“Dai a César o que é de César”
é um subtema do capítulo XI — “Amar o Próximo como a Si Mesmo”, de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Eis os demais itens: O
Maior Mandamento — Instruções dos Espíritos: — A Lei de Amor — O Egoísmo — A Fé
e a Caridade — Caridade com os Criminosos. Este assunto pode ser relacionado ao
dinheiro, à riqueza, à autoridade, ao poder e à política.
O texto
evangélico. Então, retirando-se os fariseus,
projetaram entre si comprometê-lo no que falasse. E enviaram-lhe seus
discípulos, juntamente com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que
és verdadeiro, e não se te dá de ninguém, porque não levas em conta a pessoa
dos homens; dize-nos, pois, qual é o teu parecer: é lícito dar tributo a César
ou não? Porém Jesus, conhecendo a sua malícia, disse-lhes: Por que me tentais,
hipócritas? Mostrai-me cá a moeda do censo. E eles lhes apresentaram um
dinheiro. E Jesus lhes disse: De quem é esta imagem e inscrição?
Responderam-lhe eles: De César. Então lhes disse Jesus: Pois dai a César o que
é de César, e a Deus o que é de Deus. E quando ouviram isto, admiraram-se, e
deixando-o se retiraram. (Mateus, XXII: 15-22). (Marcos, XII: 13-17).
Um
esclarecimento inicial. A frase “Dai a César o que é de
César” não se refere a Júlio César (100 a.C. - 44 a.C.), mas sim ao imperador
romano que governava no tempo de Jesus. Na época, o imperador era Tibério César
(14 d.C. - 37 d.C.), sucessor de Augusto. A palavra “César” tinha
se tornado um título usado pelos imperadores romanos (como mais tarde “Czar” ou
“Kaiser”).
Para bem entendermos a frase
proferida, devemos recuar no tempo e verificar o contexto histórico-político da
época, em que o povo da Palestina estava sob o jugo romano. Jesus era um judeu,
como os outros, mas tinha grupos que eram contrários ao seu pensamento: os
fariseus e o herodianos. Ao ser indagado se devia pagar os impostos aos
romanos, ficou numa encruzilhada: se negasse, era chamado de rebelde pelos
romanos; se aceitasse, de traidor pelos judeus. O que fez?
Pediu que lhe mostrasse uma moeda, na qual estava a efígie de César. Daí,
disse: “Dai a César o que é de César”, e acrescentou “e a Deus o que é de
Deus”.
O acréscimo “e a
Deus o que é de Deus” é uma frase lapidar, pois os governadores impunham o seu
poder de forma arbitrária. A pregação de Jesus baseava-se na libertação do povo
judeu. Por isso, respeitava o poder do momento — “dar a César o que é de
César”, mas que os judeus não se esquecessem do reino dos céus, da vida
espiritual, da verdadeira vida.
Em se tratando do aspecto
religioso, Jesus Cristo compara o dinheiro ao deus Mamon, que compete com do
Deus verdadeiro, enaltece o óbolo da viúva e profere a frase: “Dai a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus”. Seguindo os seus exemplos, os
primeiros cristãos vendiam os seus bens e com o dinheiro arrecadado socorriam
aos mais pobres em suas necessidades.
“A questão proposta a Jesus era
motivada pela circunstância de haverem os judeus transformado em motivo de
horror o pagamento do tributo exigido pelos romanos, elevando-o a problema
religioso. Numeroso partido se havia formado para rejeitar o imposto. O
pagamento do tributo, portanto, era para eles uma questão de irritante
atualidade, sem o que, a pergunta feita a Jesus: "É lícito dar tributo a
César ou não?", não teria nenhum sentido. Essa questão era uma cilada,
pois, segundo a resposta, esperavam excitar contra ele as autoridades romanas
ou os judeus dissidentes. Mas "Jesus, conhecendo a sua malícia",
escapa à dificuldade, dando-lhes uma lição de justiça, ao dizer que dessem cada
um o que lhes era devido”.
Esta máxima: "Dai a César o
que é de César" não deve ser entendida de maneira restritiva e absoluta.
Como todos os ensinamentos de Jesus, é um princípio geral, resumido numa forma
prática e usual, e deduzido de uma circunstância particular. Esse princípio é
uma consequência daquele que manda agir com os outros como quereríamos que os
outros agissem conosco. Condena todo prejuízo moral e material causado aos
outros, toda violação dos seus interesses, e prescreve o respeito aos direitos
de cada um, como cada um deseja ver os seus respeitados. Estende-se ao
cumprimento dos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a
autoridade, bem como para os indivíduos.
Se vivemos em sociedade devemos
respeitar a lei dos homens, porém, sem jamais nos esquecermos de que Deus está
no leme de tudo e de todos.