pelos médiuns em cada
etapa do desenvolvimento da sociedade.
2. DEFININDO OS TERMOS DO TÍTULO
Evolução - etimologicamente, o termo evolução,
significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo.
Nesse sentido, evolução seria o desenvolvimento pela atualização das
possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. Assim, o germe
evolui até alcançar o indivíduo acabado. (Santos, 1965)
A essência do significado do termo evolução é a de desenvolver, desenrolar, ou desdobrar, designando assim movimento de natureza metódica que gera novas espécies de mudanças. Mais especificamente designa o processo de mudança através do qual algo novo é produzido de tal modo contínuo, que a identidade ou individualidade do objeto original não seja violada. (FGV, 1986)
Evolução -
é impositivo da Lei de Deus, incessante, inquestionável. Nessa Lei não existe o
repouso, o letargo de forças, a inércia. Por toda parte e sempre o impositivo
da evolução, o imperativo do progresso. (FEB, 1995)
Mediunidade é
a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relações entre homens
e Espíritos. (Pires, 1984)
Mediunidade é
sintonia e filtragem. Cada Espírito vive entre as forças com as quais combina,
transmitindo-as segundo as concepções que lhe caracterizam o modo de ser. (FEB,
1995)
Tempo -
é a sucessão das coisas transitórias. Está ligado à eternidade, do mesmo modo
que as coisas estão ligadas ao infinito. (FEB, 1995)
3. HISTÓRICO
O Espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos, diz-nos que quando a criatura humana se
iniciou na produção do pensamento contínuo, o sonho foi
a mola propulsora da mediunidade, porque durante os momentos de desprendimento
do corpo físico, ela entrava em contato com entidades espirituais, cujos
ensinamentos lhe serviam para ampliar a sua visão de mundo.
Tomando como base os registros históricos,
podemos anotar:
1.º) A Bíblia está repleta de manifestações mediúnicas,
tanto no Velho quanto no Novo Testamento.
a) Velho Testamento
Samuel, no livro I, cap. 9, v. 9, escreve:
"Dantes, quando se ia consultar a Deus, dizia-se vamos ao vidente; porque
os que hoje se chamam profetas chamavam-se videntes".
É já de rigor citativo a consulta feita por Saul
ao Espírito Samuel, na gruta do Endor.
O próprio Moisés proíbe a evocação dos mortos.
b) Novo Testamento
Maria de Nazaré não viu o Espírito anunciador?
Jesus não foi gerado com a intervenção do Espírito Santo? E os milagres de
Jesus e dos seus apóstolos?
Que foi o dia do Pentecostes senão a outorga de
faculdades mediúnicas aos apóstolos e discípulos?
São João falava: "Caríssimos, não creiais
em todos os Espíritos, mas provai que os Espíritos são de Deus".
2.º) os horizontes
culturais, retratados por J. H.
Pires em O Espírito e o
Tempo.
Situando a mediunidade em termos dos horizontes
alcançados pela humanidade - em cada etapa de seu desenvolvimento - Herculano
Pires, valendo-se das pesquisas científicas de Bozzano, John Murphy e outros,
oferece-nos valiosas informações que são úteis de serem lembradas. Assim:
No horizonte
tribal imperava o mediunismo primitivo. O mediunismo, na expressão de Emmanuel,
designa a mediunidade em sua expressão natural. São as relações naturais entre
o clã e o Totem dentro do Totemismo. Falam de uma força misteriosa que impregna
ou imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas. São as
forças conhecidas pelos nomes polinésicos de "mana" e
"orenda". "Essa força primitiva corresponde ao ectoplasma de
Richet, a força ou substância mediúnica das experiências metapsíquicas, cuja
ação foi estudada cientificamente por Crawford, professor de mecânica da
Universidade Real de Belfast, na Irlanda". (Pires, 1979, p. 19)
No horizonte
agrícola, o animismo e culto aos ancestrais. Nessas primeiras formas sedentárias de vida
social, o animismo tribal desenvolve-se no nível da racionalização,
principalmente através da concepção fetichista da Terra-mãe e Céu-Pai, que mais
tarde dá origem à mitologia egípcia: Osíris, Deus pai, que fecunda Ísis, deusa
terra, gerando o filho Hórus.
No horizonte
civilizado, o mediunismo oracular. O oráculo é às vezes a própria divindade,
outras vezes a resposta dada às consultas, o santuário ou templo, o médium que
atende aos consulentes, ou o local de consultas. Embora haja o médium, o
oráculo, ou pitonisa, as mensagens são dadas de forma impessoal.
No horizonte
profético, o mediunismo bíblico. Esse horizonte caracteriza-se pelo mundo da
individualização. O profeta apresenta-se como indivíduo social, mediúnico e
espiritual. Assim, dado o avanço de sua liberdade, surgem também os excessos e
abusos que caracterizam o indivíduo grego-romano e o profeta hebraico.
