19 setembro 2025

Mediunidade (Vida e Comunicação) [Resumo de Livro]

Título do livro: Mediunidade (Vida e Comunicação): Conceituação da Mediunidade e Análise Geral dos seus Problemas Atuais. O propósito desta obra é esclarecer a natureza e a função da mediunidade como faculdade humana, buscando unir ciência, filosofia e moral, evitando tanto o misticismo quanto o ceticismo materialista.

Capítulos do livro: — Conceito de Mediunidade — Mediunidade Estática — Mediunidade Dinâmica — Energia Mediúnica — O Ato Mediúnico — O Mediunismo — A Mesa e o Pão — O Vampirismo — A Moral Mediúnica — Relações Mediúnicas — Mediunidade Zoológica — Medicina Espírita — Grau da Mediunidade — Mediunidade Prática — Mediunidade e Religião — Problemas da Desobsessão.

Sobre o autor: José Herculano Pires (1914-1979) foi jornalista, filósofo e conferencista espírita — o "metro que melhor mediu Allan Kardec" —, e por isso, considerado um dos maiores pensadores espíritas do Brasil.

Sobre a natureza da mediunidade. É uma faculdade humana natural, presente em maior ou menor grau em todas as pessoas. Não é um privilégio dos bem dotados. Não depende de religião, cultura ou crença. Está ligada à estrutura do ser humano, sendo uma interligação entre os dois planos, o físico e o espiritual. Sua principal finalidade é ajudar a humanidade a progredir material e espiritualmente.  

Ao longo do livro, Herculano Pires insiste na necessidade de educar a mediunidade, ressaltando que a prática sem preparo pode gerar desequilíbrios psicológicos e espirituais. Para ele, estudo, disciplina e ética são indispensáveis. O médium deve desenvolver virtudes como humildade, responsabilidade e desapego, a fim de evitar ilusões, vaidade ou exploração indevida.

O autor também alerta contra os perigos de uma mediunidade mal conduzida, como a obsessão e a mistificação. Defende que apenas dentro da perspectiva espírita — com base nos princípios de Kardec — é possível compreender plenamente a natureza mediúnica e colocá-la a serviço do bem coletivo.

Herculano, grande conhecedor do espiritismo, reforça a ideia de que a mediunidade nada mais é do que um instrumento de aperfeiçoamento moral e espiritual, e por isso exige responsabilidade.

 

18 setembro 2025

Atenção e Concentração

A atenção e a concentração são duas atitudes relevantes para a aprendizagem e o desempenho nas diversas atividades do dia a dia. São dois processos mentais relacionados, mas não idênticos.

Atenção. Em sua acepção mais geral é a "direção especial do espírito a um objeto". É por ela que exercitamos a capacidade de selecionar, entre vários estímulos, aqueles que merecem foco no momento. Concentração. É a manutenção da atenção em um único objeto, tarefa ou pensamento por um período prolongado de tempo.

Há muitos fatores — de ordem interna e externa — que influenciam a atenção e a concentração. Internamente, temos: motivação, falta de interesse pela atividade, estado emocional... Externamente, citamos: ambiente silencioso ou barulhento, organização do espaço, estímulos visuais...

Para que possamos melhorar a atenção e concentração, devemos adotar algumas estratégias, tais como, criar um ambiente adequado (silencioso, organizado), praticar técnicas de respiração profunda, dormir bem e manter alimentação equilibrada, definir metas claras e objetivas para cada tarefa.

Em termos espirituais e mediúnicos, José Herculano Pires, no capítulo 7, de seu livro Mediunidade, diz-nos que a concentração dos pensamentos numa reunião mediúnica não corresponde ao tipo de concentração individual de uma pessoa num determinado problema a rever ou num estudo a fazer. Trata-se de uma concentração coletiva de pensamentos voltados para um mesmo alvo, por exemplo, Jesus. Nesse sentido, a concentração não deve ser forçada, mas tão logo o pensamento se desvia para outros rumos, faz-se que ele retorne suavemente à ideia centralizadora.

A capacidade de se alhear do mundo externo, isto é, de se concentrar, é o primeiro passo no processo de desenvolvimento mediúnico. Para tanto, deve o médium aguçar o interesse e o entusiasmo, fortalecendo a vontade. O estudo da Doutrina Espírita, a utilização da prece e a disposição de nunca estar ocioso aumentam sobremaneira esse poder de concentração, possibilitando o direcionamento dos pensamentos às esferas superiores do mundo espiritual.

