Mito - do gr. Mythos - discurso, narrativa,
boato, legenda, fábula, apólogo. Originariamente, o termo significava uma
narrativa fantasiosa da genealogia e dos feitos das divindades do politeísmo
registrados nas teogonias. Aos poucos, o termo se foi carregando de novos
sentidos. Sociologicamente, é a narrativa imaginária de origem popular:
"os mitos cosmogônicos". Historicamente, é a exposição de uma
doutrina sob a forma de narrativa alegórica: "os mitos platônicos".
Vulgarmente, é a dramatização das grandes aspirações frustradas do grupo:
"mito da greve geral".
Dado o
caráter soteriológico e escatológico do mito, muitas vezes acabamos
confundindo-o com a utopia. A utopia é uma condição da mente que especula inteligentemente sobre
o futuro. Platão e Tomas More fazem-no ao discorrerem sobre o estado ideal de
uma sociedade. O mito, por outro lado, exprime o instinto profundo de uma classe
inferiorizada. É nesse sentido, que o "mito da greve geral", acima
citado, é defendido pelos socialistas revolucionários e sindicalistas com o
intuito de instaurar a revolução social.
A Bíblia,
no sentido estrito do termo, não contem mitos, pois as
teogonias (origem dos deuses) ou teomaquias (luta dos deuses) estão superadas
pela presença do Deus criador único. No entanto, num sentido menos estrito,
podemos falar dos mitos contidos na Bíblia: sobretudo os onze primeiros
capítulos do "Gênesis" utilizaram esse gênero literário para descrever
a condição humana, a origem do pecado e a rebelião dos homens contra Deus.
Nesses capítulos, vemos Deus criando Adão do barro, falando com os animais e
emprestando aos frutos o poder mágico da tentação.
O poder do
mito é tão intenso que todo o esforço de desmitologização acaba incorrendo em
novas formas míticas. É o mito do progresso ininterrupto, o mito marxista da
vitória dos oprimidos, o mito do socialismo da cidade ideal, o mito do
super-homem com a sua vitória sobre o espaço e o tempo etc. Os mitos expressam
a vivência humana em um nível de profundidade que o pensamento lógico é incapaz
de refletir. Por essa razão, a psicologia recorre ao mito para descrever
situações básicas da condição humana. Como exemplo, temos o estudo do complexo
de Édipo, o narcisismo, a oposição entre eros e tanatos etc.
A desmitologização é uma necessidade para a
vivência religiosa moderna. Contudo, deve ser empreendida de modo ponderado, a
fim de se buscar, por detrás da narração mitológica de caráter cosmogônico, o
seu autêntico significado existencial. Aquilo que nos mitos ocorre no espaço e
no tempo, não é outra coisa do que a expressão da vivência profunda do ser
humano em suas camadas mais profundas e do sentido último de sua existência.
Ponderemos
ingenuamente sobre o mito. Exercitando-nos dessa forma, vamos compreendendo o
psiquismo humano e descobrindo os verdadeiros matizes de uma vivência
religiosamente profunda.
Fonte de
Consulta
IDÍGORAS, J. L. Vocabulário
Teológico para a América Latina. São Paulo, Edições Paulinas, 1983.
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