"A orientação inicial que alguém
recebe da educação também marca a sua conduta ulterior." (Platão)
Estigma é uma cicatriz provocada no corpo por uma
ferida ou machucado. No âmbito religioso, é o nome dado às feridas
feitas por alguns religiosos em seus corpos, na tentativa de representar as
chagas de Cristo. Pejorativamente, indigno, desonroso.
Os gregos da Antiguidade criaram o
termo estigma para caracterizar algo extraordinário ou mau
sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais, feitos com corte ou
fogo, avisavam que o portador poderia ser um escravo, um criminoso ou traidor.
Ao longo do tempo, foram acrescentadas algumas metáforas, principalmente as
referentes às chagas de Cristo. Presentemente, o termo é aplicado tanto ao seu
sentido original quanto à desgraça do indivíduo, mais do que ao próprio corpo.
Erving Goffman foi o pioneiro a pensar o
conceito de estigma numa perspectiva social: relação entre
atributo e estereótipo. A sociedade institui um padrão natural e normal de
comportamento. Quem atua de modo estranho à naturalidade, ganha os atributos
que o tornam diferente. Eis o círculo vicioso: o estigma está relacionado a
conhecimentos insuficientes ou inadequados (estereótipos), que leva a
preconceitos (pressupostos negativos), à discriminação e ao distanciamento da
pessoa estigmatizada.
O estigma tem relação com o preconceito.
As nossas concepções ingênuas, geralmente provenientes da tradição e dos
costumes, forjaram “ideologias” e estigmatizaram “povos”. Não paramos para
pensar se as atitudes de alguns indivíduos referem-se ou não à totalidade das
pessoas. Com uma ideia pré-definida vamos marcando as pessoas, tais como, o
judeu é ganancioso, o negro é indolente, os americanos são superficiais, e
assim por diante.
Quem estigmatiza quem? Observe o discurso
político da vitimização. Muitas vezes aquele que se passa por vítima nada mais
é do que o vitimizador.
No meio espírita, o estigma não deveria
existir, pois para o Espiritismo, todos os Espíritos foram criados simples e
ignorantes, sujeitos ao progresso. Todos somos irmãos em Cristo Jesus. Cada um
de nós está num determinado nível de progresso. Por isso, a missão do homem
inteligente na Terra é ajudar os mais ignorantes, nunca os desprezar ou
marcá-los com um sinal negativo.
Fonte de Consulta
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
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Uma Pessoa que fugiu da Normalidade
“Querida Senhorita Lonelyhearts,
Tenho 16 anos e não sei como agir.
Gostaria muito que a senhora me aconselhasse. Quando eu era criança, não era
muito ruim porque me acostumei com os meninos do quarteirão que caçoavam de
mim, mas agora eu gostaria de ter namorados como as outras meninas e sair nas
noites de sábado, mas nenhum rapaz sairá comigo porque nasci sem nariz — embora
eu dance bem, tenha um tipo bonito e meu pai me compre lindas roupas.
Passo o dia inteiro sentada, me olhando e
chorando. Tenho um grande buraco no meio do meu rosto que: amedronta as pessoas
e a mim mesma, e não posso, portanto, culpar os rapazes por não quererem sair
comigo. Minha mãe me ama muito, mas chora muito quando olha para mim.
Que fiz eu para merecer um destino tão
terrível? Mesmo que eu tivesse feito algumas coisas ruins, não as fiz antes de
ter um ano de idade, e eu nasci assim. Perguntei a papai e ele disse que não
sabe, mas que pode ser que eu tenha feito algo no outro mundo, antes de nascer,
ou que eu esteja sendo punida pelos pecados dele. Não acredito nisto porque ele
é um homem muito bom. Devo me suicidar?
Sinceramente,
Desesperada.”
Extraído de Miss Lonelyhearts, de Nathanael West, pp. 14-15.
Copyright 1962 por New Directions. Reimpressa por permissão de New Directions,
Publishers
N. do T. — Corações Solitários.
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