29 outubro 2010

A Filosofia Espírita e o Existencialismo Moderno

Filosofia é a ciência geral dos princípios e das causas. A Filosofia Espírita é a Filosofia vista sob o ponto de vista dos princípios codificados por Allan Kardec. Em metafísica, é qualificável de existencial tudo o que, por oposição ao essencial ou ao conceitual, concerne à afirmação de uma existência. O existencialismo é qualquer doutrina que admite, por oposição aos filósofos do conceito cujo modelo é o sistema hegeliano, a existência como centro de sua reflexão.

existencialismo moderno surgiu como decorrência das duas grandes guerras mundiais: a Primeira Guerra (1914-1918); a Segunda Guerra (1939-1945). Na guerra, um ser humano destrói o outro sem o menor constrangimento. Daí, a percepção do sentido do absurdo juntamente com a do sentimento trágico da vida: desespero, náusea, nada.

Dentre os existencialistas, talvez Sartre seja o mais conhecido. A sua filosofia é a filosofia da consciência. Procura demonstrar que o Ego não está na consciência mas no exterior, no mundo, onde encontra o seu lugar de existência. No mundo, o ego aparece em “perigo”. Para ele, o cogito surge ofuscado pela inquietude da “facticidade”, e pensa: mesmo “estilhaçado”, o cogito se abre à liberdade, pois existir é superar a existência em direção à impossível essência, mas esse movimento é também transcendência.

Para o existencialismo, conforme o ser humano vai vivendo, ele vai formando a sua existência. Assemelha-se à tabula rasa de Locke. A essência é como uma folha em branco, que vai sendo preenchida pelas nossas experiências. No Espiritismo, não é assim que acontece, pois o Espírito, o princípio inteligente do universo (essência), toma um corpo (existência), mas é anterior ao corpo, porque já teve outras vivências passadas.

Segundo o existencialismo, se as pessoas agirem de conformidade com as atitudes inautênticas, ou seja, de modo mecânico e superficial, elas não sentirão nem medo, nem angústia. Quando, porém, optam pelo comportamento autêntico, em que a verdade se desvela, sentirão a angústia, que é a impossibilidade do possível. O Espiritismo não despreza o medo e a angústia, sintomas de nossa ignorância com respeito à lei de Deus. Mas, uma vez compenetrados dos ditames dessa lei, passamos a vê-los como um estado de transição para a perfeição de nosso Espírito imortal.

A sociedade individualista e consumista leva-nos irremediavelmente ao niilismo. Vendem-nos a ideia de que temos que ser ricos, poderosos, famosos. Com isso, todos os nossos recursos pessoais são deslocados para esse fim. A livre busca do saber e os sentimentos profundos da alma são considerados maus e reprimidos. Voltemos os nossos olhos para o saber dos antigos, principalmente o dos gregos.

O desespero, a falta de fé, a dor e sofrimento na atualidade são consequência da falta de valores morais sólidos, os quais têm sido medrados em nosso meio, principalmente no âmbito político. Quando relaxamos os valores morais, outros entram em seu lugar. Necessitamos urgentemente de uma mudança comportamental, para que possamos nos ater ao que é realmente vital para o nosso progresso espiritual.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/filosofia-esp%C3%ADrita-e-os-problemas-existenciais





27 outubro 2010

O Termo Filosofia Espírita

Questão: podemos falar em Filosofia Espírita?

Para responder a esta questão, gostaríamos de remetê-los à entrevista feita por Mônica Aiub e Márcio José Andrade e Silva com Luiz Alberto Cerqueira, professor de Filosofia e diretor do Centro de Filosofia Brasileira (CEFIB), na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

De acordo com Luiz Alberto Cerqueira, “O mau hábito de imaginar que a atividade filosófica só se desenvolve em função de autores impede uma visão crítica do estudo de filosofia no país”. Acrescenta que aquilo que os gregos chamaram de filosofia, referida ao sujeito pensante, não é exclusiva dos gregos nem de qualquer cultura particular. Tem, assim, a preocupação de desenvolver o estudo filosófico em função de problemas, e não de autores. Acha que o modelo brasileiro desenvolvido em cima de autores é o câncer da vocação filosófica brasileira.

A filosofia pode ser alemã, inglesa, francesa, americana, mas não pode ser brasileira. Se ela pode ser alemã, por que não brasileira? Nesse caso, os filósofos são comentadores e não realmente filósofos. (1)

Se podemos falar em filosofia disso, ou filosofia daquilo, por que não podemos falar de Filosofia Espírita?