No horizonte
espiritual, a mediunidade positiva. É nessa fase que se observa uma transcendência
humana. A mediunidade torna-se um fato de observação e de estudo de todos os
que se interessarem pelo problema. Observe que na Idade Média, o fenômeno
mediúnico de possessão é sempre tomado como manifestação demoníaca ou sagrada.
O homem, não tendo atingido o horizonte espiritual, não pode conceber que o
Espírito comunicante seja da sua mesma natureza.
Kardec explica, em A Gênese, capítulo primeiro,
porque o Espiritismo só poderia surgir em meados do século dezenove, depois de
longa fermentação dos princípios cristãos da Idade Média e do desenvolvimento
das ciências na Renascença. Escreveu: "O Espiritismo, tendo por objeto o
estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na
maioria das ciências. Só poderia, pois, aparecer, depois da elaboração delas.
Nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo explicar-se
apenas pelas leis da matéria."
3.º) a invasão
organizada, descrita por Arthur
Conan Doyle.
Em História
do Espiritismo, Conan Doyle
documenta boa parte da evolução da mediunidade, lembrando que embora se
considere a data de 31/03/1848 como o marco inicial, os fatos espíritas
existiram desde todos os tempos. A sua narrativa começa, assim, por volta de
1740, quando Swedenborg tornou-se famoso pela vidência a distância.
A seguir, escreve sobre Edward Irving, Andrew
Jackson Davis (o profeta da nova revelação), o episódio de Hydesville, a
carreira das Irmãs Fox, as primeiras manifestações na América, a aurora na
Inglaterra, as pesquisas de Sir William Crookes etc.
4. DOIS GRANDES MARCOS DO ESPIRITISMO
4.1. Episódio de Hydesville (31/03/1848)
Em termos de destaque, no cenário público
internacional, este fenômeno (raps) foi o que mais chamou a atenção. Observe que
uma família metodista havia se mudado para uma casa, onde se falava muito de
acontecimentos sobrenaturais. Realmente, por algum tempo eles presenciavam
muito barulho, sem causa aparente. Tudo caminhava nesse ritmo quando, num certo
dia, as filhas do casal, Kate e Margaret Fox, resolveram responder às pancadas.
Sua mãe relata o ocorrido nestes termos:
"Minha filha menor, Kate, disse, batendo
palmas: "Sr. Pé-Rachado,
faça o que eu faço".
Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela
parou, o som logo parou. Então Margaret disse brincando: "Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois,
três, quatro" e bateu
palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o
ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: "Oh! Mamãe! eu já seio o que é. Amanhã é primeiro
de abril e alguém quer nos pregar uma mentira".
Então pensei em fazer um teste de que ninguém
seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos,
sucessivamente. Instantaneamente foi dada a idade exata de cada um, fazendo
pausa de um para o outro, a fim de os separar até o sétimo, depois do que fez
uma pausa maior e três batidas mais foram dadas, correspondendo à idade do
menor, que havia morrido". (Doyle, s.d.p., p. 77 e 78)
Depois disso, continuou o diálogo até descobrir
que o Espírito comunicante era Charles B. Rosma, um caixeiro viajante morto e
enterrado na adega.
4.2. Lançamento de O Livro dos Espíritos
(18/04/1857)
O fato mediúnico marcante, após o episódio de
Hydesville, é o fenômeno das mesas
girantes, que assolou os
Estados Unidos e a Europa, servindo de brincadeiras de salão, quando as mesas
dançavam, escreviam, batiam o pé e até falavam. É dentro desse contexto que
surge a Doutrina Espírita.
Das brincadeiras de salão, surge Hypollyte Leon
Denizard Rivail - Allan Kardec-, um estudioso do magnetismo e do método teórico
experimental em ciência. O magnetismo já vinha sendo estudado há algum tempo.
Historicamente, Mesmer descobre, em 1779, o magnetismo animal, Puysegur, em
1787, o sonambulismo e Braid, em 1841, o hipnotismo.
Havendo uma disseminação muito grande dos
fenômenos das mesas girantes, Kardec, ainda Hipollyte, foi convidado para
assistir a uma dessas sessões, pois o seu amigo Fortier, magnetizador, dissera
que além da mesa mover-se ela também falava. É aí que entra o gênio inquiridor
do pesquisador teórico experimental. Assim, retruca: só se a mesa tiver cérebro
para pensar e nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. A partir daí,
começa a freqüentar essas sessões, culminando, mais tarde, com a publicação de O Livro dos Espíritos, em 18/04/1857
Por que a mediunidade se positivou com
Allan Kardec?
