14 novembro 2025

Roustainguismo e Espiritismo

Jean-Baptiste Roustaing (1805–1879) foi contemporâneo de Kardec. Apresentou-se como um intérprete dos evangelhos — Mateus Marcos, Lucas e João — sob a inspiração espiritual. Na sua obra Os Quatro Evangelhos: Revelação da Revelação defende o corpo fluídico de jesus, ou seja, um corpo aparente, ideia esta criada pelo docetismo (do grego dokein, “parecer”)

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, tem como base o pentateuco espírita — O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritíssimo, A Gênese e o Céu e o Inferno —, além das diversas obras complementares, em especial a Revista Espírita. Seus princípios fundamentais podem ser resumidos: existência e imortalidade da alma; comunicabilidade dos espíritos; lei de causa e efeito, reencarnação, evolução moral e intelectual.

Allan Kardec não aprovava a ideia de Roustaing sobre o corpo fluídico de Jesus. Defendia que Jesus tinha um corpo de carne como qualquer outro ser humano. Enquanto Roustaing dizia que Jesus não sofreu na cruz, Kardec afirmava o contrário. A única ressalva em relação a Jesus é que ele foi o ser humano mais perfeito que reencarnou na Terra. Dada a sua condição de espírito perfeito, o seu perispírito seria formado dos elementos mais sutis do globo. Nesse caso, a dor poderia ser amenizada, mas não suprimida de todo.  

Allan Kardec, no capítulo XV — "Os Milagres do Evangelho", do livro A Gênese, afirma que o corpo de Jesus era, pois, um corpo semelhante ao nosso. Negar a materialidade seria negar a encarnação, o que contradiz o princípio universal da reencarnação. 

Esta concepção sobre a natureza do corpo de Jesus não é nova. No quarto século, Apolinário de Laodiceia, chefe da seita dos Apolinaristas, pretendia que Jesus não tivesse possuído um corpo como o nosso, mas um corpo ‘impassível’, que descera do céu no seio da Santa Virgem, e não nascera dela; que, por essa forma Jesus não havia nascido nem sofrido, e que só morrera em aparência. Os Apolinaristas foram anatematizados no Concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381”.


 

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