30 setembro 2009

Formas de Caridade

Caridade é o amor a Deus e ao próximo. É uma virtude cristã ao lado da fé e da esperança. Tem relação com a justiça, porque implica exercer deveres e obrigações na sociedade. Nesse caso, regula o procedimento moral do homem para com os outros seres e, especialmente, para com os outros homens. É uma palavra muito ventilada no meio religioso. Convém não deixá-la cair no lugar comum como sói acontecer com o termo Evangelho que, de tanto ser usado, perdeu o sentido de boa nova trazida por Jesus Cristo.

De acordo com o cristianismo, Deus é o pai, o Criador do universo. Em seguida, vem Jesus; posteriormente, toda a humanidade. Como cada um de nós faz parte desta família universal, amar a Deus não pode ser feito sem que amemos o nosso próximo. Observe que a definição de caridade diz exatamente isso, ou seja, “amar a Deus e ao próximo”. Por essa razão, percebemos que somente fazendo bem ao próximo é que podemos dizer que amamos a Deus. Não bastam apenas pensamentos e palavras, temos que expressá-los em atos.

Podemos dizer que a origem da caridade está na vida e nos exemplos de Jesus Cristo. Antes de Jesus, os pais vendiam os seus filhos, as mulheres eram tratadas como alimárias, os velhos eram abandonados. Com a sua presença, um novo clarão apareceu, pois os seus exemplos de obediência ao Pai mudaram a mentalidade da humanidade. O Espirito Emmanuel, no capítulo 16, de Roteiro, psicografado por Francisco Candido Xavier, diz: “O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio da multidão e materializa-o com o próprio esforço. Cura os doentes na via pública, sem cerimônia, e ajuda a milhares de ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de natureza moral, sem valer-se das etiquetas de culto externo”.

A caridade pode ser vista de diversas formas: material (doação de alimentos, dinheiro, roupas, remédios); espiritual (esquecimento da ofensa, audição de uma reprimenda, silêncio ante o interlocutor perturbado). Todas elas, porém, devem convergir para o aspecto moral, que é o esforço de suplantar uma limitação, uma falha de conduta. Não devemos analisar a caridade somente pela lado material, pois podemos incorrer em erros, visto que a caridade, como já vimos, tem íntima relação com a justiça, no sentido de regular o procedimento moral do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes.

A esmola, uma das formas de caridade, faz parte da tradição cristã. Vendo uma pessoa estendendo a sua mão, tiramos uma moeda do bolso e lhe damos. Este dinheiro é útil porque pode aliviar a sua fome. A doação de roupas, alimentos e remédios é também meritória, porque pode satisfazer uma necessidade do próximo. Devemos, contudo, tomar cuidado para que essas ações não aumentem o nosso amor-próprio, dificultando a nossa caminhada espiritual.

Suprir alguém com dinheiro, roupas e alimentos não é tarefa complicada; basta que tenhamos de sobra. Doar tempo em benefício do próximo, com o esquecimento do “eu” já exige abnegação. Quantas não são as vezes que nos requisitam para uma atividade caritativa e alegamos que temos outra coisa para fazer? A verdadeira caridade implica o sacrifício total da liberdade humana. Tal qual Jesus se sacrificou na cruz, o mesmo deveríamos fazer em nossos dias. Há um grande mérito em saber calar para deixar falar um mais tolo; saber ser surdo quando uma palavra de zombaria escapa da boca escarnecedora.

O Espírito Néio Lúcio, no capitulo 20, de Jesus no Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier, relata a história de um indivíduo, pai de família, que tencionava praticar caridade, mas não tinha dinheiro. Contudo, em sua jornada terrestre auxiliava prazerosamente a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade. Procurava sempre extinguir os pensamentos inferiores. Recolhia até detritos da rua para não prejudicar os transeuntes. Desencarnou. Estava com medo dos juízes, mas foi aureolado com um brilhante diadema.

Recordando os avisos espirituais, podemos dizer que a caridade se faz de diversas maneiras, ou seja, por pensamentos, palavras e atos. Saibamos, assim, pensar bem para que as nossas palavras sejam sãs, a fim de possam ser transformadas em atos puros de bondade na sociedade.






