O papel da religião é fornecer subsídios para que o ser
humano compreenda melhor a sua relação com Deus, com o próximo e consigo mesmo.
Ao indagar de onde veio, o que está fazendo neste mundo e para onde irá depois
da morte, quer uma resposta que vá além da Ciência positiva. Esta resposta
somente a Religião e a Filosofia podem dá-la. O perquirir constante com relação
aos seus conteúdos existenciais vai ampliando a sua imanência nas leis
naturais, escritas por Deus em nossa consciência.
Religião é
palavra de origem latina (religio, religione). O significado não é
claro. Cícero (106-43 a. C.), no De Natura Deorum, faz esta
palavra derivar de relegere ("considerar
cuidadosamente"), oposto de neglere, descuidar. Lactâncio,
escritor cristão (m. 330 d.C.), deriva da raiz religare ("ligar",
"prender"). Para Cícero, a religião é um procedimento consciencioso ,
mesmo penoso, em relação aos deuses reconhecidos pelo Estado. Para Lactâncio, a
religião liga os homens a Deus pela piedade. Há um termo de partida e um de
chegada, em que princípio e fim são os mesmos. As duas raízes complementam-se.
O conceito de religião engloba várias concepções
redutivas. A Concepção mítico-mágica,
em que a religião é uma ilusão ou uma superstição. Ao entrar em conflito com a
razão, torna-se dogmática para poder subsistir. A Concepção gnóstica,
em que a Filosofia, filha rebelde da teologia, transforma-se numa religião, ao
buscar a salvação através do conhecimento (gnose). A Concepção antropológica,
em que Auguste Comte, criador da religião da humanidade, limita o conceito de
transcendência às coordenadas intramundanas. A Concepção irracionalista,
em que a religião é um campo autônomo: não é do conhecer, nem o do fazer, nem o
do esperar — é contemplação extática do infinito.
A religião fundamenta-se na revelação.
Os fundadores das religiões tinham revelações e visões nas quais o próprio Deus
os chamava a atuar. Deus revelou-se a Moisés numa sarça que ardia. Quando Paulo
foi chamado por Jesus, no caminho de Damasco, cegou-o um resplendor celestial.
Maomé encontrou-se com o arcanjo Gabriel, que o reteve sem soltar, até que ele
lhe prometeu seguir o seu mandato de reconhecer a vontade de Alá. Todas dignas
de acatamento pelo sopro de inspiração superior que as faz surgir. Muitas
delas, porém, desviadas do bom caminho pela ambição dos seus expositores.
A promessa do paraíso, após esta vida, é o ponto
básico da salvação da alma. Acontece que premidos pelos interesses pessoais, os
expositores acabam materializando o Céu, o Inferno, o Purgatório, e através do
medo, fazem com que os seus seguidores obedeçam-nos sem a utilização do senso
crítico. Mas, se questionarmos a fé dogmática e a facilidade da salvação, vamos
vislumbrando um mundo espiritual gerido pelo sentimento religioso e não pela
religião propriamente dita.
O enaltecimento do sentimento religioso, natural em
cada ser humano, exige esforços constantes para não sermos ludibriados pelos
falsos profetas. Somente assim poderemos taxar-nos de religiosos e não
simplesmente pertencentes a uma religião organizada.
Fonte de Consulta
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.
Enciclopédia Combi Visual. Barcelona
(Espanha), Ediciones Danae, 1974.
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