Justiça — do lat. justitia —
significa, de modo restrito, a constante e perpétua vontade de conceder o
direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade. Amor —
do lat. amore —, sentimento que predispõe alguém a desejar o
bem de outrem, ou de alguma coisa. Caridade — do lat. caritate —,
no vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de
outrem e procura identificar-se com o amor de Deus.
Kant, na Doutrina do Direito, define a ação justa como qualquer ação que permite a livre
vontade de cada um coexistir com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei
universal. Santo Agostinho, por seu lado, diz que a justiça é a virtude que dá
a cada um aquilo que lhe é devido. Em realidade, a justiça visa estabelecer
certa igualdade entre o forte e o fraco, o que tem poder e o que está
despossuído dele.
A justiça
pertence às virtudes cardeais e a caridade às virtudes teologais. As virtudes
cardeais, princípio de todas as virtudes, dizem respeito à temperança,
à fortaleza, à prudência e
à própria justiça.
Entre essas, a justiça ocupa lugar de destaque, pois dá equilíbrio às demais.
As virtudes teologais, consideradas como dons infusos por Deus, dizem respeito
à fé, à esperança e
à própria caridade.
Dentre elas, a caridade é a mais perfeita. Se à justiça e à caridade
acrescentarmos o amor, teremos os fundamentos básicos da conduta humana em
sociedade.
Os gregos usavam
diferentes vocábulos para designar o amor. Philia referia-se
à amizade, ao amor ternura; eros, ao
amor carnal, sexual; agapé, ao
amor divino, sem contrapartida, incondicional. Aristóteles, em Ética a Nicômaco, comparando o amor amizade à justiça, não hesita em afirmar que a
amizade é mais necessária e importante, pois os inimigos podem ser justos entre
si, mas a concórdia e a comunhão só podem coexistir com a amizade e o amor.
Dizia que ser justo é bom, mas amar é ainda melhor. "Se somos amigos, não
precisamos de justiça; justos, precisamos ainda da amizade".
A justiça, sendo
fria e calculista, necessita do amor e da caridade que lhe complementam, porque
amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos nos fosse
feito. A caridade é, primariamente, o amor a Deus e, sem mudar a direção,
secundariamente, é o amor ao próximo e a si mesmo. Ela não se restringe à
filantropia, mas abrange todas as nossas relações com os nossos semelhantes,
quer sejam inferiores, iguais ou superiores.
Allan Kardec, na
pergunta 648 de O Livro dos Espíritos, esclarece-nos que a divisão da lei de Deus em dez partes é a
mesma da de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida. Dentre tais
leis, a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante; é por ela que o
homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas
as outras.
O justo dá a
cada coisa o lugar que lhe compete. Ordena na medida certa. Situando-se além
das oposições e dos contrários, realiza em si a unidade, que é una e total. O
verdadeiro justo simboliza o homem perfeito, que põe ordem, primeiro em si,
depois em torno de si. Seu papel é o de uma verdadeira potência cósmica.
A justiça dá
base ao amor, para que este se transforme na caridade, que é o amor em ação.
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