Consultando o "Dicionário
Bíblico", verificamos que os antropomorfismos do Velho Testamento são
verdadeiras parábolas, pois como o ser humano tem dificuldade de explicar a
origem do homem e do mundo, ele se vale dos mitos. Entre tais mitos,
encontra-se aquele que está relatado na Bíblia: “Deus, do pó da terra, cria
Adão; depois, sopra-lhe as narinas e lhe dá vida. Não satisfeito, retira-lhe
uma das costelas e cria a Eva, que será a sua companheira no paraíso".
Segundo a letra, este texto carece de sentido; há necessidade de uma
interpretação metafórica.
As parábolas, no judaísmo tardio, eram
formas de transmitir conhecimento. Os rabinos, ou melhor, os doutores
israelenses, aqueles que explicavam a lei entre os hebreus, usavam-na
intensivamente. Jesus, ao ensinar por parábolas, nada mais fazia do que aplicar
o método de ensino utilizado pelos escribas. A parábola, por seu turno, é
sempre comparação. Jesus segue o modelo: “A que irei comparar?” A fórmula usada
é: “O reino de céus é semelhante...” Na Parábola do Semeador ele diz: “O Senhor
saiu a semear...”.
A parábola contém o enigma, o símbolo e
o apocalipse. São revelações de imagens que necessitam de uma explicação
posterior. A parábola é um meio catequético e estilístico bem adaptado ao povo
judeu. Não resta dúvida que era um método de ensino já enraizado na cultura
daquele povo. Jesus, dando continuidade ao método, dizia: “Aquele que tem
ouvidos de ouvir, ouça”; “Aquele que tem olhos de ver, veja”. Com isso,
dava-nos a entender que as palavras estavam acima delas mesmas, isto é,
precisavam de uma interpretação simbólica.
As parábolas aparecem como uma condição
necessária para que a razão se abra à fé: quanto mais penetrarmos no seu
enigma, no seu simbolismo, mais compreenderemos as coisas espirituais. O
aspecto velador das parábolas é também providencial. Lembremo-nos de que depois
de proferir publicamente um ensinamento, Jesus se reunia com os seus apóstolos
para lhes dar uma explicação mais detalhada. Ainda assim, não lhes dizia tudo,
porque estes não tinham capacidade de tudo absorver.
As parábolas são divididas em duas
categorias: 1) com ênfase no conteúdo doutrinal; 2) com ênfase no aspecto
moralizante. A Parábola do Semeador e a Parábola
do Grão de Mostarda, por exemplo, são arroladas na ênfase
doutrinal; a Parábola do Amigo Incômodo, do Juiz
Injusto e do Bom Samaritano,
na ênfase moralizante. Esta distinção não deve ser exagerada, porque tanto as
do primeiro grupo quanto as do segundo grupo contêm aspectos doutrinários e
morais.
A parábola é um aprendizado contínuo.
Para desfrutarmos de todas as suas instruções, precisamos visitá-las
periodicamente, pois a cada nova leitura um novo conhecimento pode ser
absorvido.
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Parábola – do grego parabolé, que
vem de pará (=ao longo de, ao lado de, passando perto, junto
de) e bolé (=o que foi jogado). Bolé vem do
verbo grego bállo, que significa jogar, lançar. Para expressar o
ato de lançar uma pedra, que passa de raspão, os gregos usam o verbo paraboleúomai. Parábola
é arriscar-se, passar perto, raspar. Por isso, as várias interpretações acerca
das parábolas contadas por Jesus. São ensinamentos que passam de lado, não
atingindo diretamente as pessoas. Há necessidade de uma explicação, de uma
análise mais aprofundada.
Jesus transmitia os seus ensinamentos
através de histórias (parábolas), extraídas da vida cotidiana. A compreensão
dessas passagens evangélicas não vem de mão beijada. É preciso o studium que,
em latim, significa empenho, zelo, esforço. Nada se aprende brincando. Há necessidade de
concentração, de aplicação cuidadosa de nossa mente na resolução de um
problema, de uma dificuldade.
Um exemplo de esforço, de dedicação à
causa evangélica, é a passagem relatada no livro I Fioretti,
de São Francisco de Assis, em que manda Frei Bernardo a Bolonha, para ali fazer
frutificar os ensinamentos cristãos. Frei Bernardo, munido da cruz do Cristo,
para lá se dirige, sofrendo todo o tipo de opróbrio, tanto das crianças como
das pessoas mais velhas. Um sábio juiz, observando a sua virtuosa constância,
pensa: “É impossível que este não seja um santo homem”. Aproximando-se e
conversando com Frei Bernardo, oferece-lhe um lugar para louvar o Senhor. Frei
Bernardo, porém, retirou-se e voltou para São Francisco, dizendo: “O local está
preparado na cidade de Bolonha. Manda, pois, pai, frades para que lá morem,
porque para mim nessa cidade não há mais grande lucro; ao contrário, pela
grande honra que lá me tributam, temo mais perder do que ganhar”.
Os discípulos do Senhor alegravam-se pelas injúrias e entristeciam-se com as honras. Iam pelo mundo como peregrinos e forasteiros, nada levando consigo, a não ser Cristo. Geralmente, temos olhos para não ver. Jesus, com as parábolas, abre-nos a visão, estimula-nos a pensar e a repensar, tentando encontrar uma explicação mais acurada para aquilo que parece nebuloso, sem nexo. Como, num mundo materializado, pode-se entender aquela alma que larga tudo por um ideal, levando consigo apenas o Cristo?
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