Depois da morte, os Espíritos experimentam diversos tipos de
sensações, variando entre as mais penosas e as mais sublimes. Alguns dizem
sentir "os vermes lhe corroerem as carnes"; outros, apossados de uma
agonia profunda, como se estivessem mergulhados numa noite profunda. Os
criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante de suas vítimas.
Para o justo, a perturbação não passa de livre entorpecimento, algo semelhante
ao sono.
O corpo físico é instrumento
de dor. Se não é causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma
tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a
alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. Todos sabem
que as pessoas que sofrem amputações sentem dor no membro que não mais existe.
Se o membro não existe, como sente a dor? Allan Kardec diz que foi o cérebro
que conservou a impressão. O mesmo sucede quando o Espírito desencarna. Eis
porque muitos suicidas acreditam que estão vivos.
O perispírito, contendo
eletricidade e fluido magnético, é a ligação entre o Espírito e o corpo físico.
É o agente das sensações externas. No corpo, estas sensações estão localizadas
nos órgãos que lhes servem de canais. Destruído o corpo, as sensações se tornam
generalizadas. Há que se distinguir, assim, a dor do perispírito – com corpo
físico –, e a dor do perispírito – sem corpo físico –. Sem o corpo físico, a
dor não é somente moral, pois os Espíritos dizem sentir frio ou calor. Não é só
uma espécie de lembrança. Há algo a mais, que não temos condições de explicar
convenientemente.
No momento da morte, o
perispírito se desliga lentamente do corpo físico; entra num estado de
perturbação.Um suicida dizia: "Não, eu não estou morto e, no entanto, sinto
que os vermes me roem". Ora, os vermes não roem nem o Espírito e nem o
perispírito. Allan Kardec usa – para descrever essas sensações – o termo repercussão emocional, explicando posteriormente que não
seria uma palavra adequada, pois é uma espécie de ilusão tomada por real.
O grau de evolução
espiritual atingido pelo Espírito conta muito. Quanto mais purificado for,
menos sensação de dor terá, porque o perispírito, que lhe serve de
intermediário, estando mais rarefeito, não permite que a dor lhe seja
transmitida. Os Espíritos menos evoluídos, devido à condensação mais grosseira
do perispírito, transmitem com mais facilidade as sensações de dor. Por isso, a
propagação constante das práticas das virtudes. Somente elas são capazes de
tornar mais rarefeito o nosso corpo espiritual.
Os Espíritos, depois da
morte, têm dificuldade de nos comunicar as suas sensações: em primeiro lugar,
porque elas não são uma simples lembrança; em segundo, porque as mesmas se
tornam generalizadas.
Fonte de Consulta
KARDEC, A. O
Livro dos Espíritos. Livro Segundo, Capítulo VI, Ensaio
teórico sobre as sensações dos Espíritos.
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