Paulo nasceu em Tarso, na Cilícia, no ano 3 da era
cristã, desde que se aceite que a morte de Jesus ocorreu no ano 29 e não no ano
33. Recebeu na circuncisão o nome de Saulo. Somente mais tarde, quando entrou
para o mundo cristão, mudou-se para Paulo. Ainda jovem é enviado para
Jerusalém, para frequentar a escola de Gamaliel, e preparar-se para a função de
escriba. Como era costume judeu, toda a criança devia ser ensinada num trabalho
manual. Ensinaram-lhe, assim, a profissão de tecelão. Na época em que Jesus
fora crucificado, Paulo não devia estar em Jerusalém, pois não temos notícia de
que o havia conhecido pessoalmente.
Paulo era de pequena estatura e aspecto enfermiço.
Ele mesmo falava de sua doença. Contudo, isso não o impedia de ser um
argumentador ilustre e um profundo psicólogo. Era radical na defesa da lei
mosaica. Perseguia, prendia, interrogava sem piedade os cristãos. Não o fazia
por vaidade, mas para cumprir a lei, para cumprir aquilo que acreditava ser a
verdade, pois fora introduzido nas escrituras do Velho Testamento. Chegou,
inclusive, a assistir à morte de Estevão, irmão de sua noiva Abigail.
Dono de uma personalidade marcante, recebe uma
autorização do sumo sacerdote, para ir a Damasco prender os cristãos. Na
estrada de Damasco, por volta do meio-dia, um clarão esplendoroso derruba-o de
seu cavalo, deixando-o cego. Nesse ínterim, ouve a voz de Jesus lhe dizer:
“Saulo... Saulo... porque me persegues?” Depois de restabelecida a visão, por
intermédio de Ananias, Paulo torna-se um novo ser humano, um ser que mudou o
seu comportamento religioso da noite para o dia, causando, inclusive, dúvidas
junto aos seus familiares e amigos mais íntimos.
Depois da guinada de 180 graus, precisou de um
tempo de preparação para a nova fase de sua vida. O trabalho, com o tear, junto
a Áquila e Priscila, foi providencial. De acordo com as instruções dos
benfeitores espirituais, a pregação evangélica necessita de um período de
maturação, principalmente para aqueles que se lhes opuseram por largo tempo.
Posteriormente, a sua pregação começa pelas sinagogas dos judeus. A obstinação
dos judeus, contudo, cria dificuldades à expansão do Evangelho. Por isso, a sua
dedicação aos gentios, que eram mais fáceis de aceitarem a boa-nova. Daí, a
designação de “apóstolo dos gentios”.
Paulo tinha uma postura exemplar. A cada nova
igreja que criava, mantinha-a sob sua guarda, visitando-a e tomando nota das
suas necessidades. Quando não podia ir pessoalmente, escrevia cartas
(epístolas) no sentido de mantê-las informadas sobre os novos ensinamentos.
Essas cartas constituíram o “Quinto Evangelho”. Nelas estão arroladas reflexões
sobre vários assuntos, desde a conduta da mulher na igreja até as mais radicais
correções do pensamento. Observe, por exemplo, estes: “O bem que quero fazer
não faço; e o mal que não quero, esse eu pratico”; “Já não sou eu que vivo, é o
Cristo que vive em mim”.
Paulo é um exemplo vivo de como podemos mudar
radicalmente a nossa conduta. Uma vez aceita a palavra da vida eterna, o novo
homem deve entrar em cena, consoante a sentença evangélica: “Aquele que tomar a
charrua e olhar para trás, não é digno do Reino de Deus”.
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Mudança de Nome
Barnabé disse:
— Saulo, quando Ananias te batizou não chegou a
sugerir a mudança do teu nome?
— Não me lembrei disso.
—Pois suponho que, doravante, deves considerar tua
vida como nova. Foste iluminado pela graça do Mestre, tiveste o teu
Pentecostes, foste sagrado Apóstolo para os labores divinos da redenção.
O ex-doutor da Lei não dissimulou a própria
admiração e concluiu:
— Muito bem — respondeu o companheiro —, entre
Saulo e Paulo nenhuma diferença existe, a não ser a do hábito de grafia ou de
pronúncia. A decisão será uma formosa homenagem ao nosso primeiro triunfo
missionário junto dos gentios, ao mesmo tempo que constituirá agradável
lembrança de um espírito tão generoso.
Extraído do capítulo IV — "Primeiros Labores
Evangélicos" (2.ª Parte) do livro Paulo e Estêvão, pelo
Espírito Emmanuel, psicografado por F. C. Xavier.