O céu e o inferno não viveram apenas nas
mitologias. Passaram imediatamente para as religiões. Cogita-se que o céu tenha
sido o primeiro objeto de culto da humanidade, geralmente associado às quase
ubíquas divindades uranianas. A teologia cristã, por exemplo,
usa indistintamente a palavra céu como se fosse o termo dos astrônomos e
astronautas ou a morada de Deus, em que se reúnem os bem-aventurados. Diz-se
que Jesus veio do céu e a ele voltou. Quando desceu aos infernos, fê-Lo para
nos salvar da morte do pecado.
O céu é visto pelas diversas religiões. Para
os budistas, é a morada dos deuses, ou Devas, isto é, dos espíritos
que, pelos seus méritos, conquistaram uma situação privilegiada. Para os chineses,
o céu é um trapézio regular invertido, dividido em compartimentos paralelos, os
quais constituem cada um dos andares. Este trapézio assenta sobre o monte Meru,
que emerge do oceano. Para as religiões pagãs clássicas, o céu foi
a personificação da abóbada celeste. Na Bíblia, serve para designar o lugar
donde veio Cristo e para onde voltou, que é o lugar dos bem-aventurados.
A teologia católica reconhece três céus: o primeiro é o da
região do ar e das nuvens; o segundo, o espaço em que giram os astros; e o
terceiro, para além deste, é a morada do Altíssimo, a habitação dos que o
contemplam face a face.
A teologia católica, baseada na tese da
materialidade do universo, acreditava que o céu e o inferno eram lugares
circunscritos. A crença na materialidade da abóbada celeste, supondo os astros
nela fixos, vem de longa data. Aristóteles, por exemplo, reservava para as
estrelas o oitavo céu ou firmamento. Até a Idade
Média considerava-se a Terra como sendo o centro do universo. Copérnico, no
Século XVI, quebra a tradição milenar e coloca o Sol no centro do Universo. Com
isso a Terra entrou no Céu. Mais tarde, Galileu, com a descoberta do telescópio
(1609), corrobora tal afirmação. A Ciência parecia ir contra a Bíblia; mas a
Bíblia ensina como ir ao Céu, não como ele foi feito.
A Doutrina Espírita, já banhada pelas luzes da
ciência, tem outra visão do céu. Ele não é mais um lugar circunscrito, mas um
estado de alma, um estado de consciência da pessoa. Para o Espiritismo,
a palavra céu indica o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos
os mundos superiores em que os Espíritos gozam de todas as suas faculdades, sem
as tribulações da vida material nem as angústias inerentes à inferioridade.
Por que temos facilidade em retratar o inferno e
dificuldade com relação ao céu? Isso se deve porque o planeta Terra ainda é um
mundo de provas e expiações, em que o mal predomina sobre o bem. Quando ele for
elevado a mundos mais evoluídos, com certeza o pintaremos com cores mais
brilhantes. Pergunta-se: como visualizar algo que está além do nosso cotidiano?
Com o decorrer do tempo, porém, o planeta Terra passará para a condição de
mundo regenerado, em que o bem predominará sobre o mal. Aí, sim, humanidade
poderá expressá-lo com mais naturalidade.
A imagem do céu deve ser extraída dos mundos
felizes de que nos falam os Espíritos superiores. Nada de guerra, fome, inveja,
rancor, egoísmo. Nesse mundos, todos são irmãos uns dos outros, e procuram mais
o bem comum do que o próprio interesse. Isto é o que devemos plasmar para o
futuro da humanidade.
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