Autor: Francisco Cândido Xavier
(Médium)
Espírito Emmanuel
XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz: História da Civilização à Luz do Espiritismo. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1972.
Antelóquio
Na mensagem recebida em 17 de agosto de 1938, o Espírito Emmanuel diz que a sua contribuição será à tese religiosa, elucidando a influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as civilizações terrestres.
Introdução
Enquanto os seres humanos promovem, à força das armas, as penosas transições do século XX, só Jesus não passou. Ele é a Luz do Principio e nas suas mãos misericordiosas repousam os destinos do mundo.
I — A Gênese Planetária
A Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos. A primeira verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar; a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.
A ciência do mundo substituiu o termo "providência" pela palavra "natureza". Mesmo assim, o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade sem-fim.
No plano material, são as células albuminoides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos. Para a elaboração das formas foram milhares de anos: a princípio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação da existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles, formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.
III — As Raças
Adâmicas
Cabra ou Capela é uma grande estrela na Constelação do Cocheiro. A sua
luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra. Em comparação com a
Terra, quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram física e
moralmente. Como havia alguns milhões de Espíritos rebeldes, a Divina
Providência fez por bem fazê-los reencarnar entre os terráqueos: sofreriam nos
trabalhos penosos de um mundo menos evoluído e, também, ajudariam o progresso
dos que aqui estavam.
As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências. As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações, até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia. Os degredados formaram quatro grandes grupos: os árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as castas da Índia.
IV — A Civilização
Egípcia
Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a
civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e no
culto da Verdade. Importa considerar que eram eles os que menos débitos
possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Eles traziam uma ciência, cuja a
evolução da época não comportava. Por isso, denominou-se ciência secreta.
O povo egípcio tinha uma preocupação constante com a Morte. A sua vida
era apenas um esforço para bem morrer. A metempsicose era o fruto da sua amarga
impressão, a respeito do exílio penoso que lhe fora infligido no ambiente
terrestre. Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para
solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual. Os mistérios de Ísis
e Osíris mais não eram que símbolos das forças espirituais que presidem aos
fenômenos da morte.
As pirâmides revelam os mais extraordinários conhecimentos daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da vida. A par desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da Humanidade terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica, relativamente ao sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no sistema solar.
V — A Índia
VI — A Família
Indo-Europeia
Os arianos que procuravam as novas emoções de uma terra desconhecida eram, na sua maioria, os espíritos revoltados com as condições do seu degredo; pouco afeitos aos misteres religiosos que, pela força das circunstâncias, impunham uma disciplina de resignação e humildade, não cuidaram da conservação do seu tradicionalismo, na ânsia de conquistar um novo paraíso e serenarem, assim, as suas inquietações angustiosas.
VII — O Povo de
Israel
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a
raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres
através de todas as mutações. As lendas da Torre de Babel não representam um
mito nas páginas antigas do Velho Testamento, porque o exílio na Terra não
pesou tanto às outras raças degredadas quanto na alma orgulhosa dos judeus,
inadaptados e revoltados num mundo que os não compreendia.
Moisés, na sua qualidade de mensageiro do Divino Mestre, procura então
concentrar o seu povo para a grande jornada em busca da Terra da Promissão.
Médium extraordinário, realiza grandes feitos ante os seus irmãos e
companheiros maravilhados. É quando então recebe, de emissários do Cristo, no
Sinai, os dez sagrados mandamentos que, até hoje, representam a base de toda a
justiça do mundo.
Uma perfeita conexão reúne as duas Leis, que representam duas etapas
diferentes do progresso humano. Moisés, com a expressão rude da sua palavra
primitiva, recebe do mundo espiritual as leis básicas do Sinai, construindo
desse modo o grande alicerce do aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no
Tabor, ensina a Humanidade a desferir, das sombras da Terra, o seu voo divino para
as luzes do Céu.
Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com a versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.
