30 março 2014

Amor e Ódio

Amor — palavra polissêmica que nos leva a diversos significados. Entre eles, encontramos a seguinte definição: é uma força tendente a aproximar e a unir, numa relação particular, dois ou mais seres. É um sentimento que leva a desejar o bem de outrem ou de alguma coisa. Ódio — sentimento profundo de raiva ou rancor, que leva a desejar ou a causar o mal de alguém. Aversão intensa, profunda, causada por medo, ofensa recebida. 

"Amor-ódio" é um tipo de relação que ainda precisamos para nos expressar. Amor e ódio opõem-se, mas não é uma oposição radical, pois a intensidade de um (amor) pode transformar-se no outro (ódio), e vice-versa.

Grosso modo, podemos dizer que há três tipos de amor: amor egoísta (posse do bem amado), amor racional (amor pelo uso da razão) e amor doação ou incondicional (aquele ensinado por Jesus, no sentido de dar sem querer nada em troca). O amor egoísta, por exemplo, é um misto de ódio e loucura, porque odeia e fere quem busca aproximar-se de seu amor. Este sentimento tem a mesma intensidade com relação à pessoa amada.

O ódio é classificado como sentimento universal. Se não fosse, não haveria tantos massacres, tantas guerras, tantas destruições. Segundo Spinoza, odiar é entristecer com. Quando alguém se entristece com o outro “se esforça por afastar e destruir a coisa pela qual tem ódio”. Segundo o Espiritismo, o “ódio é uma forma defeituosa da manifestação do amor”; “é reação do primitivismo animal, instinto em trânsito para a inteligência, que ainda não pôde superar as expressões dos começos passados”; “todavia, na maior parte das vezes, o ódio é o gérmen do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho”. (1)

Para ilustrar essa nossa reflexão, lembremo-nos de algumas frases sobre o ódio e o amor: 

"O ódio é o prazer mais duradouro; / os homens amam com pressa, mas odeiam com calma." (G. G. Byron)

"Dá-me sempre mais amor ou mais desprezo, / a zona tórrida ou glacial." (Th. Carew) 

"Odeio e amo. Talvez me perguntes por quê. / Não sei. Sei apenas que é assim e que sofro." (Catulo, poeta latino [87-54 a.C.]) 

"O ódio não cessa com o ódio em tempo algum, o ódio cessa com o amor: esta é a lei eterna." (Dhammapada) 

"A julgar o amor pela maior parte de seus efeitos, ele se assemelha mais ao ódio do que à amizade." (F. La Rochefoucauld)

"Nada no mundo é mais doce do que o amor, / e depois dele é o ódio a coisa mais doce." (H. W. Longfellow) 

"Onde amor e ódio não concorrem ao jogo, o jogo da mulher torna-se medíocre." (F. W. Nietzsche) 

"Odiarei, se puder, caso contrário amarei, contra a minha vontade." (Ovídio)

(1) EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/amor-e-%C3%B3dio

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Ao odiarmos alguém, estaremos derrotados por ele. Nessa afirmação, ecoa a sabedoria ancestral que reconhece a fragilidade inerente ao ódio. Quando permitimos que a raiva tome conta de nós, entregamos nosso poder àqueles que nos provocam, permitindo que eles influenciem nossa paz interior e bem-estar emocional.

 


Humberto de Campos

Humberto de Campos (H. de C. Veras) (1886-1934) foi jornalista, crítico, contista e memoralista, nascido em Miritiba, Maranhão. Terceiro ocupante da Cadeira 20, eleito em 30 de outubro de 1919, na sucessão de Emílio de Menezes e recebido pelo Acadêmico Luís Murat em 8 de maio de 1920. Filho de Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. De infância pobre, desde cedo começou a trabalhar no comércio como meio de subsistência. 

Aos 17 anos, no Pará, já era colaborador e redator na Folha do Norte. Em 1910 publicou seu primeiro livro a coletânea de versos intitulada Poeira. Em 1912 no Rio de Janeiro, entrou para O Imparcial, em que teve contato com Goulart de Andrade, Rui Barbosa, José Veríssimo e outros. Escreveu com diversos pseudônimos, entre os quais, o Conselheiro XX. Dentre as suas inúmeras obras, Memórias, em 1933, que são as crônicas dos começos de sua vida foi a mais evidente. O seu Diário secreto, de publicação póstuma, provocou grande escândalo pela irreverência e malícia em relação a contemporâneos.

A infância pobre de Humberto de Campos, como de tantas outras pessoas ilustres, sugere-nos que no processo da reencarnação, os Espíritos trazem dentro de si os talentos ocultos. O estado de pobreza é, para muitos deles, um período de reflexão, no sentido de bem aproveitar a sua missão na Terra.  Dentro desse quadro de aperfeiçoamento, o principal traço de caráter de Humberto de Campos era a perseverança. Dizia: "Gosto de subir, mas não gosto de mudar de escada". 

A partir de 1937, três anos após a morte de seu corpo físico, começou a ditar mensagens, crônicas e romances através da psicografia de Francisco Cândido Xavier. "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" foi a obra de maior notoriedade.  A tônica de sua comunicação mediúnica baseava-se em mensagens que redundavam em consolo aos tristes e esperança aos desafortunados. 

Fato notório é a polêmica no meio jurídico sobre o valor probatório da psicografia. A viúva de Humberto de Campos, em 1944, moveu um processo contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "era ou não do 'Espírito' Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, que ela obtivesse os direitos autorais da obra. O juiz João Frederico Mourão Russell proferiu a seguinte parecer: ao morrer, o indivíduo deixa de possuir direitos civis, logo Humberto de Campos não poderia reavê-los. Direitos autorais herdáveis limitam-se àqueles referentes a obras produzidas pelo escritor antes de sua morte. A consulta com base em perícia científica sobre o Espiritismo foge às prerrogativas do Judiciário. 

Em vista do processo judicial, Humberto de Campos passa a assinar as suas obras com o pseudônimo de Irmão X, possivelmente relembrando o seu pseudônimo de Conselheiro XX, quando estava encarnado. Como Irmão X vieram Lázaro redivivo (1945), Luz acima (1948), Pontos e contos (1951), Contos e apólogos (1958), Contos desta e doutra vida (1964), Cartas e crônicas (1966) e Estante da vida (1969).