Título: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
Autor: Francisco
Cândido Xavier (Médium)
Espírito Humberto de Campos
XAVIER, Francisco Cândido. Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos.
Rio de Janeiro: FEB, 2011 (1.ª edição: 1938).
Prefácio
O Espírito Emmanuel refere-se
ao esclarecimento das origens remotas da formação da Pátria do Evangelho, em
que o nosso irmão Humberto de Campos, grande conhecedor do Brasil que, pela sua
dedicação, recolheu dados nas tradições do mundo espiritual e repassou-os aos
que possam se interessar por eles.
Precisamos, ao lado do seu sentido econômico, buscar a sua significação espiritual. O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro. Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.
Brasil, a
Nova Pátria do Evangelho
Por volta do último quartel do
século catorze, Jesus dispôs-se a visitar o planeta Terra, a fim de verificar o
processo realizado pela sua doutrina de amor. Após observar que o mundo
político, econômico e social do ocidente estava conturbado pelo egoísmo, orgulho
e vaidade dos habitantes das grandes potências europeias, Jesus, juntamente com
Helil, traçam um novo roteiro para o desenvolvimento espiritual dos terráqueos.
Para isso, Helil deveria reencarnar em Portugal e direcionar o povo português
às conquistas marítimas, com o objetivo de descobrir as terras-virgens da
América.
Encarnado no período
1394-1460, como o heróico infante de Sagres, operou a renovação das energias
portuguesas, expandindo as suas possibilidades realizadoras para além mar,
criando as condições necessárias para o futuro descobrimento da "Pátria do
Evangelho", que aconteceu em 1500, por Pedro Álvares Cabral.
Helil, depois do seu
desencarne, continuou a luta pela causa do Evangelho. Sua influência espiritual
junto a D. Duarte e D. Afonso V não fora marcada pelo êxito, porém, com relação
a D. João II, consegue que diversas expedições sejam organizadas e enviadas ao
mar.
A grande expedição de Cabral
deixou Portugal no dia sete de março de 1500. Em alto mar, as noites do grande
expedicionário são povoadas de sonhos sobrenaturais e, insensivelmente, as
caravelas inquietas cedem ao impulso de uma orientação imperceptível, desviando
os caminhos das Índias para o coração geográfico do Brasil.
Compreendemos, também, que enquanto outros países se fragmentavam o fato do Brasil permanecer com o coração geográfico completo é porque havia realmente a preocupação de Jesus em arrebanhar toda a população, que deveria estar envolta com o lema: "Deus, Cristo e Caridade". (Xavier, 1977, cap. I e II)
Origens
Espirituais do Povo Brasileiro
Para uma compreensão mais
ampla da formação espiritual do povo brasileiro, devemos lembrar que os séculos
quinze e dezesseis foram marcados pela influência do "capitalismo
comercial", que impulsionou as grandes potências europeias ao mar, a fim
de colonizar a nova terra. O Brasil, recebe assim, imigrantes das várias regiões
do mundo.
Dentro desse quadro, Jesus entregava o comando do Brasil a Ismael, cuja missão era reunir os sedentos de justiça divina (degredados), os simples de coração (índios), os humildes e aflitos (escravos) sob a influência dos missionários para que o alicerce espiritual fosse edificado sobre a rocha firma, de modo que com o passar dos anos não houvesse fragmentação. (Xavier, 1977, cap. III)
Holandeses,
Franceses e Espanhóis
Para que pudéssemos ter essa
formação mesclada deveríamos aceitar as várias influências das grandes
companhias de comércio, cujas sedes se localizavam na Europa, principalmente em
França, Holanda e Inglaterra.
Primeiramente vieram os
franceses, que encantados com a beleza da Bahia de Guanabara, estabeleceram aí
a sua feitoria, onde Villegaignon, com sua mentalidade religiosa e honesta,
capta a confiança dos indígenas por três anos, pois em 1558 são expulsos por
Mem de Sá.
