Em 1921, no Rio de Janeiro, foi empregado da empresa de
energia Light. Nesta mesma empresa, em 1929, transferiu-se para São Paulo, onde
trabalhou na construção da usina hidrelétrica do parque industrial de
Cubatão.
Entre os anos de 1934 e 1935 foi professor do magistério
secundário em vários colégios de São Paulo, capital. Em 1936, tornou-se
funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, no
departamento de engenharia rural, organismo responsável por diversos e
importantes projetos no interior do Estado.
Júlio Abreu notabilizou-se no movimento espírita brasileiro
pela tradução pioneira da Revista
Espírita, de Allan Kardec, em um trabalho monumental, iniciado em 1949,
fruto de seu idealismo e do profundo amor pelo espiritismo. Fundou a editora
Édipo com o intuito de publicar a revista em fascículos, mais tarde lançada em
seus doze volumes completos pela Editora Cultural Espírita (Edicel).
Ele foi um dos maiores eruditos que o espiritismo
brasileiro já conheceu. É dele a visão da revista kardequiana como um
laboratório de ideias, um espaço de experimentação doutrinária, conceitual,
ferramenta indispensável de Kardec: “foi o seu mais importante instrumento de
pesquisa, verdadeira sonda para a captação das reações do público, ao mesmo
tempo, instrumento de divulgação e defesa da Doutrina. Mais do que isso, porém,
constitui-se numa espécie de laboratório
em que as manifestações mediúnicas, colhidas por todo o mundo, eram examinadas
à luz dos princípios de O Livro dos
Espíritos e controladas pelas experiências da Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas e pelas novas manifestações espirituais recebidas.” (Revista Espírita (1858) — Apresentação — Edicel. Grifo
nosso).
Ao lado do filósofo espírita Herculano Pires, defendeu
ardorosamente a filosofia espírita e marcou posição contra os desvios
doutrinários perpetrados pela Federação Espírita Brasileira (FEB). O Verbo e a Carne, obra lançada em parceria
com Herculano, é um autêntico libelo contra o roustainguismo, corrente
religiosa apócrifa adotada pela chamada “Casa Máter do Espiritismo”, à revelia
dos espíritas brasileiros. Junto com Pedro Granja e Jorge Rizzini, também
participou ativamente do Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo, fundado
por Herculano Pires em 1948.
Além da Revista
Espírita, traduziu diversas obras espíritas, das quais se destaca História do Espiritismo (The History of Spiritualism) do célebre
autor de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle. Uma das mais fiéis traduções de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o
Espiritismo foram feitas por ele, lançadas pela editora Pensamento. Também
traduziu As Profecias de Daniel e o
Apocalipse de João (Obervations Upont the Prophectes of Daniel and the
Apocalipse of St. John - 1733), de Isaac Newton.
Escreveu Erros
Doutrinários — O Sentido do Roustainguismo (1950), compilação de artigos
publicados no periódico carioca Aurora, uma refutação do livro Elos Doutrinários, do roustainguista
Ismael Gomes Braga, editado pela FEB. Esse livro está inserido em O Verbo e a Carne (1973), lançado pela
Edições Cairbar. Publicou ainda as obras Poeira
da Estrada, lançada pela editora Édipo e Duas Teses, contendo O Livro
Espírita no Brasil e Sincretismo
Religioso, temas apresentados no I Congresso de Unificação do Espiritismo
no Brasil. Também pela Édipo, publicou a partir de fevereiro de 1950 um
periódico homônimo, doutrinário e noticioso, cujo lema era: “Sempre a verdade,
carinho e amor para com todos”. Teve curta duração, com apenas 18 edições.
Graças ao seu abnegado trabalho de tradução da Revista Espírita, o Clube dos
Jornalistas Espíritas lançou o livro Espiritismo,
sua Antiguidade, Evolução e Propagação, contendo textos selecionados e
extraídos da Revista, uma grande novidade no movimento espírita da época. O
livro saiu em 1951 pela Édipo, mas foi organizado e comercializado pelo Clube
dos Jornalistas Espíritas, por ocasião do 94º aniversário do espiritismo, com
prefácio de Herculano.
