"O olho do filósofo e o olho do soberano veem de maneira bem diversa". Diderot
Dispomo-nos a observar o fato ou estamos mais
presos à sua interpretação? É possível lançarmos um outro olhar sobre os
objetos que vemos todos os dias? Como? Há alguma fórmula mágica? Eis algumas
questões para o início desta reflexão. Para vermos as coisas como elas são,
devemos nos libertar dos preconceitos, da ilusão e de outros desvios da
percepção. O que, convenhamos, não é tarefa fácil.
A percepção é uma atividade do
espírito que organiza os dados sensoriais pelo qual conhecemos a "presença
atual de um objeto exterior". Ela, porém, está eivada de distorção, em que
vemos as pessoas de uma forma bem diferente do que elas são, ou daquela como
estas nos são objetivamente apresentadas. Podemos, assim, incorrer nos
seguintes erros: estereotipagem, efeito halo e expectativa. Na estereotipagem,
aplicamos a impressão padronizada do grupo a uma pessoa; no efeito halo,
deixamos que a característica de um indivíduo encubra a do grupo; na expectativa,
"vemos" e "ouvimos" o que queremos ouvir e não o que
realmente está acontecendo.
A ilusão e a auto-ilusão dificultam sobremaneira a
observação dos fatos. Na ilusão, há uma falsa aparência tomada por uma
percepção exata. Exemplo: coloquemos uma vareta num recipiente com água. Temos
a impressão que a vareta fica torta. Mas, sabemos perfeitamente que ela é reta.
Na auto-ilusão, há uma errônea interpretação da realidade. Pode-se, inclusive,
influenciar o consciente coletivo do grupo. Na auto-ilusão, ignoramos as consequências
de nossos atos. Perdemos até a noção do ridículo.
O preconceito, que é a fixação de um juízo anterior
à análise objetiva da realidade, é outro fator de deturpação da realidade. Ele
atinge, desfavoravelmente, pessoas, idéias, instituições ou objetos. O
preconceito impede-nos de ver os outros como eles realmente são. Imaginemos um
transeunte qualquer. De acordo com os seus trajes, a sua fala, o seu modo de
ser, tiramos uma conclusão apressada. Ele é mendigo, ele é doutor, ele é delinquente etc.
Um exemplo prático: o consumo que vemos e a
destruição que não vemos. Comprar isto em vez daquilo tem enorme impacto sobre
o planeta. Presentemente, há indícios de um aquecimento global, da erosão do
solo, da diminuição das áreas florestais e das pastagens que se transformam em
desertos. Há movimentos, tipo green peace,
alertando-nos para essa destruição, mas continuamos com os nossos velhos
hábitos.
A nossa visão de mundo pode ser sempre melhorada.
Basta apenas aguçarmos a nossa percepção, que é, em última análise, a correta
interpretação dos fatos apresentados aos nossos olhos.
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