De 1580 a 1640 recebemos a
influência indireta da Espanha, porque como sabemos Portugal ficou sob a
direção deste país, desestimulando a colonização das terras brasileiras.
Em 1624, a pretexto da guerra
com a Espanha, os holandeses invadem o Brasil, originando cenas dolorosas,
porém não organizadas pelas falanges do mundo invisível.
Em 1637, entregava em
Pernambuco o General holandês João Maurício, príncipe de Nassau, cuja estada no
Brasil fora preparada no plano espiritual com a intenção de desenvolver os
germes do amor, respeito, tolerância e liberdade. Assim, os escravos tornam-se
livres à sombra de sua bandeira, os índios encontram, no seu coração, o apoio
de um nobre e leal amigo e todos obtém um novo clarão de justiça no caminho a
seguir.
Em 1661, os holandeses deixam o Brasil sem lutas cruéis, mas ficou a semente da gratidão e do amor por um dos abnegados servidores do Cristo. (Xavier, 1977, cap. VIII)
A Procura
do Ouro
Sabemos da história econômica
que a razão básica da manutenção do domínio político português nas terras
brasileiras era a possibilidade de descobrir imensos tesouros de metais
preciosos. No plano espiritual, essa missão de expandir o espaço conquistado
foi entregue a Fernão Dias Paes, que antes de reencarnar fora consolado por
Ismael acerca da causa sinistra do ouro, recebendo instruções de que a procura
desse metal seria um fator de desenvolvimento econômico, porque edificar-se-iam
cidades e fomentar-se-iam a pecuária e a agricultura.
A missão seria árdua e
exigiria o máximo de disciplina e para exemplificá-la viu-se na contingência de
enforcar o próprio filho, quando esteve encarnado.
Paralelamente às bandeiras,
outros movimentos realizavam-se na busca desse metal, criando um clima de
ilusões, ambição e comentários acerca da riqueza, que levava os indivíduos à
guerra, às revoluções e às emboscadas tendo como resultado a aflição, o
sofrimento e a morte, inclusive com a possibilidade de despovoamento de
Portugal. Citamos, como exemplo, a guerra das Emboabas, a Guerra dos Mascates.
Ao mesmo tempo que no plano material estávamos envoltos com um pequeno derramamento de sangue, no plano espiritual, os agentes invisíveis estavam amparando-nos e podemos perceber claramente pelo Tratado de Methuen que, o Brasil, ao transferir a posse do ouro à Inglaterra, vetava as investidas das grandes potências europeias que cobiçavam nossas riquezas. (Xavier, 1977, cap. X)
Prenúncio
da Liberdade
Os preparativos da Revolução
Francesa, isto é, as discussões a respeito da liberdade influenciaram
sobremaneira a classe dos poucos intelectuais brasileiros, que observando a
ganância pelo ouro por parte dos padres — para aumentar o luxo das igrejas, dos
magistrados — para aumentar suas fortunas que levariam a Portugal e do fisco —
para incrementar a receita de Portugal, resolvem por em prática esses ideais
políticos e econômicos.
Dos vários encontros
realizados para tal finalidade, escolheu-se a personalidade de Tiradentes para
ser o líder do movimento. Os desejos de liberdade foram vetados por autoridades
portuguesas tão logo ficaram sabendo do ocorrido, mandando imediatamente
extinguir a figura que se sobressaia nas ditas articulações. A morte de
Tiradentes do ponto de vista espiritual representava o resgate de delitos
cruéis do passado, quando inquisidor da Igreja.
Os estudos e discussões acerca de nossa doutrina mostra-nos que o acaso não existe e que os fatos se sucedem no devido tempo. Assim, verificamos que os intelectuais brasileiros quanto os da França foram precipitados com as reivindicações de liberdade, contrariando a vontade de Deus, o qual prefere que cada qual vença a si mesmo e seja avessos à guerra e à Revolução. Percebemos, mais uma vez, a mão protetora de Ismael, pois enquanto em França assistíamos à perda de muitas vidas, no Brasil tivemos apenas um enforcamento. (Xavier, 1977, cap. XIV)
A
Independência do Brasil
A consequência da Revolução
Francesa, para nós, foi a vinda da família real ao Brasil, que seria o estopim
inicial de nossa emancipação política, porque D. João VI estando no Brasil
começou a tomar resoluções políticas que iriam criar condições de
desenvolvimento econômico.