16 setembro 2025

Jesus e César

 A relação entre Jesus e César pode ser vista:

1) Histórico-política: César simboliza o poder imperial romano, que dominava a Palestina na época de Jesus; Jesus, por outro lado, representava uma proposta espiritual e ética que não se confundia com o poder político, mas também não o ignorava; a frase “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” mostra essa distinção: reconhecer a legitimidade da ordem civil sem confundi-la com a esfera divina.

2) Teológica: O contraste entre o Reino de Deus e o reino terreno: César representa a ordem mundana, marcada por poder, impostos, hierarquia e violência; Jesus anuncia um Reino baseado em justiça, amor, humildade e serviço. Enquanto César exigia culto e lealdade absoluta, Jesus rejeita esse tipo de idolatria ao Estado, reafirmando que só Deus merece adoração plena.

3) Filosófico e ético: O dilema entre obedecer às leis humanas e seguir a consciência espiritual. O ensinamento de Jesus inspira reflexão sobre até que ponto é legítimo obedecer à autoridade civil, principalmente quando esta entra em conflito com princípios éticos superiores.

Que poderia ter acontecido se Jesus recorresse à proteção de César? 

Se Jesus tivesse aderido à Cesar em vez de manter sua missão espiritual e profética, o mundo provavelmente teria sido muito diferente. Eis alguns cenários possíveis:

1) O desaparecimento do Cristianismo como o conhecemos: Se Jesus tivesse se submetido a César, sua mensagem teria sido diluída no pragmatismo político e talvez não tivesse passado de mais um movimento religioso local, integrado ao império romano. Sem a cruz e sem a resistência à lógica do poder, dificilmente haveria a mesma inspiração para mártires e comunidades que expandiram a fé.

2) A fusão entre religião e poder já no início: Ao seguir César, Jesus teria legitimado o império romano como parte do plano divino. Isso poderia ter criado uma religião imperial desde o começo, semelhante ao culto ao imperador. O cristianismo poderia ter se tornado apenas um braço religioso do Estado, sem a força transformadora de questionar injustiças.

3) Perda da ética revolucionária: O Sermão da Montanha, a opção pelos pobres, a crítica aos hipócritas e aos poderosos perderiam força. A ética de amor ao inimigo e perdão poderia ter sido substituída por uma moral de obediência e lealdade ao império. A mensagem de Jesus seria adaptada para justificar a ordem existente, e não para transformá-la.

4) Impacto cultural e histórico: Sem o cristianismo como religião independente, a história do Ocidente seria outra: Talvez não houvesse a mesma noção de dignidade da pessoa humana, vinda da ideia de que todos são filhos de Deus. Nem a mesma crítica ética às estruturas de poder. A cultura romana e grega teriam dominado sem contrapeso, e conceitos como caridade universal, misericórdia e perdão talvez não tivessem se espalhado.

Jesus e César 

Que seria do Cristianismo se Jesus recorresse à proteção de César?

Possivelmente, alguns patrícios simpáticos à nova doutrina se encarregariam da obtenção do alto favor. Legiões de soldados viriam garantir o Messias e os amigos do Evangelho alinhar-se-iam à força da espada, não mais de ouvidos espontâneos, mas com a atenção absorvida na postura oficial, Pedro e João, Tiago e Felipe adotariam certas normas de vestir, segundo os programas imperiais, e o próprio Cristo, naturalmente, não poderia ensinar as verdades do Céu, sem prévia audiência das autoridades convencionalistas da Terra. Provavelmente, o Mestre teria vencido exteriormente todos os adversários e dominaria o próprio Sinédrio.

Mas... e depois?

Sem dúvida, ter-se-ia fundado expressiva e bela organização político-religiosa, repleta de preceitos filosóficos, severos e regeneradores. Mateus teria envergado a túnica do escriba estilizado, enquanto Simão gozaria de honras especiais e o próprio Jesus passaria à condição de um Marco Aurélio, cheio de austeridade e nobreza, interessado em ensinar a justiça e a sabedoria, mas em cujo reinado se verificariam perseguições das mais terríveis e sangrentas ao Cristianismo, sem que as ocorrências dolorosas lhe merecessem consideração.

O Mestre, contudo, compreendia a necessidade das organizações humanas, exemplificou o respeito à ordem política, mas, acima de tudo, serviu ao Reino de Deus, de que era representante e portador, neste mundo de experiências provisórias, dirigindo seu Evangelho de Amor, não só ao homem físico, mas essencialmente ao homem espiritual.