VIII — A China
Milenária
É verdade que a palavra direta do Cristo, consubstanciada no seu Evangelho, ainda não chegou até lá de um modo geral, aclarando o caminho de todos os corações, mas um sopro de vida romperá as sombras milenárias que caíram sobre a república chinesa, onde milhões de almas repousam, indevidamente, na falsa compreensão do Nirvana e do Absoluto. Mãos valorosas erguerão o monumento evangélico naquele mundo de dolorosas antiguidades, e um novo dia raiará para a grande nação que se tornou em símbolo de paciência e de perseverança, para os outros povos.
IX — As Grandes
Religiões do Passado
As tradições religiosas do passado transmitiam oralmente os seus ensinamentos.
Com o surgimento dos degredados do sistema da Capela, vieram os primeiros
rudimentos das artes gráficas. Não nos esqueçamos, porém, que Jesus reunira nos
espaços infinitos os seres proscritos que se exilaram na Terra.
A gênese de todas as religiões da Humanidade tem suas origens na figura
luminosa do Cristo. As religiões guardam uma unidade substancial: todas se
referem a um Deus impersonificável. Todas as revelações foram gradativas. Eram,
na verdade, uma preparação para o Cristianismo. As lições da Palestina foram,
desse modo, precedidas de laboriosa e longa preparação na intimidade dos
milênios.
Jesus, porém, é inconfundível: suas parábolas, a manjedoura e o calvário são lições que iluminam os caminhos milenários da humanidade inteira.
X — A Grécia e a
Missão de Sócrates
Nos preparativos da maioridade espiritual das criaturas humanas, Cristo
enviou numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes.
Esparta e Atenas são exemplos da luta do bem contra o mal. Esparta
passou à história como um simples povo de soldados espalhando a destruição e os
flagelos da guerra, sem nenhuma significação construtiva para a Humanidade.
Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia.
Sócrates tem destaque na Grécia antiga. Sua existência, em algumas
circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo. Atenas, apesar
de seu progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro
de Jesus. Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilando-lhes
o veneno da liberdade nos corações. Entre os discípulos de Sócrates, Platão se
destaca.
A condenação de Sócrates ocasionou as provações coletivas da Grécia: o povo nobre e culto de Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e enérgicos de Roma.
XI — Roma
Os romanos, ao contrário dos atenienses, não procuravam muitas
indagações transcendentes em matéria religiosa ou filosófica. Cabe ressaltar as
sagradas virtudes romanas, na instituição do colégio da família, em muitas
circunstâncias superior ao da própria Grécia cheia de sabedoria e beleza.
Os pródromos do Direito Romano e a organização da família assinalavam o
período da maioridade terrestre. O homem, com semelhantes conquistas, estava a
desferir o voo para as mais altas esferas espirituais.
Desviando-se da finalidade, Cristo reúne as assembleias de seus emissários. A Terra não podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria ateniense e da família romana.
XII — A Vinda de
Jesus
A manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo,
como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes. Começava
a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade terrestre, de vez que
Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e
do amor a todos os corações.
O cumprimento das profecias de Israel: — "Levantar-se-á como um
arbusto verde, vivendo na ingratidão de um solo árido, onde não haverá graça
nem beleza. Carregado de opróbrios e desprezado dos homens, todos lhe voltarão
o rosto. Coberto de ignomínias, não merecerá consideração. É que Ele carregará
o fardo pesado de nossas culpas e de nossos sofrimentos, tomando sobre si todas
as nossas dores...”.
A grande lição: Cristo vinha trazer ao mundo os fundamentos eternos da verdade e do amor. Sua palavra, mansa e generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores. Lembremos que, se a manjedoura e a cruz constituem ensinamento inolvidável, muito mais devem representar, para nós outros, os exemplos do Divino Mestre, no seu trato com as vicissitudes da vida terrestre.
XIII — O Império
Romano e seus Desvios
Com o tempo, os abusos da autoridade e do poder embriagavam a cidade
valorosa. Toda a sede do governo parecia invadida por uma avalancha de forças
perversoras, das mais baixas esferas dos planos invisíveis. Depois de Caio,
assassinado no Aventino, embora se fizesse supor um suicídio, instala-se
definitivamente um regime de quase completa dissolução das grandes conquistas
morais realizadas.
