28 fevereiro 2012

Silêncio

De acordo com o dicionário, podemos dizer que o silêncio é a ausência de qualquer ruído, um estado de sossego, de repouso.  Para a filosofia, porém, o silêncio não se confunde com ausência de qualquer ruído; ele representa apenas a abolição da palavra ou da linguagem. Em termos metafísicos, a experiência do silêncio gera uma angústia existencial: "O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora", diz Pascal. Há, também, a experiência mística, que liga o silêncio à oração, à meditação, ao ascetismo e à solidão.

O silêncio segundo alguns pensadores. Para Confúcio, “O silêncio é um amigo que nunca atraiçoa”; para Thomas Browne, “Não penses que o silêncio é a sabedoria dos tolos. Pelo contrário, no devido tempo e no devido lugar, é a honra dos sábios, que não possuem a fraqueza, senão a vontade de calar”; para Alejandro Casona, “Não falar nunca de uma coisa não quer dizer que não se sinta”; para Marcel Arnac, “Saber falar é bom; saber calar é melhor. Quantos cretinos passaram por pessoas inteligentes, simplesmente porque, tendo sabido calar, pensaram as mesmas cretinices que os outros pensaram, mas não as disseram”.

O silêncio é uma atitude fundamental do ser humano, que apresenta aspecto negativo e positivo. Em termos negativos, alude-se à passividade, ao isolamento e à incomunicabilidade. Positivamente, é o momento de reflexão da palavra, da meditação, da assimilação daquilo que foi dito. Sem o silêncio o indivíduo ficaria muito restrito às comunicações verbais sem os fundamentos da profundidade. Ouviria e passaria sem que pudesse ter um peso na evolução do ser humano.

Na Bíblia, há várias passagens acerca do silêncio, tanto no sentido negativo quanto no sentido positivo. A loquacidade, por exemplo, é condenada pela sua leviandade. O domínio da língua, por outro lado, é sinal de autodomínio. Em certo trecho dos Provérbios, “A língua assemelha-se ao timão de um navio, que é preciso dirigir e controlar”. “A sabedoria está em saber calar e saber falar em seu devido tempo”. (Ecl 3, 1-7)

Em se tratando de nossa relação com Deus, silêncio absoluto, estejamos atentos às palavras de Cristo, que veio ao mundo para nos ensinar a obediência ao Pai, no sentido de fazer transcender a nossa alma enfermiça. Por isso, o cuidado de não nos apegarmos demasiadamente à superficialidade do cotidiano, às sugestões da mídia, às sugestões de outras tantas inutilidades para a evolução real do nosso Espírito.

O silêncio é o lenitivo para todas as nossas dores. Exercitemo-nos em ouvir os outros, pois todos podem ser nossos professores em algum detalhe da vida.

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“Quando a ascética cristã fez a apologia do silêncio, não o fez como negação da comunicação, que é a expressão suprema dos valores interpessoais, mas sim como um serviço a essa comunicação com Deus e com os irmãos”.

Essa apologia foi feita para arrancar a comunicação de seus caminhos rotineiros e superficiais e canalizá-la para as profundezas de um autêntica experiência.

Silêncio representa traição à causa quando a situação exige que se proclame corajosamente o Evangelho.

A maravilha de Deus também provoca no homem o silêncio da surpresa, da estupefação.

Neste mundo de tantas palavras tão falsas e superficiais é preciso aprender a fazer silêncio e ponderar bem aquilo que vai dizer, para não repetir slogans maquinalmente, mas falar como expressão de vivência interior. 

IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.

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"A infelicidade de um homem começa com a incapacidade de estar a sós, consigo mesmo, num quarto." (Pascal)

Isso diz respeito ao silêncio. Pesquisas da Universidade de Virginia e da Harvard mostram que este problema é bem atual. No teste que aplicaram aos pretendentes (permanecer 6 a 15 minutos em silêncio total), poucos lograram êxito. 



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