05 fevereiro 2025

Entre Duas Vidas (Notas de Livro)

Registre-se, entretanto, apenas esses passos: a) "vou percebendo que entregar nosso entendimento em forma de auxílio aos outros é fazer seguro de Vida Espiritual"; b) "aqui, a esposa é acima de tudo, também mãe"; c) "não existem males, no sentido de delinquência. Há ilusões e nessas ilusões nós outros todos andamos". (Cap. 2 — “Festa de Luz”)

Que todos os pais e mães da Terra meditem sobre este trecho antológico da mensagem endereçada ao genitor: "Eu estaria muito triste se houvesse cometido um crime em desacordo com os ensinamentos e exemplos que recebi de sua vida, constantemente, mas, graças a Deus, voltei para cá de consciência tranquila." (Cap. 4 — “De Consciência Tranquila”)

Com lágrimas nos olhos, servindo-se de sua linguagem característica, D. Adelaide não se cansava de repetir: "Que Deus abençoe a mediunidade de Chico Xavier! Que Deus abençoe Allan Kardec e Chico Xavier!" (Cap. 8 — “Letras Formadas com Lágrimas”)

"Choremos porque as lágrimas são orações sem palavras tão-somente aquelas que não guardam a labareda da revolta". (Cap. 9 — “Filho Regressa do Além”)

"Quanto puderem, estudem os assuntos da alma", acrescentando: "São eles os ingredientes capazes de nos trazerem a consolação e a energia pelas quais todos estamos agora profundamente necessitados". (Cap. 13 — “Ante o Mundo Novo”)

Compreendendo, assim, a Verdade, entesourando-lhe as bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz inextinguível da gloriosa imortalidade (Cap. 18 — “Dramática Prova de Autenticidade”)

"Sua mensagem, através do lápis de Chico Xavier, não é senão um manancial de socorro urgente aos queridos pais angustiosamente atingidos no âmago de sua alma.

Ali está o jovem professor em toda a sua firmeza de autonarrador, detalhando trechos de estranha cana, vazada em carinho e profundo sentimento filial, destinado aos queridos pais. E que o exemplo de Agnelinho se torne consolação e certeza de que a morte seja compreendida como recurso de evolução divina, e não como um mal irremediável, separação eterna daqueles que se amaram na romaria terrena, sem uma única possibilidade de se reencontrarem.

A lição da outra vida que nos está sendo oferecida pelo moço idealista, são páginas de um livro aberto onde todos poderão conhecer o significado da morte". (Cap. 28 — “A Reencarnação é uma Lei de Justiça”) 

Confortadora, sem dúvida, a primeira mensagem de Rosângela. Que cada um de nós se prepare, condignamente, para quando tiver que se ver em duplicata, frente a frente consigo mesmo, no Mundo Maior. (Capítulo 30 — “Lágrimas de Esperança e Coragem”)

Com notável propriedade, assevera Augusto Cézar: "O maior fenômeno é este profundo amor que nos reúne uns aos outros", acrescentando: "Mesmo assim, envio lembranças às meninas e a todos — todos os nossos, desejando que a paz e a bênção de Deus estejam conosco em todos os passos". (Cap. 32 — “Disciplinas Necessárias”)

XAVIER, Francisco Cândido e BARBOSA, Elias. Entre Duas Vidas, pelos Espíritos Diversos. 

 

03 fevereiro 2025

Essa Profunda Serenidade

“Essa Profunda Serenidade” é um capítulo do livro Pinga-Fogo 1, em que Chico Xavier é questionado sobre a psicografia de romances.

Presentemente, estamos todos apressados, dando mais importância à comunicação superficial do que àquela de conteúdo mais profundo e duradouro. Possivelmente, esta advertência ao Chico Xavier possa também ser um alerta para nós outros, que não nos empenhamos devidamente na educação de nossa mediunidade, como comumente se diz "mediunidade com Jesus".

Observe a situação de Chico Xavier. Desejoso de psicografar romances, recebeu a seguinte instrução do Espírito Emmanuel: “Para que você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas memórias”.

Pergunta e a resposta

Herculano Pires — Meu caro Chico. — Eu queria perguntar a você o seguinte: Na imensidade da sua obra psicográfica e também na profundeza dessa obra, você tem uma curiosa série de romances que geralmente chamamos de uma série dos romances romanos de Emmanuel. São romances que se passam na Roma antiga: Há dois mil anos, 50 Anos Depois, Ave Cristo e até mesmo Paulo e Estevãoque segundo me parece é a obra-prima da sua mediunidade no campo da ficção literária, embora eu saiba que os espíritos não têm a intenção de fazer ficção literária e sim de transmitir às criaturas humanas, uma mensagem através das suas próprias experiências de vida. Mas eu queria saber o seguinte: Para escrever esses romances em que figuram não somente as situações geográficas da Roma antiga, as questões políticas, os problemas imperiais, você consultou que livros e que bibliotecas?