A palavra positivo advém da ciência, que se baseia em fatos.
Kardec sendo um cientista, deu-lhe um caráter científico, formulando hipóteses tal
qual a ciência o fazia, tomando o cuidado apenas de testá-las com a ferramenta
da mediunidade, ou seja, utilizando-se da percepção extra-sensorial.
5. QUESTÃO DE TERMINOLOGIA
A evolução da mediunidade através dos tempos
deve alcançar uma melhor compreensão não só da mediunidade,
mas também dos vários conceitos a ela ligados.
Assim, convém distinguir:
a) Fenômeno anímico e fenômeno mediúnico
O fenômeno
anímico é aquele que diz
respeito à comunicação - exclusiva ao âmbito do Espírito encarnado (alma) -,
por isso anímico. Não há interferência de Espíritos desencarnados. A telepatia,
por exemplo, é um fenômeno anímico, porque as transmissões de pensamentos são
feitas de alma para alma, ou seja, de encarnado para encarnado. O fenômeno mediúnico é aquele que diz respeito às comunicações
entre os Espíritos desencarnados e os Espíritos encarnados, em que os Espíritos
encarnados são intermediários (médiuns) dos desencarnados.
b) Fenômeno anímico e animismo
No fenômeno
anímico não há influência
do Espírito desencarnado. No animismo, que é a influência do médium na comunicação
mediúnica, procura-se medir o grau dessa influência. Se, numa comunicação
mediúnica, a influência do médium é de 100%, ela se transforma em fenômeno anímico; o oposto, 0% de influência, não é possível,
pois, nos dizeres de Allan Kardec, o médium nunca é totalmente passivo. Assim,
podemos afirmar que sempre
que houver mediunidade, haverá animismo.
c) Fenômeno Mediúnico e Mediunidade
O fenômeno
mediúnico pode ser
comparado ao mediunismo, definido como a mediunidade na sua expressão
natural, ou seja, sem estudo. A Mediunidade, por outro lado, exige estudo e pesquisas sobre
os fatos mediúnicos.
d) Mediunidade e Espiritismo
A Mediunidade, como dissemos anteriormente, é a relação entre
os Espíritos desencarnados e os Espíritos encarnados, acrescidos da comprovação
científica dos fatos observados. É apenas uma relação entre homens e Espíritos.
Ela existe entre os vários segmentos das diversas religiões, podendo-se dizer
que há médiuns católicos, médiuns protestantes, médiuns budistas e, também, médiuns espíritas. O Espiritismo, por outro lado, vale-se da mediunidade, mas é
um corpo doutrinário que se fundamenta na ciência, na filosofia e na religião.
e) Mediunidade Natural e Mediunidade de Prova.
Além da divisão fenomênica (fenômenos físicos e
fenômenos inteligentes), a Doutrina Espírita oferece-nos a divisão funcional,
ou seja, possuímos duas áreas de função mediúnica, designadas como mediunidade generalizada (natural) e mediunato (tarefa). A primeira corresponde à mediunidade que
todos os seres humanos possuem, e a segunda corresponde à mediunidade de
compromisso, ou seja, de médiuns investidos espiritualmente de poderes
mediúnicos para finalidades específicas na encarnação.
6. O MÉDIUM ESPÍRITA
De acordo com o Espírito Emmanuel, "Os
médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo;
são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o
curso das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e
ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito,
muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos.
Quase sempre são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do
poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe
terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram
das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas
que procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando, com
sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas
arbitrariedades e de condenável insânia". (Xavier, 1981, p. 66 e 67).
É por essa razão que todo o médium deve
exercitar a humildade e o desprendimento, pois sendo intermediário do mundo
espiritual, não pode conceber-se como um grande missionário porque, se lhe foi
dada essa ferramenta de trabalho, é para que use em favor do próximo e não para
o seu próprio benefício.
7. CONCLUSÃO
A mediunidade é promissora para o futuro.
Contudo, deve o médium esforçar-se para ser o fiel interprete das mensagens
espirituais, aprendendo a renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e servir,
isento de qualquer tipo de pagamento, moral ou material.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Dicionário de Ciências Sociais Rio de Janeiro, FGV, 1986.
DOYLE, A. C. História do Espiritismo. São Paulo, Pensamento, s.d.p.
EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro, FEB, 1995.
PIRES, J. H. Mediunidade (Vida e Comunicação) - Conceituação,
da Mediunidade e Análise Geral dos seus Problemas Atuais . 5. ed., São Paulo, Edicel, 1984.
PIRES, J. H. O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica
do Espiritismo. 3. Ed.,
São Paulo, Edicel, 1979.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas) , pelo Espírito Emmanuel. 9. ed., Rio de
Janeiro, FEB, 1981.
São Paulo,
29/09/2004
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