25 maio 2011

Fascinação e Subjugação

Fascinação e a subjugação aparecem no capítulo 23, de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, quando o autor trata da “Obsessão Simples, Fascinação, Subjugação, Causas da Obsessão e Meios de Combatê-la”.

Fascinação é uma espécie de ilusão produzida pelo Espírito obsessor sobre o pensamento do médium, paralisando o seu julgamento a respeito das comunicações que recebe. A subjugação é a constrição exercida pelo Espírito inferior, a qual paralisa a vontade de maneira contrária aos próprios desejos ou sentimentos, levando-o à aberração das faculdades psicofisiológicas.

subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é compelido a tomar atitudes absurdas e comprometedoras e que, por uma espécie de ILUSÃO, julga sensatas. No segundo caso, o Espírito age sobre os órgãos e produz movimentos involuntários. É o caso de pessoas caírem em bueiros, atolarem-se na lama, fazerem gestos que nunca imaginariam que fizessem.

A causa da obsessão é a imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. Quase sempre a obsessão resulta de vingança, proveniente de encarnações passadas. Ao lado da causa, temos o problema da obsessão, que é a questão de “atitudes” mutuamente assumidas. Em outras palavras, é a sintonia de mente a mente ou de mentes para com outras mentes.

A obsessão difere da possessão. Na obsessão, o Espírito atua externamente; na possessão, em vez de agir externamente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado. Na obsessão, há sempre um Espírito mau; na possessão, não. Pode tratar-se, também, de Espírito bom, que quer falar e tomar o corpo de um encarnado que voluntariamente lho empresta.

A cura da obsessão depende da mudança de atitudes e comportamentos. Façamos o esforço de pensar no bem quando toda a circunstância nos leva a pensar no mal.




Conceito de Deus

conceito é uma ideia abstrata sobre algum objeto de estudo. Para os empiristas, são formados a partir da experiência; para os racionalistas, a razão o produz independentemente de qualquer ensino empírico. Conceito e concepção assemelham-se, pois a concepção é uma operação mental em que o espírito constrói, sem a necessidade de dados experimentais, um conceito ou ideia geral.

A origem da ideia de Deus está presa à revelação cristã e ao desenvolvimento puramente natural da evolução do ser humano. Ela é, porém, anterior à revelação cristã ou muçulmana. Allan Kardec, por exemplo, explica-nos que a ideia de Deus não é efeito da educação ou produto de ideia adquirida, mas um sentimento natural do ser humano, pelo fato de se considerar filho de Deus.

A problematização do conceito de Deus pode ser visto de quatro modos: 1) Deus como causa do mundo; 2) Deus como ordem moral (Bem); 3) Deus como divindade; 4) Deus como revelação.

1) Deus como causa do mundo. Deus é criador e ordenador do mundo. Ele não é só o demiurgo, mas também o autor da estrutura substancial do próprio mundo. O mundo é continuidade, prolongamento da vida de Deus. Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

2) Deus como ordenador da moral. Ele garante a ordem moral do mundo. Essa ordem apoia-se no conceito de providência, que os antigos entendiam como “destino”. Disto resulta que, ao criar a ordem, Deus ajuda a salvar a liberdade do homem. Para o Espiritismo, há as leis naturais (ou divinas), gravadas na consciência de cada um de nós.

3) Deus como divindade. Divindade significa a relação de Deus com ele mesmo. Para identificá-la ou distingui-la, valemo-nos dos conceitos de monoteísmo politeísmo. No politeísmo há uma hierarquia de deuses, de modo que não há uma identidade entre Deus e Divindade. No monoteísmo, a divindade é possuída só por Deus. Nesse caso, Deus e divindade coincidem.

4) Deus como revelação. É a maneira como se dá o acesso do homem a Deus. Há dois modos clássicos: 1) pela razão; 2) pela fé (revelação). Essa duas iniciativas podem ser combinadas, ou seja, reconhecer o esforço natural do homem de conhecer Deus. Essa terceira via fundamenta a própria revelação espírita, pois esta afirma que a revelação é de inspiração divina, mas também fruto do trabalho de pesquisa do ser humano.



20 maio 2011

Relativismo e Espiritismo

Relativo. Que não é absoluto, isto é, não basta a si mesmo e depende de um outro termo ou objeto. Relativismo. É a ideia de que a verdade, o conhecimento ou o julgamento moral são relativos a situações e somente são válidos para a sociedade particular onde vigoram.

