As ideias religiosas estão presentes
em todos os povos e em todos os estádios culturais. Certas religiões recrutam
seus adeptos apenas dentro de um grupo determinado, p. ex., uma tribo ou
aldeia: são as chamadas religiões tribais e nacionais. Denominam-se religiões
universais as que recrutam seus adeptos por todo o mundo. As principais são o
cristianismo, o islamismo e o budismo, que, através de missionários,
difundiram-se longe de seus países de origem.
O Cristianismo, religião dos
cristãos, está centrado na vida e obra de Jesus Cristo. À semelhança de
Sócrates, Cristo não nos deixou nada escrito. Seus ensinamentos são anotados
pelos apóstolos e passam, mais tarde, a constituir os Evangelhos. A palavra
Evangelho, no singular, representa a unidade do pensamento de Jesus, ou seja, o
alegre anúncio; no plural, a diversidade de interpretação dos evangelistas. Por
isso, dizemos o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho segundo Lucas, o
Evangelho segundo Marcos e o Evangelho segundo João.
Vivência religiosa é caracterizada
pelo sentimento de dependência do crente em relação ao Ser Supremo. Desde
a Antiguidade até os nossos dias, manifesta-se sob
vários matizes: ora menos racional, ora mais. Contudo, sempre imerso num
mundo sobrenatural, estigmatizado pelo amor e pelo temor.
A diferença fundamental entre as
diversas crenças reside no caráter da vivência religiosa básica. O budista
considera todo o tipo de vida como um sofrimento absoluto. Na essência do
cristianismo está o amor de Deus, que nos impõe condições e estende-se
inclusive aos pecadores. A palavra árabe "islam" significa submissão.
A vontade de Alá marca toda a existência, e o primeiro dever do bom crente é
submeter-se a ela inteiramente.
Do estudo ora encetado, cabe-nos
distinguir o ser religioso do ser que tem uma religião.
Podemos frequentar uma Igreja, atender à sua ortodoxia e nem por isso
sermos religiosos. O verdadeiro religioso é aquele que pratica a lei da
Justiça, do Amor e da Caridade na sua maior pureza.
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Lavagem Cerebral e Religião
Pavlov (1849-1936), fisiologista,
cujos experimentos mais famosos começaram em 1889, demonstrando os reflexos
condicionados e incondicionados nos cães. Ele faz as suas experiências dentro
de rigoroso controle das condições: amarra um cão, isola-o de todos os barulhos
externos, e dá-lhe uma substância sialogênica para produzir ensalivação; ao
mesmo tempo, faz retinir um som, por exemplo, o de uma campainha. Depois de
várias repetições, suspende a substância sialogênica, permanecendo tão somente
com o som da campainha. Resultado: o cão, sem o estímulo inicial, emite suco
gástrico, associando-o apenas ao som da campainha. Pronto. Está posto o reflexo
condicionado.
Os mecanismos do reflexo condicionado
passaram rapidamente para o campo da política e, também, da propaganda. Quando
temos algum slogan, que se repete constantemente, temos a teoria de
Pavlov colocada em prática. Geralmente, na propaganda política, há uma
palavra-chave, uma ideia-força, que é repetida muitas e muitas vezes, a fim de
penetrar no subconsciente dos ouvintes. O mesmo se dá com a propaganda
comercial: quando querem vender um produto, ficam lançando estímulos de vários
matizes: cor, som, artista famoso etc.
A religião é pródiga nesse mister. Há
o jejum, o castigo da carne por flagelação ou desconforto físico, a regulação
da respiração, a revelação de mistérios terríveis, os toques de tambor, as
danças, os cantos, o pânico, o incenso e as drogas. Em meio a essas posturas,
há diversos slogans, no sentido de atingir mais a emoção do que a
razão. Observe a conversão do religioso Wesley. Seus esforços para vencer a
depressão mental eram ineficazes, até que surgiu Peter Böhler, outro religioso,
que o fez mudar repentinamente, via lavagem cerebral: da salvação pela execução
das obras, passou para a salvação pela fé somente. Em termos práticos, é passar
de católico a protestante, uma mudança radical.
Wesley, depois de sua conversão à fé,
passou a utilizar o mesmo método de lavagem cerebral usada por Böhler. Hinos
eram dirigidos à emoção religiosa e não à inteligência. Wesley criava alta
tensão emocional em seus prosélitos potenciais. Quem deixasse a reunião
"sem mudar" e sofresse um acidente repentino iria direto para a
fornalha fervente. Para ele, "O medo do fogo eterno afetava o cérebro tal
qual o medo de morrer afogado dos cães de Pavlov na inundação de
Leningrado".
Da mesma forma que hoje se visita uma
cartomante, um psiquiatra ou um padre católico, os gregos da antiguidade
consultavam os oráculos. Vários escritores gregos descrevem com pormenores os
efeitos emocionais da iniciação mística. Consistiam em calafrio, tremor, suor,
confusão mental, aflição, consternação e alegria misturados com alarma e
agitação. Timarco, por exemplo, querendo saber o que poderia ser o demônio de
Sócrates, desceu à caverna de Trofônio e executou todas as cerimônias que eram
exigidas para obter um oráculo. Depois de passar lá duas noites e um dia,
voltou completamente mudado, pronto a fazer lavagem cerebral nos outros seres
humanos.
O mundo está cheio de slogans:
comerciais, políticos e religiosos. Saibamos nos colocar um pouco a parte
deles, para não sermos levados pelo turbilhão das ideias-forças vigentes.
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