Sabia Ele que as organizações religiosas, propriamente ditas, existiam entre as criaturas, muito antes dos templos de Baal. Urgia, porém, entregar aos filhos da Terra a herança do Céu, integrá-los na doutrina viva do bem e da verdade, estabelecer caminhos entre a sombra e a luz, aperfeiçoar caracteres, purificar sentimentos, elevar corações, instituir a universidade do Reino de Deus e sua justiça. Entendia que a sua obra era de semeadura, germinação, crescimento, tempo e trabalho constante.

E plantou com o seu exemplo o Cristianismo sublime no campo da Humanidade, ensinando o acatamento a César, cooperando no aperfeiçoamento de suas obras, mas fazendo sentir que César constituía a autoridade respeitável no tempo, enquanto o Pai guarda o poder divino na eternidade.

Na exemplificação do Cristo, o Espiritismo evangélico, na sua condição de Cristianismo redivivo, deve procurar as suas diretrizes, edificantes no terreno da nova fé. As organizações políticas, de natureza superior, são sempre dignas e respeitáveis e todos os seguidores do Evangelho devem honrar-lhes os programas de realização e progresso coletivo, acatando-lhes as instituições e contribuindo para o seu engrandecimento, na esfera evolutiva, mas não se pode exigir, da política de ordem humana, a solução dos problemas transcendentes de ordem espiritual.

Na atualidade do mundo, o Espiritismo é aquele Consolador prometido, enfeixando nova e bendita oportunidade de redenção. Em seu campo doutrinário, a verdade de Deus não está algemada, seus felizes estudantes e seguidores podem aquecer o coração ao sol da liberdade íntima, sem obstáculos na marcha da consciência para a realização divina.

Aos espiritistas dos tempos novos, portanto, surgem lições vivas, que não podes relegar ao esquecimento.

O sacerdócio organizado costuma ser o cadáver do profetismo, Oculto externo nem sempre favorece a luz da revelação. A teologia, na maior parte das vezes, é o museu do Evangelho.

Urge, pois, em todas as circunstâncias, não olvidar Aquele que auxiliou romanos e judeus, atendendo ao povo e respeitando as autoridades, dando a César o que era de César e a Deus o que é de Deus, ensinando, porém, que o seu reino ainda não é deste mundo. (Capítulo 8 do livro Coletânea do Além, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de F. C. Xavier)


08 setembro 2025

Jesus e o Jugo Romano

O ambiente em que Jesus viveu foi marcado pelo domínio romano sobre a Palestina. Esse jugo político e econômico pesava duramente sobre a Palestina [Judeia, Galileia, Samaria etc.] muito mais do que em relação a outros povos. Os judeus viam na ocupação estrangeira não apenas uma opressão material, mas também um dano espiritual, já que a nação escolhida por Deus estava submetida a um império pagão.

O jugo romano na Palestina incluía: a) Tributos expressivos:  a carga tributária era considerada pesada e injusta; b) Conquista: em 63 a.C., a região da Judeia foi incorporada ao Império Romano; c) Administração: Roma mantinha governadores, soldados, e cobradores de impostos (publicanos); c) Tensões religiosas e políticas: Para os judeus, o domínio romano era um sinal de opressão e até humilhação, já que sua esperança messiânica era a restauração do Reino de Israel.

Nesse cenário, surgiram diferentes posturas: os zelotes defendiam a resistência armada, os fariseus buscavam preservar a identidade religiosa, os saduceus preferiam a conciliação com Roma e os essênios retiravam-se da vida pública. Cada grupo expressava, à sua maneira, uma tentativa de responder à tensão entre a fé judaica e o poder imperial.

Jesus, em vez de se alinhar às correntes que pregavam a violência ou a submissão, elaborou uma dimensão mais profunda da liberdade. Na frase lapidar “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, revelou não apenas prudência política, mas sobretudo a distinção entre a autoridade temporal e a soberania divina. Para Jesus, a verdadeira libertação não consistia em expulsar os romanos, mas em transformar o coração humano e instaurar o Reino de Deus, um reino de justiça, paz e amor que ultrapassa qualquer fronteira política.

Jesus não ignorou o jugo romano. Inspirou-se na revolução espiritual que desarmava o ódio e denunciava a idolatria do poder. Essa postura, ao mesmo tempo submissa e libertadora, demonstrou que a liberdade plena não depende de circunstâncias externas, mas de uma fidelidade incondicional a Deus. Por isso, a mensagem de Jesus permanece atual, recordando que nenhuma opressão política pode sufocar a dignidade e a esperança daqueles que se abrem ao Reino.

