O termo fundamento comporta
várias significações: origem, princípio, raiz, finalidade. É o princípio em que
repousa de fato uma ordem de fenômenos. É o alicerce, a base,
sobre o qual o edifício se erguerá. O fundamentalismo, por sua vez,
é a concepção epistemológica de que todo conhecimento fatual está ancorado em
uma base muito firme ou fundamento.
Em termos religiosos, a origem do termo
"fundamentalismo" deu-se no século passado. Os primeiros a utilizá-lo
foram os protestantes americanos que, no início do século XX, designaram a si
mesmos como “fundamentalistas”, para distinguir-se de protestantes mais
“liberais”, que, a seu ver, distorciam inteiramente a fé cristã. É uma corrente
teológica que admite apenas o sentido literal das escrituras.
A temática do fundamentalismo é
um campo escorregadio. É que com o passar do tempo, este termo tornou-se
inflacionário. Originalmente, pertencia exclusivamente ao campo religioso;
depois, passou a ser usado de modo secular. Hoje, qualquer pessoa que defende
com entusiasmo certa ideia é denominada de “fundamentalista”.
É inadequado usar o termo
“fundamentalismo” para os ataques terroristas. Quando dizemos que o ataque às
torres gêmeas dos Estados Unidos foi feito pelo fundamentalismo, estamos
cometendo uma injustiça, pois o fundamentalismo islâmico não apregoa essas
atrocidades. Geralmente, são os jovens despreparados, uma pequena minoria, que
pensa estar ali a salvação da humanidade. Por isso, não hesitam em fuzilar
devotos, matar médicos que trabalham em clínica de aborto, assassinar
presidentes etc.
O fundamentalismo pode também estar
presente no movimento espírita. Sempre que defendermos uma ideia presos somente
à codificação de Allan Kardec, podemos estar sendo fundamentalistas sem o
saber, porque fundamentalistas são sempre os outros. O próprio Allan Kardec,
codificador do Espiritismo, já nos alertava: “Se a ciência descobrir coisas que
contrariem o que está na codificação, não hesite, fique com a ciência.”
Defender os fundamentos espíritas não
necessariamente é ser fundamentalista. Há fundamentos que o espírita não pode
abrir mão, como o princípio da reencarnação. Não o defendendo, podemos destruir
todo o edifício construído por Allan Kardec.
Para que o espírita seja fundamentalista
sem cair no fundamentalismo, deve debruçar-se sobre as obras básicas e
complementares do Espiritismo, extraindo daí o alicerce para o seu pensamento,
tendo em mente que a razão deve estar sempre em primeiro lugar.
Fonte de consulta
ARMSTRONG, Karen. Em Nome de
Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.
Tradução de Hildegard Feist, São Paulo: Letras, 2001.
KAMEL, Ali. Sobre o Islã: A
Afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as Origens do Terrorismo. Rio
de janeiro: Fronteira, 2007.DREHER, Martin Norberto. Fundamentalismo.
São Leopoldo: Sinodal, 2006. (Série Para Entender)
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Maomé não dizia que o islamismo era uma nova religião. Na verdade, dizia ele, era o aperfeiçoamento das antigas religiões monoteístas, o judaísmo e o cristianismo, que remontavam a Abraão. As revelações começaram em 610 e adquiriram sua forma escrita no Alcorão. As pregações de Maomé contra a idolatria dos habitantes politeístas de Meca levaram à sua expulsão para a cidade de Medina em 622. Maomé levou com ele seus seguidores, e essa migração, que marcou o primeiro ano do calendário islâmico, foi chamada de Hégira. Oito anos depois, ele voltou a Meca e conquistou a cidade. Ao morrer, em 632, Maomé era o soberano de toda a Península Arábica. (Crofton, Ian. 50 ideias de história do mundo que você precisa conhecer / Ian Crofton; [tradução Elvira Serapicos]. — 1. ed. — São Paulo: Planeta, 2016.)