16 agosto 2011

Moral Estranha

Moral é a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. Estranho. De o verbo estranhar, achar extraordinário, oposto aos costumes, ao hábito. Achar diferente do que seria natural esperar-se. Fora do comum, desusado, anormal. Misterioso, enigmático. 

Muitas palavras, ao longo do tempo, perderam o seu significado original. Há, para esse mister, os estudos da etimologia e da semântica. Sócrates, na Antiguidade dizia que, antes de começarmos uma discussão, deveríamos bem definir os termos a serem utilizados, pois esse procedimento evitaria os costumeiros "ruídos" na comunicação. Em se tratando das palavras de Cristo, há duas ressalvas: 1.ª) os apóstolos escreveram os Evangelhos muito tempo depois da morte de Cristo; 2.ª) os problemas de tradução de uma língua para outra.

O texto evangélico está posto nos seguintes termos: “Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e mesmo sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E todo aquele que não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Assim, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”. (Lucas, 14, 25 a 27 e 33) “Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; aquele que ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim”. (Mateus, 10, 37)

Algumas explicações:

  • Odiar. Em latim, grego e hebreu, a palavra odiar não significa odiar como entendemos hoje, mas amar menos, não amar tanto quanto, igual a outro.
  • Deixar pai e mãe não significa abandoná-los, mas ter em mente que a vida futura tem mais importância do que as relações de parentesco.
  • Renunciar ao pai, à mãe e aos irmãos não é abandoná-los, mas aceitar cada qual tal qual é, sem querer que eles passem a pensar pela nossa cabeça. 
  • “Deixar os mortos enterrar os mortos”. Jesus não recomendou ao aprendiz deixasse “aos cadáveres o cuidado de enterrar os cadáveres”, e sim conferisse “aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos”. Há, em verdade, grande diferença. O cadáver é carne sem vida, enquanto um morto é alguém que se ausenta da vida. 
  • "Não vim trazer a paz, mas a espada". Toda  a  ideia nova gera oposição. O "novo",  quando  fundamentado  na lógica  e  na razão, fere interesses pessoais. Isso  acontece  na  Ciência,  na   Filosofia  e,  também,  na   Religião.  Por  isso   a importância   da   nova  ideia  é  proporcional   à   resistência encontrada.  Pois,  se  julgada  sem  consequência,  deixá-la-iam passar,  mas,  como  sentem-se  ameaçados,  fazem  de  tudo  para dificultar a sua propagação.

Nesta reflexão, percebemos que o termo odiar que dizer amar menos e deixar pai e mãe não é lançá-los à própria sorte, mas adquirir condições de aceitá-los tais quais são como gostaríamos que nos aceitassem como somos.



Nenhum comentário: