João Huss, encarnação anterior de Allan Kardec,
viveu num século de contradições religiosas. Pregador da Universidade de Praga,
nasceu em Hussinet, perto de Fichtelgebirge, na Boêmia, cerca da fronteira
bávara e do limite lingüístico entre o alemão e o checo, em 1373, e morreu
queimado na fogueira em 1415.
Huss foi influenciado pelas idéias de Wiclef
(1333-1384), teólogo e reformador inglês. Wiclef desenvolveu alguns tratados
sobre o dominiun, ou seja, a idéia de que o poder vem de Deus e
apenas é legítimo naqueles que se encontram em estado de graça. As suas teses
contrariavam os interesses da Igreja católica: expressava-se contra o poderio
papal, os votos religiosos, os benefícios e riquezas do clero, as indulgências
e a concepção tradicional acerca do sacerdócio. Com isso sofreu inúmeras admoestações
por parte do clero.
Huss, como professor da Universidade de Praga,
distinguiu-se nas discussões mais abstratas e no conhecimento de Aristóteles,
da Bíblia e dos Santos Padres. Buscou no escritos de Matias Janov e Chtitny a
solução para as suas inquietudes religiosas. Matias Janov e Chtitny propagavam
a consideração da Bíblia como única fonte de verdade e de fé. Essa influência
afastou Huss da doutrina católica e sua heterodoxia se reforçou na leitura das
obras de Wiclef, particularmente do Dialogus e Trialogus,
trazidas de Oxford por Jerônimo de Praga.
A Igreja, naquela época, estava em crise: dividida
pelo Cisma do Ocidente, ameaçada pela ressurreição das antigas heresias e a
formulação de novos postulados antidogmáticos. Eis que surge na Boêmia um outro
foco, muito mais perigoso que o de Wiclef. É que Huss apresenta-se como
reformador religioso e como caudilho nacional, papel muito semelhante,
desempenhado um século mais tarde, por Lutero na Alemanha.
Huss, tradutor das obras de Wiclef, propagou várias
teses antidogmáticas. Baseando-se nos escritos de Wiclef, negou a necessidade
de confissão auricular, atacou como idolátrico o culto de imagens, da Virgem
Maria e dos Santos e a infalibilidade papal. Com isso, teve a ira do clero
contra a sua pessoa, que após várias admoestações acabou sendo queimado no dia
06/07/1415. Ao seu lado morreu Jerônimo de Praga.
A sua luta não foi em vão. Depois disso, houve mais
tolerância entre os credos religiosos.
Fonte de Consulta
CANTU, C. , SEIFERT, J. L. Os Titãs da
Religião.
VERBO ENCICLOPEDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA.
Lisboa, Editorial Verbo, 1976.
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