Terminados os triunviratos, eis que ia cumprir-se a missão do Cristo,
depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a
presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os
corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina
daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu
em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do
planeta.
O Império Romano, que poderia ter levado a efeito a fundação de um único Estado na superfície do mundo, em virtude da maravilhosa unidade a que chegou e mercê do esforço e da proteção do Alto, desapareceu num mar de ruínas, depois das suas guerras, desvios e circos cheios de feras e gladiadores.
XIV — A Edificação
Cristã
A sociedade da época sentia de perto a insuficiência das escolas
filosóficas conhecidas, no propósito de solucionar as suas grandes questões. Na
Judeia cresce, então, o número dos prosélitos da nova crença. O hino de
esperanças da manjedoura e do calvário espalha nas almas um suave e eterno
perfume. A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho ser
de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se
irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações.
No trabalho de redação dos Evangelhos, havia a necessidade de dar-lhe
caráter universalista. É então que Jesus resolve chamar o espírito luminoso e
enérgico de Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério. As suas epístolas
são os elementos essenciais dessa universalização.
O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João. Recomenda-lhe o
Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas
as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite
aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.
O Apocalipse de João tem singular importância para os destinos da
Humanidade terrestre.
Os Evangelhos constituem o roteiro de luz e de amor, através do qual todas as almas podem ascender às luminosas montanhas da sabedoria dos Céus.
XV — A Evolução do
Cristianismo
A vinda do Cristo assinalara o período da maioridade espiritual da
Humanidade. Essa maioridade implicava direitos que, por sua vez, se fariam
acompanhar do agravo de responsabilidades e deveres para a solução de grandes
problemas educativos do coração.
Antes do movimento de propagação das ideias cristãs no seio da sociedade
romana, já os prepostos de Jesus se preparavam para auxiliar os missionários da
nova fé, conhecendo a reação dos patrícios em face dos postulados de
fraternidade da nova doutrina.
As classes mais abastadas não podiam tolerar semelhantes princípios de
igualdade, quais os que preconizavam as lições do Nazareno, considerados como
postulados de covardia moral, incompatíveis com a orgulhosa filosofia do
Império, e é assim que vemos os cristãos sofrendo os martírios da primeira
perseguição, iniciada no reinado de Nero, de tão dolorosas quão terríveis
lembranças. Nenhum instrumento de suplício foi esquecido na experimentação da
fé e da constância daquelas almas resignadas e heroicas.
A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus melhores
recursos de propaganda e de expansão.
A luta se estabelece e Constantino vence Maxêncio às portas de Roma,
penetrando a cidade, vitorioso, para ser recebido em triunfo. Junto dele, o
Cristianismo ascende à tarefa do Estado, com o edito de Milão.
O imperador Focas favorece a criação do Papado, no ano de 607. A decisão imperial faculta aos bispos de Roma prerrogativas e direitos até então jamais justificados. Entronizam-se, mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos Césares. Em 610, Focas é chamado ao mundo dos invisíveis, deixando no orbe a consolidação do Papado. Dessa data em diante, ia começar um período de 1260 anos de amarguras e violências para a civilização que se fundava.
XVI — A Igreja e a
Invasão dos Bárbaros
A igreja de Roma, que antes da criação oficial do Papado considerava-se
a eleita de Jesus, ao arvorar-se em detentora das ordenações de Pedro, não
perdia ensejos de firmar a sua injustificável primazia junto às suas congêneres
de Antioquia, de Alexandria e dos, demais grandes centros da época.
As provas expiatórias do Império prosseguem numa avalancha de dores
amargas. Aparecem as correntes bárbaras dos alanos, dos vândalos, dos suevos,
dos burgúndios. O que Roma deveria fazer com a educação e o amparo
perseverantes, aqueles povos rudes e fortes vinham reclamar por si mesmos.