18 setembro 2009

Sacrifício e Espiritismo

Sacrifício – Do latim sacrificium significa o que está relacionado ao ato de fazer com que alguma coisa se torne sagrada. Sacrificar é converter em sagrado o objeto que será dado em oferta. É o ato principal de todo culto religioso; é a oferta feita à divindade em certas cerimônias solenes. Sacrificar-se é crescer; quem cede para os outros adquire para si mesmo.

Na Antiguidade, os sacrifícios de animais, crianças, virgens e prisioneiros de guerra eram corriqueiros. No Antigo Testamento, os sacrifícios eram considerados dons sagrados. Abraão, por exemplo, por ordem de Deus, quis imolar o seu filho Isaac em holocausto e que depois foi substituído por um carneiro. No Novo Testamento, a instituição antiga dos sacrifícios cede lugar ao sacrifício pela Cruz do Cristo. Numa acepção mais contemporânea, há o holocausto alemão praticado ao povo judeu.

A morte de Jesus na Cruz representa o móvel da redenção da Humanidade. O símbolo da cruz, em que juntam o céu e a terra, foi enriquecido prodigiosamente pela tradição cristã, condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica com sua história humana, com a sua pessoa. Enquanto no passado havia o “olho por olho e dente por dente”, Jesus ensinou-nos a oferecer a outra face, quando numa delas alguém nos batesse. Enquanto no passado ofereciam-se animais, crianças, alimentos, Jesus oferece-nos um único mandamento: cada qual deve carregar a sua cruz.

Filosoficamente, a coragem para o sacrifício fundamenta-se no deixar o conhecido, o lugar conquistado, a comodidade do pensamento vulgar para se aventurar na busca de novos ensinamentos, novas experiências e novos rumos na vida. “A coragem para o sacrifício está em acreditar poder de novo outra vez. Poder sempre inaugurar um novo sentido, ou mesmo repetir o feito e de novo realizar. É dispor-se à vida que se vive e se realiza vivendo, e compreender que nesse jogo de viver e realizar jogar o incerto e o inesperado, e que assim devem ser acolhidos”. (Pizzolante, 2008, p. 188)

Cumpre observar que o sacrifício não é auto-imposição, mas uma disposição para a abnegação, que é o afastar-se da arrogância do ficar no já conquistado. O sacrifício assemelha-se à dor do parto, pois a mãe sofre, mas em seguida vê o rebento vir à luz, que lhe dá grande alegria. Em nosso caso, o parto refere-se à ideia nova, tal qual Sócrates fazia na Antiguidade, quando ensinava na praça pública. Sadi, por outro lado, dizia-nos: “A paciência é uma planta de raízes assaz amargas, mas de frutos dulcíssimos”.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan kardec ensina-nos que o sacrifício mais agradável a Deus é o do Ressentimento. Ele expressa o pensamento da seguinte forma: “Antes de se apresentar a ele para ser perdoado, é preciso ter perdoado, e que, se cometeu injustiça contra um dos seus irmãos, é preciso tê-la reparado; só então a oferenda será agradável, porque virá de um coração puro de todo o mau pensamento” (1984, cap. X, p.134.) Em outras palavras, antes de entrarmos no templo do Senhor devemos purificar o nosso coração, porque assim teremos mais condições de entrar em perfeita conexão com os Espíritos superiores e deles receber inspirações para as nossas boas ações.

O trabalhador da seara mediúnica não raro registrará as seguintes questões: por que o meu caminho é de sofrimento? Por que a minha vida está repleta de dor? Onde estão os benfeitores espirituais? Por que eles não vêm aliviar as minhas amarguras? Lembremo-nos de que Jesus ensinou que a cruz é o símbolo da redenção do cristão. Os mensageiros de luz vêm apenas estimular as nossas ações dizendo que deveríamos pegar a nossa cruz e caminhar com ela, tanto quanto forem os passos que a divindade nos impuser. E por maior sejam os sacrifícios que teremos de suportar, não cortemos uma pedaço dela, porque poderá fazer falta quando tivermos que usá-la como ponte para atravessar o rio.

O sacrifício mais agradável a Deus é aquele em que o individuo se coloca abertamente para aceitar, sem desânimo e sem reclamações, a determinação dos Espíritos de luz acerca de sua missão na terra.

Fonte de Consulta

EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

PIZZOLANTE, Romulo. A Filosofia e a Coragem para o Sacrifício. In: MEES, L. e

PIZZOLANTE, R. (org.). O Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/sacrif%C3%ADcio-e-espiritismo