Primeiramente, abrem-se os
portos para a livre concorrência com a Inglaterra e, posteriormente, para as
nações amigas. Em segundo lugar, declaram-se livres as indústrias nacionais.
Mesmo com grande parte da corte colada ao orçamento da despesa, o Brasil
caminhava para o alto destino que o eterno lhe assinalara.
D. João VI estava envolto com
a mãe demente, esposa desleal, filho perdulário, excesso de despesas
administrativas, revolução constitucionalista de Portugal e problemas pessoais
de alta responsabilidade, quando teve de voltar a sua Pátria natal, deixando D.
Pedro I, como príncipe-regente, o qual deveria cumprir a constituição da junta
Revolucionária de Lisboa.
O plano espiritual presidindo
a todos os acontecimentos instrui-nos que o problema da liberdade é delicado,
sendo preciso formar os Espíritos antes das obras, pois todos os direitos
adquiridos exigem responsabilidade e nem sempre estamos aptos a enfrentá-los.
Expõe-nos, também, que D. Pedro não era a pessoa indicada para o processo de
libertação do povo brasileiro, mas ele encarnava o princípio da autoridade e
caberiam ao próprio plano espiritual — povoar suas noites de sonho, a fim de
colocá-lo em condições de assumir atitudes corretas e justas segundo a vontade
de Deus.
D. Pedro atendendo à frase de
seu pai, quando deixou o Brasil. "Pedro, se o BRASIL se separar de
Portugal, antes seja para ti, que me respeitarás, do que para alguns desses
aventureiros". — resolve iniciar a separação dos dois países, sem prever
que Avilez, representante de Portugal tencionava criar barreiras a esse
intento. Durante esse período negro vemos a presença de Ismael manipulando as
preces e as vibrações das mães sofredoras e concentrando-as na mente e coração
de Avilez, deixando o caminho livre a D. Pedro para a consolidação da
liberdade.
A presença de Ismael, dos abnegados cooperadores do plano espiritual e principalmente, da figura de Tiradentes, em espírito, acompanhavam através de viagens e contatos com diversos líderes políticos em várias regiões do país, culminando com a famosa frase: "INDEPENDÊNCIA OU MORTE", a sete de setembro de mil oitocentos e vinte e dois. (Xavier, 1977, cap. XVI a XVIII)
A
Maioridade Política Brasileira (I)
O aumento das
responsabilidades brasileiras deveria ser provido por alma nobre e valorosa. O
plano espiritual estava atento e começou a dialogar com Longinus, a fim de
cientificá-lo da grande missão que os mensageiros de Ismael estavam lhe
propondo e se saísse vencedor não precisaria retornar neste planeta de expiação
e provas. Reencarnaria, assim como D. Pedro II e se incumbiria de polarizar as
atenções do povo a sua pessoa no que dizia respeito aos exemplos e virtudes,
renúncia e sacrifícios abnegação e desprendimento.
Enquanto no outro plano da
vida estes assuntos eram ventilados, aqui, D. Pedro I, depois de consolidada a
Independência, tratava de dar continuidade ao processo de liberdade da Pátria
do Evangelho, sempre assessorado pelas falanges de Ismael, que aproveitavam o
minuto psicológico para auxiliá-lo nesta consolidação. Apesar de lutar pelos
interesses do Brasil foi acusado injustamente de proteger os de Portugal, e por
esta razão, inspirado pelos agentes do invisível, abdica na pessoa do filho, a
sete de abril de mil oitocentos e trinta e um.