As razões da Idade Média: pausa para meditação.
XVII — A Idade
Medieval
Desses exércitos de abnegados que se organizaram com Jesus e por Jesus,
no seio da Igreja, somos levados a destacar os missionários beneditinos, cujo
esforço amoroso e paciente conduziu grande número de coletividades dos povos
considerados bárbaros, principalmente os germanos, para o seio generoso das
ideias do Cristianismo.
Entre esses missionários, veio aquele que se chamou Maomet, ao nascer em
Meca no ano 570. Sua missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos
ensinos cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de
restauração do Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos
ambientes da Europa. Maomet, contudo, não resiste ao assédio dos Espíritos da
Sombra. Maomet, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando os
trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para Jesus,
vulgarizou a palavra "infiel", entre as várias famílias do seu povo,
designando assim os árabes que lhe, eram insubmissos, quando a expressão se
aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo.
O feudalismo é facilmente explicável. A missão de Carlos Magno houvera sido organizada pelo plano invisível como uma das mais vastas tentativas de reorganização do império do Ocidente, mas, observando-se a inutilidade do tentame, em virtude do endurecimento da maioria dos corações, as autoridades espirituais, sob a égide do Cristo, renovaram os processos educativos do mundo europeu, então no início da civilização atual, chamando todos os homens para a vida do campo, a fim de aprenderem melhor, no trato da terra e no contato da Natureza. Só o feudalismo podia realizar essa obra, e as suas normas, embora grosseiras, foram aproveitadas na escola penosa das aquisições espirituais, onde a reflexão e a sensibilidade iam surgir para a construção do edifício milenar da civilização do Ocidente.
XVIII — Os Abusos
do Poder Religioso
Instalada nas suas imensas riquezas e dispondo de todo o poder e
autoridade, a Igreja poucas vezes compreendeu a tarefa de amor, que competia à
sua missão educativa. Habituada a mandar sem restrições, muitas vezes recebeu
as advertências de Jesus à conta de heresias condenáveis, que era preciso
combater e profligar.
A Inquisição preocupou também o Espaço. Um dos maiores apóstolos de
Jesus desceu à carne com o nome de Francisco de Assis. O esforço
poderoso do missionário, todavia, se não conseguiu mudar a corrente de ambições
dos papas romanos, deixou traços fulgurantes da sua passagem pelo planeta. Seu
exemplo de simplicidade e de amor, de singeleza e de fé, contagiou numerosas
criaturas, que se entregaram ao santo mister de regenerar almas para Jesus.
A repressão das "heresias" foi o pretexto da consolidação inquisição
na Europa, tornando-se o flagelo e a desdita do mundo inteiro.
A Inquisição foi obra direta do papado, e cada personalidade, como cada instituição, tem o seu processo de contas na Justiça Divina.
XIX — As Cruzadas e
o Fim da Idade Média
As primeiras Cruzadas aconteceram no século XI. A razão: Jerusalém havia
caído nas mãos dos turcos e, com isso, dificultavam a presença de cristãos
naquela região. As últimas Cruzadas aconteceram por volta de 1270.
O lado bom do mal: as Cruzadas, não obstante o seu caráter anticristão,
fizeram-se acompanhar de alguns benefícios de ordem econômica e social para
todos os povos.
Os emissários do Cristo, em assembleias numerosas, sob a égide do seu
pensamento misericordioso, organizando novos trabalhos para a evolução geral de
todos os povos do planeta. No século XIII estava definitivamente instalado o
governo real, desaparecendo as mais fortes expressões do feudalismo.
A esse tempo opera-se um verdadeiro renascimento na vida
intelectual dos povos mais evolvidos do mundo europeu. A Igreja, contudo,
proibindo o exame e a livre opinião, prejudicou esse surto evolutivo, máxime no
capítulo da Medicina, que, desprezando a observação atenta de todos os fatos,
se entregou à magia, com sérios prejuízos para as coletividades.
É então que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação, iniciam
largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as tendências e
afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua personalidade
coletiva.