A Filosofia Espírita, entendemos nós, nada mais é do que o sujeito pensante elaborando os seus conceitos filosóficos, sob a direção dos princípios fundamentais, codificados por Allan Kardec. Nesse caso, somos obrigados a nos debruçar sobre as obras básicas do Espiritismo, principalmente, O Livro dos Espíritos.

José Herculano Pires, no livro Introdução à Filosofia Espírita, diz: “Na verdade, a Filosofia Espírita se apresenta, para o investigador imparcial, como o delta natural em que desemboca no presente toda a tradição filosófica”. (2)

Fonte de Consulta

(1) FILOSOFIA, CIÊNCIA & VIDA. Ano IV, número 42, 2009, p. 7 a 11.

(2) PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Paidéia, 1983.

 

21 outubro 2010

Psicologia e Espiritismo

Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. Estuda as ideias, sentimentos e determinações cujo conjunto constitui o espírito humano. Psicanálise é o processo de exame psicológico que pretende descobrir no inconsciente neuropata as tendências, os desejos e os complexos perturbadores de sua alma. Psiquiatria é parte da medicina que estuda as doenças mentais, na sua etiologia, patogenia, manifestações clínicas e tratamento.

Os primórdios da Psicologia encontram-se: 1) na antiguidade grega, a afirmação de que é o espírito que vê o ouve (e não os órgãos sensoriais); 2) a classificação dos humores e sua relação com os temperamentos (sanguíneo, fleumático, melancólico e colérico); 3) Pitágoras e sua crença na imortalidade da alma; 4) Platão com sua teoria de que os desejos se satisfaziam nos sonhos, por meio de imagens, quando se achavam adormecidas as mais altas faculdades da mente.

A Psicologia só se afirma como “ciência”, independente da filosofia, e, objetiva, a partir da 2.ª metade do século XIX. Esse movimento se confirma com a elaboração progressiva de diversos métodos quantitativos e testes, além da constituição de várias teorias – behaviorismo e Teoria da Gestalt.

Muitos filósofos contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia. Eis alguns deles: Santo Agostinho (430 d.C.) estudou os problemas da Psicologia sob o ponto de vista de um observador que descreve vivências reais; Thomas Hobbes (1588-1679) fez um sumário da psicologia incluindo as sensações, a imaginação e os sonhos; Descartes – com a sua dualidade espírito-matéria –, concebeu a possibilidade de uma ação puramente mecânica; Locke, em seu Ensaio sobre o Entendimento Humano, mesmo não sendo uma obra psicológica, inaugurou a psicologia da associação de ideias.

Sigmund Freud e Carl Gustav Jung foram os dois grandes expoentes da Psicologia. Freud interpretou os sonhos e desenvolveu o "método da associação livre", pelo qual conseguiu obter a cura de muitas doenças mentais. Jung deu sequência ao trabalho desenvolvido por Freud, porém de modo mais científico. Jung aprofundou-se no estudo do inconsciente.

O Espiritismo é a síntese de todo o processo de conhecimento. O Espírito Emmanuel, em O Consolador, responde a várias perguntas sobre a relação entre a Psicologia e o Espiritismo. Tomamos a liberdade de copiar três delas, com suas respectivas respostas.

Pergunta 45. A psicanálise freudiana, valorizando os poderes desconhecidos do nosso aparelhamento mental, representa um traço de aproximação entre a Psicologia e o Espiritismo?

Essas escolas do mundo constituem sempre grandes tentativas para aquisição das profundas verdades espirituais, mas os seus mestres, com raras exceções, se perdem na vaidade dos títulos acadêmicos ou nas falsas apreciações dos valores convencionais.

Os preconceitos científicos, por enquanto, impossibilitam a aproximação legítima da Psicologia oficial e do Espiritismo.

Os processos da primeira falam da parte desconhecida do mundo mental, a que chamam de subconsciente, sem definir essa cripta misteriosa da personalidade humana, examinando-a apenas na classificação pomposa das palavras. Entretanto, somente à luz do Espiritismo poderão os métodos psicológicos aprender que essa zona oculta, da esfera psíquica de cada um, é o reservatório profundo das experiências do passado, em existências múltiplas da criatura, arquivo maravilhoso em todas as conquistas do pretérito são depositadas em energias potenciais, de modo a ressurgirem no momento oportuno.

