17 maio 2018

Notas de Rodapé - Um Curso de Filosofia Espírita Comparada

José Herculano Pires alegava sofrer de grafomania, escrevendo dia e noite, e não seguia escolas literárias. Apenas comunicava o que achava necessário da melhor forma possível. Em vista disso, produziu muito conhecimento, que se traduz nas suas 84 obras publicadas. Além disso, organizou e dirigiu cursos de Parapsicologia para os Centros Acadêmicos da Faculdade de Medicina da USP, da Santa Casa de Misericórdia, entre outros. Proferiu muitas palestras espíritas e participou de diversos debates acerca do Espiritismo. 

Destaque: se compilássemos todas as notas de rodapé feitas por José Herculano Pires, ao longo das suas traduções das diversas obras espíritas, teríamos um curso de filosofia espírita comparada.

Eis algumas delas:

P. 615 (L. E.) A lei de Deus é eterna

— É eterna e imutável, como o próprio Deus.
JHP — Por este princípio: "a lei natural é a lei de Deus, eterna e imutável, como Ele mesmo", certos teólogos católicos e protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. O mesmo fizeram com Spinoza, para quem Deus, a substância única é a própria Natureza, mas não no seu aspecto material, e sim nas suas leis.

P. 621 (L. E.) Onde está escrita a lei de Deus

— Na consciência.

JHP — Descartes, na terceira de suas Meditações Metafísicas, declara que a ideia de Deus está impressa no homem "como  marca do obreiro impressa na sua obra". Essa ideia de Deus é inata no homem e o impele à perfeição. Embora as escolas modernas de psicologia neguem a existência de ideias inatas, o Espiritismo sustenta essa existência, através do princípio da reencarnação. Por outro lado, as ideias de Deus, da sobrevivência, do bem e do mal existem e existiram sempre entre todos os povos. A lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura do artista na sua obra.

P. 628 (L. E.) — Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos

— É necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.

JHP — Os textos sagrados das grandes religiões, como a Bíblia e os Vedas, os sistemas de antigos filósofos, as doutrinas de velhas ordens ocultas ou esotéricas, todos encerram grandes verdades nas suas contradições aparentes.

P. 636 (L. E.) O bem e o mal são absolutos para todos os homens

— O bem é sempre bem e o mal é sempre mal. A diferença está no grau de responsabilidade

JHP — As pesquisas sociológicas deram motivo a uma reavaliação, em nosso tempo, do conceito tradicional de moral. Entendeu-se que a moral é variável, porque o bem de um povo pode ser mal para outro, e vice-versa. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada nas consciências.

P. 663 (L. E. ) As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso

— Vossas provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação.

JHP — Spinoza dizia que "Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser constrangido por ninguém" (Proposição XVII da "Ética"), e afirmava a impossibilidade do milagre, por ser violação das leis de Deus. Também no tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do Universo.

P. 700 (L. E.)  A igualdade numérica aproximada entre os sexos é um indício da proporção em que eles se devem unir

— Sim, pois tudo tem um fim na Natureza.

JHP — O Espiritismo é teleológico, tanto do ponto de vista físico quanto do ético. Henri Bergson, em L'Évolution Créatrice (Evolução Criadora), desenvolveu a teoria do elã vital, segundo a qual todo o curso da evolução, partindo da matéria mais densa, dirige-se à liberação da consciência no homem, aparecendo este como o fim último da vida na Terra. Essa é a tese espírita da evolução até os limites da vida terrena. Mas o Espiritismo vai além, admitindo a "escala dos mundos", através da qual a evolução se processa no infinito, sempre com a finalidade da perfeição.


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