As variantes do relativismo podem ser sintetizadas da seguinte forma: 1) relativismo cognitivo que assegura que não há certeza em matéria de representação do mundo; 2) relativismo estético em que os valores artísticos seriam um efeito da moda ou do esnobismo; 3) relativismo normativo em que as normas seriam convenções culturais e arbitrárias. Sustenta-se, aqui, que não existem padrões éticos universais ou absolutos, uma vez que cada sociedade desenvolve os seus próprios padrões. (Boudon, 2010)

O relativismo é incompatível com a ciência moderna em que se privilegiam absolutos, tais como propriedades e leis invariantes, ao lado de outras relativas. Bunge, em seu Dicionário de Filosofia, diz-nos: “A simples existência de publicações e encontros científicos e tecnológicos internacionais, com seus subjacentes padrões internacionais de teste para comprovar a verdade, é uma tácita refutação do relativismo antropológico, segundo o qual todas as culturas são equivalentes de modo que não existe essa coisa denominada desenvolvimento social e, por conseqüência, não há justificação objetiva para reformas sociais”.

O Espiritismo, tal como foi codificado por Allan Kardec, que se baseia em princípios universais, não é compatível com o relativismo moral e cultural, que se pretende tornar dominante. Toda a codificação espírita está calcada nesses princípios universais. A título exemplo, reportemo-nos à pergunta 621, de O Livro dos Espíritos. Pergunta: Onde está escrita a lei de Deus? Resposta: Na Consciência. Depreende-se daí que todos os Espíritos foram criados simples e ignorantes, mas com a possibilidade de se tornarem perfeitos, porque há em cada um deles a potência da perfeição.

Na pergunta 621 A, que complementa esta, há a indagação: Desde que o homem traz na consciência a lei de Deus, que necessidade tem de que lhe revelem? Resposta: Ele a havia esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse lembrada. Por isso, o envio dos profetas. Estes são Espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade.

Allan Kardec, quando se propôs a codificar a Doutrina Espírita, tinha em mente torná-la universal, ou seja, não restringi-la a um povo ou a uma cultura. Se assim fosse, nós que somos brasileiros não estaríamos desfrutando de suas luzes.

Fonte de Consulta

BOUDON, Raymond. O Relativismo. Traduçao de Edson Bini. São Paulo: Loyola, 2010

BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

 

18 maio 2011

Mundos de Regeneração

Na concepção clássica, o mundo é o sistema harmônico composto pela Terra e os astros. Em termos geográficos, o mundo é a Terra. Em sentido mais amplo, o mundo é tudo aquilo que existe, o próprio Universo. Embora usamos a palavra “mundo” como sinônimo de “universo”, deve-se fazer uma ressalva, ou seja, como explicar a pluralidade dos mundos? Haveria vários Todos? Para os antigos, o mundo é um todo, mas não o Todo. É o conjunto ordenado que nos contém, tal como podemos observá-lo, da Terra ao céu e aos astros.

Em se tratando dos vários mundos habitados, Allan Kardec, enumera cinco tipos: mundos primitivos; mundos de expiação e provas; mundos regeneradores; mundos felizes; mundos celestes ou divinos. As suas características podem ser, assim, resumidas: Os mundos primitivos servem para as primeiras encarnações das almas humanas; os mundos de expiação e provas são lugares de exílio dos Espíritos rebeldes à lei de Deus; os mundos regeneradores são pontes de transição para os mundos felizes; nos mundos felizes não há mais provas nem expiações; os mundos celestes ou divinos são as moradas dos Espíritos purificados.

Refletindo com mais cuidado sobre este item do Evangelho, notamos que o mundo de regeneração é um divisor de águas entre o bem e o mal. Nos mundos de expiações e provas, o mal predomina sobre bem. Nos mundos celestes, só existe o bem. Nesse, o Espírito é convidado a deixar de vez o seu passado delituoso e se embrenhar na nova fonte de luz e harmonia celeste, que é a prática exclusiva do bem.

Embora experimentando as sensações e desejos que são característicos dos mundos de provas e expiações, já consegue se libertar das paixões desordenadas que escravizam, do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que tortura e do ódio que sufoca a alma. É a aurora da felicidade. Mesmo assim, comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos. Não sendo completamente desmaterializado, o indivíduo neles inserido tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Ainda falível, sabe que não avançar é recuar.