Chico Xavier — Não consultei livro algum. Quando ouvi a respeito dos romances mediúnicos recebidos pela médium Zilda Gama, cuja memória nós todos acatamos muito na Doutrina Espírita, eu senti aquele desejo de ser médium também para romances, isso por volta de 1936. Nessa ocasião lidava com um grupo de crianças da família porque, pelo fato de eu não ter renascido nesta existência para o casamento, fiquei com 14 crianças, irmãos menores e sobrinhos dos quais presentemente eu estou distante por haverem crescido e tomado as suas responsabilidades. Nesse tempo a minha cabeça era atormentada por muitos problemas quando eu anunciei o desejo de receber romances, o espírito Emmanuel então me explicou: Para que você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas memórias. Mas se puder ou quiser assumir o compromisso. Eu, naquela ocasião, não conseguia assumir o compromisso porque os problemas domésticos eram muitos. De modo que 4 anos se passaram e tão somente em 1939 a começar do fim de 1938, eu assumi com ele o compromisso de me acalmar. Quaisquer que fossem os problemas dentro de casa, com as crianças que já estavam mais crescidas, eu ofereceria a ele um campo mental pacificado na oração. Então ele marcou, que eu me concentrasse durante uma hora por dia e me dispusesse a datilografar outra hora por dia, durante o tempo em que perdurasse a psicografia do romance. Então deu o Há 2000 Anos Eu acompanhei a psicografia como acompanho também as nossas novelas da TV, com muito interesse, com muito carinho e torcendo por determinados personagens. Mas eu lia o que a mão escrevia. Peço permissão para aduzir um detalhe interessante. Quando o livro começou, ele começa com uma cena de dois romanos a trocarem ideias no jardim, diante de um céu nebuloso que depois rebentou numa tempestade. Eu comecei a ver aquela cidade e o céu tempestuoso e a chuva caindo e aqueles dois homens vestidos à moda antiga, de túnicas, deitados naqueles sofás longos, comendo frutas com as mãos. Eu me assustei com aquela visão que parecia uma visão estranha porque estava dentro de mim e fora de mim. Comecei a assistir só, a um cinema em que eu tomasse parte na tela e estivesse fora da tela. Então eu me assustei. Parei de escrever. Então ele me disse: “Você está debaixo de uma certa hipnose. Você está vendo o que eu estou pensando. Mas não sabe o que eu estou escrevendo.” De modo que eu vivi muito mais o romance ao recebê-lo, do que ao ler ou reler o que eu escrevia.

Herculano Pires — Eu gostaria então que você esclarecesse bem o seguinte, Chico: Você tinha uma visão assim cinematográfica do enredo. Você estava vendo o desenrolar do romance sem saber bem como, de que maneira. Mas não tinha consciência do que escrevia.

Chico Xavier — Não tinha consciência do que escrevia e nem da continuidade dos assuntos, porque muitos dos personagens que me eram simpáticos e que eu não desejava que sofressem, passaram a sofrer contra a minha vontade.


01 fevereiro 2025

Sobre a Eternidade

Eternidade. Ausência de início e fim. Em filosofia e religião, o que dura para sempre e que não tem começo nem fim. Define-se naturalmente a eternidade como a duração indefinida, um tempo linear e às vezes cíclico (Eterno Retorno) sem começo nem fim.

As locuções escolásticas — a parte ante, a parte post — não podem ser compreendidas uma sem a outra. Aplicam-se à eternidade que o homem não pode conceber senão "dividindo-a" em duas partes. Uma, sem limites no passado: é a eternidade a parte ante; outra, sem limites no futuro: é a eternidade a parte post.  Diziam os escolásticos que Deus era uma eternidade a parte ante e a parte post, enquanto a alma humana é uma eternidade a parte post. Esse conceito de eternidade é apenas analógico. (1)

Os gregos, filósofos ou não, frequentemente entenderam “eternidade” como tempo infinito, ou duração infinita. Esse sentido encontra-se especialmente vivo nas doutrinas dos filósofos pré-socráticos quando falam que a realidade primordial é eterna (isto é, sempiterna), ou quando mantém a teoria do eterno retorno. Encontramos esse sentido em algumas passagens do próprio Platão, como no Fédon (103 E), onde ele se refere à duração eterna ou por todo o tempo, que pertence às formas (outra passagem de tipo análogo em Rep. X, 608 D). Em Aristóteles, se encontra o sentido de “eternidade” como duração infinita em suas afirmações acerca da eternidade do movimento circular (Phys, VIII 8, 263 a 3) (2)

Segundo Santo Agostinho, a eternidade não pode ser medida pelo tempo, mas também não é simplesmente o intemporal: "A eternidade não tem em si nada que passa; nela tudo está presente, o que não ocorre com o tempo, que jamais pode estar verdadeiramente presente". Por isso a eternidade pertence a Deus.

Na perspectiva cristã, o tempo deixa de ser a roda que sempre reconduz ao mesmo lugar, para tornar-se a propedêutica da eternidade. O homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, foi precipitado no tempo e na morte em consequência do pecado, que é, uma ruptura com Deus. Pelo Cristo porém, que é o mediador, pode restabelecer a ligação com Deus, e fazer de sua vida no tempo uma preparação para a vida eterna. O tempo é apenas um caminho que deve conduzir o homem fora e além do tempo. (3)

Que relação há entre tempo e eternidade? O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente. Se séculos de séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana? (4)

"PARA DEUS O PASSADO E O FUTURO SÃO PRESENTE", ou seja, dentro da eternidade tudo é presente. Mesmo que seja possível uma viagem no tempo, para o viajante aquilo não será compreendido como passado, e sim como presente. Não é possível a divisibilidade do espírito. No que tange à ubiquidade, podemos considerar como irradiação do pensamento e não uma divisibilidade do ser. Seria como o Sol, que estando localizado em determinado espaço é visto em diversos pontos.

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(3) CORBISIER, R. Enciclopédia Filosófica. 2. ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987. 

(4) KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.