Desertor é aquele que abandona um partido, uma
causa. Todas as grandes ideias têm apóstolos fervorosos; têm, também, os seus
desertores. Allan Kardec diz que o Espiritismo não fugiu à regra. Em Obras
Póstumas, tece alguns comentários sobre este tema, inclusive dando uma
comunicação sobre o assunto, logo após o seu desencarne, em novembro de 1869.
No início, houve equívoco quanto à natureza e aos
fins do Espiritismo. As brincadeiras de salão, a curiosidade e o querer entrar
em comunicação com os Espíritos foram as primeiras formas que os Espíritos
superiores acharam para poder chamar a atenção sobre o fenômeno mediúnico.
Quando os Espíritos sérios e moralizadores tomaram o lugar dos Espíritos
brincalhões, os adeptos das brincadeiras desertaram.
Na época da adivinhação, muitas pessoas, movidas
pelo espírito comercial de ganhar dinheiro na especulação do maravilhoso,
acabaram desertando porque os Espíritos não vinham ajudá-las a enriquecer, nem
lhes revelar o número sorteado nas loterias. Quando o que vaticinavam dava
certo, deferiam louvores ao Espiritismo; quando não dava, denegriam-no. Esta
fase também foi útil, porque separou os Espíritas sérios dos aproveitadores.
Haveria deserção entre os Espíritas convictos? Não.
Allan Kardec fala das fraquezas humanas, como o orgulho e o egoísmo. Acha que
há desfalecimentos, em que a coragem e a perseverança fraquejaram
diante de uma decepção. Ele diz: "Entre os adeptos convictos, não há
deserções, na lídima acepção do termo, visto como aquele que desertasse, por
motivo de interesse ou qualquer outro, nunca teria sido sinceramente
espírita".
O Espírito Emmanuel, no capítulo 9, "Mensagem
aos Médiuns", do livro Emmanuel, psicografado por Francisco
Cândido Xavier, alerta-nos sobre a deserção da tarefa mediúnica. Diz-nos que os
médiuns, pela misericórdia divina, receberam a bênção da mediunidade para
poderem redimir os seus erros do passado. Aceitando as incumbências da tarefa
mediúnica, estarão sob a proteção dos benfeitores espirituais; desertando,
poderão perdê-la.
O Espírito Irmão X, no capítulo 15, "O
Compromisso", do livro Estante da Vida, psicografado por Francisco
Cândido Xavier, dá-nos um bom exemplo de deserção. Conta-nos o caso de Alberto
Nogueira, Espírito endividado que, antes de reencarnar, pedira lepra, cegueira
e toda a sorte de dificuldades, mas os benfeitores espirituais deram-lhe apenas
o mandato mediúnico. Instado a colaborar num caso de obsessão, encontram-no
totalmente ocioso, enquadrado em pijama, com medo de trabalhar.
Todos nós estamos sujeitos à deserção. Cabe-nos
rogar aos bons Espíritos para que a nossa mente seja iluminada, a fim de darmos
conta de nossa tarefa.
Bibliografia Consultada
KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1975.
XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas), pelo
Espírito Emmanuel. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.
XAVIER, F. C. Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974.
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/desertores