Após a abdicação de D. Pedro I
o país sob o comando dos regentes interinos atravessou momentos de crise,
notando-se o desenrolar da guerra civil ao Norte e o movimento republicano no Rio
Grande do Sul. As falanges de Ismael eram obrigadas a aumentar os reforços
intuindo os homens da regência a praticarem os mais sublimes atos de renúncia
pelo bem coletivo a fim de que a luz do porvir na pátria não se transformasse
em trevas e não paralisasse os interesses do Senhor para com a nossa terra
natal.
D. Pedro II reencarna dentro dessa conjuntura e aos quinze anos de idade adquire o poder de governar o país. Para bem cumprir sua missão, abstraia-se dos textos legais e norteava suas decisões mais pela imprensa do que pelos seus ministros, desgostando os políticos da época. Conseguiu com seu caráter evolucionista um grande progresso de liberdade de opinião e a calma voltara ao Brasil. Por não seguir as inspirações do mundo invisível, interfere na liberdade do Uruguai, ocasionando com isto a guerra do Paraguai, pois este país se sentindo ameaçado na sua segurança declarou-se contra o Brasil, iniciando uma contenda que durou cinco anos de martírio e sofrimentos. (Xavier, 1977, cap. XX)
A
Maioridade Política Brasileira (II)
À medida que o tempo passava,
as repercussões internacionais e a experiência dos políticos brasileiros
clamava por uma mudança estrutural do nosso modelo de economia política, muito
embora D. Pedro II fosse um exemplo de discórdia e benevolência. Os políticos
da época pressionaram-no e nos primeiros meses de 1888, sob a influência dos mentores
invisíveis da pátria, o imperador é afastado do trono, voltando a Regência à
Princesa Isabel, promulgando a treze de maio de mil oitocentos e oitenta e oito
a lei que extinguia o cativeiro no Brasil.
Ao se extinguir a servidão, o
Brasil passava ao regime de maioridade política, isto é, os habitantes deste
território receberiam doravante influências indiretas do plano espiritual, mas
seriam responsáveis diretos pelos seus erros e acertos. Denominamos República à
oficialização desse índice de maioridade, firmado a quinze de novembro de 1889
por Deodoro da Fonseca e uma plêiade de inteligências cultas e vigorosas.
É útil recordarmos o grau de
evolução de Longinus, que deixou a coroa sem derramamento de sangue, repeliu
todas as sugestões dos Espíritos apaixonados pelo poder, não aceitou dinheiro
pelo seu exílio, porém levou consigo um punhado de terra brasileira que muito
soubera amar.
O plano espiritual, afim de corroborar este grau de liberdade adquirido, delegava autoridade aos grandes médiuns, que seriam os portadores da luz do Cristo, com a função de concentrar as energias do povo, dirigindo-as para o alvo sagrado da evolução material e espiritual. Dentre eles citamos a personalidade de Bezerra de Menezes, aclamado na noite de julho de 1895 diretor de todos os trabalhos de Ismael no Brasil. (Xavier, 1977, cap. XXI a XXX).
Conclusão
Este estudo da História
Econômica do Brasil, à luz da espiritualidade, deu-nos a oportunidade de
aumentarmos os nossos conhecimentos a respeito do povo, do governo e dos
agentes do mundo invisível
acompanhamos o desenrolar dos
fatos históricos e percebemos que a maioridade política se desenvolve da mesma
forma que o livre-arbítrio no campo individual; que as decisões que julgávamos
individuais abrangem uma amplitude mais ampla, porque aquele que decide recebe
influências dos ministros, da imprensa, da esposa, e muito mais do plano
espiritual, que até a proclamação da república a ascendência espiritual era
direta, passando depois a fazer por sugestões telepáticas; que ainda hoje
estamos com a boa influência, embora o livro de Humberto de Campos só explica até
o período republicano.
Vimos, por fim, que o poder é
transitório, que as paixões inflamam os indivíduos, que pouco é o que sabemos
e, por essa razão, devemos ter muita humildade, a fim de podermos trilhar o
caminho da felicidade, o qual nos conduzirá ao Cristo e à caridade.
São Paulo, 2017.
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