José Herculano Pires alegava sofrer de grafomania, escrevendo dia
e noite, e não seguia escolas literárias. Apenas comunicava o que achava
necessário da melhor forma possível. Em vista disso, produziu muito
conhecimento, que se traduz nas suas 84 obras publicadas. Além disso, organizou
e dirigiu cursos de Parapsicologia para os Centros Acadêmicos da Faculdade de
Medicina da USP, da Santa Casa de Misericórdia, entre outros. Proferiu muitas
palestras espíritas e participou de diversos debates acerca do Espiritismo.
Destaque: se compilássemos todas as notas de rodapé feitas por José
Herculano Pires, ao longo das suas traduções das diversas obras espíritas,
teríamos um curso de filosofia espírita comparada.
Eis algumas delas:
P. 615 (L. E.) A lei de Deus é eterna
— É eterna e imutável, como o próprio Deus.
JHP — Por este princípio: "a lei natural é a lei de
Deus, eterna e imutável, como Ele mesmo", certos teólogos católicos e
protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. O mesmo fizeram com
Spinoza, para quem Deus, a substância única é a própria Natureza, mas não no
seu aspecto material, e sim nas suas leis.
P. 621 (L. E.) Onde está escrita a lei de
Deus
— Na consciência.
JHP — Descartes, na terceira de suas
Meditações Metafísicas, declara que a ideia de Deus está impressa no homem
"como marca do obreiro impressa na sua obra". Essa ideia de
Deus é inata no homem e o impele à perfeição. Embora as escolas modernas de
psicologia neguem a existência de ideias inatas, o Espiritismo sustenta essa
existência, através do princípio da reencarnação. Por outro lado, as ideias de
Deus, da sobrevivência, do bem e do mal existem e existiram sempre entre todos
os povos. A lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura
do artista na sua obra.
P. 628 (L. E.) — Por que a verdade não
esteve sempre ao alcance de todos
— É necessário que cada coisa venha a seu
tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a
pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.
JHP — Os textos sagrados das grandes
religiões, como a Bíblia e os Vedas, os sistemas de antigos filósofos, as
doutrinas de velhas ordens ocultas ou esotéricas, todos encerram grandes
verdades nas suas contradições aparentes.
P. 636 (L. E.) O bem e o mal são absolutos
para todos os homens
— O bem é sempre bem e o mal é sempre mal.
A diferença está no grau de responsabilidade
JHP — As pesquisas sociológicas deram
motivo a uma reavaliação, em nosso tempo, do conceito tradicional de moral.
Entendeu-se que a moral é variável, porque o bem de um povo pode ser mal para
outro, e vice-versa. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral
absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada
nas consciências.
P. 663 (L. E. ) As preces que fazemos por
nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso
— Vossas provas estão nas mãos de Deus e
há as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a
resignação.
JHP — Spinoza dizia que "Deus age
segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser constrangido por
ninguém" (Proposição XVII da "Ética"), e afirmava a
impossibilidade do milagre, por ser violação das leis de Deus. Também no
tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do
Universo.
P. 700 (L. E.) A igualdade numérica
aproximada entre os sexos é um indício da proporção em que eles se devem unir
— Sim, pois tudo tem um fim na Natureza.
JHP — O Espiritismo é teleológico, tanto
do ponto de vista físico quanto do ético. Henri Bergson, em L'Évolution Créatrice (Evolução Criadora), desenvolveu a teoria do
elã vital, segundo a qual todo o curso da evolução, partindo da matéria mais
densa, dirige-se à liberação da consciência no homem, aparecendo este como o
fim último da vida na Terra. Essa é a tese espírita da evolução até os limites
da vida terrena. Mas o Espiritismo vai além, admitindo a "escala dos
mundos", através da qual a evolução se processa no infinito, sempre com a
finalidade da perfeição.
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