10 fevereiro 2018

Benefícios do Esquecimento do Passado

Para o Espiritismo, o esquecimento do passado é uma bênção, pois reforça a ideia de que Deus não faz nada que seja inútil ao nosso progresso espiritual. Suponha que tenhamos assassinado alguém em outra encarnação e, que, nesta, essa pessoa é membro de nossa família. Como seria o nosso relacionamento, permeado incessantemente de remorso, pela falta cometida?

Como a lei divina e natural age sempre em nosso benefício, esse esquecimento provisório dá-nos mais liberdade de ação, pois sem a lembrança não há o que remoer. De qualquer maneira, nada fica esquecido por completo, e havendo necessidade, podemos acessar as ocorrências de outras encarnações, pois elas ficam gravadas na memória do nosso Espírito imortal.

A reencarnação é uma oportunidade de progresso. Allan Kardec, em Obras Póstumas, quando analisa o caminho da vida, fazendo referência à metáfora da floresta, diz-nos que se um indivíduo foi ladrão e assassino numa delas, poderá retornar apenas como ladrão, não tendo mais o desejo de matar as pessoas. Para que teria necessidade de se lembrar que também foi assassino? Não seria melhor concentrar-se na vitória sobre ser ladrão?

Cada um de nós tem o seu estoque de erros e acertos. Tudo fica registrado na contabilidade divina. Os Espíritos nos orientam que, mesmo tendo o esquecimento do passado, esses registros podem vir em forma de intuição para determinados projetos de vida. Quer dizer, nada fica totalmente incólume. O progresso é compulsório: podemos nos enganar adiando o seu avanço, mas chega uma hora em que não teremos outra opção senão ceder à sua força.

Em se tratando do progresso, quanto mais conhecimento maior a nossa responsabilidade e, por essa razão, seremos mais cobrados. Nesse caso, seria melhor não saber para não ser punido. Mas o progresso avança e não adianta lamentar, mas enfrentar a vida tal qual ela é. Todos começamos simples e ignorantes. Para atingirmos a qualidade de Espíritos perfeitos, haverá muita luta e muito esforço, pois nada nos vem de mão beijada. 

Caso não tenhamos a força necessária para tal empreendimento, lembremo-nos das orientações de Jesus, que sempre nos orienta a tomar o caminho do meio, da ponderação e da obediência às leis de Deus.

Complemento

— Retomar o contato com os melhores, seria recuperar igualmente os piores — atalhou Clarêncio, bondoso — e, indiscutivelmente, não possuímos até agora o amor equilibrado e puro, que se consagra aos desígnios superiores, sem paixão. Ainda não sabemos querer sem desprezar, amparar sem desservir. Nossa afetividade, por enquanto, padece deploráveis inclinações. Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o. A Lei é sábia. De qualquer modo, porém, não olvidemos que nosso espírito assinala todos os passos da jornada que lhe é própria, arquivando em si mesmo todos os lances da vida, para formar com eles o mapa do destino, de acordo com os princípios de causa e efeito que nos governam a estrada, mas somente mais tarde, quando o amor e a sabedoria sublimarem a química dos nossos pensamentos, é que conquistaremos a soberana serenidade, capaz de abranger o pretérito em sua feição total... (Capítulo VIII — "Deliciosa excursão", do livro Entre a Terra e o Céu, pelo Espírito André Luiz)

O problema do esquecimento

Quando o benfeitor terminou, indaguei então acerca do meu próprio estado íntimo. Já que findara minha existência no veículo de carne, por que não reentrar na posse do passado? Por que razão não lembrava o período anterior ao meu retorno à carne? Por que me surpreendia, ante os espetáculos da vida livre, se da vida livre me ausentara, um dia, a fim de reencarnar-me? Não seria a morte simples regresso da alma no pátrio lar? Em que causas se me enraizaria o esquecimento?

O Irmão Andrade ouviu-me sereno e informou que a reencarnação e a desencarnação constituem vigorosos e renovadores choques para o ser e que se, em alguns casos, era possível o reajustamento imediato da memória, quando a criatura já atingiu significativo grau de elevação, na maior parte das vezes a reabsorção das reminiscências se verifica muito vagarosa e gradualmente, evitando-se perturbações destrutivas.

Podemos simbolizar a mente numa casa suscetível de povoar-se com valores legítimos ou transitórios, quando não esteja atulhada de inutilidades e viciações. Alimentando-se na Crosta da Terra com muitas ideias e paixões não perduráveis, aproveitadas pelo Espírito apenas por material didático, a não ser em processo expiatório, para esvaziar-se do mal ou da ilusão, não lhe é possível o mergulho indiscriminado no pretérito, medida essa que lhe seria ruinosa, mormente na ocasião em que se desenfaixa do corpo denso, de carne.

Explicou que alguns companheiros usam excitações e processos magnéticos para adquirirem a lembrança avançada no tempo; no entanto, de acordo com a própria experiência, aconselhava a submissão aos recursos da Natureza, de modo a retomarmos o pretérito com vagar, sem alterações de consequências deploráveis, até que, um dia, plenamente iluminados, possamos conquistar a memória integral nos círculos divinos. (Xavier, F. C. Voltei, psicografia do Irmão Jacob, capítulo 9 "Esclarecimentos")

 

 


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