Com a queda de Constantinopla, em 1453, que ficou para sempre em poder dos turcos, verificava-se o término da época medieval.
XX — Renascença do
Mundo
No fim do século XV, grandes assembleias espirituais se reúnem nas
proximidades do planeta, orientando os movimentos renovadores que, em virtude
das determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma nova era.
O Cristo localiza, então, na América as suas fecundas esperanças. Após a
descoberta da América, grande esforço de seleção espiritual foi levado a efeito
no seio das lutas europeias, no intuito de criar no Novo Mundo um outro sentido
de evolução. A invenção da imprensa facultava o mais alto progresso no mundo
das ideias, criando as mais belas expressões de vida intelectual.
A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja, desviada
do caminho cristão. O plano invisível determina, assim, a vinda ao mundo de
numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da
religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros de força. Assim, no
século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero, Calvino, Erasmo,
Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na Europa Central e nos Países
Baixos.
A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava conhecer os meios, para cogitar tão somente dos fins imorais a que se propunha. Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da civilização ocidental, contribuindo amplamente para o atraso moral em que se encontra o "homem científico" dos tempos modernos.
XXI — Época de
Transição
Debalde a Dieta de Worms, em 1521, condenara Lutero como herege,
levando-o a refugiar-se em Wartburgo, porque as suas ideias libertárias
acenderam uma nova luz, propagando-se com a rapidez de um incêndio. Os
mensageiros do Cristo deploram tão dolorosos acontecimentos, trabalhando por
despertar a consciência geral, arrancando-a daquela alucinação de morticínio e
sangue, mas precisamos considerar que cada homem, como cada coletividade, pode
cumprir seus deveres ou agravar suas responsabilidades próprias, na esfera de
sua liberdade relativa.
Considerando o movimento das responsabilidades gerais e isoladas, o
plano invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América todos os
Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de reencarnações ao
mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se prendiam, cada vez mais, na
cadeia das existências de provações expiatórias.
Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores (enciclopedistas) os
vultos veneráveis de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D'Alembert, Diderot,
Quesnay.
As ideias nobilitantes dos autores da Enciclopédia e das novas teorias
sociais haviam encontrado o mais franco acolhimento nas colônias inglesas da
América do Norte, organizadas e educadas no espírito de liberdade da pátria do
parlamentarismo.
O mundo invisível aproveita, desse modo, a grande oportunidade, deliberando executar nas terras novas os grandes princípios democráticos pregados pelos filósofos e pensadores do século XVIII. E enquanto a Inglaterra desrespeita, para com as suas colônias, o grande princípio por ela própria firmado, de que ''ninguém deve pagar contribuições sem as ter votado", os americanos resolvem proclamar a sua independência política. Depois de alguns incidentes com a metrópole, celebram a sua emancipação em 4 de julho de 1776, organizando-se, posteriormente, a Constituição de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do porvir.
XXII — A Revolução
Francesa
A independência americana acendera o mais vivo entusiasmo no ânimo dos
franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do extravagante
reinado de Luís XV.
Depois da derrubada da Bastilha, em 14 de julho de 1789... Um mundo de
sombras invadiu as consciências da França generosa, chamada, naquela época,
pelo plano espiritual, ao cumprimento de sagrada missão junto à Humanidade
sofredora. Depois de muitas figuras notáveis dos primórdios revolucionários,
surgiram espíritos tenebrosos, como Robespierre e Marat. A volúpia da vitória
generalizou uma forte embriaguez de morticínio no ânimo das massas, conduzindo-as
aos mais nefastos acontecimentos.
A França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa
torrente de desatinos. Com a influência inglesa, organiza-se a primeira
coligação europeia contra o nobre país. Mas, não somente nos gabinetes administrativos
da Europa se processavam providências reparadoras. Também no mundo espiritual
reúnem-se os gênios da latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a sua
proteção e misericórdia para a grande nação transviada.
A lei das compensações é uma das maiores e mais vivas realidades do
Universo. Sob as suas disposições sábias e justas, a cidade de Paris teria de
ser, ainda por muito tempo, o teatro de trágicos acontecimentos.