 

06 setembro 2025

Dai a César o que é de César

Dai a César o que é de César” é um subtema do capítulo XI — “Amar o Próximo como a Si Mesmo”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Eis os demais itens: O Maior Mandamento — Instruções dos Espíritos: — A Lei de Amor — O Egoísmo — A Fé e a Caridade — Caridade com os Criminosos. Este assunto pode ser relacionado ao dinheiro, à riqueza, à autoridade, ao poder e à política.

O texto evangélico. Então, retirando-se os fariseus, projetaram entre si comprometê-lo no que falasse. E enviaram-lhe seus discípulos, juntamente com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que és verdadeiro, e não se te dá de ninguém, porque não levas em conta a pessoa dos homens; dize-nos, pois, qual é o teu parecer: é lícito dar tributo a César ou não? Porém Jesus, conhecendo a sua malícia, disse-lhes: Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me cá a moeda do censo. E eles lhes apresentaram um dinheiro. E Jesus lhes disse: De quem é esta imagem e inscrição? Responderam-lhe eles: De César. Então lhes disse Jesus: Pois dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E quando ouviram isto, admiraram-se, e deixando-o se retiraram. (Mateus, XXII: 15-22). (Marcos, XII: 13-17).

Um esclarecimento inicial. A frase “Dai a César o que é de César” não se refere a Júlio César (100 a.C. - 44 a.C.), mas sim ao imperador romano que governava no tempo de Jesus. Na época, o imperador era Tibério César (14 d.C. - 37 d.C.), sucessor de Augusto. A palavra “César” tinha se tornado um título usado pelos imperadores romanos (como mais tarde “Czar” ou “Kaiser”).

Para bem entendermos a frase proferida, devemos recuar no tempo e verificar o contexto histórico-político da época, em que o povo da Palestina estava sob o jugo romano. Jesus era um judeu, como os outros, mas tinha grupos que eram contrários ao seu pensamento: os fariseus e o herodianos. Ao ser indagado se devia pagar os impostos aos romanos, ficou numa encruzilhada: se negasse, era chamado de rebelde pelos romanos; se aceitasse, de traidor pelos judeus. O que fez? Pediu que lhe mostrasse uma moeda, na qual estava a efígie de César. Daí, disse: “Dai a César o que é de César”, e acrescentou “e a Deus o que é de Deus”.

acréscimo “e a Deus o que é de Deus” é uma frase lapidar, pois os governadores impunham o seu poder de forma arbitrária. A pregação de Jesus baseava-se na libertação do povo judeu. Por isso, respeitava o poder do momento — “dar a César o que é de César”, mas que os judeus não se esquecessem do reino dos céus, da vida espiritual, da verdadeira vida.

Em se tratando do aspecto religioso, Jesus Cristo compara o dinheiro ao deus Mamon, que compete com do Deus verdadeiro, enaltece o óbolo da viúva e profere a frase: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Seguindo os seus exemplos, os primeiros cristãos vendiam os seus bens e com o dinheiro arrecadado socorriam aos mais pobres em suas necessidades.

“A questão proposta a Jesus era motivada pela circunstância de haverem os judeus transformado em motivo de horror o pagamento do tributo exigido pelos romanos, elevando-o a problema religioso. Numeroso partido se havia formado para rejeitar o imposto. O pagamento do tributo, portanto, era para eles uma questão de irritante atualidade, sem o que, a pergunta feita a Jesus: "É lícito dar tributo a César ou não?", não teria nenhum sentido. Essa questão era uma cilada, pois, segundo a resposta, esperavam excitar contra ele as autoridades romanas ou os judeus dissidentes. Mas "Jesus, conhecendo a sua malícia", escapa à dificuldade, dando-lhes uma lição de justiça, ao dizer que dessem cada um o que lhes era devido”.

Esta máxima: "Dai a César o que é de César" não deve ser entendida de maneira restritiva e absoluta. Como todos os ensinamentos de Jesus, é um princípio geral, resumido numa forma prática e usual, e deduzido de uma circunstância particular. Esse princípio é uma consequência daquele que manda agir com os outros como quereríamos que os outros agissem conosco. Condena todo prejuízo moral e material causado aos outros, toda violação dos seus interesses, e prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja ver os seus respeitados. Estende-se ao cumprimento dos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, bem como para os indivíduos.

Se vivemos em sociedade devemos respeitar a lei dos homens, porém, sem jamais nos esquecermos de que Deus está no leme de tudo e de todos.