A procura das origens é algo que inquieta o ser
humano. Tencionando obter informações sobre a origem da religião, buscamos o
clã totêmico; da filosofia, as ideias de Sócrates, Platão e Aristóteles; da
medicina, os pensamentos de Hipócrates. A história do reflexo está ligada quer
às origens do estudo experimental do comportamento, quer à formação da
fisiologia nervosa. Nesse sentido, em se tratando dos reflexos muitos
são os "pais" da ideia, dependendo do conceito próprio de reflexo de
cada historiador em questão.
René Descartes (1596-1650), com a sua teoria dos
espíritos animais, é apontado por muitos como o iniciador do desenvolvimento do
conceito como princípio explicativo dos movimentos musculares. Os espíritos
animais, para Descartes, eram o resultado de transformação do sangue aquecido
pelo coração. O processo de destilação e volitização, muito gradual, tem como
origem e fim o sistema nervoso central. Há controvérsia, porque Canguilhem
demonstra que a teoria cartesiana é incontestavelmente uma "teoria
mecanicista, mas não é a teoria do reflexo": ela trata apenas das respostas
involuntárias. Galeno (131-200 d. C.), por exemplo, não tratou do assunto em
termos filosóficos, mas experimentalmente e usava a técnica da vivissecção.
Note que Thomas Willis contrariou também a teoria de que os reflexos começam no
coração. Para ele, são produzidos no encéfalo e mais exatamente no cérebro e
cerebelo, mas não no coração.
Giovanni Alfonso Borelli (1608-1679), cujo nome
está ligado à escola iatromecânica, merece menção neste escorço histórico.
Segundo esta escola, a explicação do movimento nos animais e no homem deve ser
procurada nas leis da mecânica e da matemática. Ele substitui os
"espíritos" de Descartes e de Willis, por um líquido nervoso, succus
nerveus, que corre através das fibras nervosas. Depois de Borelli, surgem
Von Haller (1708-1777) com a sua teoria da irritabilidade, Robert Whytt
(1714-1766), o primeiro a falar da ação reflexa em harmonia com os dados
experimentais e Marshall Hall (1790-1857) apresentando uma rigorosa distinção
entre os movimentos voluntários e involuntários.
Ivã Pavlov (1849-1936), fisiologista russo, ficou
famoso pela descoberta dos reflexos condicionados ou da reação condicionada. A
sua teoria dos reflexos condicionados é extraída dos experimentos que fizera
com os cães. Profundo conhecedor das glândulas e suas secreções, resolve pôr em
prática o conteúdo dos seus conceitos. Para isso, amarra um cão, isola-o de
todo o barulho externo, e dá-lhe uma substância sialogênica; ao mesmo tempo,
faz retinir um som, por exemplo, o de uma campainha. Depois de várias
repetições, suspende a substância sialôgenica, permanecendo tão somente com o
som da campainha. Resultado: o cão, sem o estímulo inicial, emite suco
gástrico, associando-o apenas ao som da campainha.
Depois de Pavlov, surgiram: Bechterew (1857-1927),
que sublinha as diferenças entre seus estudos e os de Pavlov, embora o método
seguido seja essencialmente o mesmo: a substituição de um estímulo eliciador
natural por um novo estímulo — a descarga elétrica na planta do pé; Edward L.
Thorndike (1874-1949) que estudara o processo associativo nos animais, chegando
à conclusão dos componentes globais, ao contrário de Pavlov, que eram parciais;
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), que utiliza os resultados de Pavolv e
Thonrdhike, no sentido de procurar a mesma ordem encontrada por Pavlov, porém
entre os estímulos e o comportamento do órgão como um todo.
A história mostra-nos a sucessão dos enfoques teórico-práticos,
baseados nas observações e experiências de cada cientista. Esperamos que todos
esses esforços possam ser úteis para darmos mais importância à nossa massa
encefálica.
Fonte de Consulta
PESSOTTI, I. Pré-História do
Condicionamento. São Paulo, Hucitec, 1976.
Nenhum comentário:
Postar um comentário