Napoleão Bonaparte, o humilde soldado corso, destinado a uma grande
tarefa na organização social do século XIX, não soube compreender as
finalidades da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole e de
Rívoli, com a paz de Campoformio, em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe
ensombrassem o pensamento.
Napoleão Bonaparte, fugindo à finalidade de missionário da reorganização
do povo francês, compeliu o mundo espiritual a tomar enérgicas providências
contra o seu despotismo e vaidade orgulhosa. Aproximavam-se os tempos em que
Jesus deveria enviar ao mundo o Consolador, de acordo com as suas auspiciosas
promessas.
Apelos ardentes são dirigidos ao Divino Mestre, pelos gênios tutelares dos povos terrestres. Assembleias numerosas se reúnem e confraternizam nos espaços, nas esferas mais próximas da Terra. Um dos mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão consoladora, e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador, obrigando o papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame, em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus-Cristo.
XXIII — O Século
XIX
A América, destinada a receber as sagradas experiências da Europa, para
a civilização do futuro, busca aplicar os grandes princípios dos filósofos
franceses à sua vida política, caminhando para a mais perfeita emancipação. O
Brasil, em 1822, erguia igualmente o seu brado de emancipação com Pedro I,
sendo digno de notar-se o esforço do plano invisível na manutenção da sua
integridade territorial, quando toda a zona sul do continente se fracionava em
pequenas repúblicas, atento à missão do povo brasileiro na civilização do
porvir.
O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo,
encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. As lições
sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na
sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos
os corações.
Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação,
fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação
regeneradora não se manifestaria tão somente nos problemas de ordem
doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século
XIX. A Ciência, nessa época, desfere os voos soberanos que a conduziriam às
culminâncias do século XX.
A Filosofia recolheu-se, então, no seu negativismo transcendente, aplicando
às suas manifestações os mesmos princípios da ciência racional e materialista.
Schopenhauer é uma demonstração eloquente do seu pessimismo e as teorias de
Spencer e de Comte esclarecem as nossas assertivas, não obstante a sinceridade
com que foram lançadas no vasto campo das ideias.
A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe
reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às
suas profundas bases religiosas.
Cumpre-nos assinalar as dolorosas provas da França, depois dos seus
excessos na Revolução e nas campanhas napoleônicas.
Aproximando-se o ano de 1870, que assinalaria a falência da Igreja com a declaração da infalibilidade papal, o Catolicismo experimenta provações amargas e dolorosas.
XXIV — O
Espiritismo e as Grandes Transições
Um desses grandes acontecimentos é a extinção do cativeiro. Cumprindo as
determinações do Divino Mestre, seus mensageiros do plano invisível laboram
junto aos gabinetes administrativos, de modo a facilitar a vitória da
liberdade.
Grandes ideias florescem na mentalidade de então. Ressurgem, aí, as
antigas doutrinas da igualdade absoluta. Aparece o socialismo propondo
reformas viscerais e imediatas. Alguns idealistas tocam a Utopia de Thomas
More, ou a República perfeita, idealizada por Platão. Fundam-se as alianças de
anarquismo, as sociedades de caráter universal. Uma revolução sociológica de
consequências imprevisíveis ameaça a estabilidade da própria civilização,
condenando-a à destruição mais completa.
O Espiritismo vinha, desse modo, na hora psicológica das grandes
transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse o fruto
sagrado de quantos trabalharam e sofreram no esforço penoso da civilização.
Em vão o mundo esperou as realizações cristãs, iniciadas no império de
Constantino. Aliada do Estado e vivendo à mesa dos seus interesses econômicos,
a Igreja não cuidou de outra coisa que não fosse o seu reino perecível.
Esquecida de Deus, nunca procurou equiparar a evolução do homem físico à do
homem espiritual, prendendo-se a interesses rasteiros e mesquinhos da política
temporal. É por isso que agora lhe pairam sobre a fronte os mais sinistros
vaticínios.