A caracterização desses diversos mundos mostra a magnanimidade da sabedoria divina. Como o objetivo do Espírito, criado simples e ignorante, é alcançar a perfeição, Deus, na sua infinita bondade, faculta-lhe as mais diversas oportunidades.

Fonte de Consulta

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. (capítulo 3)

 

04 maio 2011

Fundamentalismo e Espiritismo

O termo fundamento comporta várias significações: origem, princípio, raiz, finalidade. É o princípio em que repousa de fato uma ordem de fenômenos. É o alicerce, a base, sobre o qual o edifício se erguerá. O fundamentalismo, por sua vez, é a concepção epistemológica de que todo conhecimento fatual está ancorado em uma base muito firme ou fundamento.

Em termos religiosos, a origem do termo "fundamentalismo" deu-se no século passado. Os primeiros a utilizá-lo foram os protestantes americanos que, no início do século XX, designaram a si mesmos como “fundamentalistas”, para distinguir-se de protestantes mais “liberais”, que, a seu ver, distorciam inteiramente a fé cristã. É uma corrente teológica que admite apenas o sentido literal das escrituras.

A temática do fundamentalismo é um campo escorregadio. É que com o passar do tempo, este termo tornou-se inflacionário. Originalmente, pertencia exclusivamente ao campo religioso; depois, passou a ser usado de modo secular. Hoje, qualquer pessoa que defende com entusiasmo certa ideia é denominada de “fundamentalista”.

É inadequado usar o termo “fundamentalismo” para os ataques terroristas. Quando dizemos que o ataque às torres gêmeas dos Estados Unidos foi feito pelo fundamentalismo, estamos cometendo uma injustiça, pois o fundamentalismo islâmico não apregoa essas atrocidades. Geralmente, são os jovens despreparados, uma pequena minoria, que pensa estar ali a salvação da humanidade. Por isso, não hesitam em fuzilar devotos, matar médicos que trabalham em clínica de aborto, assassinar presidentes etc.

O fundamentalismo pode também estar presente no movimento espírita. Sempre que defendermos uma ideia presos somente à codificação de Allan Kardec, podemos estar sendo fundamentalistas sem o saber, porque fundamentalistas são sempre os outros. O próprio Allan Kardec, codificador do Espiritismo, já nos alertava: “Se a ciência descobrir coisas que contrariem o que está na codificação, não hesite, fique com a ciência.”

Defender os fundamentos espíritas não necessariamente é ser fundamentalista. Há fundamentos que o espírita não pode abrir mão, como o princípio da reencarnação. Não o defendendo, podemos destruir todo o edifício construído por Allan Kardec.

Para que o espírita seja fundamentalista sem cair no fundamentalismo, deve debruçar-se sobre as obras básicas e complementares do Espiritismo, extraindo daí o alicerce para o seu pensamento, tendo em mente que a razão deve estar sempre em primeiro lugar.

Fonte de consulta

ARMSTRONG, Karen. Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. Tradução de Hildegard Feist, São Paulo: Letras, 2001.

KAMEL, Ali. Sobre o Islã: A Afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as Origens do Terrorismo. Rio de janeiro: Fronteira, 2007.DREHER, Martin Norberto. Fundamentalismo. São Leopoldo: Sinodal, 2006. (Série Para Entender) 

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Maomé não dizia que o islamismo era uma nova religião. Na verdade, dizia ele, era o aperfeiçoamento das antigas religiões monoteístas, o judaísmo e o cristianismo, que remontavam a Abraão. As revelações começaram em 610 e adquiriram sua forma escrita no Alcorão. As pregações de Maomé contra a idolatria dos habitantes politeístas de Meca levaram à sua expulsão para a cidade de Medina em 622. Maomé levou com ele seus seguidores, e essa migração, que marcou o primeiro ano do calendário islâmico, foi chamada de Hégira. Oito anos depois, ele voltou a Meca e conquistou a cidade. Ao morrer, em 632, Maomé era o soberano de toda a Península Arábica. (Crofton, Ian. 50 ideias de história do mundo que você precisa conhecer / Ian Crofton; [tradução Elvira Serapicos]. — 1. ed. — São Paulo: Planeta, 2016.)