03 julho 2013

Revista Espírita

Revista Espírita é uma coletânea de fatos e de explicações que complementam os princípios doutrinários desenvolvidos em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Em 15 de novembro de 1857, na casa do Sr. Dufaux, por intermédio da médium Sra. E. Dufaux, começou a ruminar a ideia de publicar um jornal espírita. No item "Revista Espírita", do livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, há o relato da consulta feita aos benfeitores espirituais (ver abaixo). 

A Revista Espírita é composta de 12 volumes; oferece-nos o registro minucioso das pesquisas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. No conjunto da Codificação, é um verdadeiro documentário, um valioso relatório científico e histórico. Pode-se dizer que a Revista Espírita foi o principal instrumento de pesquisa de Allan Kardec, pois através dela, captou as reações do público. Além disso, constituiu-se num verdadeiro laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas pelo mundo todo, eram examinadas à luz dos princípios de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, controladas pelas experiências da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

O esforço de publicar a Revista Espírita prende-se à composição da história do Espiritismo. Nesses 12 volumes e onze anos e quatro meses de trabalho, estão arrolados as reuniões, as pesquisas, os trabalhos publicados, os estudos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, os trabalhos dos Centros Espíritas, bem como as contribuições das sociedades estrangeiras a ela ligadas. Nela, estão catalogados os problemas que não puderam ser esmiuçados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns: mediunidade curadora, os casos de obsessão e possessão, o problema das mistificações, a comunicação de pessoas vivas, entre outros.

Cabe ressaltar que há uma diferença entre a história do Espiritismo, retratada na Revista Espirita, daquela feita por Arthur Conan Doyle. Kardec estabelece as duplas ligações do Espiritismo com o Cristianismo, de um lado, e com o Druidismo, de outro, e prova que antes das ocorrências espíritas de Hydesville, nos Estados Unidos, com as irmãs Fox, narradas por Arthur Conan Doyle, em História do Espiritismo, já se realizavam sessões espíritas na França.

Para ilustração, citamos os 6 períodos de desenvolvimento da Doutrina Espírita, expostos na Revista Espírita de 1863: 1) curiosidade; 2) filosófico; 3) luta; 4) religioso; 5) intermediário; 6) renovação social. O período de curiosidade caracterizou-se pelos fenômenos das mesas girantes. O período filosófico coincidiu com o lançamento de O Livro dos Espíritos (18/04/1857). O período de luta identificou-se com o auto-de-fé de Barcelona (1860), em que os livros espíritas foram queimados em praça pública. Não houve explicação para o período intermediário. O período de renovação social preconizava a mudança de hábitos e atitudes de toda a humanidade.

Fonte de Consulta


KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1858. Tradução de Júlio de Abreu Filho. São Paulo: Edicel, s.d.p.

15 de novembro de 1857


(Em casa do Sr. Dufaux; médium: Sra. E. Dufaux)


A REVISTA ESPÍRITA

Pergunta — Tenho a intenção de publicar um jornal espírita: julgais que o conseguirei e me aconselhais a fazê-lo? A pessoa a quem me dirigi, Sr. Tiedeman, não parece resolvida a me prestar o seu concurso pecuniário.

Resposta — Consegui-lo-ás, com perseverança. A ideia é boa; preciso se faz, porém, deixá-la amadurecer mais.

P. — Temo que outros me tomem a dianteira.

R. — Importa andar depressa.

P. — Não quero outra coisa, mas falta-me tempo. Tenho dois empregos que me são necessários, como o sabeis. Desejara renunciar a eles, a fim de me consagrar inteiramente à minha tarefa, sem outras preocupações.

R. — Por enquanto, não deves abandonar coisa alguma; há sempre tempo para tudo; move-te e conseguirás.

P. — Devo agir sem o concurso do Sr. Tiedeman?

R. — Age com ou sem o seu concurso; não te consumas por sua causa. Podes prescindir dele.

P. — Eu pretendia publicar um primeiro número como ensaio, a fim de lançar o jornal e marcar data, e continuar mais tarde, se for possível. Que vos parece?


R. — A ideia é boa, mas um só número não bastará; entretanto, é conveniente e mesmo necessário, para abrir caminho. Será preciso que lhe dispenses muito cuidado, a fim de assentares as bases de um bom êxito durável. A apresentá-lo defeituoso, melhor será nada fazer, porquanto a primeira impressão pode decidir do seu futuro. De começo, deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos ulteriores, será
poderoso auxiliar.

NOTA — Apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a1.º de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa.

Extraído de Obras Póstumas, de Allan Kardec.






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