Pergunta 47. Por que, relativamente ao estudo dos processos mentais, se encontram divididos no campo da opinião os psicologistas do mundo?

Os psicologistas humanos, que se encontram ainda distantes das verdades espirituais, dividem-se tão-só pelas manifestações do personalismo, dentro de suas escolas; mesmo porque, analisando apenas os efeitos,, não investigam as causas, perdendo-se na complicação das nomenclaturas científicas, sem uma definição séria e simples do processo mental, onde se sobrelevam as profundas realidades do espírito.

Pergunta 48. O Espiritismo esclarecerá a Psicologia quanto ao problema da sede de inteligência?

Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência psicológica definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal.

Em vista disso, concluímos que há necessidade de seus representantes (os psicólogos) deixarem de lado a vaidade, o preconceito e o personalismo, e aceitarem as teses da imortalidade da alma, da reencarnação e dos distúrbios mentais associados à mediunidade.

 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

SOUZA, Silney: http://www.webartigos.com/articles/22428/1/PSICOLOGIA-E-ESPIRITISMO/pagina1.html#ixzz12tsJzSKx

XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977. 



06 outubro 2010

O Instrutor Espírita diante do Centro Espírita

O objetivo do ensino na Casa Espírita é transmitir ao educando informações básicas acerca dos princípios doutrinários, sem ferir o íntimo de cada ouvinte; ao contrário, criar condições favoráveis à recepção destes postulados, lembrando que cada um de nós está em níveis de percepção espiritual diferentes, cabendo ao instrutor ajustar-se às necessidades de cada grupo.

Para atuar na área de ensino, o colaborador deve ter as seguintes características: 1) não medir esforços para a preparação do assunto que irá expor; 2) ter facilidade de expor ideias aos outros; 3) estar a par das regras de oratória e exposição; 4) ser amante do conhecimento, não só espírita, mas de cultura geral; 5) não se melindrar com críticas e observações acerca de sua exposição; 6) dar abertura à influência do plano espiritual superior.

O instrutor deve ter em mente as técnicas de exposição. Hoje, mais do que nunca, precisamos estar a par dos avanços da informática: recursos dos programas de PowerPoint, por exemplo. Em se tratando das técnicas de exposição, há os diversos métodos de ensino, que nos orientam sobre palestra, dinâmica de grupo, debates orientados, sessão de brainstormings, entre outros. Tudo deve ser feito com critério, pois como se diz: “Se Jesus, na sua época, tivesse usado o PowerPoint, não teria nenhum discípulo”. Quer dizer, a postura e a empatia do expositor contam mais do que as aparelhagens modernas.

Em se tratando de uma Casa Espírita, onde nos ensinam que o Espírito já adquiriu conhecimentos em outras existências, o diálogo é de fundamental importância, pois um aluno com vivências passadas mais ricas do que a nossa, pode também nos ensinar muito, tornando a aula mais proveitosa.

O instrutor deve procurar expressar a Doutrina Espírita em seu tríplice aspecto, ou seja, em termos da filosofia, da ciência e da religião. Para muitos, a interligação parece difícil, mas o Espiritismo, sendo uma síntese de todo o conhecimento veiculado, pode analisar um assunto qualquer sob estes três aspectos. Com isso, desviamo-nos do comodismo de repetir frases de efeito, que não nos levam muito longe em nossas reflexões sobre a própria doutrina.

Evitar o “eu acho”, “eu penso”, “eu isso”, “eu aquilo”. Nosso problema é expor a Doutrina, lembrando que o termo doutrinário significa quem obedece rigidamente aos princípios da própria doutrina, prestando atenção à teoria no seu sentido abstrato, mais do que no prático. Podemos e devemos usar as nossas próprias palavras, mas refletidas e alicerçadas nos fundamentos básicos do Espiritismo.

O instrutor deve ter em mente que ele é apenas uma peça na organização global de uma Casa Espírita. Achar que a sua função é mais importante do que a dos outros pode fazê-lo desviar da verdade. Lembremo-nos de que cada um dos frequentadores tem uma tarefa específica. Ninguém é mais do ninguém, porque todos trabalhamos para a unidade - Centro Espírita - que, por princípio, não tem dono. É simplesmente uma organização religiosa.

Estejamos convictos de que só ensina quem aprende. Não sejamos os falsos profetas do Evangelho, aqueles que se colocam como disseminadores da doutrina do Cristo e não passam de expositores do erro e da discórdia.