Ceticismo.
Do grego skeptikos, aquele que investiga. Concepção segundo a qual
algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso. O ceticismo pode
ser sistemático ou moderado. O ceticismo
sistemático, total ou radical, é duvidar de tudo; o ceticismo
moderado utiliza a dúvida como modo de propor novas ideias. O ceticismo
sistemático é impossível porque toda ideia é avaliada contra outras
ideias. O ceticismo moderado deveria ser a norma de todo o
aprendiz. Ele é sinônimo de mente aberta, que é a disposição para
aprender novos itens e revisar crenças.
Em se tratando do ceticismo, há o paradoxo
cético e os argumentos da ilusão. No paradoxo
cético, o cético radical duvida de tudo igualmente. Ele coloca todas as
hipóteses científicas ou não científicas no mesmo nível. É possível que ele
peça tolerância ou até apoios para especulações não cientificas, o que, na
prática, pode encorajar a credulidade(1). Para os que defendem os argumentos da
ilusão, os sentidos às vezes nos enganam e podem fazê-lo em todas as
ocasiões. Pode-se, assim, argumentar que talvez os sentidos nos enganem sempre.
Este argumento não deixa de ser um erro, pois não é porque às vezes nos enganem
que podem nos enganar sempre. Uma moeda pode estar viciada, mas não podemos
inferir que todas estejam viciadas(2).
O ceticismo pode ser comparado ao dogmatismo. O ceticismo radical nega que
podemos chegar à verdade absoluta. O dogmatismo é o seu
oposto, ou seja, é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a
razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras.
Em se tratando da Doutrina Espírita, poder-se-ia
dizer que Allan Kardec foi um cético moderado. Em todas as suas
obras, o codificador tinha por base uma premissa muito importante: “É
preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro”. Além do mais,
o Espiritismo foi codificado segundo uma metodologia científica. Ele não se
fiou em um único médium, nem em uma única mensagem. Pegava várias respostas, de
diferentes médiuns, para, depois, publicá-las de acordo com os princípios da
razão.
Embora Allan Kardec tenha fundamentado os
princípios espíritas sobre as leis da natureza, deixava sempre uma porta aberta
à dúvida, pois se uma nova lei fosse descoberta, o Espiritismo teria de se pôr
de acordo com essa lei. Acrescenta: “Não lhe cabe fechar a porta a nenhum
progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias
reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas,
ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da
sua perpetuidade”.(3)
Fonte de Consulta
(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia.
Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big
Bang)
(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de
Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de
Desidério Murcho... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
(3) KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975, p. 349.
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/ceticismo-e-espiritismo
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O Poder da Dúvida (Varanasi II) (*)
Há dois tipos de perguntas: as que são fruto da
reação e as que são fruto da não reação. As primeiras provocam respostas
superficiais, e nada contribuem para a mudança radical do ser humano. As
segundas geralmente não têm respostas, e são mais significativas.
Geralmente, as perguntas que fazemos sofrem a
influência de algum tipo de autoridade: família, governo, tradição, técnica,
religião, etc. É possível construir pensamentos, livres dessa influência?
Perguntas superficiais deformam os pensamentos,
porque a mente só funciona mecanicamente, dentro dos limites do conhecimento.
Ela se torna incapaz de transcender a si própria.
É possível ficar livre do passado? O passado está
sempre moldando a nossa mente. Pode o passado (memória) ser apagado? Se não o
apagarmos, nunca experimentaremos algo novo, o imprevisto, o desconhecido. A
memória nos impele a obedecer, a seguir.
Para uma mudança completa, cumpre duvidar a fundo da
autoridade. Duvidar é mais importante do que investigar. Duvidar é desvendar a
natureza da autoridade. Como ver algo novo, partindo de um dogma, de uma ideia
já aceita?
(*) KRISHNAMURTI, J. A Mutação Interior. Tradução
de Hugo Veloso. São Paulo: Cultrix, 1976.
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