08 julho 2008

Genealogia do Reflexo Condicionado

A procura das origens é algo que inquieta o ser humano. Tencionando obter informações sobre a origem da religião, buscamos o clã totêmico; da filosofia, as ideias de Sócrates, Platão e Aristóteles; da medicina, os pensamentos de Hipócrates. A história do reflexo está ligada quer às origens do estudo experimental do comportamento, quer à formação da fisiologia nervosa. Nesse sentido, em se tratando dos reflexos muitos são os "pais" da ideia, dependendo do conceito próprio de reflexo de cada historiador em questão.

René Descartes (1596-1650), com a sua teoria dos espíritos animais, é apontado por muitos como o iniciador do desenvolvimento do conceito como princípio explicativo dos movimentos musculares. Os espíritos animais, para Descartes, eram o resultado de transformação do sangue aquecido pelo coração. O processo de destilação e volitização, muito gradual, tem como origem e fim o sistema nervoso central. Há controvérsia, porque Canguilhem demonstra que a teoria cartesiana é incontestavelmente uma "teoria mecanicista, mas não é a teoria do reflexo": ela trata apenas das respostas involuntárias. Galeno (131-200 d. C.), por exemplo, não tratou do assunto em termos filosóficos, mas experimentalmente e usava a técnica da vivissecção. Note que Thomas Willis contrariou também a teoria de que os reflexos começam no coração. Para ele, são produzidos no encéfalo e mais exatamente no cérebro e cerebelo, mas não no coração.

Giovanni Alfonso Borelli (1608-1679), cujo nome está ligado à escola iatromecânica, merece menção neste escorço histórico. Segundo esta escola, a explicação do movimento nos animais e no homem deve ser procurada nas leis da mecânica e da matemática. Ele substitui os "espíritos" de Descartes e de Willis, por um líquido nervoso, succus nerveus, que corre através das fibras nervosas. Depois de Borelli, surgem Von Haller (1708-1777) com a sua teoria da irritabilidade, Robert Whytt (1714-1766), o primeiro a falar da ação reflexa em harmonia com os dados experimentais e Marshall Hall (1790-1857) apresentando uma rigorosa distinção entre os movimentos voluntários e involuntários.

Ivã Pavlov (1849-1936), fisiologista russo, ficou famoso pela descoberta dos reflexos condicionados ou da reação condicionada. A sua teoria dos reflexos condicionados é extraída dos experimentos que fizera com os cães. Profundo conhecedor das glândulas e suas secreções, resolve pôr em prática o conteúdo dos seus conceitos. Para isso, amarra um cão, isola-o de todo o barulho externo, e dá-lhe uma substância sialogênica; ao mesmo tempo, faz retinir um som, por exemplo, o de uma campainha. Depois de várias repetições, suspende a substância sialôgenica, permanecendo tão somente com o som da campainha. Resultado: o cão, sem o estímulo inicial, emite suco gástrico, associando-o apenas ao som da campainha.

Depois de Pavlov, surgiram: Bechterew (1857-1927), que sublinha as diferenças entre seus estudos e os de Pavlov, embora o método seguido seja essencialmente o mesmo: a substituição de um estímulo eliciador natural por um novo estímulo — a descarga elétrica na planta do pé; Edward L. Thorndike (1874-1949) que estudara o processo associativo nos animais, chegando à conclusão dos componentes globais, ao contrário de Pavlov, que eram parciais; Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), que utiliza os resultados de Pavolv e Thonrdhike, no sentido de procurar a mesma ordem encontrada por Pavlov, porém entre os estímulos e o comportamento do órgão como um todo.

A história mostra-nos a sucessão dos enfoques teórico-práticos, baseados nas observações e experiências de cada cientista. Esperamos que todos esses esforços possam ser úteis para darmos mais importância à nossa massa encefálica.

Fonte de Consulta

PESSOTTI, I. Pré-História do Condicionamento. São Paulo, Hucitec, 1976.

 

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