10 janeiro 2010

Dor e Sofrimento

Dor. É a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anômalo de um órgão. Sofrimento. Sentimento de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que pode repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.

Na antiguidade, os papiros do Egito e os documentos da Pérsia descreviam a ocorrência da dor e o desenvolvimento de medidas para o seu controle. Como naquela época a dor era atribuída aos maus espíritos, a Medicina era exercida pelos sacerdotes, que empregavam remédios naturais, sacrifício e prece para aliviar a dor. Os primeiros instrumentos analgésicos vieram da observação dos animais, que se banhavam em barro para proteger-se das picadas dos insetos e comiam plantas para se purgar.

De acordo com a Medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas.

A “dor é uma benção que Deus envia aos seus eleitos”. É aguilhão, forja, fornalha, lapidaria, crisol e rútila. É agente de progresso, moeda luminosa, “lixívia que saneia e embranquece a alma enodoada pelos mais hediondos crimes”. É “agente de fixação, expondo-nos a verdadeira fisionomia moral”. É “valioso curso de aprimoramento para todos os aprendizes da escola humana”. É “o instrumento invisível que Deus utiliza para converter-nos, a pouco e pouco, em falenas de luz”. É “nossa companheira – lanterna acesa em escura noite – guiando-nos, de retorno, à Casa do Pai Celestial”. (1)

A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor

A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (2)

Algumas frases sobre o sofrimento. “O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”. “O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação”. “Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador”. “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor”. (1)

O sofrimento não é castigo de Deus. A noção de castigo está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Allan Kardec, no cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc. Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprendendo que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida.

É da Lei Divina que o ser humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica determinação na mudança de atitude e comportamento.

O Espiritismo é o consolador prometido por Jesus. Meditando sobre os seus princípios vamos construindo um edifício em bases sólidas, ou seja, na fé raciocinada, na fé sob o jugo da razão e da lógica.

(1) EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995

(2) IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/dor-e-sofrimento

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Os atos de sacrifício desenvolvem as radiações psíquicas. Há uma espécie de rastro luminoso deixado, no Espaço, pelos espíritos dos heróis e dos mártires.

São necessários os infortúnios, as angústias, para dar à alma sua suavidade, sua beleza moral, para despertar seus sentidos adormecidos.

Michelangelo havia adotado, como regra de conduta, os preceitos seguintes: “Entra em ti mesmo e faze o que faz o escultor com a obra que quer tornar bela; suprime tudo o que é supérfluo, torna nítido o que é obscuro, leva a luz a toda parte e não para de burilar tua própria estátua”.

O gênio não é somente o resultado de trabalhos seculares; é, também, a apoteose, a coroação do sofrimento. De Homero a Dante, a Camões, a Tasso, a Milton, e, além deles, todos os grandes homens têm sofrido. A dor fez com que suas almas vibrassem; inspirou-lhes a nobreza de sentimento, a intensidade de emoção, que eles souberam traduzir com os acentos geniais e que os imortalizaram

Suprimi a dor e suprimireis, com o mesmo gesto, o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de suportá-la.

No fundo, a dor é apenas uma lei de equilíbrio e educação.

A dor e o prazer são duas formas de sensação.

A dor física produz sensações; o sofrimento moral, sentimentos

Epiteto dizia: “As coisas são apenas o que imaginamos que elas sejam”. Assim, pela vontade, podemos domar, vencer a dor, ou, pelo menos, utilizá-la em nosso proveito, fazer dela um instrumento de elevação.

É bastante difícil fazer com que os homens entendam que o sofrimento é bom. Cada qual gostaria de refazer e embelezar a vida do jeito que quisesse, enfeitá-la com todos os atrativos, sem pensar que não há bem sem-dor nem ascensão sem-esforços. (Notas extraídas do capitulo 26  "A Dor", do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Léon Denis. 






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