Júlio Abreu Filho exerceu inúmeras atividades no movimento
espírita paulista. Foi diretor da União Federativa Espírita Paulista, uma das
quatro entidades federativas que deram origem à União Social Espírita, em 1947.[1] A
partir de 1952 passou a ser denominada de União das Sociedades Espíritas do
Estado de São Paulo (USE), da qual foi membro do conselho deliberativo estadual
(CDE), ao lado de Herculano Pires e Pedro de Camargo (Vinícius).
Foi representante no Brasil de vários órgãos internacionais
do espiritismo. Era também um orador muito requisitado. Ministrou vários cursos
no movimento espírita: na União da Mocidade Espírita de São Paulo e na
Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde coordenou o curso de
Cosmogonia, na recém-criada Escola de Aprendizes do Evangelho, concebida em
1951 por Edgard Armond, o grande articulador da fundação da USE. Este curso fez
parte do 2º Grau da Escola, mais voltado para o estudo filosófico.
Júlio Abreu Filho foi um lídimo representante de uma geração de espíritas extremamente cultos, profundos conhecedores do espiritismo, da obra de Allan Kardec e com uma cultura enciclopédica somente comparável a de Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e Canuto Abreu. Nos últimos anos de sua existência viveu paralítico, passou por muitos dissabores, vindo a desencarnar em uma clínica onde estava internado, em São Paulo, capital, no dia 28 de setembro de 1972.[2]
Fontes de Consulta:
ABREU FILHO, Júlio — Erros
Doutrinários — O Sentido do Roustainguismo, 1ª ed. Édipo – São Paulo-SP
[1950].
Anais do 1º Congresso
Espírita do Estado de São Paulo — Edição da União Social Espírita, São
Paulo-SP [1947].
GODOY, Paulo Alves — Grandes
Vultos do Espiritismo, 2ª ed. Edições FEESP, São Paulo-SP [1990].
KARDEC, Allan — Revista
Espírita (1858), trad. Júlio Abreu Filho, Edicel — São Paulo-SP, s/d.
LEX, Ary — 60 Anos de
Espiritismo no Estado de São Paulo (Nossa Vivência), 1ª ed. Edições FEESP,
São Paulo-SP [1996].
MONTEIRO, Eduardo Carvalho e D’OLIVO, Natalino — U.S.E. 50 Anos de Unificação, 1ª ed.
Edições USE – São Paulo-SP [1997].
RAMOS, Clóvis — A
Imprensa Espírita no Brasil — 18691978, 1ª ed. — Instituto Maria,
Departamento Editorial, Juiz de Fora-MG [1979].
RIZZINI, Jorge — J.
Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec — O Homem, a Vida, a Obra, 1ª ed.
Paidéia — São PauloSP [2001].
Cópia extraída do livro digital Biografia de Allan Kardec, por Júlio de Abreu Filho, editado pelo Pense — Pensamento Social Espírita.
[1]
As outras federativas são: Liga Espírita do Estado de São Paulo, Federação
Espírita do Estado de São Paulo e Sinagoga Espírita Nova Jerusalém. (Nota do Pense).
[2] Herculano Pires e Jorge
Rizzini foram visitar Julio Abreu Filho na clínica onde estava internado, em
1972. Estava presente também sua filha, Ceres Nogueira Abreu Sacchetta, esposa
do jornalista Hermínio Sacchetta, colega de profissão de Herculano, que se
comprometeu a reeditar e prefaciar seu livro Erros Doutrinários, lançado há mais de 20 anos. Júlio Abreu se
entusiasmou com o projeto da reedição e autorizou o parceiro a providenciar o
que fosse necessário para o relançamento de sua obra. A fim de atualizar a
edição, Herculano prefaciou e acrescentou uma segunda parte, dando origem a um
dos clássicos da literatura espírita anti-roustainguista, O Verbo e a Carne, obra que Júlio Abreu não pôde ver publicada,
pois desencarnaria algumas semanas depois. (Nota do Pense).

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