O século XX surgiu no horizonte do Globo, qual arena ampla de lutas
renovadoras. As teorias sociais continuam seu caminho, tocando muitas vezes a
curva tenebrosa do extremismo, mas as revelações do além-túmulo descem às
almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz de uma nova era.
Numerosas transformações são aguardadas e o Espiritismo esclarece os
corações, renovando a personalidade espiritual das criaturas para o futuro que
se aproxima.
Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo determinismo das
circunstâncias de sua vida política, a América está destinada a receber
o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros.
Há no mundo um movimento inédito de armamentos e munições. Teria
começado neste momento? Não. A corrida armamentista do século XX começou antes
da luta de Porto Artur, em 1904. As indústrias bélicas atingem culminâncias
imprevistas. Os campos estão despovoados. Os homens se recolheram às zonas de
concentração militar, esperando o inimigo, sem saber que o adversário está em
seu próprio espírito.
Convenhamos em que o esforço do Espiritismo é quase superior às suas
próprias forças, mas o mundo não está à disposição dos ditadores terrestres.
Jesus é o seu único diretor no plano das realidades imortais, e agora que o
mundo se entrega a todas as expectativas angustiosas, os espaços mais próximos
da Terra se movimentam a favor do restabelecimento da verdade e da paz, a
caminho de uma nova era.
Espíritos abnegados e esclarecidos falam-nos de uma nova reunião da
comunidade das potências angélicas do sistema solar, da qual é Jesus um dos
membros divinos. Reunir-se-á, de novo, a sociedade celeste, pela terceira vez,
na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada missão de abraçar
e redimir a nossa Humanidade, decidindo novamente sobre os destinos do nosso
mundo.
Que resultará desse conclave dos Anjos do Infinito? Deus o sabe.
Nas grandes transições do século que passa, aguardemos o seu amor e a sua misericórdia.
XXV — O Evangelho e
o Futuro
Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que ligam
todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta.
O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.
O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos.
Conclusão
Meus amigos, Deus vos conceda muita paz.
Agradeço a vossa colaboração, em face de mais este esforço humilde do
nosso grupo na propagação dos grandes postulados do Espiritismo evangélico,
como agradeço também à misericórdia divina o bendito ensejo que nos foi
concedido. Em nosso modesto estudo da História, um único objetivo orientou as
nossas atividades — o da demonstração da influência sagrada do Cristo na
organização de todos os surtos da civilização do planeta, a partir da sua
escultura geológica.
Nossa contribuição pode pecar pela síntese excessiva, mas não tínhamos
em vista uma nova autópsia da História do Globo em suas expressões sociais e
políticas, e sim revelar, mais uma vez, os ascendentes místicos que dominam os
centros do progresso humano, em todos os seus departamentos.
Sinto-me feliz com a vossa colaboração dedicada e amiga. Algum dia, Deus
me concederá a alegria de falar dos laços que nos unem de épocas remotas,
porque não é sem razão que nos encontramos reunidos e irmanados no mesmo
trabalho e ideal.
Reitero-vos, aqui, meu agradecimento comovido e sincero.
Quando lá fora se prepara o mundo para as lutas mais dolorosas e, mais
rudes, devemos agradecer a Jesus a felicidade de nos conservarmos em paz em
nossa oficina, sob a égide do seu divino amor. Prometemos, tão logo seja
possível, um ensaio no gênero romântico. (*) Permitirá Deus que sejamos
felizes. Assim o espero, porque não ponho em dúvida a sua infinita misericórdia.
Que Deus vos guie e abençoe, conservando-vos a tranquilidade sagrada dos
lares e dos corações.
EMMANUEL
(Mensagem recebida em 21/ 9/1938.)
__________
(*) Refere-se ao "romance" de sua vida de patrício romano e
legado na Judéia ao tempo do Cristo, obra já concluída e publicada em dois
volumes, que são Há Dois Mil Anos e 50 Anos Depois.
— (Nota da Editora.)
São Paulo, 2016.
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